É tempo de deixar de usar o rótulo “católico tradicional”?

Como alguém que se identifica como “católica tradicional” há já algum tempo, devo admitir que o rótulo sempre me fez encolher. Em grande parte, isto deve-se ao facto de haver alguma confusão relativamente ao seu significado e essa confusão é usada para fomentar a divisão.

Nos últimos anos, o rótulo tem vindo a referir-se àqueles que assistem à Missa de sempre, ou “à Missa Tradicional Latina”, exclusivamente. Vivem segundo o antigo calendário da Igreja e as suas famílias são animadas por velhas tradições em casa. Os homens ainda vestem fatos para a Missa, até mesmo para a Missa diária. E, sim, as senhoras usam muitas vezes véu.          

Por um lado, este rótulo, por vezes, afasta os católicos que são tradicionais em muitos aspectos das suas vidas, mas que não estão familiarizados com a Missa de sempre. Como católica de berço que cresceu no Novus Ordo, pensava que os católicos tradicionais eram as famílias que eram a espinha dorsal da nossa vida paroquial.     

Todos nós conhecemos o tipo. Vão à igreja todos os domingos numa carrinha de passageiros cheia de crianças, rezam os seus terços todos os dias e, quando se está doente ou se tem um novo bebé, lá estão eles à sua porta com uma refeição quente.    

Pelos padrões do mundo, eles vivem vidas muito tradicionais. Imagine-se a sua surpresa, nos últimos anos, ao descobrirem que ficam aquém do rótulo “católico tradicional”.   

Por outro lado, o termo é também utilizado para marginalizar aqueles que assistem à Missa de sempre. Alguns usam o termo “católico tradicional” para nos amontoar com sedevacantistas ou com personagens barulhentos e grosseiros no Twitter – ou seja, com aqueles que rejeitam o Papa e o Vaticano II.       

Vemos isto mesmo nas observações do Bispo, outrora conservador, Robert Barron, em Março passado, acusando «católicos radicalmente tradicionais» ou «católicos arquitradicionalistas» de um «catolicismo autodestrutivo».        

Claro que houve uma reacção negativa, mas foi misturada com algumas defesas caridosas – ou melhor, ingénuas – que foram algo como isto: “Não, certamente o Bispo Barron não se refere àqueles que amam a Missa Latina, mas aos extremistas que rejeitam o Papa e o Vaticano II”.  

Sim, uma confusão de termos para fomentar a nossa divisão, como deixaram claro comentários subsequentes do Bispo Barron e acções recentes do Vaticano – qualquer pessoa que participe na Missa de sempre é imediatamente considerada suspeita como extremista.    

Mas não são apenas alguns dentro da hierarquia da Igreja que gostariam de, como disse Eric Sammons, «empurrar os católicos tradicionais cada vez mais para um gueto, com um fósforo pronto a incendiar toda a vizinhança». A esquerda secular adora ver esta marginalização por termos e eles irão sempre expandir o que significa ser um “católico tradicional” para expulsar todos os católicos da praça pública.           

Tomemos, por exemplo, esta peça do Washington Times, que faz soar o alarme sobre os esforços da Administração Biden para expandir as definições de extremismo de modo a incluir os defensores pró-vida. O autor bem-intencionado usa o rótulo “católicos tradicionais” para se referir aos católicos que são simplesmente pró-vida. A consequência deste tipo de retórica, mesmo quando bem-intencionada, pinta políticos católicos pró-aborto, tais como Biden e Pelosi, como católicos comuns, devotos, ou mesmo «profundamente católicos», como se a crença na santidade da vida fosse, de alguma forma, opcional. Entretanto, esses católicos pró-vida são apenas tradicionalistas (leia-se: extremistas).  

Qual é o resultado desta retórica? A divisão. «E se uma família se dividir contra si mesma, essa família não pode subsistir» (Mc 3, 25). Todos os católicos – independentemente da Missa que frequentem – deveriam defender as tradições e os ensinamentos da Igreja, para que não se encontrem também no gueto mesmo a tempo de sentir as chamas.

Deveríamos recusar rotular as crenças fundamentais imutáveis da Igreja como se não fossem, de alguma forma, as raízes eternas para todos nós. Deveríamos recusar rotular as práticas da grande maioria dos católicos comuns, santos e mártires durante mais de mil anos, como algo, de alguma forma, marginal ou desordenado dentro da própria Igreja. Obscurece o facto de os ensinamentos da Igreja e o Rito Romano pertencerem simplesmente aos católicos romanos.         

O Vaticano clama por unidade no seio do Rito Romano. Se é a unidade que queremos, é tempo de cavar ainda mais fundo até às nossas raízes romanas. Pois é a Romanitas, o espírito romano – não o tradicional ou o progressivo –, que nos une a nós, católicos romanos, em Cristo.  

Angela Lill     

Através de Crisis Magazine

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