Depois do católico sombra, do
católico omisso, do católico adulto e do católico bem-intencionado, aqui
estamos nós a fazer um rápido esboço de um outro crente à sua própria maneira, o
católico do mas. Com habilidade, é capaz de conciliar harmoniosamente os
opostos, de encontrar sempre misericordiosas excepções à regra, de identificar
o famigerado espírito evangélico mesmo no erro e
na maldade. É um oximoro vivo.
E por isso é contra o aborto, mas, em caso de violação, a misericórdia ordena
que se escreva um belo licet sobre esta prática. É contra a contracepção
entre os cônjuges, mas se, devido a dificuldades financeiras ou de saúde ou
porque já têm um ou dois filhos, não estão nas condições ideais para acolher um
outro, então é melhor usar a pílula. É contra a eutanásia, mas quando o doente está
a sofrer muito, a caridade cristã sugere que se desligue para o aliviar da dor.
É contra a inseminação artificial, mas se o casal deseja ardentemente uma
criança (portanto, todos os casos de fertilização in vitro) então o
recurso à proveta pode ser abençoado. É contra a experimentação em embriões,
mas se serve para salvar vidas (caso contrário, porque é que se faria a
experimentação?) não só é moralmente lícito, mas na realidade um dever. É contra o
divórcio, mas se a convivência se tornou intolerável (é difícil pedir o
divórcio se se vive no amor e no acordo), então para salvar o bem mútuo dos
cônjuges, a serenidade dos filhos e os laços de caridade, é mais apropriado do
que nunca ir a um advogado. É contra as uniões civis, mas se existe um afecto
genuíno entre as duas pessoas do mesmo sexo (mais uma vez, a excepção inclui
todos os casos) e o casal vive animado por um espírito cristão, então este tipo
de união deve ser encorajado. É contra os abusos litúrgicos (é difícil ser a
favor de qualquer tipo de abuso), mas se a celebração pode fazer uso de algum
dispositivo cénico e teatral para manter a atenção do público, perdão, dos
crentes ou do povo de Deus, então as portas estão abertas à fantasia no altar.
No fundo, o católico do mas, perseguindo fins bons – a misericórdia, a caridade,
o desejo de ter filhos, a luta contra a dor, a cura de doenças, a paz entre os
cônjuges, o cuidado com a liturgia –, faz coisas más: aborto, eutanásia, etc.
Além disso, pensa que, aplicando estes fins a casos excepcionais, possa escapar
do ponto de vista moral, mas mesmo em casos excepcionais não se pode fazer o
mal. Os absolutos morais não toleram excepções, não toleram os “mas”, não
toleram, por conseguinte, o católico do más.
Escusado será dizer que, para algumas questões, o mesmo católico do mas
torna-se o católico do sem se e sem mas. A imigração? Não há mas a ter: todos
entram sem regras. As pessoas homossexuais? São sempre discriminadas. O
macho? É sempre tendencialmente violento. O ambiente? Uma prioridade absoluta
que não tolera qualquer excepção. A Constituição italiana? A mais bela do mundo
e ai de quem disser o contrário. Em suma, o católico do mas é
intransigente quando não deveria ser e não o é quando deveria.
Tommaso Scandroglio
Através de La Nuova Bussola Quotidiana
1 Comentários
Finito di leggere lo scritto vi siete sentiti infiammati di carità? No? E allora è tanto per sfogare infelicità.
ResponderEliminar«Tudo me é permitido, mas nem tudo é conveniente» (cf. 1Cor 6, 12).
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