Há setecentos e setenta anos, na noite de 15 para
16 de Julho de 1251, São Simão Stock, sexto Geral dos Carmelitas, rezava
intensamente a Nossa Senhora para que manifestasse um sinal de especial
protecção à sua Ordem, que se encontrava em grandes dificuldades. A cela iluminou-se
de repente e apareceu-lhe a Mãe de Deus, com uma multidão de anjos, segurando
nas mãos um objecto destinado a entrar na história da Igreja, como o santo
escapulário do Carmelo, e disse-lhe: «Recebe, dilecto filho, este
escapulário da tua Ordem, como sinal da minha irmandade, privilégio que obtive
para ti e para todos os filhos do Carmelo: quem morrer piedosamente revestido deste
hábito, será preservado do fogo do Inferno: é um penhor de saúde, uma salvaguarda
nos perigos, um sinal de aliança e de paz convosco para sempre».
O escapulário era constituído por duas peças de tecido castanho unidas por um
cordel, para serem usadas sobre as omoplatas. A extraordinária promessa era a
resposta maternal da Santíssima Virgem à devoção ardente de São Simão Stock e
de todos os seus confrades ao longo dos séculos. Esta promessa não se limitava
aos religiosos professos na Ordem, mas estendia-se a toda a família espiritual
do Carmelo. Na verdade, vestir o escapulário significava ser agregado à Ordem e
tornar-se participante dos seus deveres morais e dos seus privilégios
espirituais.
A Igreja, em muitos documentos oficiais, fala dos privilégios do escapulário
como de um património comum a todos os fiéis que o usam. Na bula Ex clementi,
escrita, em 1530, por Clemente VII, diz-se que todos os fiéis que fazem parte
da irmandade do Monte Carmelo, usam o hábito e observam as regras da Ordem,
gozam do nome de irmãos e irmãs da mesma Ordem e participam dos seus
privilégios. Qualquer pessoa, religiosa ou leiga, que faça parte, a qualquer
título, da família carmelita, tem a promessa de ser preservada das chamas do
Inferno em virtude do santo escapulário, regularmente recebido e piedosamente
usado até à morte (cf. Padre Albino do Menino Jesus, Lo scapolare della
Madonna del Carmine, Ancora, Milão 1958).
O segundo grande privilégio concedido a quem usa o escapulário é conhecido como
privilégio sabatino. A tradição remonta-o a uma promessa de Nossa Senhora ao
Papa João XXII (1316-1334), confirmada por uma bula de 1322, segundo a qual
aqueles que usassem devotamente o escapulário e cumprissem certas condições,
seriam libertados do Purgatório no sábado sucessivo à sua morte. O conteúdo
desta crença foi aprovado em numerosos documentos por sucessivos Pontífices,
entre os quais Pio XII, que, a 11 de Fevereiro de 1950, no sétimo centenário da
visão de São Simão Stock, confirma como o santo escapulário, devotamente usado,
obtém que as almas sejam preservadas do Inferno e libertadas o mais rápido
possível do Purgatório, especialmente no primeiro sábado após a sua morte.
Os dois grandes privilégios do escapulário, a preservação do Inferno e a
libertação antecipada do Purgatório, são dois momentos diferentes, mas
complementares, da protecção de Nossa Senhora sobre os filhos do Carmelo. O
privilégio sabatino, desenvolvimento da promessa de libertação do fogo eterno,
é, como observa o Padre Albino do Menino Jesus (op. cit., p. 71), a única
devoção aprovada pela Igreja que promete directamente uma abreviação das penas
expiatórias do Purgatório.
O escapulário utilizado pelos fiéis leigos é o mesmo da Ordem Carmelita, embora
reduzido a dimensões menores para maior comodidade. É composto por dois rectângulos
de lã castanha, unidos por duas fitas, e deve ser usado ao pescoço, em contacto
com o corpo ou sobre a roupa, mas sempre de forma que uma parte caia sobre o peito
e a outra sobre as costas. Pode ser solicitado em qualquer igreja carmelita. As
condições necessárias para adquirir os privilégios a ele associados são
praticamente três:
1) Receber a imposição do escapulário de um sacerdote autorizado, na forma
prescrita pela Igreja. Com este rito, o fiel é filiado ao Carmelo e adquire o
direito de participar dos seus privilégios.
2) Trazer o escapulário até à morte. As palavras de Maria referem-se
expressamente àqueles que morram com o escapulário. Por esta razão, os santos
não o largavam nem por um momento e tomavam todas as precauções para que
ninguém o tirasse deles nas doenças e na morte.
3) Viver como bons cristãos, no espírito do Carmelo. Ninguém pode esperar ser
assistido por Nossa Senhora à beira da morte, se não tentou obter os seus
favores durante a vida. O escapulário, porém, faz com que a Santíssima Virgem impetre
especiais graças àqueles que estão dele revestidos, com o fim de obterem a
perseverança final.
Para receber a indulgência sabatina, além das condições anteriores, é
necessário: 1) A observância da castidade de acordo com o próprio estado; 2) A
recitação diária do Pequeno Ofício de Nossa Senhora; 3) A abstinência nos dias
estabelecidos. As duas últimas condições podem ser comutadas, pelo sacerdote
que impõe o escapulário, com a recitação diária do rosário.
Quando o escapulário fica gasto, pode ser substituído pela pessoa que o usa,
sem ter que recorrer ao sacerdote. O primeiro escapulário é abençoado no
momento da vestição; não é necessária nenhuma bênção para os escapulários que
se usam posteriormente.
Para facilitar a difusão desta devoção, São Pio X, com decreto de 16 de Dezembro
de 1910, autorizou a substituição do escapulário por uma medalha que tenha de
um lado a imagem de Nossa Senhora e do outro a do Sagrado Coração de Jesus. No
entanto, expressou o seu vivíssimo desejo de que a substituição do escapulário
de pano pela medalha ocorra apenas em caso de necessidade e conveniência.
No nosso século, impregnado de um espírito pagão e materialista, usar o
escapulário representa não apenas um sinal de predestinação, como o definia Santa
Teresinha do Menino Jesus, mas também uma profissão de fé, uma clara escolha de
campo, um sinal de luta na batalha que o cristão combate diariamente.
Roberto de Mattei
Através de Radio Roma Libera
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