Desejo propor algumas reflexões sobre
a Ressurreição do Senhor a partir das meditações do Venerável Padre Luis de la
Puente (1554-1624), conhecido em italiano como Ludovico da Ponte. Estas
reflexões dizem respeito não à Ressurreição em si, mas à sua manifestação ao
mundo, para que os homens tirem dela o maior fruto. Cristo, diz o Padre Da
Ponte, manifestou a Sua Ressurreição de três modos.
O primeiro modo foi por meio dos santos que ressuscitaram com Ele, os quais,
como diz São Mateus, saídos dos seus túmulos, depois da Ressurreição do Senhor,
foram à cidade de Jerusalém e apareceram a muitos (Mt 27, 53), pregando que Aquele
era o verdadeiro Messias, Rei de Israel e Salvador do mundo. E crê-se que,
entre outros, apareceram a José de Arimateia e a Nicodemos, consolando-os e
confirmando-os na fé do seu Mestre.
O segundo modo foi através dos Anjos, que manifestaram a Sua Ressurreição às
piedosas mulheres, que iam ao Sepulcro para ungir o Seu Corpo, dando-lhes
notícias do que tinha acontecido e mostrando-lhes o Sepulcro já vazio.
Mas não satisfeito com estes anúncios, Nosso Senhor quis manifestar-Se em
Pessoa, aos seus amigos, permanecendo alguns dias no mundo para os confortar e
para que eles próprios pudessem pregar a Ssua Ressurreição como testemunhas
oculares (Act 1, 3). Ele, por isso, permaneceu quarenta dias na terra, para
purificá-la com a Sua presença e para mostrar que não havia esquecido na
prosperidade aqueles que O acompanharam na adversidade.
Disto deriva, como observa o Padre Da Ponte, que Jesus tem três vias para manifestar
os Seus mistérios às pessoas espirituais.
A primeira é por meio de homens santos, que conhecem, por experiência, a
santidade e as grandezas de Deus, e com santo zelo mostram aos outros o que
sabem, para que Deus seja conhecido e glorificado.
A segunda via é por meio dos Anjos, que, com as suas secretas inspirações, nos
iluminam, nos ensinam, nos consolam e nos ajudam a eliminar os obstáculos que
nos impedem de gozar de Jesus Cristo.
A terceira via é o próprio Jesus, que nos fala ao coração e nos dá testemunho da
Sua Divina Presença. Ele fá-lo com os seus mais devotados e amados discípulos,
cumprindo com eles o que disse na Última Ceia. «Quem me tiver amor será
amado por meu Pai e Eu o amarei e hei-de manifestar-me a ele» (Jo 14, 21).
Compreendemos, assim, como a primeira aparição que Jesus quis fazer depois da
Ressurreição foi à criatura que mais amava, a Sua Santíssima Mãe, a única que,
apesar da profunda aflição, conservava íntegra a fé na Ressurreição.
É difícil imaginar as trocas de palavras e de afectos que a Mãe e o Filho
tiveram neste extraordinário encontro. Jesus revelou-Lhe, certamente, muitas
coisas do futuro, mas também Lhe pediu que mantivesse segredo com os Apóstolos.
Mas, antes dos Apóstolos, Ele quis manifestar a Sua Ressurreição às piedosas mulheres
que nunca O haviam abandonado até ao sepultamento do Seu corpo. De facto, o
Evangelho conta que Maria Madalena, Maria de Cléofas e Salomé (Mc 16, 1) foram
ao Sepulcro, onde encontraram o Anjo, que anunciou a Ressurreição do Senhor,
dizendo-lhes para irem comunicá-la aos Apóstolos. Com efeito, quando as mulheres
chegaram onde estavam os Discípulos, como diz São Marcos, tristes e lacrimosos
(Mc 16,10), e dando elas o recado dos anjos, não acreditaram nelas, aliás, como
diz São Lucas, as palavras das piedosas mulheres pareceram-lhes delírios e sonhos
(Lc 24, 11), e, mesmo quando Madalena acrescentou que ela mesma vira o Cristo
ressuscitado com os próprios olhos, não acreditaram nela (Mc 16, 11).
O Venerável Da Ponte observa que, a partir deste episódio, devemos aprender a
encontrar o equilíbrio entre dois erros, porque «não é menos equívoco chamar
a revelação de Deus de delírio da imaginação do que chamar revelação de Deus ao
delírio da imaginação».
Mas faz-nos reflectir, sobretudo, o facto de que a primeira criatura a quem
Nosso Senhor apareceu, depois de Nossa Senhora, foi uma pecadora arrependida. O
amor de Madalena por Jesus não foi apenas ardente, mas perseverante. Quando as
outras piedosas mulheres se afastaram do Sepulcro, contentando-se com o que o
Anjo lhes dissera e embora São Pedro e São João tenham voltado a casa, bastando-lhes
ter visto as faixas, ela permaneceu, em lágrimas, porque não encontrava consolação
nas criaturas e o Senhor aparece-lhe. Aqui, observa o Padre Da Ponte, devemos
considerar a infinita caridade do Redentor em honrar os pecadores convertidos,
escolhendo como primeira testemunha da Sua Ressurreição uma mulher na qual
viveram sete demónios (Lc 8, 2), ou seja, os sete pecados mortais que destes
demónios derivavam e isso para que se compreendesse que o número e a gravidade
dos pecados cometidos não prejudicam a salvação quando tais pecados são
reparados com penitência e fervor.
Pedro e Paulo acorreram ao Sepulcro, onde não encontraram o corpo de Jesus, mas
as faixas que O haviam envolvido. Os dois apóstolos voltaram para casa, mas,
enquanto São Pedro estava pensativo, reflectindo sobre o que tinha visto, apareceu-lhe
Cristo. Segundo as palavras de São Lucas: «Surrexit Dominus vere, et apparuit
Simoni»: Realmente o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão (Lc 24, 34).
Também João tinha ido ao Sepulcro, mas Jesus apareceu apenas a Pedro, de modo
que se veja, de acordo com o Venerável Da Ponte, que, muitas vezes, mais
favores são dados aos pecadores verdadeiramente arrependidos, como Pedro e
Madalena, do que aos Justos que nunca pecaram. E, assim, não sem mistério, o
primeiro homem e a primeira mulher entre aqueles a quem, segundo o Evangelho,
Jesus Cristo aparece, eram pecadores, de modo que «onde aumentou o pecado,
superabundou a graça», como ensina São Paulo (Rm 5, 20).
Também faz reflectir que Pedro, que O negara, foi aquele que Jesus escolheu
como Seu Vigário na terra. Mas, ao contrário do outro traidor, Judas, Pedro arrependeu-se
e derramou lágrimas quentes. Por conseguinte, era certo que, apesar dos seus precedentes
pecados, sendo o chefe da Igreja, fosse o primeiro a gozar da aparição do
Divino Mestre.
Hoje, a Igreja vive uma terrível hora de Paixão e o mundo está imerso no
pecado. O Venerável Da Ponte, com as suas meditações, convida-nos a rezar, de
modo particular, a Maria Madalena e a São Pedro, para que ajudem cada um de
nós, pecadores, a amar intensamente a Igreja e ajudem quem está no topo da
Igreja a guiá-la seguindo, com fidelidade, as palavras de Cristo.
A Ressurreição do Senhor e o Seu ensinamento permanecem o fundamento da nossa
fé e os santos continuam a ser o nosso exemplo.
Roberto de Mattei
Através de Radio Roma Libera
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