O Santuário da Santa Casa de Loreto
desempenhou um papel essencial na secular luta da Cristandade contra a agressão
islâmica. Diante dos ataques do mundo muçulmano, a Virgem Lauretana foi
invocada para proteger o Papado, a Igreja Católica e, em geral, a identidade
cristã europeia. Entre os tantos exemplos que poderiam ser dados para dar uma
ideia da importância de Loreto, basta considerar a batalha de Lepanto (7 de Outubro
de 1571).
A intervenção de Nossa Senhora de Loreto
Como escreve o Padre Arsenio d’Ascoli, no seu I Papi e la Santa Casa
(1969), «São Pio V colocara sob a protecção da Virgem de Loreto o êxito da
grande batalha que as Nações cristãs combatiam contra os Turcos, que estavam a
fazer por mar os últimos esforços para abrir uma fenda no Mediterrâneo
Ocidental e atingir no coração a Igreja Católica. O Santo Pontífice ordenara
orações contínuas na Santa Casa de Loreto, durante todo o período da última
grande cruzada».
Como se sabe, para obter a vitória, o santo Pontífice confiou-se a Nossa
Senhora e ao Rosário, percorrendo em procissão, descalço, as ruas de Roma e
invocando a misericórdia e a ajuda de Deus. Mas não se deteve apenas na oração.
Na verdade, agiu para promover uma aliança militar dos Estados católicos europeus,
a Liga Santa, assinada a 25 de Maio de 1571. E é à Santa Casa, onde tinha ido
em 1566, que o Papa dirige o seu pensamento. «Por isso, o Papa,
verdadeiramente piedoso, doou-se, com orações privadas e públicas, para reconciliar
o grande Deus e, principalmente, ordenou que, na santíssima Cela de Loreto, se
dirigissem continuamente calorosas orações a Nossa Senhora, para que Ela se
dignasse prestar o seu favor aos Cristãos, no maior perigo e necessidade. Nem vã
foi a esperança do Pontífice Pio e das outras piedosas pessoas» (cf.
Martorelli, Teatro istorico della Santa Casa Nazarena della B. Vergine Maria
e sua ammirabile Traslazione in Loreto, vol. I, p. 531).
Deve-se notar que, antes da batalha de Lepanto, o comandante da frota pontifícia,
Marco António Colonna, foi à Santa Casa, com a esposa, Dona Felice Orsini, para
colocar o destino da guerra nas mãos de Maria. Enquanto partia para o Oriente, a
esposa ficou em Loreto, juntamente com outras nobres senhoras, a rezar pelo
esposo e pela vitória, passando dias e noites entre as santas paredes.
As crónicas narram que, na noite da batalha, a 7 de Outubro de 1571,
repentinamente, quase movido por um impulso irresistível, São Pio V se levantou
da mesa de trabalho e foi até uma janela, fixando o olhar para Oriente, quase
extasiado; depois, todo alegre, exclamou que era hora de dar graças a Deus pela
vitória obtida pela frota cristã sobre os Turcos.
O agradecimento pela vitória
A festa de Nossa Senhora do Rosário, instituída por Pio V e fixada a 7 de Outubro,
está, portanto, intimamente ligada a Loreto, porque foi principalmente neste
santuário, na época o mais importante da Cristandade, que se rezou pelo sucesso
do confronto naval. E foi depois de Lepanto que a invocação Auxilium
Christianorum foi acrescentada à Ladainha Lauretana. Não somente. Como recordação
e agradecimento, Pio V mandou colocar a imagem de Loreto nos medalhões dos Agnus
Dei, com as magníficas palavras por cima: Vera Domus florida quæ fuit in Nazareth. E abaixo ordenou que se escrevesse Sub tuum pæesidium, para fazer compreender a todos a Quem se devia atribuir o mérito da
vitória, ou seja, a Nossa Senhora. Também doou ao santuário uma casula e um
pálio.
Roma preparou uma entrada triunfal ao chefe do exército papal, mas Marco António
Colonna, reconhecendo que o mérito da vitória não era seu, mas da Virgem
Lauretana, adiou o seu regresso à capital e foi primeiro a Loreto para
agradecer a Nossa Senhora. Toda a armada papal desembarcou em Porto Recanati. O
comandante, os oficiais e os cristãos libertados dos Turcos, a pé, com as
cabeças descobertas, cantando hinos de alegria e de agradecimento, subiram à
colina lauretana.
No Inverno de 1576, Dom João de Áustria, o grande herói de Lepanto, líder da
Liga Santa, também foi a Loreto, a cavalo, partindo de Nápoles. Cumpriu, assim,
o voto feito a Nossa Senhora, cinco anos antes, quando partiu para a batalha.
Até então, tinha sido sempre impedido por outros assuntos políticos e
militares. Assim que avistou o Santuário à distância, parou, curvou-se e
descobriu a cabeça em sinal de reverência. «Depois que chegou à bendita
Cela, feita uma confissão geral, a Nossa Senhora graças infinitas rendeu; nem
satisfeito com isso, acrescentou ao voto já cumprido um rico presente em
dinheiro. Tendo cumprido o seu voto e piedade, regressou a Nápoles, trazendo
consigo um grande desejo pela amabilíssima Senhora de Loreto» (Martorelli,
vol. I, pp. 433-434).
Eram cerca de 40.000 os remadores da armada turca em Lepanto. Muitos eram
cristãos e, como contam os historiadores, «é sabido que, no mesmo dia
[da batalha de Lepanto, n.d.r.], antes do início do evento, os escravos
cristãos acorrentados, pelos Turcos, para remar, consagraram-se a Santa Maria
de Loreto pela sua liberdade» (Martorelli, vol. I, p. 431). 15.000 foram
libertados na grande batalha e trazidos de volta à Europa em navios cristãos. Depois,
todos, em grupos ou individualmente, quiseram ir a Loreto para cumprir o seu
voto. «E quiseram que permanecessem algumas memórias de tão celeste
benefício: deixaram à sua Libertadora as correntes que os prendiam aos remos»
(Martorelli, vol. I, p. 431). Tais correntes serviram para fabricar as cancelas dos
doze altares da nave central da Basílica, onde permaneceram por quase dois
séculos. Por fim, «desde que as balaustradas de mármore foram colocadas nas
ditas Capelas, essas cancelas foram retiradas e aquele ferro, misturado indistintamente
com outro, foi utilizado em ocorrências de várias fábricas pertencentes ao mesmo
Santuário» (Martorelli, vol. II, p. 134). Além das cancelas acima
mencionadas, as correntes fundidas serviram para a construção dos quatro
portões da Santa Casa, que ainda se encontram no seu lugar como recordação.
Enquanto com as grandes lanças foi feita uma cerca para a fonte, de Maderno, e,
com as flechas, um elemento apagado de uma capela da Basílica. No entanto,
acabaram por ser todas retiradas, porque estavam corroídas pela ferrugem e, sobretudo,
porque uma outra linha artística se impunha às capelas.
«Foi verdadeiramente simpático – escreve o P. Arsenio d’Ascoli – o
gesto desses escravos que quiseram dar as suas correntes à sua Libertadora como
sinal de reconhecimento e de amor. Os quatro portões da Santa Casa, ainda que
simples e toscos, estão ali a cantar as glórias e as vitórias da Virgem e a
recordar a todos aqueles que são escravos das paixões para romper as suas correntes
aos pés de Maria e levantarem-se livres e puros».
Federico Catani
Através de Tradizione, Famiglia, Proprietà
0 Comentários
«Tudo me é permitido, mas nem tudo é conveniente» (cf. 1Cor 6, 12).
Para esclarecimentos e comentários privados, queira escrever-nos para: info@diesirae.pt.