O “coronavírus tradicionalista” que dificulta a sinodalidade

A resposta vaticana aos dubia – estes respondidos com suspeitosa celeridade – sobre Traditionis Custodes, no sentido de asfixiar o mais possível o rito tradicional, transforma os tradicionalistas numa espécie de “cristãos sem passe verde” que podem ser descartados do processo sinodal sem qualquer problema.    

Já discutimos nestas páginas como o website que hospeda os prolegómenos romanos do sínodo da sinodalidade eliminou um link para o New Ways Ministry, um grupo americano pró-LGTBI anteriormente condenado pelo então Prefeito para a Doutrina da Fé, Cardeal Joseph Ratzinger, e que continua a questionar a visão católica da sexualidade humana.     

Mas em tempos de misericórdia, isto não se podia tolerar e não foi tolerado. O Gabinete do Sínodo não só se apressou a restabelecer a ligação, como também pediu desculpa pelo seu desaparecimento anterior. Tal como na vida civil, na vida eclesiástica o lobby é demasiado poderoso para ser desafiado, não importando que as suas teses sejam uma bofetada face ao que a Igreja sempre e em todo o lado defendeu sobre a sodomia.      

Esta aquiescência precipitada poderia convencer os ingénuos de que, para o melhor ou para o pior, o processo sinodal ouvirá verdadeira e atentamente a todos, por muito afastados que estejam do que a Igreja ensinou desde o princípio. Mas essa conclusão é apenas uma miragem, como mostra a pressa vaticana por estigmatizar rapidamente o único grupo que permanece fora das misericórdias, o único grupo que, apesar de ser composto por católicos fiéis submissos ao que a Igreja dita, pode ser tratado como portador de um vírus que o torna digno do isolamento e do descarte: quem assiste à Missa Tradicional.     

A analogia é adequada, porque tal como um mundo que insiste na inclusão, não discriminação e tolerância não tem qualquer problema em considerar como cidadãos de segunda classe qualquer pessoa que não se curva a normas sanitárias contraditórias e totalitárias, a actual liderança da Igreja continua a pregar a misericórdia e o diálogo de compaixão enquanto marginaliza, sem sequer os reconhecer, sem lhes dizer uma palavra, os fiéis que optam por um rito que alimentou a vida de tantos milhões e de centenas de santos.       

Neste ponto, e seguindo o princípio de que as acções falam mais alto que as palavras, é impossível acreditar na “sinodalidade” e em todas as belas palavras que a rodeiam. Não há nada pior do que olhar para o que está a acontecer para desconfiar do que se diz, e, por isso, notamos que a misericórdia emana incessantemente numa só direcção, que se escuta atentamente aqueles que têm opiniões extremas sempre do mesmo lado e, já que assim é, que só se responde às dúvidas – dubia – a que interessa responder.

Carlos Esteban

Através de InfoVaticana            

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