Chamavam-lhe princeps musicorum
e, há 500 anos, a 27 de Agosto de 1521, morria em Condé-sur-l’Escaut, no Nordeste
da França, onde, nos últimos dezassete anos da sua vida, foi abade da
colegiada de Notre Dame, destruída, em 1793, durante «a terrível revolução
desencadeada na França» (Pio X, Duplicem, nostis, 14 de Novembro de
1904): Josquin des Prez.
O compositor flamengo nascera na Picardia, no Norte da França, por volta de
1450, e teria uma grande influência na música polifónica europeia.
É assim que fala Giuseppe Baini (1775-1844), cantor baixo e, depois, director
dos cantores pontifícios, mas, sobretudo, primeiro biógrafo de Palestrina: «Um
tal Josquin des Prez, ou del Prato, em pouco tempo, tornou-se, com as suas novas
produções, o ídolo da Europa. Não se aprecia os outros, senão apenas Josquin.
Não há mais belo, se não for obra de Josquin. Apenas se canta Josquin em todas as
capelas então existentes: o único Josquin na Itália, o único Josquin na França,
o único Josquin na Alemanha, na Flandres, na Hungria, na Boémia, nas Espanhas o
único Josquin» (G. Baini, Memorie storico-critiche della vita e delle
opere di […] Palestrina, Vol. 2, Roma 1828, p. 407).
Josquin é um compositor um pouco esquecido; no entanto, era considerado o maior
do seu tempo: «foi a maior luz desta grande ciência, da qual aprenderam todos
os contrapontistas que vieram depois dele» (A. Adami, Osservazioni per
bene regolare il coro dei cantori della Cappella Pontificia, Roma 1711, p.
160). Cantor e autor prolífico, agradava aos reis: trabalhou para duques, reis,
cardeais e papas. Do Cardeal Ascanio Sforza a Luís XII, Rei da França; de
Ercole I d’Este, Duque de Ferrara, aos reis franceses da época; a
Maximiliano I de Habsburgo, Imperador do Sacro Império Romano. Encontramos
Josquin em Roma, na capela pontifícia, entre 1489 e 1499, com várias
interrupções, sob os papas Inocêncio VIII e Alexandre VI, que, embora relaxados
nos costumes, eram de refinadíssimo gosto musical, o primeiro, e amante da
arte, o segundo.
Quando Josquin chega a Roma, a Capela encomendada por Sisto IV, papa de 1471 a
1484, apresenta-se com a sua primeira face, dada pelos mais humildes, mas ainda
significativos afrescos de grandes artistas florentinos e umbros, como o Perugino,
Sandro Botticelli, o Pinturicchio, o Ghirlandaio, Cosimo Rosselli e Luca
Signorelli. A sala, que traça as dimensões do templo de Salomão, em Jerusalém (cf.
1 Rs 6), destruído, em 70 d.C., pelos romanos, foi consagrada a 15 de Agosto de
1483 e dedicada a Nossa Senhora da Assunção. Numa miniatura, guardada no Museu
Condé de Chantilly, na França, vemos o Papa Sisto IV a assistir no trono a uma
Missa Pontifical; exactamente onde hoje admiramos o Juízo Final, de
Michelangelo (1475-1564), havia um afresco mariano pintado pelo Perugino.
Durante o seu serviço musical no coro, localizado do lado direito, Josquin
muitas vezes teria visto uma cena como esta. E, olhando para cima, em vez dos
capítulos do Génesis com afrescos de Buonarroti, teria notado um tecto, uma vez
uma abóbada azul acolchoada com estrelas douradas, pintada por Pier Matteo d’Amelia
(1445 c.-1508 c.), como testemunha o projecto para a decoração, do século XV,
da abóbada da Capela Sistina (n.º 711A), do mesmo pintor da Úmbria, preservado
nos Uffizi.
Nos seus anos romanos, dizíamos, Josquin canta no coro pessoal do papa, a mais
antiga formação coral do mundo ainda em actividade; dele faziam parte os
melhores músicos dos séculos XV e XVI, por exemplo: o franco-flamengo Guillaume
Dufay (1397-1474), o italiano Giovanni Pierluigi da Palestrina (1525-1594), os
espanhóis Cristóbal Morales (1500-1553) e Francisco Guerrero (1528-1599). Por
ocasião deste 500.º aniversário, encontrámos Mons. Marcos Pavan, Director da
Capela Musical Pontifícia, chamada Capela Sistina, e fizemos-lhe as seguintes
perguntas.
Como era composto o coro papal na época de Josquin?
Naqueles anos, o coro tinha entre 17 e 20 membros: tenores, baixos e falsetistas,
homens que sustentavam as partes para as vozes agudas. O Papa Leão XIII, a 3 de
Fevereiro de 1902, estabelecerá que, a partir de então, com excepção para os cantores
ainda em exercício, os meninos substituiriam os falsetistas.
Todos à volta do facistol.
A cópia que o pintor francês Ingres fez, em 1848, de uma pintura de
Agostino Tassi (1578-1644), mostra-nos o grande púlpito coral, ou facistol, no
centro do coro, em torno do qual se reuniam os cantores em hábito coral.
Hoje, porém, a Capela Musical Pontifícia…?
...Está inserida no Departamento das Celebrações Litúrgicas do Sumo
Pontífice. É composta por cerca de vinte cantores adultos, contratados em
regime permanente pelo Vaticano, e cerca de trinta rapazes, que vêm de uma
escola anexa à própria Capela, do quarto ano até ao ensino secundário.
Parece que Josquin compôs música para os seus colegas romanos.
Pelo menos, três motetes aparecem nos Códices do Vaticano: Domine, non
secundum peccata nostra, o Tractus da Missa para a Quarta-feira de
Cinzas; Monstra te esse matrem, a quarta estrofe do hino Ave Maris
Stella; o moteto acróstico Illibata Dei Virgo. Aqui pode-se ouvir Domine,
non secundum peccata nostra, que executámos, no passado dia 5 de Agosto, em
Szeged, na Hungria: soprano e contralto cantam a primeira estrofe (Sl 102, 10),
tenor e baixo a segunda (Sl 78, 8), e as quatro vozes de todo o coro concluem
(Sl 78,9).
«E no nosso coro, no Palácio do Vaticano, lê-se esculpido o seu nome»,
escreveu, em 1711, o seu antecessor Andrea Adami da Bolsena (ibidem, p.
159), a propósito do autógrafo que Josquin deixou na parede do coro na Capela
Sistina.
Ao longo dos séculos, os cantores gravaram os seus nomes nas paredes
internas daquele coro. A assinatura de Josquin também foi descoberta após recentes
restauros.
Através de La Nuova Bussola Quotidiana
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