Os repreensíveis ataques ao Cardeal
Raymond Burke nos meios de comunicação dominantes – o impróprio deleite com que
os eruditos liberais se precipitaram sobre a notícia da sua doença – deveriam
fazer qualquer observador imparcial estremecer. Não é preciso ser católico
tradicional para perceber que, quando a vida de um homem está em perigo, a comum
civilidade requer, pelo menos, uma suspensão temporária das polémicas. Não é
preciso ser um teólogo moralista para apreciar o mérito do adágio: não pontapeies
um homem quando ele está no chão.
Mas, em vez de expressar solidariedade pela situação do cardeal – muito menos
juntar-se ao seu apelo por orações –, as notícias dos meios de comunicação
estão a destacar a sua oposição ao bloqueio do COVID e a sugerir (incorrectamente)
que negou a gravidade da doença. Há mais do que uma sugestão, em muitas
dessas notícias, de que o cardeal está agora a sofrer uma punição condigna pela
sua rejeição da opinião popular.
Por que o Cardeal Burke é tão impopular entre esses jornalistas? Por que os seus
pontos de vista são tão repugnantes para eles, que mal podem esconder o seu
deleite com o seu presente sofrimento?
1. Será porque questionou o bloqueio draconiano e sugeriu que algumas forças
poderosas estão a manipular a situação em seu próprio benefício? Muitos outros
apresentaram os mesmos argumentos – não sem evidências de apoio.
2. Será porque criticou a pressa em desenvolver vacinas usando linhas de tecido
derivadas do aborto? Mais uma vez, muitos outros fizeram a mesma crítica, neste
caso com evidências irrefutáveis.
3. Será porque condenou o encerramento de igrejas e a presunção de que o culto
religioso não é uma actividade “essencial”? Aqui também teve muita companhia,
mas acho que estamos a aproximar-nos da verdade.
Ou será simplesmente porque o Cardeal Burke defende inflexivelmente os ensinamentos
morais da Igreja – porque se tornou o principal exemplo da resistência católica
contra as pressões arrogantes do liberalismo secular?
Em suma, o Cardeal Burke é objecto de tal desprezo porque não adaptará as suas
crenças católicas às modas contemporâneas?
O Cardeal Burke compreendeu, certamente, que, tal como milhões de outras
pessoas, corria o risco de contrair o vírus. Conhecia os perigos. Mas pesou
esses perigos contra as exigências da sua Fé e concluiu que não poderia
transigir os seus princípios. Não há jornalistas seculares dispostos a
homenagear um homem que manteve as suas convicções – mesmo que eles próprios
não partilhem dessas convicções?
Muitas notícias sugerem que o cardeal contraiu o vírus porque não tomou as
precauções normais. Na verdade, parece mais provável que tenha sido infectado
ao visitar a família e amigos: uma actividade inócua que mesmo as directrizes
mais rígidas não proíbem. No passado, os comentadores liberais evitaram
cuidadosamente repreender as vítimas por se exporem a doenças devido ao seu
comportamento prejudicial. Mas este é claramente um caso especial. Porquê?
Uma notícia particularmente odiosa, da NBC News, acusava o cardeal de «repetidas
informações incorretas relacionadas a teorias da conspiração sobre as vacinas».
O artigo apontou para algumas declarações polémicas – que envolviam diferenças
de opinião em vez de “desinformação” – e, de seguida, ofereceu este boato
revelador: ele também disse que a melhor arma para combater «o mal do
coronavírus» é um relacionamento com Jesus, de acordo com a Associated Press.
Onde está aí a “desinformação”? Onde está a teoria da conspiração? Por que a
frase «o mal do coronavírus» está entre assustadoras aspas? O jornalista da NBC
nega que esta doença seja um mal? Ou o parágrafo é simplesmente uma maneira de
transmitir, para um presunçoso leitor secularizado, que o Cardeal Burke mantém
uma crença antiquada no poder de Jesus Cristo – não apenas como uma abstracção,
mas como um antídoto prático para os males do mundo? É isso que mais ofende as
sensibilidades liberais?
Nesse caso, espero estar sob a mesma condenação que os meios de comunicação têm
feito contra o Cardeal Burke. Porque eu acredito que é, mutatis mutandis,
a mesma condenação que os líderes do mundo de outra era atiraram sobre Jesus
por rejeitar a sabedoria daquela época.
Mártires morrem em odium fidei. Mas também é possível viver cercado de
ódio pela Fé. Rezo para que o Senhor poupe a vida do Cardeal Burke, que já
abraçou essa forma de martírio branco.
Phil Lawler
Através de Catholic Culture
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