A história dos Servos de Deus Settimio
e Licia Manelli é uma belíssima história, uma história que esconde um segredo.
O segredo deste casal foi a integridade, a fé em Deus, o saber amar e dar-se
reciprocamente um ao outro, e colocar a confiança unicamente na Providência,
tanto que tiveram 21 filhos e viveram juntos por mais de cinquenta anos.
Foram filhos espirituais do Padre Pio, que definiu Settimio “um cristão recto que
cumpre o Evangelho na perfeição”. Um homem e uma mulher exemplares na sua paternidade
e maternidade que, alegres no compreender-se e no amar-se, doando-se
reciprocamente, pacientes no educar, tornaram-se um pai e uma mãe exemplares,
um casal que, verdadeiramente, merece ser recordado como exemplo de perfeição cristã.
Mas vejamos, agora, algumas notas biográficas dos protagonistas desta história:
Settimio nasceu, em Téramo (Abruzos), em 1886, e morreu, em Roma, em 1978.
Apaixonado pela arte e pela cultura humanística em toda a sua profundidade,
desde jovem sofreu a influência do além-homem e do Decadentismo. Participou na
Primeira Guerra Mundial e, como oficial da aviação, obteve o posto de capitão
por méritos de guerra. Fascinado pelas experiências militares e pela Vitória, Settimio
continuou, após a guerra, a negligenciar a vida espiritual e a viver uma vida
moral desordenada.
Uma vez dispensado, depois de se formar em Letras e Filosofia, e de fazer todos
os exames de Direito, viveu uma vida inteiramente dedicada à sua paixão como
escritor e ao ensino, tornando-se professor e director do ensino secundário.
Como director, também teve que suportar a perseguição do Fascismo e da
Maçonaria, à qual nunca cedeu totalmente. Mas voltando ao período anterior à
sua conversão, é preciso dizer que Settimio, apesar de ter passado muitos anos
da sua juventude e maturidade imerso nas atracções do mundo, nunca se manteve
completamente alheio àquelas inquietações na procura do bem e da verdade, que a
Providência de Deus instilava paternalmente na sua alma. Aos quarenta anos,
portanto, depois de algumas terríveis experiências pessoais, sentiu, finalmente, uma tal sensação de agitação e remorso que caiu numa salutar crise espiritual,
que o levou a encontrar Cristo através do santo capuchinho do Gargano. Em 1924,
encontrou São Pio de Pietrelcina e, pouco depois, converteu-se, tornando-se um
seu fidelíssimo filho espiritual.
Depois de ter conhecido o santo frade em San Giovanni Rotondo, Settimio pensou,
por algum tempo, até tornar-se sacerdote. Por isso, participou num curso de
Exercícios Espirituais, dos quais saiu, porém, confirmado na intenção de
responder à sua verdadeira vocação, a do matrimónio e da família.
A conversão de Settimio à escola do Padre Pio foi imediata e integral. Depois
de o ter conhecido, de facto, o capuchinho disse sobre ele: “É uma outra alma
ganha para Jesus”. A partir desse momento, como reconheceu o Arcebispo Slawomir
Oder, ex-Postulador dos processos de beatificação e canonização de João Paulo
II, no discurso na conclusão do inquérito diocesano para os Servos de Deus
Licia e Settimio Manelli, em Junho de 2014, o Prof. Manelli «começou uma
nova vida toda virada para a santidade, libertando-se, com solicitude, de tudo
o que impedia ou retardava a sua ascensão a Deus e renunciando às atracções
mundanas».
Depois da conversão, Settimio direccionou os seus interesses culturais para o
estudo dos grandes doutores e místicos: de São Tomás de Aquino a São
Boaventura, de Santo Agostinho a Santa Teresa de Ávila e a São João da Cruz. Todavia,
o primeiro lugar da sua vida sempre teve Jesus e o Evangelho, que conhecia de
cor e citava sempre que lhe era possível. «Ele não só acreditava em Cristo
– acrescenta D. Oder –, mas era um seu ferrenho defensor: lutava abertamente
contra os inimigos de Jesus e da Igreja, sem nunca se comprometer, nem mesmo
quando isso poderia ter garantido a ele e à sua família um nível de vida mais
elevado». Um dia, o Padre Pio disse aos fiéis reunidos à sua volta,
enquanto Settimio ia ao seu encontro: “Este homem vive o Evangelho integralmente”.
Antes de conhecer a futura esposa, Settimio pediu continuamente ao Senhor que lhe
fizesse conhecer uma boa jovem com quem pudesse formar uma família segundo o
plano de Deus. E o Senhor contentou-o, colocando no seu caminho a jovem Licia
Gualandris, cerca de 20 anos mais jovem.
Se a vida de Settimio também passa por uma conversão em idade bastante adulta, assim
não foi para Licia. Nascida, a 13 de Julho de 1907, em Nembro, na província de
Bérgamo, quando menina, foi espiritualmente formada sob a orientação de um
piedoso sacerdote, que lhe transmitiu um particular amor por Jesus e pelos
Sacramentos da Eucaristia e da Confissão. Depois de ter frequentado as escolas
técnicas, fazendo-se notar pela sua seriedade e pelo aproveitamento no estudo,
Licia casou-se muito jovem, com apenas 19 anos, com Settimio. Juntos, fundam
uma família numerosa, sentindo-se chamados a esta benemérita vocação desde o
início do matrimónio, e iniciam um caminho espiritual sob a bênção, a orientação
e a assistência contínua de São Pio de Pietrelcina. Começa, assim, o seu
fecundo caminho de santidade...
Desde o início, mostraram uma confiança ilimitada na Providência e uma abertura
total à vida, tanto que tiveram, como referido, 21 filhos, dos quais 13 vivos,
3 que viveram apenas alguns meses e 5 subidos directamente ao Céu, 48 netos
e 89 bisnetos! E, numa época de baixa escolarização, conseguiram que 8 filhos
se licenciassem. Um dos filhos é o P. Stefano Maria Manelli, fundador, em 1970,
dos Frades e, sucessivamente, das Irmãs Franciscanas da Imaculada.
Embora fiel às exigências de uma família tão absorvente, Licia Gualandris nunca
negligenciou a oração pessoal, participando todos os dias na Santa Missa
matinal. Em particular, na escola do Padre Pio, Licia recitou sempre o Santo
Rosário com devoção e diligência e, de facto, como testemunham os filhos, era
vista a qualquer hora, de dia e de noite, com o terço na mão, especialmente
quando os filhos ficaram um pouco mais velhos.
Desempenhou o seu papel de esposa com fidelidade e amor, dedicando toda a sua
vida à numerosa família, em tempos de guerra e quando não existiam todos as comodidades
que nós temos. Certa vez, porque estava particularmente desanimada e provada
pelos muitos sacrifícios, voltou-se para o Padre Pio para receber conforto. São
Pio, pela abnegação certamente incomum, consolou-a, dizendo-lhe que “mãe”
significa “mártir”. Os numerosos testemunhos recolhidos falam, por isso, de uma
mulher extraordinária com um sorriso constante, por uma oração incessante e por
uma caridade verdadeiramente sobrenatural. Como Settimio, também Licia foi terciária
franciscana.
Sobre ela, escreveu D. Oder: «A sua fidelidade, a sua devoção, a sua paixão
pela Santa Missa e pela Comunhão eram evidentíssimas. Entre os que a
conheceram, muitos testemunharam ter recebido edificação da sua atitude de
reverência e recolhimento ao participar na Santa Missa, durante a qual aparecia
totalmente imersa no mistério que se celebrava. Dava muita importância também à
vida de oração da sua família: aos seus filhos, desde crianças, ensinava a
rezar, a fazer pequenas renúncias, principalmente durante a Quaresma, as
novenas e os meses marianos. Em particular, fazia questão de os levar a ouvir, aos
domingos e nas festas, a Santa Missa, preparando-os com cuidado para a Confissão
semanal» (S. Order, Discurso na conclusão do inquérito diocesano para a Beatificação
e Canonização dos Servos de Deus Settimio Manelli e Licia Gualandris, Roma, 27
de Junho de 2014).
Os filhos também a recordam como franca e activa, com um temperamento muito
determinado que a ajudou no cuidado do marido e na educação dos filhos. «Todas
as noites – escreveu um dos filhos, Pio Manelli –, reunia-nos à volta da
sua cadeira, junto ao fogão, para rezarmos juntos o Santo Rosário; mais que televisão,
cinema ou danças! Estava ali a força da minha Mãe, daí nasceu nos filhos a
vontade de estudar, organizar-se e praticar uma vida como verdadeiros cristãos».
À noite, recordam sempre os filhos, antes de ir para a cama, passava com um
crucifixo em todos os quartos para abençoá-los um a um.
Toda a vida de Settimio e Licia, juntamente com muitas alegrias, foi preenchida
de pequenas e grandes cruzes, que ambos sempre aceitaram, porque plenamente
conscientes de que todas respondiam à Vontade de Deus. Para enfrentá-las, a sua
força estava na oração, na frequência quotidiana dos Sacramentos e no
recolhimento que, nas suas almas, aumentou com o tempo.
A família é o primeiro “ginásio” da santidade e o de Settimio e Licia foi, sem
dúvida, um ambiente em que foi possível respirar, mesmo nos mais pequenos
detalhes, o ideal de vida cristã.
Em mais de cinquenta anos de matrimónio, souberam travar aquela luta que traz
as mais belas e duradouras alegrias. Assim era a sua vida, uma luta contínua, e Settimio,
nos momentos mais dramáticos, dizia que, «enquanto há luta, há vida», e,
portanto, «coragem e sempre para a frente, confiando em Deus e na ajuda da
Imaculada!».
Os cônjuges Manelli conseguiram não só criar os filhos que tiveram como dom,
mas também oferecer-lhes uma educação integral para enfrentar a aventura da
existência. A sua vida liberta uma tamanha força de fecundidade espiritual e
humana que não poderíamos deixar de contar!
Sara Deodati
Através de La Nuova Bussola Quotidiana
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