A nova linguagem do magistério
eclesiástico está a ser estudada por especialistas. As mudanças são notáveis e
uma delas consiste em expressar-se através de slogans, ou seja, através
de frases eficazes, muito expressivas, que atingem o público e provocam emoções.
A palavra slogan aqui não quer significar propaganda, mas sim o desejo
de atingir os corações dos ouvintes ou dos leitores com frases que deixam uma
marca e causam um choque. Duas expressões deste tipo foram utilizadas mais
recentemente: «Vacinar-se é um acto de amor» e «o Mediterrâneo é um
cemitério». Em ambos os discursos, Francisco não se limitou apenas a dizer estas
frases, mas todas as suas considerações foram desse teor e, em qualquer caso,
foi isto que acabou por restar das ideias que expressou, foi isto que a
imprensa valorizou e será isto que as pessoas recordarão.
No entanto, se considerarmos as problemáticas a que as duas frases se referem, deve-se
concluir que são questões muito articuladas e complexas que, certamente, não se
enquadram nos dois slogans em que Francisco as queria colocar. A questão
das vacinas e da vacinação envolve aspectos de moral pessoal, de moral pública
e política que são muito complicados. Toca a ciência, a relação entre a ciência
e a política, depois diz respeito à organização da saúde, a relação entre os
governos e as grandes indústrias farmacêuticas, o papel dos meios de
comunicação social, o próprio conceito de saúde especialmente em relação à
salvação, o papel dos organismos internacionais como a OMS, a concepção do
corpo humano com os possíveis transbordos pós-humanos. Há o problema da
liberdade e do controlo político das pessoas, tanto nos seus movimentos como
nas suas convicções. O problema sanitário, e em particular o da vacinação, tem
interessado a nata dos intelectuais ao longo da História, de Illich a Foucault,
de Chesterton a Huxley.
Ao lidar com semelhantes problemáticas, o “magistério por slogan” aderiu
frequentemente a uma vulga mínima que está muito longe da realidade e muito
próxima da versão oficial do poder constituído. Na prática, tudo se limitaria a
isto: há uma pandemia, no caso de uma pandemia a única arma é a vacina, aqueles
que não se vacinam demonstram egoísmo, vacinar-se é um acto de amor. Não entro
aqui no mérito da questão, apenas assinalo a enorme desproporção entre a
complexidade da problemática e as posições tomadas pelo “magistério por slogan”.
As frases eficazes vistas acima podem atingir neste momento, mas depois secam
como a água numa pedra num dia de sol.
O mesmo deve ser dito em relação à questão da migração. Também neste caso a
complexidade do problema é evidente. Há o aspecto dos possíveis planos
internacionais de desestabilização geopolítica, o do crime organizado e das
máfias internacionais que gerem os tráficos, o dos problemas do acolhimento e
da inclusão, o da tipologia pessoal e social dos que chegam, o do
empobrecimento demográfico e cultural dos países de origem. Existem amplas
instrumentalizações do fenómeno, tantas verdades são distorcidas por uma
informação frequentemente incorrecta, tantos interesses privados ou sectoriais
tiram partido dos fluxos descontrolados e tantas palavras são agora utilizadas
num sentido ideológico forçado. Perante este quadro, as frases-slogan
contra «os muros do medo» ou aquelas que denunciam que «os campos de
concentração ainda hoje existem» sobrepõem-se em vez de nos ajudarem a
compreender a realidade.
Poder-se-ia justificar este tipo de comunicação pensando que, evangelicamente,
se está a atirar o coração além do obstáculo. No entanto, vendo bem, as frases-slogan
impressionam também porque definem políticas concretas. O slogan «vacinar-se
é um acto de amor» valida e apoia concretamente as actuais políticas de
saúde governamentais e condena a resistência às mesmas. O slogan «o
Mediterrâneo é um cemitério» valida e apoia concretamente uma política de acolhimento
forçada, que, segundo alguns, é precisamente a razão pela qual o Mediterrâneo é
um cemitério. Não se trata, portanto, de atirar com esperança profética o
coração além do obstáculo.
A Igreja Católica está hoje muito empenhada em dois conceitos: o de
sinodalidade e o de discernimento, que estão intimamente ligados entre si. Mas
pergunto-me: que tipo de discernimento pode garantir um “magistério por slogan”
como o acima descrito? Discernir significa distinguir, escolher, excluir,
interpretar, avaliar, usar de prudência... mas para isso é preciso conhecer a
complexidade das questões sociais, também para compreender quando temos de nos
comportar de forma apropriada com elas ou quando podemos exercer a discrição.
Stefano Fontana
Através de La Nuova Bussola Quotidiana
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