A 31 de Outubro de 1517, em Vitemberga, na
Alemanha, o heresiarca Martinho Lutero afixava, na porta da igreja do castelo
da cidade, as suas infaustas 95 Teses, originalmente denominadas Disputatio
pro declaratione virtutis indulgentiarum, que, sob o pretexto das
indulgências – enormíssimo tesouro da Santa Religião vilmente renegado pelo
pernicioso Lutero –, pretendiam, a par de outros deploráveis documentos, “refazer”
a Igreja Católica. Este foi o gesto que deu início à condenável Reforma
Protestante e que provocou uma imensa divisão na Cristandade, mormente no Velho
Continente. Em Junho de 1520, o Papa Leão X advertiu Lutero, por meio da bula Exsurge
Domine, com a salutar e paternal ameaça de excomunhão. Face à
insubordinação do outrora monge agostiniano, que se uniu maritalmente com uma
freira e se suicidou depois de uma vida de vícios, o mesmo Pontífice, a 3 de
Janeiro de 1521, há precisamente cinco séculos, excomungou formalmente Martinho
Lutero com a bula Decet Romanum Pontificem. Na prática, qual foi o
resultado deste obtuso desejo de “regresso às origens”? São largas as dezenas
de ramificações protestantes, céleres também são as “ordenações” de mulheres
nas seitas protestantes, muitas dessas “igrejas” apoiam a despudorada união
entre pessoas do mesmo sexo, que se obstinam em equiparar à união indissolúvel
desejada por Deus entre um homem e uma mulher, entre outros aspectos que nada
têm que ver com o perene ensinamento de Nosso Senhor Jesus Cristo e dos
Apóstolos. Por outras palavras, de Lutero e dos seus mais fiéis sobrestantes
nada de bom surgiu para a humanidade!
Em 2019, a agitadora Igreja alemã, à época liderada pelo Cardeal Reinhard Marx,
Arcebispo de Munique e Freising, anunciou o início de um “caminho sinodal”
completamente à parte da Igreja de Roma, alegando, entre outras coisas, a
profunda reflexão que se deveria fazer a respeito dos elevados números
registados de abusos sexuais no mundo eclesiástico alemão. Segundo números de
2018, os casos de abusos sexuais ocorridos entre 1946 e 2014 tinham sido
contabilizados em 3677, envolvendo 1670 clérigos. Por essa altura, o Papa
Francisco endereçou uma extensa carta aos católicos alemães em que, muito
concisamente, manifestou o apoio ao processo iniciado, desejando que se pudesse
assistir a uma «conversão pastoral». Dois anos depois, o resultado da
«conversão pastoral» da Igreja alemã e do seu sínodo falhado é um feroz apoio
do episcopado nacional à separação dos poderes dentro da Igreja, à reformulação
da moral em matéria sexual, ao fim do celibato eclesiástico, às disformes
uniões entre homossexuais e à discussão do papel das mulheres no seio da
Igreja, que não raras vezes culmina com a proposta de ordenação sacerdotal
dessas, algo que atenta terminantemente contra o depositum fidei da
Igreja Católica. No que se refere aos abusos sexuais, como admitiu o próprio
Cardeal Marx, o processo foi extremamente mal gerido, tornando-se,
inevitavelmente, um absoluto malogro. Mais um para a história.
Numa carta datada de 21 de Maio, tornada pública no princípio do corrente mês,
o já referido Cardeal Marx – o nome é “pura coincidência”, note-se, mas não
deixa de fazer algum sentido – apresentou a sua renúncia ao cargo de Arcebispo
de Munique e Freising, alegando que se tratava «substancialmente de assumir a
co-responsabilidade em relação à catástrofe do abuso sexual perpetrado pelos
representantes da Igreja nas últimas décadas». Poucos dias depois, Francisco escreveu
uma carta a Marx, que também foi tornada pública, em que rejeitou a sua
renúncia, agradecendo-lhe pela «coragem cristã que não teme a cruz, que não
teme humilhar-se diante da tremenda realidade do pecado. Assim fez o Senhor. É
uma graça que o Senhor te deu e vejo que tu a queres aceitar e guardar para que
dê fruto. Obrigado». Declinando a renúncia de Marx, Francisco ignora todo o mal
que o bispo alemão tem vindo a fazer ao longo dos últimos anos e, mais do que
isso, confirma-o, assim como ao desviado episcopado alemão, na sua inaceitável cruzada
não de guia de almas, mas na de assolador de consciências. Se Marx se afirma
co-responsável por todos os desvarios da Igreja alemã, tanto em relação aos
abusos quanto a tudo o que tem vindo a ser alavancado, Francisco também deve
ser co-responsabilizado pela sua inexplicável postura de activa indiferença
sobre o que abala os alicerces da Igreja e, consequentemente, provoca uma perda
de confiança por parte dos fiéis e um contínuo esvaziamento das igrejas e
comunidades católicas – recorde-se que os católicos alemães devem pagar uma
taxa para poderem ter acesso aos Sacramentos, o que é verdadeira simonia, isto
é, uma venda daquilo que não tem preço e que diz respeito às «coisas do alto»
(Cl 3, 1). Mais uma vez, a Alemanha não dá bom exemplo. Entretanto, Roma, numa
atitude inusitada, também não fica bem na fotografia. Francisco, a cada dia que
passa, torna-se mais frágil e, a par disso, procura enfraquecer o que, ao longo
de séculos, serviu de farol a tantas gerações de fiéis católicos. Quo vadis,
Franciscus?
D.C.
0 Comentários
«Tudo me é permitido, mas nem tudo é conveniente» (cf. 1Cor 6, 12).
Para esclarecimentos e comentários privados, queira escrever-nos para: info@diesirae.pt.