Não há paz para a Ordem Soberana e
Militar de Malta. A eleição do Lugar Tenente, Fra Marco Luzzago, apenas adiou
um ano o acerto de contas sobre a escolha do novo Grão-Mestre, mas não acalmou
o conflito interno sobre a reforma da Constituição e do Código, iniciada por
Giacomo Dalla Torre, que morreu quase há um ano. Não é um derby entre
alemães e anglo-americanos, mas um conflito que divide as particulares
realidades da OSMM presentes em todo o planeta. É o retrato que parece emergir
do conteúdo de uma carta escrita por Mario Correa Bascuñán, Presidente da
Associação Chilena da Ordem de Malta, enviada a Juan Tomás O’Naghten y Chacón,
seu homólogo na Associação Cubana e indicado como Delegado Especial para a
América Ibérica.
Através da missiva, ficámos a saber que foi realizada, no dia 21 de Outubro,
uma videoconferência, durante a qual a Associação Chilena terá tomado
conhecimento das conclusões a que deveriam chegar a reforma da Carta
Constitucional e do Código Melitense. Conclusões sobre as quais o Presidente
Correa Bascuñán expressou todas as suas preocupações. O principal ponto de
discórdia continua a ser o papel dos professos: o autor da carta exprime a sua
preocupação pela possível exclusão destes do governo central da Ordem,
contestando o próprio princípio de que os leigos podem impor aos religiosos o
estilo de vida a seguir. «Acreditamos – escreve Correa Bascuñán –, e
parece-nos mais canonicamente correcto, que o modo de viver dos professos deva,
em princípio, ser decidido, fundamentalmente, por eles», já que «a continuidade
da Ordem reside neles».
A Associação Chilena contesta que possam ser impostos àut àut aos
professos, obrigando-os a escolher entre a aceitação das novas normas ou o retirar-se
da vida religiosa. A carta não põe em causa a reforma em si, mas contesta a sua
deriva «drástica», que se afastaria dos desejos expressos, em 2017, pelo
Papa Francisco, de «renovação espiritual em espírito de fidelidade à
tradição e com atenção aos sinais dos tempos e às necessidades do mundo, no
testemunho da Fé e no serviço aos pobres».
Não agradam, por exemplo, as possíveis mudanças sobre a eleição e função do
Grão-Mestre: os chilenos pedem que o Conselho Completo de Estado continue a
elegê-lo entre os cavaleiros professos, garantes de uma «formação doutrinal
ortodoxa e séria» e de uma «profunda vida litúrgica». Do mesmo modo,
é contestada a possibilidade – evidentemente anunciada durante a reunião
virtual de 21 de Outubro de 2020 como êxito da reforma – de o Grão-Chanceler se
tornar Chefe do Governo e ao Grão-Mestre ser atribuído um papel de mera
representação. Uma situação que, segundo Correa Bascuñán, levaria «facilmente
a situações de conflito». Na verdade, a antecipação de tal cenário ocorreu,
há alguns anos, com o braço-de-ferro entre o então Grão-Mestre, Fra Matthew
Festing, e o Grão-Chanceler, primeiro removido e depois restaurado, Albrecht
Boeselager. Precisamente daquele embate abriu-se a grave crise institucional
que ainda hoje dilacera a Ordem.
A contestação das possíveis novidades na vida da Ordem é também a ocasião para
tirar algumas pedras dos sapatos: como já foi dito, a posição chilena não é
crítica da reforma em si, tanto que chega a invocar uma reforma da
administração, levantando a questão das pessoas que «estão no poder há quase
30 anos e ocupam cargos em todos os órgãos». Diante disso, na carta é
pedida a introdução de um limite de idade para “reformar” – como acontece para os
bispos e para os presidentes das Associações – os membros do Soberano Conselho
e dos outros órgãos da Ordem, à excepção do Grão-Mestre.
Embora Boeselager ainda não tenha 75 anos, é provável que seja ele o principal
destinatário desta flechada, visto que ocupa cargos importantes desde 1989. E é
o Grão-Chanceler alemão que, desde há tempos, tem sido repetidamente indicado
como o principal obreiro da mudança de pele em acto na OSMM. Além do pedido de uma
mudança geracional nos órgãos de decisão da OSMM, Correa Bascuñán tira uma
outra pedra quando refere a proibição das celebrações segundo a Forma
Extraordinária do Rito Romano na vida litúrgica da Ordem, ordenada, em 2019,
pelo falecido Grão-Mestre, Fra Giacomo Dalla Torre: o Presidente da Associação
Chilena recorda que, «segundo o Motu Proprio Summorum Pontificum, o
Grão-Mestre não é competente para fazê-lo, dado que nenhuma das razões de facto
que, segundo o referido Motu Proprio, poderia podido conceder a jurisdição foi
dada» e não se pode «modificar um acto de jurisdição pontifícia».
Por tais motivos, a carta afirma que «a proibição deveria ser revogada,
porque, embora não tenha valor em si mesma por defeito de jurisdição, mostra-se
descortês e pode dar lugar a conflitos de consciência e juízo».
A carta refere que esta posição seria partilhada com o Cardeal Jorge Medina
Estévez, Prefeito emérito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos
Sacramentos, relatando também uma malícia – evidentemente circulada em ambientes
opostos – segundo a qual a ideia sobre a dita Missa em latim expressa pelo
protodiácono que anunciou a eleição de Bento XVI, em 2005, se deveria à pouca
lucidez que lhe é provocada pela diabetes de que sofre. Um pequeno detalhe que
dá a ideia do rio de veneno que corre, há anos e em qualquer latitude, dentro
da ordem cavalheiresca.
Correa Bascuñán também lamentou ao Delegado Especial da sua área as
dificuldades de comunicação registadas com a hierarquia: a Associação Chilena, efectivamente,
não recebeu nenhuma resposta a uma carta de protesto enviada a Roma para lamentar
os «graves erros de ortodoxia sobre a família e o feminismo» que teriam
caracterizado o discurso de Fiamma Arditi di Castelvetere, membro da Missão da
OSMM junto das Nações Unidas. A nobre, além de ser representante junto da ONU,
foi colaboradora da Unidade e co-autora da autobiografia do marido, Sandro
Manzo, um dos fundadores da galeria romana “Il Gabbiano”, histórico centro
cultural de referência para artistas próximos do PCI.
Um outro motivo para queixas, não ligado às conclusões da reforma, também reevoca
a causa do confronto entre Boeselager e Festing, que acabou por levar à
renúncia deste último. Segundo quanto escreve o Presidente da Associação
Chilena, efectivamente, ainda hoje, em algumas missões da OSMM na África e na
Ásia, serão distribuídos preservativos e pílulas abortivas aos voluntários
protestantes, para evitar, dessa forma, uma distribuição directa à população à
sombra da OSMM. «Isto – escreve Correa Bascuñán – parece-nos,
evidentemente, imoral e inaceitável, pois é uma colaboração com o mal».
Em suma, a videoconferência de 21 de Outubro de 2020 parece ter feito ressurgir
rancores e desavenças surgidos há tempos e a oportunidade de dar um próprio
parecer sobre a reforma constitucional foi a ocasião para os fazer ressurgir.
Há também divergências sobre possíveis mudanças na estrutura da Ordem que a
conclusão da reforma poderia trazer. Em particular, a Associação Chilena
protesta pela eventual eliminação do adjectivo “militar” do nome oficial da OSMM,
embora dizendo-se favorável a não utilizá-lo nos países muçulmanos. Esta não é
a única abertura: há, por exemplo, a faculdade de rever os rígidos critérios de
nobreza para ser eleito para o cargo de Grão-Mestre, a fim de alargar o campo dos
candidatos. O candente dossiê OSMM, depois da renúncia do Cardeal Angelo Becciu,
está agora na mesa do novo Delegado Especial, o Cardeal Silvano Maria Tomasi, a
quem o Papa Francisco pediu expressamente que desempenhe este cargo para
concluir o processo de actualização da Carta Constitucional e do Código
Melitense.
Nico Spuntoni
Através de La Nuova Bussola Quotidiana
1 Comentários
Ao ler com mais atenção, este texto, como leiga na matéria, não fazendo parte desta esfera, não conhecendo as Normas Internas, Carta Constitucional e Código da Ordem Soberana Militar de Malta.
ResponderEliminarMas, lendo só este texto, retiro 3 aspectos do que entendi que são os visilis das questões e do mal estar e conflito dentro desta Soberana Ordem Militar de Malta.
Pretendem alterar ou reformar a Carta Constitucional e o Código, já iniciado, mas não terminado por falecimento de Giacomo Dalla Torre.
1º Ponto da discórdia - "papel dos professos, contestação de que os leigos podem impor aos religiosos o estilo de vida a seguir."
2º Ponto de discórdia - "Missões em Africa, distribuição de preservativos e pilulas abortivas"
3º Ponto de discórdia - "Mudança na Estrutura da Ordem - eliminação do "adjectivo" "Militar" do Nome Oficial da OSMM, dizendo-se favoráveis a não utilizar por causa dos países mulçumanos".
- Rever os critérios rígidos de nobreza para se ser eleito para o Cargo de Grão-Mestre, afim de alargar o campo dos candidatos"
- Depois da renúncia do Cardeal Angelo Becciu - o papa Francisco, pediu ao Cardeal Silvano Tomasi, para concluir o processo de actualização da Carta Constitucional e do Código Melitense.".
- Depois de entender tudo isto, acho eu, pessoalmente o seguinte:
1º Ponto de discórdia - Acho e votaria que os leigos, e leigos como são, não têm o direito de impor aos Religiosos o seu estilo de vida a seguir, a menos que, fosse de todo notório os escandá-los.
2º Ponto de discórdia - Não está e nem deve estar na sua esfera de competências a distribuição de preservativos e pilulas abortivas,
ponto um, Este é um assunto de Saúde Pública e compete ao Estado de cada País, prover, dessas necessidades.
Uma Ordem, com estas características - Não o devem fazer.
3º Ponto de discórdia - Mudança nos Estatutos e eliminação da palavra "Militar"
- isto é obseno - é o mesmo que pedir a uma criatura que retire da Sua Identidade o Seu verdadeiro Nome, pelo qual foi baptizada.
e, ainda mais escandaloso, o "não desagradar" aos mulçumanos.
- A sério, mas o que é que estamos a fazer???
Pergunta: Somos Cristãos ou somos mulçumanos, quem são as pessoas que pedem para se fazer isto.
Com isto dá para pensar a sério que a Ordem Soberana Militar de Malta, está a ser minada por dentro, começando a quererem mudar os fundamentos da OSMM, para a destruir, assim como o fizeram pela Santa Igreja e está a ser levada para a destruição total, fazerem dela uma Ong - Vaticano 3º
- Com Bergólio, desde o fatidico ano de 2013, até ao presente, no próximo mês de Maio, vamos ser presenteados,
CIDADE DO VATICANO, 15 de abril de 2021 ( LifeSiteNews ) - O Vaticano anunciou sua quinta Conferência Internacional de Saúde sobre "Explorando a Mente, o Corpo e a Alma" e receberá muitos palestrantes globalistas e promotores do aborto, como Chelsea Clinton, os CEOs da as empresas de vacinas contaminadas por aborto Pfizer e Moderna, o diretor dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos e o Dr. Anthony Fauci.
A conferência , intitulada “Exploring the Mind, Body & Soul. Como a inovação e os novos sistemas de entrega melhoram a saúde humana ”, deve ocorrer de 6 a 8 de maio.
Incríveis 114 palestrantes estão programados para aparecer no evento, que é organizado pelo Conselho Pontifício para a Cultura, a Fundação Cura, a Fundação Ciência e Fé (STOQ) e Stem For Life (SFLF).
Entre os palestrantes estão nomes proeminentes e diversos, como os CEOs da Pfizer e Moderna, a primeira que produz pílulas abortivas;
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Por fim: Não permitam que sejam adulterados, a Carta Constitucional e o Código.
Viva: A Ordem Soberana Militar de Malta.
«Tudo me é permitido, mas nem tudo é conveniente» (cf. 1Cor 6, 12).
Para esclarecimentos e comentários privados, queira escrever-nos para: info@diesirae.pt.