No século passado, o escritor George
Orwell deixou-nos a sua obra literária 1984: um terrível romance de carácter
profético sobre o que poderia tornar-se uma realidade autocrática a nível mundial
baseada, em grande medida, na aniquilação da verdade objectiva suplantada
pela ideologia da mentira ao serviço do partido único. O meio de o fazer
era através da mudança da linguagem: a chamada “neolinguagem”, por meio da qual se
ia transformando o próprio pensamento da população, passando de conceitos reais
para conceitos que interessavam ao partido. Pois bem, aqui e agora está a
acontecer sem que muitos se apercebam: a mudança linguística está a mudar a
forma de pensar e de narcotizar moralmente as consciências. E se o leitor
pensa que estou a exagerar, prová-lo-ei através de alguns exemplos muito
significativos:
1. A palavra “aborto” é substituída por “interrupção voluntária da
gravidez”. Uma palavra que define o pior de todos os crimes (contra aqueles
que não se podem defender e a quem é negado o direito de viver) é substituída
por um conceito menos agressivo para o ouvido e mais próximo do jurídico e do “humano”
(do ponto de vista actual).
2. A palavra “Matrimónio” é substituída por “casal”, que, por sua
vez, cobre qualquer situação de convivência. Uma palavra que define o
compromisso definitivo entre um homem e uma mulher, ambos solteiros, é
substituída por um conceito que inclui: noivos, casados, divorciados recasados,
parelhas homossexuais...; e torna-se mais conforme à ideologia actual que pretende
minar a família cristã e o Matrimónio natural, ao mesmo tempo que dilui
qualquer diferença entre um casal abençoado por Deus no santo Matrimónio e um
casal que opta por viver em pecado mortal.
3. A palavra “sexo” (referida a masculino/feminino) é substituída por “género”.
Uma palavra que define a genética humana (que é masculina e/ou feminina, uma
vez que a ciência nunca provou a existência de qualquer outro gene) é
substituída por um conceito que implanta um número interminável de tendências
(l, g, b, t, i, q, r, etc.) a fim de substituir a lei natural por uma lei ideológica
que, por razões puramente oportunistas, está agora a ser empunhada pela
esquerda juntamente com a direita liberal. Desta forma, implanta-se a ideia de “livre
escolha de género”, o que substitui a livre vontade do próprio Deus, que dá a
cada um de nós um sexo desde a concepção.
4. A própria palavra “Deus” é substituída por “transcendência”,
para que a essência pessoal de Deus seja eliminada pela raiz e substituída por
uma mera visão do ser humano que se transcende a si próprio para continuar à
sua volta. Desta forma, deixa-se de acreditar em Cristo (que é Deus encarnado)
para, quando muito, acreditar através da adesão ideológica a conceitos como “justiça
social, ecologia, sustentabilidade, humanismo, etc.” e esvazia-se a Fé da sua
própria essência, caindo-se imediatamente no conceito de “Igreja” reconvertida
em ONG ou empresa com fins apenas sociais.
Mas passemos, agora, a exemplos mais propriamente “intra-eclesiais”:
5. A palavra “Missa” é substituída por “Eucaristia”. Ou seja, o
fruto da Missa, que é a Eucaristia, ocupa a árvore inteira. Ao dizer apenas “Eucaristia”,
suprime-se o carácter sacrificial da Missa, anula-se a nossa responsabilidade
moral dada pelos pecados pessoais, diluem-se os próprios fins da Missa e o que
é pior: é como um convite global a comungar, que todos comunguem, uma vez que
se trata de um banquete de convidados. Esta substituição, de matiz claramente
protestante, é causa de inúmeros sacrilégios.
6. A palavra “pecado” é substituída por “erro”, despojando, assim,
o pecado da sua própria essência, que é a ofensa a Deus. Não poucos teólogos
são da opinião que quem acredita que pode ofender a Deus está a expressar-se com
soberba, dado que ninguém é capaz de o fazer. Esta é uma suprema contradição:
negam que há pecado e, ao mesmo tempo, qualificam de pecado essa negação (o
modernismo usa sempre um raciocínio absurdo). Assim, narcotiza-se a consciência
e já quase ninguém tem qualquer sentido de pecado. Ao eliminar a “ofensa a Deus”, numa catequese ridícula, por exemplo, impõe-se o tópico de “faltar à Missa
dominical não é pecado porque não provoco dano a ninguém”, ou, ainda, preparam-se
as confissões pessoais ignorando completamente os três primeiros mandamentos do
Decálogo referentes à relação da alma com Deus.
7. A palavra “apostolado” é substituída por “diálogo”, despojando,
assim, a missão de toda a tensão positiva que afecta a vontade do cristão
quando se trata de rezar pela conversão do irmão, oferecer-lhe o caminho da
verdadeira Fé, convidá-lo a ser baptizado (ou a confessar-se, a ser
confirmado...). Deste modo, vemos quantas missões se transformam em acções
centradas na promoção social dos destinatários e reduzindo ao mínimo (ou à
totalidade) o sentido real do mandamento de Jesus sobre as missões: «Ide por
todo o Mundo e baptizai...».
8. Com a palavra “Inferno” acontece algo peculiar. Não é substituída por
outra palavra, mas muda-se-lhe o significado, deixando igual o significante. O Inferno
é apenas intraterreno: o conjunto de todos os sofrimentos injustos que ocorrem
no Mundo por causa dos males estruturais. Uma vez ouvi um teólogo dizer que «um
exorcismo é fazer uma greve diante de uma injustiça, já que o Diabo não existe».
Este é um exemplo representativo do que temos hoje. Este esvaziamento do significado
real leva muitos cristãos à falsa segurança da salvação eterna sem contar com a
livre resposta à Graça de Deus.
Conclusão: é urgente desmascarar a estratégia diabólica de “mudar” a verdade
através do falso uso da linguagem. E fazê-lo não só a partir do exterior, mas
começando com as palavras que usamos na própria Igreja. O trabalho destrutivo
começou há muitos anos e os seus efeitos já são uma contundente realidade. E, a
título de pós-escrito, acrescento: que, em breve, nos felicitemos calorosamente
com um “feliz Natal” e não com “festas felizes” (mais um exemplo
da perversidade nascida desta revolução silenciosa e subtil).
P. Santiago González
Através de Adelante la Fe
3 Comentários
"Nova linguagem: arma diabólica para narcotizar a consciência"
ResponderEliminar"Conclusão: é urgente desmascarar a estratégia diabólica de “mudar” a verdade através do falso uso da linguagem.
E fazê-lo não só a partir do exterior, mas começando com as palavras que usamos na própria Igreja.
"E, a título de pós-escrito, acrescento: que, em breve, nos felicitemos calorosamente com um “feliz Natal” e não com “festas felizes” (mais um exemplo da perversidade nascida desta revolução silenciosa e subtil)"
Sem dúvida, concordo plenamente, com o que estamos a viver é demasiado mau e temos, naquilo que pudermos, sempre que possível, contrariamos essas expressões.
lembro-me de quando andava na Faculdade de Direito, quando pela primeira vez foi colocado a palavra género, em vez homem e mulher, nessa altura eu não entendi bem o que se passava, por ingenuidade, já achava isso horroroso, quanto mais agora, com esta total loucura, com plena capacidade e discernimento, que se tem das coisas e do que se passa à nossa volta e no mundo.
é muito triste saber e ter-se consciência do mal que se está a praticar.
tenho muitaaaa pena da juventude que se vai perder literalmente, porque não há quem os ensine, as escolas estão depravadas, as catequeses, com o novo ensino saído do bergólio, vai de mal a pior.
Não podemos contar com os Pastores, porque se tornaram lobos e aves de rapina, facilitando plenamente a ação do lucifer, aliás o lucifer e os seus esquadrões, já os tem como certos, pois o mundo e o ensino, tudo está a facilitar a sua ação.
Se abandonamos. Aquele, que por nós morreu, estamos perdidos.
Peçamos muito a Intercessão de Nossa Senhora, do Glorioso Patriarca S. José e de toda Milícia Celeste, Santos e Justos da Terra, que intercedam junto de Deus, por nós.
Amén
iSSO ACIMA É O PROVENIENTE DA "DITADURA DO RELATIVISMO", como perfeitamente previu, como se profetizasse Orwel!
ResponderEliminarEis aí o MARXISMO CULTURAL DA NOVILÍNGUA do mestre em futurologia Orwell, pela qual falam uma, mas quer dizer outra, como por ex., DEMOCRACIA, embora significa dizer COMUNISMO, observando-se que os comunistas capachos da maçonaria jamais se expõem à opinião pública como maus - as garrar dessas aves-de-rapina serão mostradas quando acederem ao poder, por enquanto comportam-se como os hippies: paz e amor!
ResponderEliminar«Tudo me é permitido, mas nem tudo é conveniente» (cf. 1Cor 6, 12).
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