Está algo difundido, entre os
católicos que pretendem – com boas intenções – defender e propagar a celebração
do rito romano tradicional, centrar a defesa da Missa Tridentina na sua “beleza”,
motivo pelo qual deveria respeitada. Assim, concebem a Missa Tradicional como
apenas mais uma opção dentro do catolicismo. Deste modo, os fiéis que gostam da
Missa Tradicional devem ser respeitados porque podem levar o seu carisma à
grande variedade de carismas que coexistem harmoniosamente na Igreja. De
maneira que a beleza da liturgia tradicional há-de conciliar-se com a
existência do Novus Ordo Missæ: é tão louvável um rito como o outro
e a sua coexistência mútua é um bem a preservar. O importante é que a Missa
Tradicional tenha os mesmos direitos que a missa nova e que cada um escolha o
rito a que deseja assistir.
A atitude mencionada assemelha-se à dos objectores de consciência: não me
obriguem a ir à missa nova, porque tenho o direito, como fiel, a assistir – em
consciência – à Missa Tradicional. Tal como um médico que se recusa a fazer
um aborto, pedem que os deixem actuar privadamente como lhes dita a sua consciência,
mas também não lutarão pela restauração sem reservas da Missa Antiga. Desde que
ambos os ritos possam coexistir juntos, pois que o façam em paz e não arranquemos
os olhos.
Mas sabemos que assim não se restaura nada.
Em primeiro lugar, concentremo-nos na questão da “beleza”. Deixam-se aqui de
lado as necessárias consequências a retirar da utilização da palavra “beleza”
no seu sentido transcendental (ou seja, como um conceito que pertence ao ente enquanto
ente), uma vez que, na maioria das vezes, não se utiliza neste sentido, mas no
sentido vulgar e corrente do termo: como algo agradável aos sentidos. Quer
dizer, a Missa Tradicional é agradável aos sentidos, porque nela se unem uma
série de elementos que, de alguma forma, elevam o espírito daqueles que a ela
assistem: o canto gregoriano, a harmonia da própria Missa, a orientação ad
orientem, o uso do latim…
Não deixando de ser certo, creio que fundamentar a defesa da Missa na sua beleza
é algo infeliz e carente de seriedade. O motivo primordial pelo qual se deve
lutar arduamente pela restauração da Missa não reside na sua beleza, mas no
conteúdo do próprio rito. O rito da Missa Tradicional é o rito imemorial da
Igreja; não criado, mas codificado em Trento, que recolhe a tradição anterior. Com
um Cânone que remonta ao século IV, este rito foi o alimento em que se formaram
tantos santos e preservou o sacramento da Eucaristia de todo o tipo de heresias,
actuando como um verdadeiro escudo contra as investidas de heresiarcas e “avançados”
que queriam fazer da Missa tudo menos um sacrifício.
Além disso, pode haver Missas Tradicionais “muito pouco bonitas”: com
sacerdotes apressados ou coros horríveis, em igrejas feias ou com uma decoração
horrorosa. Podem carecer de beleza, no sentido em que estamos a usar essa
palavra. Podia, inclusive, dar-se o caso de missas segundo o missal de Paulo VI
com excelentes coros e numa harmonia e sintonia perfeitas. No entanto, isso é
igual, é secundário. Não se pode fazer da Missa um concerto, de modo que,
quanto melhor seja o coro ou a pronúncia do sacerdote, então melhor será a
Missa. Há que ir à raiz, ao próprio rito, ao conteúdo deste. E se o
analisarmos, não há comparação.
Definitivamente, a preeminência da Missa Antiga sobre a missa nova não reside
em questões estéticas. Querendo, poderíamos fundamentá-la no sentido
transcendental da palavra “beleza”. Por outras palavras, o belo entendido como
aquilo que é susceptível – merecedor – de ser conhecido e, por conseguinte,
como um bem para a inteligência. Neste sentido, a Missa Tridentina merece ser
conhecida. Mas não porque produza uma sensação de prazer no sujeito que a ela
assiste, mas pelas características intrínsecas do próprio objecto.
Como é lógico, seria necessário fazer uma análise mais aprofundada para
destacar as inconsistências da atitude previamente descria. Seja como for, vale
a pena dizer que a Missa Tradicional é a Missa de sempre. Que não se trata de
uma opção a mais a ser escolhida como tantas outras. A antiga liturgia oferece
a sabedoria de inúmeras gerações que foram aperfeiçoando e reformando o
conteúdo do rito, ao contrário da imposição despótica da nova missa, resultado
de uma espécie de projecto de laboratório.
Antonio de Jaso
Através de La Esperanza
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