O pensamento único avança e a
liberdade de opinião sofre novos e preocupantes ataques. Agora já não são
apenas as leis sobre a chamada “homofobia” a impor a mordaça, a ideologia tenta
afirmar-se também em outros âmbitos, principalmente no histórico, pois reler o
passado permite orientar o presente e reescrever o futuro.
É o que acontece na Espanha, onde o governo Sánchez, social-comunista, aprovou
recentemente um projecto de lei sobre a «memória democrática», que exige
que todos, diga-se todos como vinculativo o próprio ponto de vista sobre os
acontecimentos relativos à guerra civil e ao regime de Franco, perseguindo
penalmente quem “ouse” pensar diversamente. Serão removidos todos os símbolos
do período, considerados contrários à “doutrina” do regime, serão retiradas todas
as benemerências e os títulos atribuídos aos
protagonistas da época, além disso, serão declaradas nulas as sentenças e as punições
pronunciadas naquele período, o que implica o direito a uma declaração de
reconhecimento e de reparação pessoal.
Também serão liquidadas as Fundações, quer por serem consideradas destituídas
de interesse geral, quer pela sua actividade, quando consideradas semelhantes à
apologia do franquismo: uma disposição que visa claramente a Fundação Francisco Franco, obrigada a ir a tribunal para defender o seu direito a sobreviver.
Mesmo para os lugares simbólicos da guerra civil e do franquismo, como o Vale
dos Caídos, está a ser preparado um programa de redefinição, melhor, de “reeducação”:
terão, portanto, um papel educativo e comemorativo. Os familiares poderão
recuperar os restos mortais dos seus antepassados, mas de lá terão que sair: removidos
os restos mortais de Franco, é a vez dos de José Antonio Primo de Rivera,
fundador da Falange Espanhola.
Obviamente, a lei não podia descurar a Escola, chamada a doutrinar as futuras
gerações e a formar os novos quadros de professores. Será instituído um «Conselho
Democrático da Memória», com função consultiva, e será instituído um
registo das organizações, para distinguir entre as alinhadas e as não-alinhadas.
Uma situação preocupante, mas não a única, infelizmente. Já se multiplicam – cada
vez mais frequentes e cada vez mais preocupantes – os sinais vindos do
executivo espanhol, a ponto de obrigar os próprios bispos a alertar os seus
fiéis: o governo – diz o episcopado espanhol – está a tentar «desconstruir e
desmantelar a visão cristã do mundo» num número crescente de áreas, da
educação à nacionalização, da eutanásia ao aborto, da justiça à «memória
democrática». O que está em curso é um verdadeiro projecto de desconstrução
global, de forma a comprometer as liberdades individuais.
Não se trata apenas de COVID, especificam os bispos: «Estamos envolvidos numa
profunda crise institucional, com alguns grupos que procuram abrir uma nova
fase constitucional e substituir um quadro político que deu grande estabilidade
à Espanha». A advertência, em alto e bom som, consta de uma declaração de
95 páginas, publicada pelo episcopado a 28 de Julho passado, para estabelecer
as directrizes pastorais da Igreja ibérica até 2025: «Com a sua missão
profética, a Igreja é obrigada a denunciar estes ataques à liberdade e à justiça.
Os espanhóis já não vivem numa cultura inspirada na fé cristã. Para muitos, as
verdades cristãs tornaram-se incompreensíveis, assim como as normas morais que
emanam do Evangelho».
Durante a pandemia, especificam os bispos, «a evangelização foi prejudicada
pela erosão dos laços familiares e pela perda de confiança na Igreja». Em
suma, muitos, demasiados viveram «como se Deus não existisse». Durante a
homilia da Santa Missa, celebrada no último dia 25 de Julho na presença do Rei
Filipe VI e da Família Real, o Arcebispo Julián Barroi, de Santiago, exortou a
população a evitar «substituir a realidade pela ideologia». Uma mensagem
clara, de forma a exigir uma reacção adequada o mais rapidamente possível, para
evitar que a consciência e a história da Espanha sejam apagadas por propósitos
subversivos. Mas temos a certeza de que tal risco diga respeito apenas à
Espanha?
Mauro Faverzani
Através de Corrispondenza Romana
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