Seja louvado Nosso Senhor Jesus Cristo!
Queridos Irmãos e Irmãs em Cristo,
No mês passado, tive o prazer de vos informar que, pela graça de Deus e através
de um intensivo programa de reabilitação, pude voltar à oferta diária do Santo
Sacrifício da Missa. A oferta diária da Santa Missa é essencial para a minha
identidade como sacerdote, Bispo e Cardeal, e também o maior serviço que posso
prestar ao povo santo de Deus. Embora a intensificação da minha reabilitação
continue a proibir o regresso ao ministério público, espero, contudo, um dia,
em breve, retomar as minhas normais actividades pastorais. Durante este tempo
de convalescença, vós e as vossas intenções permanecem diariamente nas minhas
orações. Por favor, continuai a manter a minha plena recuperação e o meu
ministério sacerdotal nas vossas orações.
Na minha mensagem do mês passado, uma actualização sobre a minha saúde foi
apenas um ponto de introdução à mensagem mais importante de desenvolver a
devoção diária do Santo Rosário, pois levo muito a sério a paternal ajuda para
a vossa vida espiritual, pela qual fui ordenado para vos dar. Tal como no mês
passado, redirecciono agora esta carta para um tema espiritual relacionado com
a conclusão do Ano Eclesiástico.
Durante estas últimas semanas do actual Ano Eclesiástico, a Sagrada Liturgia
chama a nossa atenção para aquilo a que, tradicionalmente, se chama as Quatro
Últimas Coisas: Morte, Juízo, Céu e Inferno. O dia 1 de Novembro, por exemplo,
é a Solenidade de Todos os Santos, recordando às nossas mentes e corações a
graça da santidade da vida, que recebemos através dos Sacramentos do Baptismo e
da Confirmação, destinando-nos à vida eterna no Céu. No dia seguinte, Dia de
Fiéis Defuntos, recordamos todos os fiéis que partiram – a Igreja Padecente ou
no Purgatório –, rezando para que todos os castigos temporais, devidos a
pecados que possam ter cometido, possam ser remidos e para que se juntem aos
Santos no Céu – a Igreja Triunfante.
O último Domingo do mês, 28 de Novembro, Primeiro Domingo do Advento, inicia o
novo Ano Eclesiástico, enquanto que o Domingo anterior, segundo a Forma
Ordinária do Rito Romano, é a Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo. Na
Forma Extraordinária, a mesma importante festa é celebrada no último Domingo de
Outubro, 31 de Outubro deste ano. Honrando Nosso Senhor sob o Seu título de Rei
do Céu e da Terra, estamos profundamente conscientes da nossa vocação e missão
de ser Seus colaboradores, Seus soldados, no estabelecimento do Seu Reino no
mundo. Nós – a Igreja Militante – somos um só com a Igreja Padecente e a Igreja
Triunfante. De facto, dependemos das orações dos Santos no Céu e dos nossos
irmãos e irmãs no Purgatório para nos ajudar a levar a cabo a missão de Cristo
Rei no mundo. Pedimos as suas orações, para que os nossos corações, um com o
Coração Imaculado de Maria e o Puríssimo Coração de São José, possam pertencer
pura e totalmente ao Sagrado Coração de Jesus. Cristo Rei reina sobre o mundo a
partir do Seu glorioso Coração, trespassado para a nossa salvação. Do Seu
Sagrado Coração brotam, incessante e imensamente, as graças necessárias para
sermos verdadeiramente Seus colaboradores, Seus soldados.
À medida que o actual Ano Eclesiástico se aproxima do fim e que antecipamos o
início do novo Ano Eclesiástico, um novo ano de graça, a Sagrada Liturgia
leva-nos a contemplar mais plenamente a Segunda Vinda do nosso Rei Soberano,
quando Ele estabelecerá «novos céus e uma nova terra, onde habite a justiça»
(2 Pe 3, 13). Trabalhando diariamente, para que o Reino de Cristo possa vir,
como Ele nos ensinou a rezar no Padre-Nosso, esperamos a Sua Vinda Final.
Queremos ser apenas aqueles fiéis colaboradores, firmes serventes, que Ele
encontrará vigiando e esperando para O acolher na Sua Vinda. Nosso Senhor
ensina-nos: «Estejam cingidos os vossos rins e acesas as vossas lâmpadas.
Sede semelhantes aos homens que esperam o seu senhor ao voltar da boda, para
lhe abrirem a porta quando ele chegar e bater» (Lc 12, 35-36). Cinjamos os
nossos rins, esforçando-nos por levar uma vida boa e santa, de acordo com a
graça que Nosso Senhor infalivelmente derrama nos nossos corações a partir do
Seu Coração Real. Mantemos as nossas lâmpadas acesas, procurando Nosso Senhor e
o Seu Reino através da oração, devoções e, sobretudo, da nossa participação na
Sagrada Liturgia. A perspectiva segura da Segunda Vinda de Nosso Senhor inspira
em nós um santo temor, aquele dom do Espírito Santo a que chamamos “Temor de
Deus”. Não é um temor de terror perante Nosso Senhor, mas de profundo respeito
pela Sua sublime Santidade e pela nossa indignidade de estar perante Ele. É um temor
que inspira confiança, pois, se ansiamos e procuramos a Sua vinda, estamos
desejosos de O acolher, confiando na Sua “infinita bondade e promessas” (Acto
de Esperança).
De acordo com a maneira de pensar do mundo, a Realeza de Cristo tira-nos a
liberdade, subjugando as nossas vontades à Sua. Mas o oposto é verdadeiro.
Quando Cristo reina no nosso coração, então somos verdadeiramente livres.
Percebemos a nossa plena dignidade no amor puro e desinteressado de Deus e do
nosso próximo. Damos completamente o nosso coração ao Sagrado Coração de Jesus,
pois só n’Ele encontramos a liberdade e a paz que tanto desejamos. Cristo reina
nos nossos corações pelo Seu amor puro e altruísta, para que possamos amar com
pureza e abnegação. Como Ele prometeu: «Se alguém tem sede, venha a mim; e
quem crê em mim que sacie a sua sede! Como diz a Escritura, hão-de correr do
seu coração rios de água viva» (Jo 7, 37-38).
Testemunhamos a verdade da promessa de Nosso Senhor no Imaculado Coração de
Maria, a Sua Mãe e o Seu Primeiro e Mais Perfeito Discípulo. Tendo sido
preservada de cada mancha de pecado desde o primeiro momento da sua vida, pelo
Mistério da Imaculada Conceição, ela estava preparada para ser o tabernáculo
vivo no qual Deus Filho tomaria um coração humano sob o seu Imaculado Coração.
Ela era sempre totalmente a favor do seu Divino Filho. Como conclui o relato do
Encontro de Nosso Senhor no Templo, ela guardou no seu coração o Mistério da
Encarnação Redentora. Da mesma forma, ela, com São João Apóstolo e Evangelista
e com Santa Maria Madalena, permaneceu ao pé da Cruz, recebendo, através das
palavras de Nosso Senhor, moribundo, dirigidas a ela e a São João, a missão de
ser a Mãe da Divina Graça: «Mulher, eis o teu filho! […] Eis a tua mãe!»
(Jo 19, 26-27).
Intimamente um com o seu Coração Imaculado é o Puríssimo Coração de São José, o
seu Verdadeiro Esposo e o Pai Nutrício do seu Divino Filho. Deus concedeu a São
José graças extraordinárias de pureza e justiça, para que ele pudesse ser o adequado
esposo da Virgem Maria e, com ela, providenciar a família a Deus, o Filho
Encarnado. Mesmo sendo o Guardião da Virgem Mãe e do seu Filho Divino, é ele o
nosso Guardião e Protector na Igreja. São José ensina-nos a viver, em união de
coração com o Coração Imaculado de Maria, na companhia e serviço de Jesus.
Noutra ocasião, escrever-vos-ei mais detalhadamente sobre a devoção ao Puríssimo
Coração de São José.
Depois da morte de Nosso Senhor na Cruz, o soldado romano trespassou o Seu Lado
com uma lança e do Seu Coração correu «sangue e água» (Jo 19, 34), o
sinal da infindável efusão da graça divina na Igreja. Naquele mesmo momento, em
cumprimento da profecia de Simeão na Apresentação, o Imaculado Coração de Maria
foi misticamente trespassado: «Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe:
“Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para
ser sinal de contradição; uma espada trespassará a tua alma. Assim hão-de
revelar-se os pensamentos de muitos corações”» (Lc 2, 34-35). A Santíssima
Virgem Maria, Mãe da Igreja, Nossa Mãe, atrai-nos ao seu Imaculado Coração,
para que os nossos corações descansem na verdade e no amor do Sagrado Coração
do seu Divino Filho.
No Imaculado Coração de Maria, encontramos a liberdade total, que é nossa quando
entregamos o nosso coração, sem reservas, à regra do Real e Trespassado Coração
de Jesus, para que rezemos, com ela, no Magnificat: «A minha
alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador»
(Lc 1, 46-47). Sob o cuidado e orientação maternal da Virgem Mãe de Deus,
encontramos a liberdade e a alegria de uma vida vivida em Cristo, vivida no
Sagrado Coração de Jesus, em Quem todas as virtudes estão unidas na perfeição
indizível do Amor Divino. Assim, também nós rezamos, com Maria Imaculada: «A
sua misericórdia [de Deus] estende-se de geração em geração» (Lc 1, 50).
Continuemos a aproximar-nos da Santíssima Virgem Maria, especialmente através
da oração do Santo Rosário, para que as muitas graças do mês de Novembro nos
levem a aproveitar o dom do Temor de Deus e, assim, viver mais plenamente a
nossa vida em Cristo, a nossa comunhão na Igreja – Triunfante, Padecente e
Militante.
Unamos os nossos corações ao Imaculado Coração de Maria, que deu completamente
o seu coração ao Senhor: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a
vossa palavra» (Lc 1, 38). Sigamos o seu conselho maternal, o conselho da
Mãe da Divina Graça, primeiro dado aos serventes do vinho nas Bodas de Caná: «Fazei
o que Ele [Jesus] vos disser» (Jo 2, 5). Unamos os nossos corações ao
Sagrado Coração de Jesus no Sacrifício Eucarístico. Assim, os nossos corações,
repousando na Sua liberdade, um com o Imaculado Coração de Maria, manifestarão
a verdade das Quatro Últimas Coisas. Assim, viveremos na firme antecipação da
Segunda Vinda do Nosso Senhor, quando Ele levar à plenitude o Seu Reino, a obra
supremamente real da salvação eterna.
Implorando a Nosso Senhor, através da intercessão de Nossa Senhora de
Guadalupe, que vos abençoe, às vossas casas, às vossas famílias e a todos os
vossos trabalhos, permaneço Vosso, no Sagrado Coração de Jesus e no Imaculado
Coração de Maria, e no Puríssimo Coração de São José,
Raymond Leo Cardeal Burke
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