Este grande e forte artigo do Professor
Massimo Viglione constitui um dos mais lúcidos e profundos comentários ao infausto
Motu Proprio Traditionis Custodes. Ao subscrever esta intervenção magistral,
pretendo oferecê-la à leitura e à reflexão de todos os fiéis, mesmo aos não
católicos, para que todos possam haurir clareza profética e coragem apostólica
na duríssima guerra que todos somos chamados a enfrentar, uma guerra cujo
resultado inevitável será o triunfo da Esposa de Cristo sobre o desencadeamento
dos poderes infernais.
Este artigo do Prof. Viglione merece ampla visibilidade também pela visão geral
sobre a coerência de estratégia e de acção do deep state e da deep
church. No momento em que a discriminação contra os não vacinados é também
adoptada pela igreja bergogliana, é nosso dever e responsabilidade resistir com
a maior determinação e levantar a voz, denunciando o que está a acontecer e
revelando o que se prepara.
† Carlo Maria Viganò, Arcebispo
+
«Sereis expulsos das sinagogas» (Jo 16, 2).
São muitas as intervenções que se sucedem nestes dias após a oficialização,
pelo próprio Francisco, da guerra das hierarquias eclesiásticas contra a Santa
Missa de sempre. E em mais de um comentário revelou-se o desprezo nada
disfarçado e, ao mesmo tempo, a absoluta clareza de conteúdo e forma que
caracteriza o Motu Proprio Traditionis Custodes, escrito com modalidades
e formalidades políticas, mais do que teológicas e espirituais.
É, para todos os efeitos, um documento de guerra. É notável a diferença formal
e de tom que se verifica nos diversos documentos com os quais Paulo VI, a
partir de 1964, anunciou, programou e concretizou a sua reforma litúrgica,
finalmente oficializada com a Constituição Apostólica Missale Romanum,
de 3 de Abril de 1969, com a qual, de facto, o Rito Romano antigo foi
substituído (é o termo mais apropriado tanto do ponto de vista das intenções
como dos factos) pelo novo rito vulgar. Nos documentos montinianos encontramos,
em várias ocasiões, a hipócrita, mas evidente, dor, pesar, nostalgia e,
paradoxalmente, são celebradas a beleza e a sacralidade do rito antigo. Em
suma, é como se Montini tivesse dito: “Caro rito de sempre, vou-te matar, mas
quão belo eras!”.
No documento bergogliano, entretanto, conforme observado por muitos, transparecem
a ironia e o ódio por esse rito. Um ódio tal a ponto de não poder ser contido.
Naturalmente, não é Francisco o iniciador desta guerra, que começou com o
movimento litúrgico modernista (ou, se preferirmos, com o Protestantismo), mas,
pelo menos a nível oficial e operacional, o próprio Paulo VI. Bergoglio apenas –
se passarmos a forte e popular metáfora – “atirou furiosamente”, para tentar
matar de uma vez por todas um ferido de morte que, no decorrer das décadas
pós-conciliares, não só não morreu, mas voltou a uma nova vida arrastando consigo,
com um crescimento exponencial nos últimos quatorze anos, um número
incalculável de fiéis em todo o mundo.
E este é o verdadeiro cerne de toda a questão. O clero progressista e mais
convictamente modernista teve que passar, obtorto collo, o Motu Proprio
de Bento XVI, mas, ao mesmo tempo, operou constantemente contra a Missa de
todos os tempos através da resistência hostil de grande parte do episcopado
mundial, que sempre desobedeceu abertamente ao estabelecido pelo Summorum
Pontificum desde os próprios anos do pontificado ratzingeriano, e ainda
mais depois da renúncia, até hoje.
A hostilidade dos bispos fez com que, no final de contas, a tarefa de tornar activo
o Motu Proprio recaísse muitas vezes sobre a coragem de alguns sacerdotes de
celebrá-lo mesmo sem a permissão do bispo (o que simplesmente não era
necessário). Agora, aqueles bispos que são constante e intransigentemente
desobedientes ao Pontífice Máximo da Igreja Católica e ao seu Motu Proprio, em
nome da obediência ao Pontífice Máximo da Igreja Católica e a um seu Motu Proprio,
poderão não só continuar, mas intensificar a obra censora, a guerra já não oculta,
mas agora clara, como já está a acontecer efectivamente.
Mas Francisco não se limitou a “disparar” contra a vítima imortal. Quis dar
mais um passo, o de um rápido e furtivo, quanto monstruoso, “sepultamento em
vida”, afirmando que o novo rito é a lex orandi da Igreja Católica. Do
que se deve deduzir que a Missa de sempre já não seria a lex orandi.
O Nosso, é bem sabido, está em jejum de teologia (o que é um pouco como dizer
que um médico está em jejum de medicina ou que um ferreiro não sabe usar o fogo
e o ferro). A lex orandi da Igreja, de facto, não é uma “lei” de direito
positivo votada por um parlamento ou prescrita por um soberano, que pode ser
sempre retirada, alterada, substituída, melhorada ou piorada. Além disso, a lex
orandi da Igreja não é uma “coisa” específica determinada no tempo e no
espaço, mas é o conjunto das normas teológicas e espirituais, e dos usos
litúrgicos e pastorais de toda a história da Igreja, desde os dias evangélicos –
e especificamente do Pentecostes – até hoje. Embora obviamente viva no
presente, está enraizada em todo o passado da Igreja. Portanto, não se está aqui
a falar de algo humano – exclusivamente humano – que um qualquer cacique pode
mudar à vontade. A lex orandi compreende todos os vinte séculos da
história da Igreja e não há nenhum homem ou grupo de homens no mundo que possam
mudar este vinte vezes secular depósito. Não há papa, concílio, episcopado que
possam mudar o Evangelho, o Depositum Fidei, o Magistério universal da
Igreja. E nem sequer a Liturgia de sempre. E se é verdade que o rito antigo teve
um núcleo essencial apostólico que depois cresceu harmoniosamente ao longo dos
séculos, com mutações progressivas (até Pio XII e João XXIII), também é verdade
que estas mutações – às vezes mais adequadas às vezes menos, às vezes talvez
nem um pouco – foram sempre harmoniosamente estruturadas num continuum
de Fé, Sacralidade, Tradição, Beleza.
A reforma montiniana desfez tudo isso, inventando um novo rito adequado às
necessidades do mundo moderno e transformando a sagrada liturgia católica de
teocêntrica em antropocêntrica. Do Santo Sacrifício da Cruz, repetido incruentamente
através da acção do sacerdos, passamos à assembleia dos fiéis dirigida pelo
seu “presidente”. De instrumento salvífico e mesmo exorcístico, a aglomeração
populista horizontal, passível de contínuas mutações autocéfalas e relativistas,
e adaptações mais ou menos festivas, cujo “valor” estaria baseado na conquista
do consenso de massa, como se fosse um instrumento político finalizado à audiência,
que, além disso, se está gradualmente a anular completamente.
É inútil continuar neste caminho: são os próprios resultados desta subversão
litúrgica que falam às mentes e aos corações que não mentem. O que é importante
esclarecer, em vez disso, é a razão de tal passagem entre a hipocrisia
montiniana e a sinceridade bergogliana.
O que mudou? Mudou o clima geral, que literalmente se inverteu. Montini
acreditava que, em poucos anos, já ninguém se lembraria da Missa de sempre. Já
João Paulo II, diante da evidência de que o inimigo não morria, foi forçado –
também ele obtorto collo – a conceder um “indulto” (como se a sagrada
liturgia católica de sempre precisasse de ser perdoada por algo para poder
continuar a existir) que (nunca ninguém o diz) era ainda mais restritivo do que
este último documento bergogliano, embora desprovido do ódio que caracteriza
este último. Mas, sobretudo, foi o irrefreável sucesso de povo – e em
particular dos jovens – que a Missa de sempre encontrou depois do Motu Proprio
de Bento XVI o factor desencadeador deste ódio.
A “Missa nova” perdeu diante da história e da evidência dos factos. As igrejas
estão vazias, cada vez mais vazias; as ordens religiosas – também, e talvez
acima de tudo, as mais antigas e gloriosas – estão a desaparecer; os mosteiros
e os conventos estão desertos, habitados apenas por religiosos já em idade muito
avançada, esperando-se a sua morte para fechar as portas; as vocações estão
reduzidas ao nada; até mesmo o oito por mil foi reduzido a metade, apesar da obsessiva,
enjoativa e patética publicidade terceiro-mundista; as vocações sacerdotais escasseiam,
por toda parte vemos párocos com três, quatro e, às vezes, cinco paróquias para
administrar; a matemática do Concílio e da “Missa nova” é a coisa mais
impiedosa que pode existir.
Mas o fracasso é, em especial, qualitativo, do ponto de vista teológico,
espiritual, moral. Mesmo aquele clero que existe e resiste é, em grande parte,
abertamente herético ou tolerante com a heresia e o erro exactamente tanto
quanto é intolerante com a Tradição, não reconhecendo mais nenhum valor objectivo
ao Magistério da Igreja (se não pelo que é agradável), mas vivendo na
improvisação teológica e dogmática, bem como litúrgica e pastoral, tudo baseado
no relativismo doutrinal e moral, acompanhado por uma imensa torrente de
tagarelices e slogans vazios e insípidos; nem falemos da situação moral
devastadora, senão monstruosa, de boa parte deste clero.
É verdade que são os chamados “movimentos” a salvar um pouco a situação. Mas salvam-na
à custa, mais uma vez, do relativismo doutrinal, litúrgico (guitarras,
pandeiros, diversão, “participação”), moral (o único pecado é ir contra os
ditames desta sociedade: hoje contra a vacina; tudo o mais é, mais ou menos,
permitido). Estes movimentos ainda são católicos? E em que medida e qualidade?
Se fôssemos analisar a sua fidelidade com precisão teológica e doutrinária,
quantos resistiriam ao exame?
Lex orandi, lex credendi, ensina a Igreja. E, de facto, a lex orandi
dos dezanove séculos anteriores ao Concílio Vaticano II e à reforma litúrgica
montiniana produziram um tipo de fé, os cinquenta anos seguintes um outro tipo
de fé. E como católico.
«Pelos seus frutos os conhecereis» (Mt 7, 16), ensinou o Fundador da
Igreja. Exactamente. Os frutos do fracasso total do modernismo (ou, se quiserem
para os mais atentos e inteligentes, do triunfo dos verdadeiros objectivos do
modernismo), do Concílio Vaticano II, do pós-concílio. Onde naufragou a
mesma hermenêutica da continuidade? Juntamente com a misericordiazinha, na
hermenêutica do ódio.
A Missa de sempre, por outro lado, é exactamente a antítese de tudo isto. É explosiva
na sua propagação, apesar de toda a hostilidade e censura episcopal constantes;
é santificadora na sua perfeição; é envolvente precisamente porque é expressão
do Eterno imutável, da Igreja de sempre, da teologia e da espiritualidade de sempre,
da liturgia de sempre, da moral de sempre. É amada porque é divina, sagrada e hierarquicamente
ordenada, não humana, “democrática” ou liberal-igualitária. Divina e humana ao
mesmo tempo, como o seu Fundador no dia da Última Ceia.
E é especialmente amada pelos jovens, tanto leigos que a frequentam, como entre
aqueles que se aproximam do sacerdócio: enquanto os seminários do novo rito (a lex
orandi de Bergoglio) são covis de heresia, apostasia (e é melhor calar
sobre o que mais...), os seminários do mundo da Tradição transbordam de
vocações, masculinas e femininas, numa continuidade irrefreável.
A explicação desse facto incontestável encontra-se na única lex orandi
da Igreja Católica. Que é a querida pelo próprio Deus e à qual nenhum rebelde
pode escapar.
Aqui está a raiz do ódio. É o consenso mundial e multigeracional para o inimigo
que deve morrer. Confrontado com o fracasso do que deveria ter trazido nova
vida e, em vez disso, está a morrer dissecado. Porque falta a força vital da
Graça.
É o ódio pelas jovens ajoelhadas com véu branco ou pelas senhoras com muitos
filhos e véu preto; pelos homens ajoelhados em oração e recolhimento, talvez
com o rosário entre os dedos; pelos sacerdotes em batina fiéis à doutrina e à
espiritualidade de sempre; pelas famílias numerosas e serenas, apesar das
dificuldades desta sociedade; pela fidelidade, pela seriedade, pela sede do
sagrado.
É o ódio por todo um mundo, cada vez mais numeroso, que não caiu – ou já não
cai – na armadilha humanista e globalista do “Novo Pentecostes”.
No fundo, aquele disparar furioso nada mais é do que um novo homicídio de Caim invejoso
de Abel. E, de facto, no novo rito, oferecem-se a Deus «os frutos da terra e
do trabalho do homem» (Caim), enquanto no de sempre «hanc imaculatam
Ostiam» (o Cordeiro primogénito de Abel: Gn 4, 2-4).
Caim vence sempre momentaneamente pela violência, mas, posteriormente, sofre
infalivelmente a punição do seu ódio e da sua inveja. Abel morre
momentaneamente, mas depois vive para sempre na sequela Christi.
O que acontecerá agora? Esta é uma questão mais interessante e inevitável do
que se possa pensar, e a muitos níveis. Não podendo conhecer o futuro, coloquemos,
entretanto, algumas perguntas fundamentais.
Todos os bispos obedecerão? Não parece. Além da grande maioria deles, que o
fará de boa vontade, seja porque partilham do ódio do seu chefe (quase todos)
ou porque temem pelo seu futuro pessoal, pensamos que não serão poucos aqueles que poderão opor-se à “metralhada” bergogliana, como já parece acontecer em vários
casos nos EUA e na França (nutrimos pouca esperança pelos italianos, os mais pávidos
e achatados como sempre), seja porque não são hostis de princípio, seja pela
amizade com algumas ordens ligadas à Missa de sempre, seja talvez – é uma
esperança vã? – por um golpe de justo orgulho pela humilhação, mesmo grotesca,
recebida por este documento, onde a princípio se diz que a decisão quanto à
concessão da licença é sua, e depois não apenas limita qualquer liberdade de acção
condicionando qualquer possibilidade, por mínima que seja, de escolha, mas cai-se
na mais óbvia contradição afirmando que devem, em qualquer caso, relacionar-se
com a Santa Sé!
Será que realmente obedecerão todos cegamente ou algumas rachaduras começarão a
abalar o sistema de ódio? E o que acontecerá no mundo dito “tradicionalista”? “Veremos
das boas”, pode-se dizer popularmente… Sem excluir as reviravoltas históricas.
Há quem cairá, quem sobreviverá, quem talvez tirará vantagem disso (mas cuidado
com as bolas envenenadas dos servos do Mentiroso!). Em vez disso, confiemos na Graça
divina para que os fiéis não só permaneçam fiéis, mas também cresçam.
Tudo isso será confirmado, particularmente, por um aspecto que ninguém destacou até
agora: o verdadeiro propósito desta guerra de décadas à sagrada liturgia
católica, que é o verdadeiro propósito da criação ex nihilo (dizendo melhor: à mesa, em qualquer antro) do novo rito, é a dissolução da própria
liturgia católica, de todas as formas do Santo Sacrifício, da própria doutrina
e da própria Igreja na grande corrente mundialista da religião universal da
Nova Ordem Mundial. Conceitos como a Santíssima Trindade, a Cruz, o pecado
original, o Bem e o mal entendidos no sentido cristão e tradicional, a
Encarnação, a Ressurreição e, por conseguinte, a Redenção, os privilégios marianos e a
figura da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, a Eucaristia e os sacramentos, a
moral cristã com os seus Dez Mandamentos e a Doutrina do Magistério universal
(defesa da vida, da família, da recta sexualidade em todas as suas formas, com
todas as condenações decorrentes das loucuras de hoje), tudo isto deve
desaparecer no culto universal e monista do futuro
E, em tal óptica, a Missa de sempre é o primeiro elemento que deve desaparecer,
sendo o baluarte absoluto de tudo o que se quer fazer desaparecer: sendo o
primeiro obstáculo a todas as formas de ecumenismo. Isso implicará,
inevitavelmente, com o tempo, uma aproximação progressiva à sagrada liturgia de
sempre da massa dos fiéis que ainda se demoram a frequentar o rito novo, talvez
tentando ir para aqueles sacerdotes que o celebram com dignidade. Porque, no
final, mais cedo ou mais tarde, também estes últimos serão colocados na
encruzilhada da obediência ao mal ou da desobediência para permanecerem fiéis
ao bem. O pente da Revolução, na sociedade como na Igreja, não deixa nós: mais
cedo ou mais tarde, cai-se, aqui ou ali. E isto envolverá a procura, da parte
dos bons ainda confusos, da Verdade e da Graça. Ou seja, da Missa de sempre.
Quem ainda hoje demora a ocupar-se destas “questões” e a seguir estes bispos e
párocos, saiba que, se quiser ser verdadeiramente católico e gozar
verdadeiramente do Corpo e do Sangue do Redentor… tem os dias contados. Deverá
escolher em breve.
Tocamos agora no problema central de toda esta situação: como comportar-se
diante de uma hierarquia que odeia a Verdade, o Bem, o Belo, a Tradição, que combate
a única verdadeira lex orandi para impor uma outra que não agrada a Deus
mas ao príncipe deste mundo e aos seus servos “controladores” (de alguma forma,
aos seus “bispos”)?
É o problema-chave da obediência, sobre o qual, mesmo no mundo da Tradição,
muitas vezes se joga um jogo sujo, muitas vezes incitado não por uma procura
sincera do melhor e da verdade, mas por guerras pessoais, que hoje se tornaram
mais agudas diante da ruptura causada pelo totalitarismo sanitário e pela
vacinação.
A obediência – e este é um erro que encontra as suas raízes profundas também na
Igreja do pré-concílio, é preciso dizer – não é um fim. É um meio de
santificação. Logo, não é um valor absoluto, mas instrumental. É um valor
positivo, muito positivo se dirigido a Deus. Mas obedecendo-se a Satanás, aos seus
servos, ao erro, à apostasia, já não é um bem, mas uma deliberada participação no
mal.
Como a paz, exactamente. A paz – divindade da subversão de hoje – não é um fim,
mas um instrumento do Bem e do Justo, se finalizada a criar uma sociedade boa e
justa. Se finalizada a criar ou a favorecer uma sociedade satânica, maligna, errónea
e subversiva, então a “paz” torna-se instrumento do inferno.
Devemos «agradar não aos homens mas a Deus, que põe à prova os nossos
corações» (1 Ts 2, 4). Exactamente! À vista disso, quem obedece aos homens na
consciência de facilitar o mal e dificultar o Bem, seja quem for, inclusive as
hierarquias eclesiásticas, inclusive o papa, torna-se, na realidade, cúmplice
do mal, da mentira, do erro.
Quem obedece nestas condições, desobedece a Deus: «O discípulo não está
acima do mestre, nem o servo acima do senhor» (Mt 10, 24). Também Judas
fazia parte do colégio apostólico.
Ou cai na hipocrisia. Como se – só para dar um exemplo básico – um católico
tradicionalista, auto-erigido como dispensador e juiz da seriedade alheia,
criticasse abertamente o actual pontífice por Amoris lætitia ou por este último documento, mas depois,
no que respeita à submissão, mesmo obrigatória!, à vacinação em si e à
aceitação do uso de linhas celulares humanas obtidas de fetos vítimas de aborto
voluntário, declarasse, para se defender diante da justa e óbvia indignação
geral, ser obediente ao que diz o “Soberano Pontífice” sobre o assunto.
A conditio sine qua non de toda a seriedade reside não tanto nos “tons”
usados (também, este é um aspecto importante, mas absolutamente não primário
e, acima de tudo, permanece subjectivo), mas, de forma particular, na coerência
doutrinal, ideal, intelectiva ao Bem e à Verdade na sua integridade, em todos
os aspectos e circunstâncias. Por outras palavras, devemos entender se quem,
hoje, guia a Igreja quer ser servo fiel de Deus ou servo fiel do príncipe deste
mundo. Na primeira hipótese, deve-se-lhe obediência e a obediência é instrumento
de santificação. Na segunda, ocorre tirar as consequências. Claramente, no respeito
das normas codificadas pela Igreja, como filhos da Igreja e também com a devida
educação e serenidade de tom. Mas deve-se sempre tirar as consequências: a
primeira preocupação deve ser sempre seguir e defender a Verdade, não o
enjoativo beija-pé obsequioso e escrupuloso, fruto estragado de um tridentismo
mal-entendido. Nem o papa e nem as hierarquias podem ser usadas como referentes
da verdade aos soluços de acordo com os propósitos pessoais.
Estamos nos dias mais decisivos da história da humanidade e também da história
da Igreja. Todos os autores que comentaram nestes dias convidam à oração e à
esperança. Obviamente, também o faremos, com plena convicção de que tudo o que
está a acontecer nestes dias e, de forma mais geral, desde Fevereiro de 2020, é
sinal inequívoco de que se aproximam os tempos em que Deus intervirá para
salvar o Seu Corpo Místico e a humanidade, além da ordem que Ele mesmo deu à
criação e à convivência humana, na medida, com as modalidades e com os tempos
que Ele quiser adoptar.
Oremos, esperemos, vigiemos e coloquemo-nos do lado certo. O inimigo ajuda-nos
na escolha: na verdade, é sempre o mesmo de todas as partes.
Massimo Viglione
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