O modo como o mundo trata Cuba é um
mistério, não há outra maneira de descrevê-lo.
Qualquer implacável ditadura militar deveria ser denunciada e ostracizada. No
caso de Cuba, não há desculpas para não condenar as suas violações dos direitos
humanos e/ou para não denunciar a sua pobreza de matriz socialista. A sua
furiosa perseguição da Fé é indescritível. Tudo deveria ser feito para apressar
o dia feliz em que o país pudesse voltar a viver na «liberdade na glória dos
filhos de Deus» (Rm 8, 21).
Todavia, isso não está a acontecer. As forças de segurança estão a reprimir
brutalmente os protestos generalizados contra as terríveis condições da ilha. O
regime não aceitará a assistência médica ocidental, mesmo que morram pessoas de
COVID. A situação está madura para uma mudança de regime, mas não acontecerá.
Escandaloso apoio ao regime cubano
Em todo o mundo, a esquerda continua a expressar simpatia por este regime
monstruoso. Em vez de culpar o governo comunista pelos males da nação, culpa a
América. Para eles, a Cuba comunista não pode ter cometido nenhum erro.
Um exemplo escandaloso desse apoio são as declarações do movimento Black
Lives Matter a favor da repressão ao povo cubano, que inclui muitos negros,
por parte do regime. Outros expoentes da esquerda americana estão obcecados com o
desatino de que os problemas de Cuba derivam do embargo americano, que impediria
os bens de capital de salvar o seu desastre socialista.
Os protestos, as violentas repressões e os apagões de internet demonstram a importância
do inegável fracasso da ilha. Todas essas coisas também confirmam que o apoio
da esquerda se baseia na ideologia e não na simpatia pelo povo cubano que sofre.
Cuba como teste decisivo
Cuba é um teste decisivo para ver quem são verdadeiramente os esquerdistas.
Quanto maior é a simpatia de uma pessoa pelo regime, maior é o seu grau de
marxismo. Quanto mais assustadoras parecerem ao mundo as condições criadas por
essa vergonhosa tirania, mais tenaz será o apoio que este lhe dará. Pode-se ter
a certeza de que ignorará até mesmo as mais contundentes provas de que Cuba é
um caso económico sem esperança.
Assim, o mistério está, pelo menos parcialmente, resolvido. A esquerda mundial une-se
em torno de Cuba por razões ideológicas. A esquerda vê qualquer hostilidade
contra Cuba como um ataque à sua causa em geral.
Cuba como símbolo de um desafio
No entanto, esta conclusão explica apenas uma parte do problema. Não revela por
que a esquerda dá tanta importância à pequena ilha do Caribe.
Cuba é muito mais do que um qualquer país comunista que oprime a sua gente
como, afinal, sempre fizeram os comunistas. A esquerda precisa de Cuba porque é
um símbolo importante e um ponto de convergência. A esquerda, os guerrilheiros
marxistas e todos os liberal do mundo parecem ganhar coragem com o facto
de que Cuba desafiou o Ocidente durante 62 anos e sobreviveu.
Cuba é tão importante porque é a única sobrevivente da revolução comunista dos
anos sessenta. Ainda conserva algo da lenda daqueles tempos inebriantes em que
o comunismo puro e duro parecia estar na onda do futuro. A esquerda ocidental
sempre considerou Cuba um exemplo desse idílico “paraíso” marxista em que todos
partilham igualmente as dificuldades no caminho do futuro socialista.
O aparatoso fracasso do império soviético
A lenda tornou-se mais insustentável com o aparatoso fracasso do império
soviético em 1989. É fácil imaginar o desânimo que a esquerda sentiu ao ver
esse império repentinamente pulverizado: foi um terrível golpe psicológico para os comunistas filiados de todo o mundo. Além disso, foi particularmente
desanimador para os ricos “idiotas úteis” do Ocidente que apoiavam a revolução
comunista do luxo das suas casas e dos seus condomínios. A derrota também se demonstrou
embaraçosa para os mass media macrocapitalistas liberal que
apresentavam o bloco soviético como uma imensa potência mundial.
Portanto, enquanto uma Tróia comunista arder no Caribe, irradiando a sua malvada
influência sobre as três Américas e o mundo, a esquerda pode-se consolar. Cuba até
tolerará as hordas de turistas europeus e não europeus que se amontoam uns aos
outros para sustentar a prisão da ilha com os seus euros contaminados de
capitalismo.
Também o progressismo católico vê Cuba como um paraíso
Na verdade, em vez de negar a miséria das pessoas, a esquerda católica exalta-a.
Há muito que vê Cuba como um baluarte da pobreza evangélica (imposta), uma
sociedade na qual todos são felizes, sem o peso do materialismo. E, por isso, deram-lhe
um trágico apoio. Os defensores da teologia da libertação, da ecologia integral
e das correntes religiosas tribais encontram um refúgio do consumismo ocidental
nesta fortaleza ateia. Assim, ajudaram a perpetuar as brutalidades, as crueldades
e as perseguições religiosas que reinam em Cuba.
Nem mesmo a mais recente violência contra a população diminuiu o fervor quase
religioso da esquerda católica pela Cuba comunista. O frade dominicano
brasileiro Betto defende a prisão da ilha como um “paraíso” para os pobres e os
sem-abrigo, e um “inferno” para os ricos e os poderosos. Também justifica o actual
sofrimento do povo cubano dizendo: «A resiliência do povo cubano, nutrida por
Martí, Che Guevara e Fidel, demonstrou-se invencível. Devemos todos mostrar-lhes
solidariedade e imitar essa resiliência, lutando por um mundo mais justo».
Cuba: o periscópio de um submarino
Uma última vantagem para manter viva a Cuba comunista é que a nação se tornou
não apenas um símbolo, mas também um porta-estandarte para todos os membros da
esquerda enquanto tentam descobrir como seguir em frente com a sua nefasta agenda.
Cuba é necessária para manter vivo o sonho marxista.
O brilhante pensador católico Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, comparava a
situação do que resta do comunismo clássico à de um velho submarino enferrujado
em que a tripulação é desencorajada e asfixiada pela impopularidade das suas
ideias.
A Cuba comunista desempenha o papel de um periscópio que também funciona como tubo
de respiração, fornecendo oxigénio aos lânguidos pulmões dos tripulantes
enquanto navegam no mar da miséria. Cuba mantém vivas as suas esperanças,
mostrando que essas ideias puramente comunistas podem existir no mundo real. Se
o comunismo ainda respira hoje, é porque Cuba sobrevive. A prisão da ilha serve
como periscópio/tubo de respiração para apoiar os marxistas nas suas horríveis
e distorcidas convicções.
A esquerda corre em defesa de Cuba
Estas são as razões pelas quais a esquerda mundial se apressa em defesa da Cuba
comunista. Os activistas querem salvar o periscópio/tubo de respiração
independentemente das consequências, sem sequer se darem ao trabalho de não
parecerem ridículos. Nesta fase, os factos não importam, porque está em jogo o
futuro da esquerda. Enquanto o regime reprime os protestos, a esquerda mundial
actua como câmara de vácuo, silenciando completamente os gritos vindos da rua!
Portanto, Black Lives Matter arrisca tudo ao divulgar a sua feroz
declaração contra os Estados Unidos. «Desde 1962», afirma absurdamente,
«os Estados Unidos impõem dor e sofrimento ao povo de Cuba, cortando
alimentos, medicamentos e suprimentos que custam à pequena nação insular cerca
de 130 biliões de dólares».
A Casa Branca evitou, durante cinco dias, qualquer condenação ao comunismo,
atribuindo as desordens à “má administração”. Finalmente, o presidente Biden
teve que admitir que o comunismo é um “sistema falido”, mas não tomará nenhuma
medida significativa para aliviar a situação do povo cubano. Importantes
figuras da esquerda, como o senador Bernie Sanders, pedem educadamente ao
governo cubano que se abstenha da violência, mas não hesitam em culpar os
Estados Unidos pelo seu cruel embargo. Os media liberais repetem o mantra
de que o embargo americano está na raiz da miséria cubana. O levantamento do
embargo permitirá apenas que o regime comunista continue a sua opressão.
O importante a lembrar é que a crise cubana não diz respeito apenas a Cuba, mas
também ao futuro da esquerda mundial. A esquerda sabe-o muito bem. A maior
parte do Ocidente cristão não compreende o que está em jogo. É por isso que é
necessária a mudança de regime. É por isso que o mundo tem que se livrar para
sempre daquele periscópio/tubo de respiração que dá fôlego à esquerda. Não há
outra solução.
John Horvat II
Através de Tradition, Family and Property
0 Comentários
«Tudo me é permitido, mas nem tudo é conveniente» (cf. 1Cor 6, 12).
Para esclarecimentos e comentários privados, queira escrever-nos para: info@diesirae.pt.