Para voltar à fé firme é necessário
rezar e honrar Maria Santíssima. A partir do Concílio Vaticano II, além do
parêntese do Papa João Paulo II, que tinha uma devoção particular a Nossa
Senhora, a imagem da Virgem sofreu uma leitura pejorativa, às vezes teologicamente
degradante e profanadora. Reduzida ao nível de uma quotidianidade feminina vulgar,
Ela foi levada a descer a escada conduzindo-a ao degrau das mulheres normais, das
esposas normais, das mães normais... Ela, a Bendita entre todas as mulheres, a
Mãe de Deus, a Concebida sem pecado, a Co-Redentora.
Já que Maria é o oposto do modelo feminino de hoje, onde a mulher está, há
muito tempo, no centro da tormenta de um feminismo que vê o seu farol na
competição social e laboral contra os homens, na reivindicação de autodeterminação
em todos os campos, a própria Igreja fala pouco d’Ela, das graças
extraordinárias que porta, da sua missão de porta necessária e indispensável
para aceder à de Cristo Salvador. O Verbo encarnou-se em Maria e será por meio
d’Ela que o demónio será derrotado, esmagado, aniquilado, como relatam as
Sagradas Escrituras, do Génesis ao Apocalipse.
Cor Jesu adveniat regnum tuum, adveniat per Mariam!
Nestes tempos de apostasia, a Virgem Maria perturba, não é politicamente
correcta, é antiquada, é contra-revolucionária, é contraproducente para as
batalhas abortivas, antifamiliares, homossexuais, favoráveis à ideologia de
género...
Durante o primeiro encontro nacional dos Estados Gerais da natalidade,
realizado a 14 de Maio, tanto o Presidente do Governo, Mario Draghi, quanto o
Papa Francisco falaram sobre o problema da diminuição da natalidade, do
ameaçador declínio demográfico que paira sobre o nosso cada vez mais idosos País,
dando como receita para o reinício uma lei adequada para sustentar
financeiramente as famílias com vários filhos. De facto, o Papa argumentou: «Na
Itália, finalmente decidiu-se transformar em lei um subsídio, definido único e
universal, para cada filho que nasce. Manifesto apreço às autoridades e desejo
que este subsídio vá ao encontro das necessidades concretas das famílias, que
fizeram e fazem tantos sacrifícios, e marque o início de reformas sociais que
coloquem no centro os filhos e as famílias. Se as famílias não estiverem no
fulcro do presente, não haverá futuro; mas se as famílias recomeçarem, tudo
recomeçará» e prosseguiu afirmando: «Penso também, com tristeza, nas
mulheres que, no trabalho, são desencorajadas a ter filhos ou que devem
esconder a barriga. Como é possível que uma mulher se tenha que envergonhar do
dom mais bonito que a vida pode oferecer? Não se deve envergonhar a mulher, mas
a sociedade, pois uma sociedade que não acolhe a vida deixa de viver. As
crianças são a esperança que faz renascer um povo!».
Mas antes da economia, é preciso mudar a filosofia que está por trás das opções
de vida das mulheres. A dizê-lo não já não apenas as mulheres que permaneceram
devotas à Senhora de sempre, a verdadeira e divina, não ferial, mas até mesmo
Ritanna Armeni, grande defensora das reivindicações feministas, à época
simpatizante da formação extraparlamentar Potere Operaio e, posteriormente, colaboradora
do nascimento do jornal “il manifesto”; que, em “Il Foglio”, há dois dias,
escreveu, no artigo intitulado Os filhos que não queremos, que a Itália
está a envelhecer e faz poucos filhos, mas a opinião pública ignora as
verdadeiras causas da crise demográfica: «A economia não tem nada a ver e a
pobreza também não. As nossas escolhas são importantes. E existem alguns tabus
que, como mulheres, não queremos admitir». As mulheres de hoje têm medo dos
filhos, tiram a “liberdade”, por isso, suprimem-nos se chegam, graças à lei do
aborto, ou adiam-nos para uma data a definir, como ainda afirma Armeni quando
conta que fez a pergunta a uma amiga com mais de trinta anos «feliz a
coabitar e com um trabalho “quase” seguro […] A resposta é igualmente
imediata: “Filhos? Não tenho intenção de fazê-los” e, então, para que não haja
mal-entendidos, a explicação: “Não estão nos meus planos, talvez no futuro”».
Talvez... melhor pensar noutra coisa, as crianças são exigentes, absorvem muito
a nossa vida, não permitem deixar tempo para os espaços de trabalho fora de
casa e as distracções com as amigas, com os amigos, ou, talvez, as escapadelas
que dão “sabor à vida”. A fidelidade é um valor antigo e antiquado que amarra,
aprisiona, sufoca o brio das emoções e as mulheres, no seu quotidiano
promíscuo, podem “legitimamente” experimentar ainda mais histórias, pelo que os
filhos, em tudo isso, são um grande obstáculo.
A filosofia feminina da época contemporânea é contra os filhos, que já mata no
próprio ventre, e que, quando nascem, os confia a maior parte do tempo ao
Estado com a sua nociva escola a tempo inteiro, os seus psicólogos, os seus
assistentes sociais e todo o aparato delegante. Uma escola agora muito distante
dos princípios da natureza e dos princípios do Criador.
Observando a Virgem, tudo isso cai inexoravelmente. Duas pinturas
extraordinárias do Romantismo do século XIX, a Madonna dell’Ostia, de
Auguste-Dominique Ingres, e a Madonnina, de Roberto Ferruzzi, conduzem-nos,
respectivamente, aos conceitos de Maria Co-Redentora e da sua dulcíssima maternidade,
reapropriando-nos, assim, do verdadeiro culto sagrado por Maria Santíssima, tão
hostilizada pelos protestantes (este tema é considerado pelo Papa Francisco
como muito divisivo para o ecumenismo e para o diálogo com o feminismo), e do
conceito sublime da maternidade, tendo a Virgem como farol e exemplo.
No dia 22 de Maio, na Marcha pela Vida, na sua décima edição, será ocasião para
reafirmar que a vida é sagrada e ninguém pode ter o direito de matar um
inocente. Aí, nesse contexto, nos Fóruns Imperiais, precedida, às 09h00, por
uma Santa Missa, na Igreja dos Santos Domingos e Sisto, no Angelicum, e, às 09h30,
na Igreja de Santa Maria em Campitelli, será invocado o auxílio de Maria Santíssima,
graças aos tantos sacerdotes, religiosos, religiosas e católicos que
participarão.
Cristina Siccardi
Através de Corrispondenza Romana
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