Em plena Cimeira Social do Porto, a
Ministra da Justiça da Hungria, Judit Varga, concedeu, em exclusivo, uma
entrevista ao portal Dies Iræ. Ao longo da conversa, a governante húngara
abordou questões sobre as relações entre a Hungria e Portugal, falou do
inspirador Governo de Orbán, focou-se no actual estado da União Europeia, que
conhece muito profundamente, e defendeu acerrimamente os valores da Família e
da Cristandade, que têm estado muito presentes nas políticas da Hungria desde
que, em 2010, o Primeiro-Ministro Viktor Orbán chegou ao poder.
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1. Senhora Ministra, muito obrigado, antes de mais, por nos receber no Porto,
cidade em que se encontra, juntamente com o Primeiro-Ministro Viktor Orbán,
para participar, até ao próximo sábado, na Cimeira Social organizada pela
Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia. Com que expectativas
chega a este encontro e como desejaria regressar a Budapeste?
Em primeiro lugar, é óptimo finalmente encontrar os colegas pessoalmente, mas a
pandemia ainda não acabou. Estive com o Primeiro-Ministro Orbán a discutir
questões sociais, como o desemprego ou os direitos sociais. Viemos com a missão
clara de apresentar o que o Governo húngaro alcançou nos últimos 10 anos:
aumentámos o emprego a uma taxa recorde, diminuímos o IRS e duplicámos o
salário mínimo mensal. O trabalho prossegue e estas cimeiras desempenham um
papel fundamental, uma vez que proporcionam a oportunidade para partilhar o know-how
de cada Estado-Membro.
Também tenho conversas cara-a-cara com outros Ministros dos Assuntos da União Europeia
e acabo de ter a oportunidade de me encontrar com os Reitores de duas das mais
conceituadas universidades do Porto. O sistema de ensino superior na Hungria
está diante de excelentes oportunidades. As mudanças estruturais actuais criam
as condições para que as universidades se auto-sustentem e construam relações activas
tanto com os actores económicos quanto com outras instituições educativas no
exterior. O nosso objectivo é que, no futuro, o sistema de ensino superior
húngaro esteja entre os melhores da Europa.
2. Por falar em Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia, como é
que avalia estes meses de Presidência e, ao mesmo tempo, como caracterizaria as
presentes relações diplomáticas, essencialmente em matéria de Justiça, entre a
República da Hungria e a República Portuguesa?
Hungria e Portugal são dois países com localizações geográficas completamente
diferentes, as suas histórias também são completamente diferentes e, como
resultado, muitas questões internacionais são, obviamente, vistas de forma
diferente. No entanto, isso não impede a cooperação em questões internacionais,
como a promoção de estratégias eficazes contra o fluxo ilegal de migrantes do
continente africano ou o estabelecimento de relações económicas cada vez mais
estreitas. Por isso, consideramos Lisboa um parceiro importante tanto a nível
bilateral como europeu. Apreciamos a abertura e reconhecemos com satisfação
que, recentemente, fomos capazes de avançar numa série de questões políticas – especialmente
nas reuniões dos nossos Primeiros-Ministros no Verão passado.
Em Abril, encontrei-me também com a Ministra da Justiça, Van Dunem, em Lisboa,
com quem tive uma discussão frutífera sobre uma potencial cooperação judicial.
O coronavírus mostrou potencial na tecnologia digital, mas os seus perigos
também não devem ser esquecidos. Logo, concordamos que a chave para uma acção
eficaz é um diálogo contínuo entre os Estados-Membros. Também informei a
Ministra Van Dunem que, no próximo Outono, iremos realizar uma conferência
ministerial de alto nível sobre justiça no âmbito da Presidência Húngara do
Conselho da Europa, para a qual gentilmente convidei a minha homóloga portuguesa.
3. Desde a chegada ao poder do Primeiro-Ministro Viktor Orbán, em 2010, com
as suas qualificadas maiorias eleitorais, a Hungria é olhada com admiração,
mundo afora, pelos partidários da lei e da disciplina. No entanto, nos círculos
afectos ao globalismo e às esquerdas antidemocráticas existe uma guerra, ora
aberta, ora surda, ao Governo húngaro. Que resposta daria V. Ex.ª, na sua
qualidade de Ministra da Justiça, a estes últimos?
Trabalhei em Bruxelas durante quase 10 anos e o que lá experimentei é que
existem 10-20 ONG e 10-20 meios de comunicação globais que dizem sempre exactamente
o que pensar e o que representar nas questões da UE. Nas últimas décadas, esse
tipo de preguiça política e ideológica criou uma enorme bolha liberal para o
Ocidente em que quase não é preciso pensar, basta citar os usuais mantras e
palavras mágicas, após as quais se será um “bom homem” e se evitará a maldição
do mundo civilizado. Os partidos de esquerda continuam a caluniar o Governo
húngaro simplesmente porque estamos a conduzir uma política baseada na nossa
herança Cristã. Podem ver que o dia não passa sem que esses partidos de
esquerda, completamente desligados da realidade, se preocupem com a liberdade
de imprensa ou a autonomia universitária húngara. À vista disso, é importante
que, sempre que tivermos oportunidade, estouremos a bolha da falsa opinião da
realidade paralela criada por tais partidos.
4. Parte dos grandes media, repercutindo decisões da Comissão
Europeia, têm colocado a Hungria no “banco dos réus” por supostos “cerceamentos”
às liberdades civis. Sabemos, porém, que a Hungria tem respeitado a
independência dos três poderes. Como Ministra com a pasta dos Assuntos
Europeus, que argumentos daria V. Ex.ª aos detractores do actual poder húngaro?
Em primeiro lugar, gostaria de convidá-los a irem viver para a Hungria para verem
se essas liberdades civis são, de facto, restringidas ou não. A independência
judicial é evidente para nós, o mercado húngaro dos media é livre,
diverso e variado, enquanto o sector civil está a florescer. Permitam-me que
lhe dê alguns detalhes: existem, actualmente, mais de 60.000 organizações não
governamentais a operar no país e há mais de 6.000 meios de comunicação
impressos que oferecem informações ao povo húngaro, sendo, por isso, um dos
poucos Estados-Membros onde prevalece o genuíno pluralismo. Aqueles que não
concordam connosco podem esquecer que o sistema jurídico de um país requer
melhorias contínuas. Quanto à lei sobre a transparência das ONG, consideramos
que essa transparência é uma expectativa legítima e democrática, que foi mesmo
reconhecida pelo Tribunal de Justiça da União Europeia. Evidentemente, esses
são factos que nunca se ouvirão dos nossos críticos.
5. A Constituição húngara, com as alterações democraticamente realizadas
pela actual maioria parlamentar, representou uma importante viragem em relação
ao passado comunista húngaro e, nalguns pontos fundamentais, um regresso às
tradições Cristãs de uma antiga e respeitável nação europeia. Que palavras de
estímulo deixaria V. Ex.ª aos líderes políticos e povos europeus – e não só –
que admiram a actual Hungria e gostariam de seguir pelas mesmas sendas?
Schumann, um dos pais fundadores da Europa disse uma vez que «a democracia
deve a sua existência à Cristandade». Muitos esquecem que, antes, as
democracias liberais também se afastavam das fundações Cristãs. Mudaram
radicalmente quando começaram a romper os laços que prendem as pessoas à vida
real: quando questionaram a identidade do sexo de uma pessoa, desvalorizaram a
identidade religiosa das pessoas e consideraram supérflua a filiação nacional
das pessoas. Estamos tristes em ver que este se tornou o espírito da época na
última década. A Hungria, por outro lado, provou que é possível seguir políticas
Cristãs mesmo em tempos tão difíceis. E sabemos que o que estamos a fazer é bom,
pois o povo da Hungria confirmou o seu apoio três vezes consecutivas. Esperamos
continuar o trabalho neste empreendimento no próximo ano.
6. Como é que o Governo de Budapeste vê a “Agenda 2030” das Nações Unidas,
especialmente naqueles pontos contrários à instituição familiar?
O Governo húngaro relembra uma longa história no seu compromisso com a
sustentabilidade. O nosso futuro global depende do sucesso em alcançar uma
holística, integrada e participativa implementação das dimensões social, económica
e ambiental do desenvolvimento sustentável. No entanto, é importante notar que
muitos dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável são discutidos também durante
a Cimeira Social do Porto. Como tal, representamos um estado workfare e
uma economia que se concentra na política familiar, identidade nacional,
competitividade e sociedade workfare. Por exemplo, reduzimos o
desemprego a um nível recorde antes da pandemia e aumentámos a nossa
competitividade económica com o apoio à capacitação de mão de obra.
No que diz respeito à questão das famílias, a Hungria está firmemente empenhada
na defesa das famílias, que, claramente, só podem ser a união de um homem e uma
mulher. O nosso país é um Estado democrático Cristão com uma Constituição Cristã
que declara a protecção da identidade constitucional e da cultura Cristã da
Hungria. Por conseguinte, afirmamos que deve ser adoptada uma política
holística da família com o objectivo principal de empoderar as famílias e
alcançar uma mudança duradoura nas tendências demográficas. Foi por isso que o Governo
introduziu uma política familiar que visa proteger os valores familiares
tradicionais. Acreditamos que as famílias são a base para a sobrevivência da
nação.
7. Por fim, enquanto ministra e cidadã húngara, gostaríamos de lhe pedir que
deixasse uma breve mensagem aos portugueses que olham com esperança para a
Hungria do presente enquanto são subjugados a políticas e a líderes políticos
que defendem medidas e ideias contrárias à verdadeira dignidade do ser humano e
contra a Família natural.
Tivemos no passado, e ainda temos, muitas disputas com quem nos critica e
critica as nossas políticas. As campanhas de difamação contra a Hungria
atingiram um nível sem precedentes, mas insistimos porque sabemos que proteger
os interesses da nação húngara está em primeiro lugar. Recomendo a todos que
não tenham medo de defender os princípios e valores em que acreditam. Como um
dos vossos maiores poetas, Fernando Pessoa, disse uma vez: Todo o gesto é um
acto revolucionário.
1 Comentários
Salvé Maria, cheia de Graça. ...
ResponderEliminarQue bom seria, se toda a Europa continuasse com as suas belas Raízes Cristãs, na qual foi fundada e de onde o Senhor mandou enviar para o Mundo, para Evangelizar esse povo.
Logo, á 500 anos tinha que aparecer esse lutero, para começar a lançar as sementes do diabo.
e agora, ainda não satisfeitos esta semana, logo no início tinham que recomeçar uma nova era de maldições para a Europa.
Bem Haja, Hungria, e Governo de Orbán, sejais Vós a Luz da Candeia, que não se apague.
até, que as Nações Cristãs, regressem ao Senhor.
Mas, com este bergólio, vai ser difícil, para a humanidade.
Paz e bem
«Tudo me é permitido, mas nem tudo é conveniente» (cf. 1Cor 6, 12).
Para esclarecimentos e comentários privados, queira escrever-nos para: info@diesirae.pt.