No seguimento das nomeações
cardinalícias que Francisco I tornou públicas no passado domingo, Mons. Carlo Maria
Viganò, antigo Núncio Apostólico em Washington e Secretário-Geral da Governação
do Estado da Cidade do Vaticano entre 2009 e 2011, reagiu a estas nomeações por
meio de uma declaração que agora se publica em língua portuguesa a seu pedido.
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2 de Junho de 2022
Se pudéssemos perguntar a São Gregório Magno, a São Pio V, ao Beato Pio IX, a
São Pio X, ao Venerável Pio XII com base em que avaliações escolheram os
Prelados para serem distinguidos com a Sagrada Púrpura, ouviríamos de todos
eles, sem excepção, que o principal requisito para se tornarem Príncipes da Santa
Igreja Romana é a santidade de vida, a excelência em particulares virtudes, a
erudição nas disciplinas eclesiásticas, a sabedoria no exercício da Autoridade,
a fidelidade à Sé Apostólica e ao Vigário de Cristo. Muitos dos Cardeais
criados por estes Pontífices tornaram-se Papas por sua vez; outros
distinguiram-se pelo seu contributo para o governo da Igreja; outros ainda
mereceram ser elevados à glória dos altares e ser proclamados Doutores da
Igreja, como São Carlos Borromeu e São Roberto Belarmino.
Do mesmo modo, se pudéssemos perguntar aos Cardeais criados por São Gregório
Magno, por São Pio V, pelo Beato Pio IX, por São Pio X e pelo Venerável Pio XII
como conceberam a dignidade a que tinham sido elevados, ter-nos-iam respondido,
sem excepção, que se sentiam indignos do papel que tinham e que confiavam na
ajuda da Graça de estado. Todos eles, do mais insigne ao menos conhecido, consideravam
imprescindível para a própria santificação dar provas de absoluta fidelidade ao
imutável Magistério da Igreja, de heróico testemunho da Fé através da pregação
do Evangelho e da defesa das Verdades reveladas, de filial obediência à Sé de
Pedro, Vigário de Cristo e Sucessor do Príncipe dos Apóstolos.
Quem hoje colocasse estas questões àquele que está sentado no Sólio, e àqueles
a quem ele elevou à Púrpura, descobriria com grande escândalo que a nomeação cardinalícia
é considerada em pé de igualdade com qualquer outro encargo de prestígio de uma
instituição civil, e que não são as virtudes necessárias para aquele cargo que
levam a escolher este ou aquele candidato, mas o seu nível de corruptibilidade,
de chantagem, de pertença a esta ou àquela corrente. E o mesmo, e talvez pior,
aconteceria ao assumir que, como nas coisas de Deus, os Seus ministros deveriam
ser exemplo de santidade, assim como nas coisas de César os governantes deveriam ser
guiados pelas virtudes da governação e movidos pelo bem comum.
Os cardeais nomeados pela igreja bergogliana são perfeitamente coerentes com
aquela deep church da qual são expressão, tal como os ministros e os
funcionários do Estado são escolhidos e nomeados pelo deep state. E se
isto acontece, é porque a crise de autoridade a que assistimos desde há séculos
no mundo e há sessenta anos na Igreja está em metástases.
Líderes honestos e incorruptíveis exigem e obtêm colaboradores convictos e
fiéis, porque o seu consentimento e a sua colaboração derivam da partilha de um
fim bom – santificação própria e dos outros – recorrendo a instrumentos
moralmente bons. Do mesmo modo, líderes corruptos e traidores exigem subordinados
não menos corruptos e dispostos à traição, porque o seu consentimento e a sua
colaboração derivam da cumplicidade no crime, da chantagem do assassino e do instigador,
da falta de qualquer compunção moral na execução das ordens. Mas a fidelidade
no mal, não o esqueçamos, é sempre limitada no tempo, e sobre ela pende a
espada de Dâmocles da manutenção do poder do senhor e da ausência de uma
alternativa mais atractiva ou remuneradora para quem o serve. Pelo contrário, a
fidelidade no Bem – ou seja, fundada em Deus Caridade e Verdade – não conhece
segundos pensamentos e está disposta a sacrificar a vida – usque ad
effusionem sanguinis – por aquela autoridade espiritual ou temporal que é vicária
da Autoridade de Nosso Senhor, Rei e Sumo Sacerdote. Este é o martyrium simbolizado
pela veste cardinalícia. Esta será também a condenação daqueles que a profanam acreditando-se
protegidos pelas Muralhas Leoninas.
Não surpreende, pois, que uma Autoridade que se funda na chantagem se rodeie de
pessoas chantageáveis, nem que um poder exercido em nome de um lobby subversivo
queira assegurar a continuidade na linha adoptada, impedindo que o próximo
Conclave eleja um Papa e não um vendedor de vacinas ou um propagandista da Nova
Ordem Mundial.
Pergunto-me, todavia, qual dos Eminentíssimos que pontilham as crónicas da
imprensa com os seus apelidos pitorescos e com o peso de escândalos financeiros
e sexuais estaria disposto a dar a vida não digo pelo seu senhor de Santa Marta
– que teria o cuidado de não dar a sua vida pelos seus cortesãos – mas por
Nosso Senhor, assumindo que não O substituíram, entretanto, pela Pachamama.
Aqui está: nisto, parece-me, reside o cerne da questão. Simão, filho de
João, tu amas-me mais do que estes? (Jo 21, 15-17). Não ouso pensar no que responderia
Bergoglio; sei o que responderiam estes personagens, distinguidos com o Cardinalato
como Calígula conferiu o laticlávio ao seu cavalo Incitatus em desafio ao
Senado Romano: Não o conheço (Lc 22, 54-62).
Seja principal tarefa dos católicos – leigos e clérigos – implorar ao Senhor da
Vinha que venha fazer justiça aos javalis que a devastam. Até que esta seita de
corruptos e fornicadores seja expulsa do templo, não podemos esperar que a
sociedade civil seja melhor do que aqueles que a deveriam edificar e não a
escandalizar.
†
Carlo Maria Viganò,
Arcebispo
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«Tudo me é permitido, mas nem tudo é conveniente» (cf. 1Cor 6, 12).
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