Joe Biden, nos primeiros meses da sua
actividade como Presidente dos Estados Unidos da América, implementou toda uma
série de medidas – acompanhadas de declarações igualmente explícitas – a favor
do aborto, da sua propagação não só nos Estados Unidos, mas em todo o mundo. Joe
Biden declara-se – ou assim o descrevem os seus assessores de imprensa – um
católico devoto. Pode um católico, devoto ou não, aproximar-se da Eucaristia se
promove activamente aquele que aparece como um dos crimes mais hediondos, o
assassinato de uma criança no ventre da mãe? Biden pessoalmente afirma ser
contra o aborto; mas o que importa o que pensa “pessoalmente” se depois,
publicamente, de uma forma sem precedentes, se dá a favor e anula todas as
medidas tomadas em favor da vida pelo seu predecessor?
Os bispos dos Estados Unidos discutirão o problema da Eucaristia, do aborto e dos
católicos que querem uma e outro como se não houvesse contradição. Se da
discussão emergisse uma posição forte, lógica e firme, personagens de primeiro
plano como Joe Biden e a Presidente da Câmara, Nancy Pelosi, loucamente
pró-aborto e que se define católica, poderiam encontrar-se em graves dificuldades.
O New York Times, o órgão interno dos democratas, num artigo de há dias,
escreveu que a Santa Sé havia alertado os bispos dos Estados Unidos para
conterem essa questão. Não há confirmações, mas o diário nova-iorquino ouviu o
director de Civiltà Cattolica, o jesuíta pró-democrata (na Itália e nos
EUA) Antonio Spadaro, segundo o qual «a preocupação do Vaticano é de não usar
o acesso à Eucaristia como arma política». O New York Times explica
que Antonio Spadaro é «muito próximo do pontífice»; na realidade,
Spadaro é um dos especialistas da comunicação vaticana e um dos conselheiros do
Pontífice reinante.
Ou seja, na prática, a Santa Sé, segundo o New York Times, aconselharia
os bispos a não seguirem lógica, consistência e doutrina. Espanta, mas não
tanto para quem conhece o nível de hipocrisia que existe entre os clérigos, e
especialmente entre os clérigos políticos, que não se diga uma palavra da verdadeira
instrumentalização: a daqueles que, para terem votos e preferência, se declaram
católicos para, depois disso, se comportarem de maneira totalmente oposta, estavelmente,
continuamente e publicamente contra o que a Igreja ensina e prega num campo de
extrema gravidade como o aborto.
A acusação exagerada e especiosa do uso da Eucaristia como «arma política»
foi fortemente rejeitada por diversos bispos, entre as quais a voz autorizada
do Arcebispo Metropolitano de São Francisco, Mons. Salvatore Cordileone, que
reiterou: «O nosso objectivo deve ser sempre a salvação das almas, tanto da
pessoa errante como da comunidade católica mais ampla». E o Arcebispo
Metropolitano de Denver, Mons. Samuel Aquila, abordou o assunto na revista dos
Jesuítas Americanos, argumentando que a Igreja «deve estar disposta a
desafiar os católicos que persistem no pecado grave».
A este respeito, recordamos a nota confidencial do então Cardeal Joseph
Ratzinger, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, quando se discutia a
mesma questão no caso do candidato democrata à Casa Branca John Kerry: onde se
lê que o aborto e a eutanásia são «pecados graves» e um bispo deveria encontrar
quem vota e apoia «leis permissivas» para informá-lo de que «não se
deve apresentar para a Sagrada Comunhão até que tenha posto fim à situação objectiva
de pecado e adverti-lo de que, caso contrário, lhe será negada a Eucaristia».
Então, a pedido do então Cardeal Eugene McCarrick, a Conferência Episcopal
Americana decidiu ignorar a carta do Cardeal Ratzinger e confiar a decisão a
cada bispo para a sua diocese.
Marco Tosatti
Através de Radio Roma Libera
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