15 de Outubro de 2021
Há quatrocentos e cinquenta anos, a 7 de Outubro
de 1571, a frota cristã, liderada por Dom João de Áustria, trouxe a Lepanto –
no Golfo de Patras – uma esmagadora vitória sobre os Turcos. Aquela vitória, conseguida
milagrosamente pela Liga Santa, que também estava em clara inferioridade
numérica e militar em relação à frota do Império Otomano, foi atribuída à
intervenção de Nossa Senhora, que, desde então, é venerada sob o título de
Rainha das Vitórias e Auxílio dos Cristãos: a invocação Auxilium Christianorum,
que recitamos na Ladainha Lauretana, foi inserida, precisamente, depois daquela
milagrosa vitória. Desde então, celebramos também Nossa Senhora como Rainha do
Sacratíssimo Rosário.
O estandarte da Liga Santa, sobre o qual sobressai o Crucifixo ladeado pelos
Apóstolos São Pedro e São Paulo, com o lema IN HOC SIGNO VINCES, havia sido benzido,
no ano anterior, na Basílica de São Pedro, por São Pio V – o Papa do Concílio
de Trento, do Rosário e da Missa Tradicional –, e entregue ao Comandante da
frota pontifícia, Marco António Colonna. A 16 de Setembro de 1571, a frota da Liga
Santa zarpava do porto de Messina e, a 4 de Outubro, reunia-se no porto de
Cefalónia, para avançar contra os Turcos. Tomaram parte na Liga o Reino da
Espanha, a República de Veneza, os Estados Papais, as Repúblicas de Génova e de
Lucca, os Cavaleiros de Malta, os Farnese de Parma, os Gonzaga de Mântua, os
Estensi de Ferrara, os Della Rovere de Urbino, o Duque de Saboia, o Grão-Duque
da Toscana. Todos unidos para enfrentar o inimigo comum que, mais uma vez,
ameaçava a Europa cristã, depois ter sido repelido e derrotado em Poitiers (732)
e Viena (1529).
Hoje, o nosso inimigo é mais subtil e traiçoeiro: não nos deparamos com um
adversário que nos declara guerra e que combate com honra e com coragem, mas com
quantos deveriam ser os nossos aliados, aqueles que nos deveriam ajudar e
proteger diante da ameaça – não menos temível do que então – de uma invasão da
Europa.
Quem nos deveria defender é, justamente, aquele que favorece a invasão e apaga
sistematicamente da nossa identidade a nossa Fé, a nossa cultura e as nossas
tradições. Em nome da cancel culture, conseguiu fazer-nos ter vergonha
da Vitória de Lepanto, sem a qual, durante quatro séculos, o Islão não foi
capaz de submeter os nossos Países ao Crescente.
Mas se o que estamos a assistir hoje tivesse acontecido em 1570, o prodígio
daquela Vitória, com toda a probabilidade, teria sido impossível. Se São Pio V tivesse
promovido o diálogo com o Islão, em vez de convocar a Liga Santa; se Dom João
de Áustria tivesse conspirado com o Sultão por interesses pessoais; e a
República de Veneza ficasse em silêncio sobre o que, hoje, chamaríamos de “violações
dos direitos humanos” infligidas pelos Otomanos aos Venezianos de Chipre; se o Rei
da Espanha ou os Duques e Grão-Duques da Itália tivessem invocado a laicidade
do Estado, os povos da Europa católica jamais teriam sido capazes de combater e
vencer. Porque os movimentos populares – mesmo aqueles motivados pelas melhores
intenções – precisam de líderes, de guias carismáticos, de uma autoridade que
os guie e que lhes coordene a acção.
Por isso é que é tão grave a crise que estamos a atravessar: parte de uma crise
de autoridade, de uma falta de princípios e valores morais que animem e orientem
quem manda antes mesmo de quem obedece, de considerar o próprio papel como uma
ocasião para tratar dos próprios interesses, ao invés de fazer o bem à
comunidade.
Os que realmente mandam hoje não fazem parte das Instituições, mas valem-se
delas para corromper os funcionários, chantageando quem lá colocaram para poder
manipulá-los à vontade, expulsando os honestos, controlando a oposição. Se os nossos
governantes realmente se importassem com o bonum commune e não
obedecessem aos seus mandantes, teriam curado o vírus sem seguir as ordens da
indústria farmacêutica, de um lado, e da elite globalista, do outro. O mesmo
acontece também na Igreja: basta pensar no esmagamento dos Bispos à narrativa sobre
o COVID, como prontamente fecharam as igrejas, como recomendaram aos fiéis que
se vacinassem, usando a autoridade e o prestígio do Papado para patrocinar,
inicialmente, o soro génico e, hoje, a transição ecológica, outra obsessão do Great
Reset teorizado por Kaus Schwab Rotschild.
Políticos, parlamentares, magistrados, médicos, jornalistas, clérigos: todos
eles são subservientes à narrativa psicopandémica e estão igualmente dispostos
a aceitar acriticamente as teorias absurdas e cientificamente refutadas do
aquecimento global, apenas porque os seus senhores decidiram, primeiro,
especular sobre a emergência pandémica e, agora, sobre o green, usando uma
outra emergência como pretexto para impor o green pass – que não é por
acaso que se chama green – e, com esse, mais privações das liberdades
naturais dos cidadãos.
Tereis compreendido que tudo o que nos é apresentado como justificação das suas
acções é sempre e apenas um pretexto que nada tem que ver com as suas intenções
criminosas. Por outro lado, se nos dissessem com clareza – e não apenas
antecipando-o nas publicações dos seus encontros para afectos aos trabalhos –
que querem reduzir a população à escravidão, não conseguiriam enganar-nos a
todos.
Em todas as partes do mundo onde vigora a psicopandemia, as pessoas vão para as
praças e manifestam a sua discordância. Os meios de comunicação do regime – praticamente
todos – silenciam sistematicamente o que, no entanto, podemos ver na Internet,
apesar da censura das redes sociais: dezenas de milhares de pessoas, centenas
de milhares de pessoas na França, na Alemanha, na Holanda, na Grécia, nos Países
da antiga Jugoslávia, na América, na Austrália, no Canadá, na Itália. Acordamos
um pouco tarde, é verdade, mas estamos a começar a compreender que nos
enganaram durante quase dois anos, contando-nos coisas que não correspondiam à
realidade, dizendo que não havia curas, que se morria de COVID enquanto matavam deliberadamente os contagiados para nos fazerem aceitar máscaras, lockdown
e recolheres obrigatórios. Hoje, dizem-nos que existem curas, apenas porque as
empresas farmacêuticas patentearam a custos exorbitantes (e com graves efeitos
colaterais) aqueles fármacos que estão disponíveis há anos (sem reacções
adversas) a preços baixíssimos. E nenhum magistrado tem nada a dizer.
Compreendei bem, queridos irmãos, que, quando uma autoridade que visa o bem dos
cidadãos é usada para corrompê-los, empobrecê-los, escravizá-los e, até mesmo,
enfraquecê-los ou eliminá-los fisicamente, aquela autoridade falha, porque é
abusada. A obediência que nos é pedida a leis tirânicas torna-se cumplicidade,
porque, com a chantagem, impõe-nos acções irracionais e potencialmente danosas,
que em condições normais nos recusaríamos a realizar. Mas como podemos
considerar normal que os médicos não tratem dos doentes e se vendam às empresas
farmacêuticas? Como podemos permanecer calados face aos conflitos de interesses
dos membros do CTS, da AIFA, da EMA e da OMS? Como podemos aceitar
silenciosamente as aprovações sobre os protocolos, sobre o plano pandémico, sobre
a proibição de tratamentos? Como podemos continuar a dar crédito a um poder que,
até agora, só infligiu confinamentos, sofrimentos, miséria, despedimentos,
falências, privações, dores, mortes? Pensais realmente que, quando vos dizem
que estão a fazer isso para o vosso bem, eles acreditam nisso primeiro?
Por isso são tantas as manifestações e protestos, e por isso é desejável uma
coordenação que os torne cada vez mais eficazes e cada vez mais participados.
Para isso, devemos esperar que o Senhor suscite também pessoas honestas e animadas
por sãos princípios, por ideais nobres, por um verdadeiro sentido de dever, que
possam criar uma alternativa concreta e que se possa partilhar – sem
infiltrações maçónicas e sem gatekeeper – para o desolador panorama
político, social e religioso hodierno.
Mas se vos estais a organizar para enfrentar a ameaça que paira sobre vós da
parte de uma classe política, médica e da informação que traiu todos os ideais
e a deontologia que deveriam animar a sua acção, por outro lado, é essencial
dar uma alma cristã a este protesto civil, para que se mantenha moralmente
nobre e para que possa esperar ter sucesso e ser abençoado por Deus.
Daqui a pouco, recitareis juntos o Terço para implorar à Santíssima Virgem,
pela Sua intercessão junto do Trono de Deus, que intervenha, hoje, nos acontecimentos
humanos, como fez muitas vezes ao longo da História. Fá-lo-eis com a Fé e a
humilde confiança dos filhos que correm para a Mãe celeste, sabendo que, apesar
dos seus pecados, podem recorrer a Ela, invocá-La mais uma vez, prometendo-Lhe
converter-se e fazer todo o possível para que as nossas Pátrias voltem a ser terras Cristãs,
orgulhosas dos seus valores, orgulhosas de erguerem publicamente a Cruz de Cristo,
de testemunharem nas leis, nas instituições, no trabalho e nas artes aquela Fé
que tornou grandes os nossos Países, que lhes deu tantos Santos, que tornou fecunda a
cultura e próspera a empresa.
O Senado da Sereníssima República – com um gesto de devoção que, hoje,
escandalizaria os bem-pensantes que usam o xador em homenagem ao Islão e
os partidários da laicidade do Estado – declarou solenemente: «Non virtus,
non arma, non duces, sed Maria Rosarii victores nos fecit», «Não
vencemos graças à estratégia militar, à força das armas, ao valor dos nossos comandantes,
mas graças a Nossa Senhora do Rosário». Nas moedas comemorativas, São Pio V
fez gravar este lema: DEXTERA DOMINI FECIT VIRTUTES, a mão do Senhor fez maravilhas,
tirado do Salmo 118.
Há quatrocentos e cinquenta anos, Nossa Senhora ouviu a oração fervorosa de toda
a Catolicidade e concedeu uma milagrosa vitória à frota cristã. Também hoje – se
soubermos rezar e fazer penitência como Ela nos pediu Fátima e em tantas outras
aparições – a recitação do Santo Rosário pode impetrar ao Céu um outro milagre:
libertar as nossas amadas Pátrias dos corruptos e dos traidores que infestam as
suas instituições; mover os bons a denunciar, com coragem, aqueles que
cometeram crimes graves; iluminar os magistrados e as forças da ordem a
cumprirem o seu dever, deixando de secundar os delírios tirânicos dos
autoproclamados filantropos e daqueles que os servem; inspirar os políticos para
que se façam intérpretes dos legítimos pedidos de um povo exasperado e não cínicos
executores da ideologia de morte da elite.
Façamo-nos dignos daquilo que pedimos à Virgem Maria, sendo testemunhas
coerentes da Fé que professamos, tendo uma vida honesta e santa, alimentada
pela oração e pelos Sacramentos. A nossa Mãe e Rainha espera apenas um sinal
concreto da nossa parte, da vossa parte. Nos cum prole pia, benedicat Virgo
Maria.
† Carlo Maria Viganò, Arcebispo
1 Comentários
Deus o proteja Arc. Vigano pois bem precisamos de pastores assim!
ResponderEliminar«Tudo me é permitido, mas nem tudo é conveniente» (cf. 1Cor 6, 12).
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