No dia em que se assinala o 53.º aniversário do
falecimento de Dona Lucilia Ribeiro dos Santos Corrêa de Oliveira, mãe do Prof.
Plinio Corrêa de Oliveira, líder católico do Brasil do século XX, o portal Dies
Iræ presta uma sentida homenagem a tão nobre dama paulista, recorrendo, para
tal, a um artigo da autoria de Carlos Valiense. O texto, originalmente
publicado pelo Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, mantém as grafia e formatação
originais.
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Numa época em que quase inexiste senso, tampouco autenticidade, muitos podem
perguntar: qual a importância de falar de alguém que não teve projeção
histórica, não é canonizada, não é conhecida e foi uma simples dona de casa e
mãe?
A resposta chega a ser categórica, se fossem observadas as verdadeiras mães,
simples, desconhecidas e não canonizadas. Do anonimato delas não se deduziria,
por exemplo, terem gerado um grande santo, como São João Bosco. Ou se fosse
analisado o rol das mães santas, não se deduziria terem elas tido
necessariamente grandes filhos, como um Santo Agostinho, ou uma Santa Teresinha
do Menino Jesus, todos frutos de grandes mães.
Santa Mônica e Mamma Margherita,
dois exemplos muito conhecidos: alguém já se perguntou quem seria Santo Agostinho
se não fosse a fé e a confiança de sua mãe na conversão dele? Quem seria São
João Bosco se sua mãe, com as virtudes que a tornaram uma mulher forte e
decidida, forjada para a vida difícil, não lhe tivesse dado a formação que lhe
deu? Assim se cumpre a máxima do Evangelho: “Pelo fruto
se conhece a árvore”.
Emblemática do ideal perfeito de mãe, filha, tia e avó, católica ao máximo
ponto, monarquista e tradicionalista, não pactuava com o relaxamento dos
costumes, com as modas extravagantes. Dessa frondosa árvore que foi Dona
Lucilia Ribeiro dos Santos Corrêa de Oliveira (22/4/1876 – 21/4/1968) não
poderia nascer fruto outro senão um grande varão católico. Seu papel de mãe foi
essencial em sua formação. Dela, seu filho Plinio Corrêa de Oliveira chegou a
dizer a alguns amigos: “Muitas vezes
me pergunto se eu teria sido o homem calmo que sou se não tivesse pairado sobre
mim o afeto de mamãe. Dela posso dizer que foi a dignidade sem fortuna, a
doçura sem covardia, a intransigência sem hirteza, a nobreza sem arrogância”.
Seu sobrinho Dr. Adolpho Lindenberg, presidente do Instituto
Plinio Corrêa de Oliveira, ao lembrar-se de sua saudosa tia,
disse em entrevista de imprensa: “Eu quase não
comento o modo de ser de tia Lucilia. Porém, quando aparece uma boa oportunidade,
causa-me alegria poder falar dela. Não é fácil, para aqueles que não a
conheceram pessoalmente, compreender toda sua figura. Impressiona-va-me muito,
além de sua amabilidade e paz de alma, a força de seu olhar. Olhar de uma
pessoa reta, honesta, e de uma superioridade ímpar. Quem não é reto e honesto
poderia até ficar envergonhado na presença dela. Olhar muito meigo, muito
bondoso, mas quem não estivesse com a consciência em paz não gostava muito.
Seria o encontro de olhares entre uma pessoa virtuosa e outra sem virtude.
Muito me impressionava o olhar dela, que incentivava as pessoas a enfrentar as
dificuldades da vida”[1].
Foi sob esse olhar de Dona Lucilia que seu filho Plinio
aprendeu a admirar desde criança o principal ideal da vida dela: o Sagrado Coração
de Jesus. Fitando os olhos dela à luz desse ideal, ele seria capaz de
compreender tudo aquilo que fosse contrário a Ele, tudo aquilo que quisesse mal
a Ele, lutar contra tudo aquilo que fosse contra o Sagrado Coração de Jesus. E,
por fim, a expressão máxima que brotou do seu lado aberto no Calvário: a Santa
Igreja Católica Apostólica Romana.
Dr. Plinio fez dos inimigos da Igreja seus próprios inimigos, como diz o Salmo
128, 21-22: “Não hei de odiar, Senhor, os que
vos odeiam? Os que se levantam contra vós, não hei de abominá-los? Eu os odeio
com ódio mortal, e por inimigos os tenho”.
A necessidade fez de Dr. Plinio um grande polemista, um homem de horizontes
largos, que fez de sua vida uma verdadeira cruzada contra os males do mundo
moderno. Dizendo-o de forma mais concreta: contra a Revolução gnóstica e
igualitária.
Um crítico literário, ao ler qualquer de suas obras, nota desde o início o
espírito combativo de suas palavras e, ao mesmo tempo, o ar cavalheiresco de
seu trato. Um militante da causa da Contra-Revolução, ao ver Dr. Plinio,
compreende as palavras de Dr. Adolpho, ao tratar de sua “tia Lucilia”, e assim
pode também dizer o mesmo de seu primo Plinio Corrêa de Oliveira: “O olhar dele incentivava as pessoas a enfrentarem as dificuldades
da vida”.
Um biógrafo salesiano de São João Bosco, que recebeu para o seu livro uma carta
de felicitação do Bem-aventurado Miguel Rua, comentou: “E Margarida, mulher santa, fez de seu filho um santo. Dom Bosco
era uma cópia fiel de sua mãe”[2].
O mesmo se aplica no caso de Dr. Plinio e de sua mãe Dona Lucilia: Plinio era
cópia fiel de sua mãe.
Com esta comparação não pretendemos deduzir que Plinio Corrêa de Oliveira tenha
sido um santo devido às manifestações de admiração e de devoção dos seus
discípulos, mas apenas ressaltar a plena harmonia de tais expressões de
entusiasmo com a doutrina e os costumes da Igreja.
Se alguém quisesse conhecer quem é Plinio Corrêa de Oliveira, bastaria conhecer
Dona Lucilia, e vice-versa. O tom aristocrático, calmo, anti-igualitário, católico,
a paternalidade que ele exalava para com os seus amigos de ideal eram sinais
característicos desta atmosfera criada por Dona Lucilia. No caso dela, não foi
um livro que nos revelou os esplendores da sua alma, mas a própria vida do
filho, como espelho que lhe refletiu e desenvolveu as virtudes.
Dr. Plinio, em resposta ao diretor de um matutino paulista, por ataques
recebidos a propósito da reverência que sua mãe recebia, escreveu: “No ano de 1967, adoeci com sério risco de vida, e minha
residência se encheu naturalmente de amigos. Profundamente aflita, a todos
recebia minha Mãe, já então com a avançada idade de 91 anos. Nesse difícil
transe ela lhes dispensava uma acolhida na qual transpareciam seu afeto
materno, sua resignação cristã, sua ilimitada bondade de coração e a
encantadora gentileza dos velhos tempos da São Paulo de outrora. Para todos foi
uma surpresa e, explicavelmente, também um encanto de alma. Durou assim este
convívio por longos meses.
“Não estava eu ainda inteiramente restabelecido, quando Deus chamou a Si minha
Mãe. A partir de então, ocorreu a alguns da TFP pedir a intercessão dela junto
a Deus. E viram-se atendidos. Nada mais natural do florirem eles então seu
túmulo como manifestação de respeito e gratidão. Não menos normal é eles narrarem
os fatos a seus amigos. E igualmente natural é ainda a conseqüente e gradual
ampliação do número dos que vão orar junto à campa da Consolação”.
Simples, sem muitos detalhes — em comparação com as expressivas e ricas obras
de arte desse cemitério — é possível notar expressivo número de pessoas que o
adornam com flores, e ali rezam em recolhido silêncio, diante do tradicional e
digno jazigo onde repousa Dona Lucilia Ribeiro dos Santos Corrêa de Oliveira.
O ambiente sem vida que há no cemitério parece perder um pouco da sua
impassibilidade, pois ali se encontra uma mãe que recebe cada um como filho e
estabelece com ele um vínculo materno. Dentre todas as mães que ali se
encontram, embora escondidas e esquecidas pela história e pelo tempo, a
Providência quis dar destaque a uma mãe que foi grandiosa pelo fato de cumprir
o seu papel, a sua vocação: ser uma mãe católica.
Dr. Plinio, em resposta ao diretor do mesmo matutino paulista acima referido,
escreveu: “Competia-me a mim, como filho,
opor-me a isto, que longe de ser ridículo ou extravagante, é — para quem tem fé
— profundamente respeitável? Seria benfazejo que eu tentasse de qualquer forma
privar deste apoio moral as pessoas atormentadas pelas tribulações de uma vida
de luta em plena borrasca do mundo contemporâneo?
“Diante de fatos que presenciei discretamente, sem, contudo, os impulsionar,
não cabia senão calar-me reverente, emocionado e agradecido.
Insisto. Em meu lugar, que filho não procederia assim? […].
Pedir a intercessão de uma pessoa que viveu e morreu piedosamente não
tem o significado intrínseco e necessário de uma proclamação de que ela foi
santa de altar. A doutrina católica ensina ser legítimo que os fiéis recorram à
intercessão dos que os precederam na morte in signum fidei, especialmente quando, por sua conduta ou por suas palavras, lhes
deram estímulos para a virtude e assim os aproximaram de Deus. Em tal princípio
genérico se fundam, por exemplo, os tão conhecidos pedidos às almas do
Purgatório, ao as sufragarem os fiéis”[3].
Dona Lucilia oferecera o exemplo de um exercício quotidiano de virtude. Dela o
filho hauriu exemplo e forças: aquela perfeição na vida ordinária, que
constitui o segredo da “pequena via” traçada por Santa Teresinha do Menino
Jesus. Com efeito, mesmo entre as paredes domésticas é possível uma “pequena
via” para a santidade. E desta, na sua longa vida, segundo dizem todos os que
conheceram Dona Lucília, foi um exemplo vivo.
“Evidentemente,
pedir a intercessão de uma pessoa não significa proclamar oficialmente a sua
santidade. Entretanto, um grande teólogo e mestre espiritual contemporâneo, o
Pe. Royo Marín, depois de ter estudado atentamente a biografia de Dona Lucilia,
não hesitou em afirmar que a obra descreve ‘a vida de uma verdadeira santa, em
toda a amplitude do termo’”[4].
O espírito revolucionário não acredita na harmonia como condição natural do
trato humano. Ele acredita no interesse ou no pânico do soçobro da situação.
Então, vantagens e interesses comuns. Mas, o trato humano, feito sob uma forma
de afeto que é o sentir a harmonia ontológica entre uma pessoa e outra, isso a
Revolução não quer. E é possível notar que nessa dama paulista, que foi Dona
Lucilia, isso transbordava muito.
“Viver é
estar juntos, olhar-se e querer-se bem”: pode-se resumir parte
deste segredo sublime na frase de Dona Lucilia.
Querer-se bem é querer o bem e, portanto, a verdade. E a Verdade só se encontra
na Santa Igreja. Assim, o objetivo do afeto materno se realiza.
Como afirmou Dr. Plinio “Mãe é a
quintessência da família, porque é a quintessência do amor, a quintessência do
afeto; e, nessas condições, a quintessência da bondade e da misericórdia”[5]. Querem descobrir, ou conhecer, o segredo sublime de Dona Lucilia? Ele consiste em
cumprir com fidelidade a incumbência que a Providência lhe confiou: ser mãe.
Ao trilhar a pequena via, isso lhe
impunha algo superior: ser uma mãe autenticamente católica. O fim de tudo é por
excelência o Sagrado Coração de Jesus, por meio das mãos da Virgem Maria.
Assim, Dona Lucilia formou, e forma, os filhos da Contra-Revolução.
[2] Eladio Egaña SDB, Vida de San
Juan Bosco, Librería Editorial de Maria Auxiliadora, Servilla, 1970, 8.ª
ed.,p.16.
[4] Roberto de Mattei, O Cruzado do
Século XX, https://www.pliniocorreadeoliveira.info/Cruzado0513.htm-
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