Já há algum tempo que a Diocese de Fréjus-Toulon
estava na mira da Santa Sé. Há vários meses, de facto, o Arcebispo de Marselha,
Mons. Jean-Marc Aveline, surpreendentemente na lista dos futuros cardeais, estava
a conduzir uma visita “fraterna” à diocese de Mons. Dominique Rey. Não se
considerava, todavia, que a questão iria escalar ao ponto de bloquear as
próximas ordenações sacerdotais na diocese, agendadas para 26 de Junho. Quatro
candidatos ao sacerdócio e seis ao diaconado terão, portanto, de esperar. Por ora,
sine die e com a perspectiva de que o seminário francês siga a receita
que levou, em pouquíssimo tempo, ao encerramento do Seminário de Ferrara, demasiado
acima da média em termos de vocações.
As razões da decisão mal são apresentadas no anúncio que Mons. Rey tornou
público a 2 de Junho passado: reestruturação do seminário e política de
acolhimento na diocese. Dois aspectos ligados entre si. O Seminário de l’Immaculée
Conception La Castille tem mais de quarenta seminaristas, mais uma dezena
no ano propedêutico e os diáconos, o que o coloca, entre os seminários das
dioceses francesas, apenas atrás do da grande Arquidiocese de Paris. O
seminário acolhe candidatos ao sacerdócio de origens e sensibilidades bastante
heterogéneas: seminaristas provenientes de outras dioceses; outros pertencentes
à Société des Missionnaires de la Miséricorde divine, fundada pelo P.
Fabrice Loiseau, um sacerdote que pertencera à Fraternidade de São Pedro e
profundamente ligado à celebração da Missa segundo o rito antigo; ainda outros da
Fraternité Missionaire Jean-Paul II, uma fundação recente com uma particular
sensibilidade missionária; missão que também caracteriza uma outra nova
comunidade, presente na Diocese e no Seminário de Fréjus-Toulon, a Communauté
Catholique Mére de Divin Amour, de inclinação carismática. Há também uma
presença discreta dos membros dos Missionnaire de la Très Sainte Eucharistie,
uma associação pública clerical para a difusão da adoração eucarística
perpétua.
Para além do Seminário de La Castille, a Diocese de Fréjus-Toulon acolhe também
o Seminário Internacional Redemptoris Mater Sainte Marie-Madeleine do Caminho
Neocatecumenal. Estão também presentes na diocese outras comunidades
(como se pode ver aqui), muitas delas recentemente fundadas, desde a
carismática Communauté de l’Emmanuel até à mais tradicional e sempre
crescente Communauté Saint-Martin, passando por institutos mais
históricos, como os Maristas, os Salesianos e os Oratorianos.
Esta variedade de “novas” comunidades, a sua particular vitalidade, deve ter
suscitado suspeitas em Roma, que decidiu, após a visita de Mons. Aveline,
congelar tudo. O Vigário Episcopal explicou à Famille Chrétienne a
lógica que guiou o bispo durante todos estes anos: «Monsenhor Rey tem como
princípio dar uma oportunidade a cada comunidade que lhe peça para ser acolhida».
Mas, evidentemente, mesmo em Roma nem toda a inclusão e abertura é bem-vinda. A
decisão romana é, de facto, uma medida que dificilmente não poderá ser chamada
draconiana, sobretudo por causa da oportunidade.
Muitos interrogaram-se sobre as razões de tal medida na iminência da ordenação
de jovens candidatos que se têm vindo a preparar para as Ordens Sacras há 6-7
anos. O acto realizado em Abril por Dom Alcuin Reid, diácono, um monge
beneditino da St. Michael’s Abbey, Farnborough, que tinha sido recebido por
Mons. Rey para lhe permitir viver a sua vocação monástica e a perspectiva de
uma nova fundação, pode ter desempenhado um papel de acelerador. Uma fundação
que foi realizada no actual Mosteiro de Saint-Benoit de Brignoles, do qual Dom
Alcuin é prior. O nome de Dom Alcuin é também conhecido graças às suas
publicações sobre o tema da Reforma Litúrgica e pela organização de
conferências internacionais sobre a Sagrada Liturgia. A sua tese de
doutoramento, publicada em 2005 e traduzida em italiano oito anos mais tarde com
o título Lo sviluppo organico della liturgia, teve o prefácio do então
Cardeal Ratzinger.
Assim, Dom Alcuin tinha decidido ser ordenado sacerdote – juntamente com um confrade
que recebeu o diaconado e um outro o subdiaconado – por um bispo cuja
identidade não foi dada a conhecer, deixando Mons. Rey, em cuja diocese Dom
Alcuin foi incardinado em 2009, totalmente às escuras quanto à sua decisão. O Bispo
de Fréjus-Toulone não tinha outra escolha senão suspender os monges e
interditá-los de qualquer acto derivado da Ordem que receberam. Um dado
importante, para compreender o caso, é que Mons. Rey tinha adiado várias vezes
a ordenação de Dom Alcuin, também por sugestão dos abades que tinham sido
consultados sobre o assunto. É provável que este último acontecimento tenha
levado Roma a acelerar as decisões que já tinham sido tomadas, no entanto, na
sequência da visita “fraterna” de Mons. Aveline.
É certamente “singular” que a Santa Sé decida sempre atingir as dioceses que demonstram
uma certa vitalidade e abertura em relação às realidades “tradicionais”. Pode
ter havido alguma imprudência por parte de Mons. Rey, mas é certamente
impressionante que entre uma diocese onde já não existem ordenações
sacerdotais, onde muitas igrejas e conventos estão fechados, onde os fiéis
lutam agora para encontrar sacerdotes disponíveis para os sacramentos, e uma
onde acontece exactamente o contrário, a espada romana de Dâmocles caia sempre
para o mesmo lado. E não é difícil adivinhar qual.
Luisella Scrosati
Através de La Nuova Bussola Quotidiana
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