Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
Ámen.
O meu coração está cheio da mais profunda gratidão a Deus Omnipotente que,
desde 10 de Agosto último, me conduziu, através de um grande sofrimento que
aparentemente teria terminado em morte, a oferecer, hoje, a Santa Missa Pontifical
de Nossa Senhora no Sábado do Advento, segundo o mais antigo uso do nosso amado
Rito Romano. Ao agradecer a Deus por me ter conservado em vida, agradeço também
a Nossa Senhora de Guadalupe, a Virgem Mãe de Deus, e a São José, seu
Verdadeiro e Castíssimo Esposo, e a companhia de santos que intercederam tão
poderosamente por mim durante o meu tempo de provação. Quando recuperei a
consciência depois de passar nove críticos dias num ventilador, fiquei cheio do
conhecimento de que Nossa Senhora de Guadalupe me tinha constantemente segurado
nos seus braços e mantido unido no coração com o glorioso Coração trespassado
do seu Divino Filho, o Sacratíssimo Coração de Jesus.
Também tomei imediatamente conhecimento dos inúmeros fiéis que rezavam e
ofereciam sofrimentos a Nosso Senhor, durante o tempo da minha doença e
recuperação, pedindo-Lhe que me curasse e me desse forças. Embora tenha sido
abençoado por ter excelentes cuidados médicos, que nunca esquecerei nas minhas
gratas orações, foi Deus que respondeu a essas muitas orações e aceitou esses
muitos sofrimentos, mantendo-me em vida e ajudando-me a recuperar as minhas
forças. Ao agradecer a Deus hoje, ofereço gratas orações por todos os que
imploraram a Nosso Senhor em meu nome, invocando a intercessão de Nossa Senhora,
de São José e de todos os Santos.
Ao oferecer a Santa Missa na Igreja do Santuário, apresso-me a expressar a
minha mais profunda gratidão ao Padre Paul Check, Director Executivo, e ao
pessoal do Santuário por todo o encorajamento e apoio dado a mim e à minha
família durante os dias mais críticos da minha doença e recuperação. Também
expresso a minha gratidão ao Oratório de Santa Maria em Wausau e, em particular, ao Cónego Aaron Huberfeld, Reitor
do Oratório, ao Cónego Heitor Mateus, seu Vigário, e ao pessoal do Oratório por
me terem acolhido durante os quase três meses completos da minha reabilitação.
Agrada-me muito que o Coro do Oratório de Santa Maria ofereça a Sagrada Música
para a Missa Pontifical de hoje e que tantos fiéis do Oratório estejam presentes.
Estou profundamente grato ao Instituto de Cristo Rei e Sumo Sacerdote, do qual
os Cónegos Huberfeld e Mateus são membros e do qual o meu secretário pessoal, o
Cónego Stephen Michael Sharpe, é membro, pela assistência mais fiel e generosa
que me foi prestada de tantas formas. Monsenhor Gilles Wach, Prior Geral do
Instituto, e Monsenhor Michael Schmitz, seu Vigário-Geral, não se pouparam a
nada para me prestarem a assistência do Instituto. Agradeço também à Madre
Maria Regina, minha antiga secretária e agora Superiora das Filhas da Obra de
Maria, por tudo o que as suas Irmãs e ela tão generosa e competentemente
fizeram para me ajudar. Que Deus recompense abundantemente todos os que me
ajudaram e continuam a ajudar-me, para que eu possa regressar plenamente ao
serviço activo de Nosso Senhor e do Seu Corpo Místico, a Igreja.
Claramente, se Nosso Senhor me tem mantido em vida, Ele deseja que eu seja cada
vez mais fiel, generoso e puro no trabalho junto a Ele para a salvação das
almas. De uma forma particular, para além das minhas responsabilidades como
Bispo e membro do Sagrado Colégio dos Cardeais, quero concentrar o meu serviço a
Nosso Senhor e ao Seu Corpo Místico, a Igreja, aqui no Santuário, ajudando o
Santuário a ser um farol da verdade e do amor de Deus, num Mundo assolado por
tantas mentiras e tantas acções odiosas. Com a ajuda de Nossa Senhora de
Guadalupe e do seu santo mensageiro, São Juan Diego, quero ajudar os peregrinos
do Santuário a terem o encontro mais pleno possível com Nosso Senhor, um
encontro que os sustentará quando regressarem às suas casas, trabalho e outras
actividades. De uma forma especial, dedicar-me-ei à realização da Casa de
Retiro a ser construída ao lado da Igreja, para que os peregrinos possam passar
aqui regularmente vários dias com Nosso Senhor, especialmente nos momentos mais
importantes ou críticos das suas vidas.
Após a Missa Pontifical, estarei presente na Cripta da Igreja do Santuário para
vos saudar. Agradar-me-á cumprimentar e agradecer pessoalmente ao maior número
possível de vós. A todos os que estão presentes para a Santa Missa ou que se
juntam a nós através dos meios de comunicação, saibam que permanecerão sempre
nas minhas orações de agradecimento. Por favor, continuem a rezar por mim.
O Tempo do Advento e, de modo particular, a Missa Votiva de Nossa Senhora no Sábado
do Advento, orientam-nos para a nossa necessidade fundamental de um
relacionamento profundo e duradouro com Deus. Sem Deus, somos, de facto, como
um solo ressequido que não tem vida e não pode fomentar a vida. Ao mesmo tempo,
o Advento e a Missa Votiva de hoje testemunham a presença de Deus connosco na
Igreja como o incomparável e duradouro fruto da Encarnação Redentora de Deus Filho
para a nossa salvação. No Introito da Santa Missa de hoje, rezámos: «Ó céus,
derramai dessas alturas o vosso orvalho: e que as nuvens chovam o Justo! Abra-se
a terra e floresça o Salvador! Abençoastes, Senhor, a vossa terra: e livrastes
Jacob do cativeiro.»[1] Dom
Prosper Guéranger, no seu comentário sobre o Tempo do Advento, reza: «Vinde, ó
Jesus, vinde depressa, e dai-nos dessa água, que brota do Vosso Sagrado Coração.
(…) Esta água é a Vossa graça; que chova sobre as nossas almas ressequidas e
elas também florescerão; que sacie a nossa sede e nós correremos no caminho dos
Vossos preceitos e exemplos. (…) Não, não haverá mais mãos fracas, nem joelhos
débeis, nem corações fracos; pois sabemos que é no amor que Vós vindes até nós.
Só há uma coisa que nos entristece: a nossa preparação não está completa. Temos
ainda alguns laços a quebrar; ajudai-nos a fazê-lo, ó Salvador da Humanidade!»[2]
Ele exorta-nos: «Peçamos, juntamente com a Igreja, o orvalho que dará nova vida
aos nossos corações e a chuva que os fará frutificar»[3].
Com que frequência sentimos falta de propósito e direcção nas nossas vidas?
Quantas vezes as nossas vidas podem parecer-se com a terra seca e ressequida
que tem estado sem orvalho ou chuva? É então que devemos levantar os nossos
olhos para contemplar Nosso Senhor connosco na Igreja, sobretudo na Sagrada Eucaristia,
e contemplar como Ele nos salvou pela Sua Encarnação Redentora e como continua
a derramar nos nossos corações, do Seu glorioso Coração trespassado, a graça
que torna as nossas vidas frutuosas, o que nos torna uma bênção para o nosso
próximo.
É a Mãe de Deus que nos ajuda a ver e a procurar no seu Divino Filho a graça
que transforma uma vida que se tornou como um deserto numa vida que dá vida e
fomenta a vida para os outros. Quando o Rei Acaz se recusou a recorrer a Nosso
Senhor num tempo de morte e destruição iminente nas mãos de potências
estrangeiras, Nosso Senhor, através do Profeta Isaías, prometeu: «Eis que uma
virgem conceberá e dará à luz um filho, e o seu nome será Emanuel»[4]. A
promessa de Nosso Senhor foi cumprida definitivamente quando o Arcanjo Gabriel
anunciou à Virgem Maria: «Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao
qual porás o nome de Jesus. Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. O
Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David, reinará eternamente sobre a
casa de Jacob e o seu reinado não terá fim»[5].
A nossa Mãe Santíssima, vaso escolhido em que Deus Filho tomou a nossa natureza
humana, unindo-a à sua natureza divina, para nos salvar do pecado e para nos
salvar para a vida eterna, está, no seu maternal amor por nós, constantemente a
atrair-nos para erguer os olhos e ver a salvação que Nosso Senhor está a operar
no nosso meio.
Hoje em dia, tantos dão lugar ao desânimo ou até abandonam Nosso Senhor na
Igreja, procurando-O noutro lugar. A tentação para desanimar ou até mesmo para abandonar
Nosso Senhor é compreensível de um ponto de vista puramente humano. Se tudo o
que somos e temos é unicamente desta terra, então não temos motivos para ter
esperança. Mas a nossa Mãe Santíssima faz-nos olhar para cima, para que não
vejamos apenas o mundo terreno e passageiro à nossa volta e não vejamos o nosso
destino eterno. Com a sua ajuda, não só aceitamos mas até abraçamos com alegria
o sofrimento do tempo presente, porque nos permite participar nos sofrimentos
de Cristo em prol da nossa salvação e da salvação do Mundo.
Com São Paulo, rejubilamos por completar nos nossos corpos o sofrimento de
Cristo por causa da vida eterna, por causa do «mistério: Cristo entre vós, a
esperança da glória»[6]. A nossa
única preocupação deve ser a de dar mais completamente o nosso coração ao
Sagrado Coração de Jesus, que nós, como indivíduos e nas nossas casas, vivamos
em Cristo. Recordemos diariamente as palavras de São Paulo, que nos escreveu
como seus «filhos», descrevendo-se a si próprio «com dores de parto, até que
Cristo se forme entre vós»[7]: «Aspirai
às coisas do Alto e não às coisas da terra. Vós morrestes e a vossa vida está
escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, a vossa vida, se manifestar, então
também vós vos manifestareis com Ele em glória»[8].
Que a observância do Sagrado Tempo do Advento e da Missa Votiva de Nossa
Senhora no Advento de hoje nos traga a graça de conhecer sempre quem somos em
Cristo e de viver em Cristo, com os olhos fixos no destino da nossa
peregrinação terrena: a vida eterna com Deus – Pai, Filho e Espírito Santo –,
na companhia dos anjos, na Comunhão dos Santos.
A beleza da Sagrada Liturgia de hoje é uma antecipação da beleza eterna dos «novos
céus e uma nova terra onde habite a justiça»[9], que
Nosso Senhor estabelecerá definitivamente na Sua vinda final e que é o destino
da nossa peregrinação terrena. Convidando-nos a entrar na Sagrada Liturgia com
todo o nosso coração, a nossa Mãe Santíssima ensina-nos a considerar toda a
vida sob o aspecto da eternidade, a olhar para tudo nesta terra no contexto do
Mistério da Fé, no qual participamos mais perfeitamente através da Santa Missa
até participarmos para sempre «no banquete das núpcias do Cordeiro»[10].
Unindo os nossos corações com o Imaculado Coração de Maria, levemo-los ao
glorioso Coração trespassado de Jesus. Ele está sempre pronto a receber os
nossos corações, a curá-los na Sua imensurável e incessante misericórdia, e a
inflamá-los com o Seu amor puro e altruísta. Que Cristo, por intercessão da Sua
Virgem Mãe, derrame sobre os nossos corações o Orvalho e a Chuva da Sua graça,
que os torna novos, que os torna frutuosos para o nosso próximo e para o nosso Mundo.
Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Ámen.
Raymond Leo Cardeal Burke
[1] “Rorate, caeli, desuper, et nubes pluant
iustum: aperiatur terra, et germinet Salvatorem. Ps. 84,2 Benedixisti, Domine,
terram tuam: avertisti captivitatem Iacob.” Missale Romanum, Missa de
Sancta Maria in Sabbato, I, Tempore Adventus, Antiphona ad Introitum.
[2] “O Sauveur ! venez
vite nous donner de cette Eau dont votre Cœur est la source, … Cette Eau est
votre Grâce ; qu’elle arrose notre aridité, et nous fleurirons aussi ; qu’elle
désaltère notre soif, et nous courrons la voie de vos préceptes et de vos exemples,
… Non, désormais nos bras ne sont plus abattus ; nos genoux ne tremblent plus ;
nous savons que c’est dans l’amour que vous venez. Une seule chose nous
attriste : c’est de voir que notre préparation n’est pas parfaite. Nous avons
encore des liens à rompre ; aidez-nous, ô Sauveur des hommes !” Prosper
Guéranger, L’Année liturgique, L’Avent, 21ème éd. (Tours: Maison Alfred
Mame et Fils, 1926), p. 250. [Guéranger].
[3] “[D]emandons, avec la
sainte Église, la rosée qui rafraîchira notre cœur, la pluie qui le rendra
fécond.” Guéranger, p. 251.
[4] Is 7, 14.
[5] Lc 1, 31-33.
[6] Cl 1, 27.
[7] Gl 4, 19.
[8] Cl 3, 2-4.
[9] 2 Pe 3, 13; cf. Ap
21, 1-8.
[10] Ap 19, 9.
1 Comentários
Amén
ResponderEliminar«Tudo me é permitido, mas nem tudo é conveniente» (cf. 1Cor 6, 12).
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