Nestes tempos dramáticos devido à
pandemia do COVID-19, agravada ainda mais pelo encerramento das igrejas, pelas
mortes na solidão e sem conforto religioso e pela privação dos funerais, é
chegado o momento de rezar com mais força a São José, desde sempre considerado
padroeiro dos moribundos, a ser invocado para obter uma boa morte, ou seja, uma
morte na graça de Deus. Para obter esta graça, que é a mais importante e
decisiva da vida, é necessário rezar não no momento extremo da nossa
existência, quando talvez nos faltarão as forças ou a lucidez para o fazer, mas
durante a vida, quando ainda estamos saudáveis. E, para além de nós, deve ser
feito por todos aqueles que estão a morrer e que não o podem fazer, a fim de
salvar as suas almas.
No motu proprio Bonum sane, de 1920, celebrando o quinquagésimo
aniversário da sua proclamação como Padroeiro da Igreja, o Papa Bento XV
recordava que São José «é merecidamente considerado o mais eficaz protector
dos moribundos, tendo morrido com a ajuda de Jesus e Maria». Também por
isto, no rescaldo da Primeira Guerra Mundial, o Papa recomendava aos Bispos que
favorecessem todas «aquelas pias associações que foram instituídas para
suplicar a José a favor dos moribundos, tais como as “da boa morte”, do
“trânsito de São José” e “pelos moribundos”».
O mesmo Catecismo da Igreja Católica (n.º 1014) recorda: «A Igreja
exorta-nos a prepararmo-nos para a hora da nossa morte (“Duma morte repentina e
imprevista, livrai-nos, Senhor”: antiga Ladainha dos Santos), a pedirmos à Mãe
de Deus que rogue por nós “na hora da nossa morte” (Oração da Ave-Maria) e a
confiarmo-nos a S. José, padroeiro da boa morte».
«Na escola de José, aprendam todos a considerar as coisas presentes, que
passam, à luz das futuras, que duram para sempre; e, consolando as dificuldades
inevitáveis da condição humana com a esperança dos bens celestes, a esses
aspiram obedecendo à vontade divina, vivendo sobriamente, segundo os ditames da
justiça e da piedade» (Bento XV, Bonum sane).
Assunção de São José?
Neste ponto, é interessante notar que muitos santos, incluindo Bernardino
de Sena, Francisco de Sales e Afonso Maria de Ligório, piamente acreditaram na
Assunção ao Céu, em corpo e alma, de São José, ocorrida imediatamente após a
ressurreição de Jesus, no contexto dos acontecimentos narrados no Evangelho de
Mateus (Mt 27, 52-53). O Papa João XXIII também era desta opinião. A teologia
deu muitas razões para apoiar o que, no entanto, permanece uma hipótese, embora
muito fascinante e, certamente, razoável. Em poucas palavras, podem-se indicar
três em particular.
A primeira: São José, na sua vida terrena, teve um muito próximo contacto
físico com a santa Humanidade de Cristo e com Nossa Senhora. Bem, se estivesse
no Paraíso apenas com a alma, teria menos intimidade com Cristo e Maria
Santíssima e, portanto, menos felicidade no Céu do que na terra, facto um tanto
incomum e inconveniente.
A segunda: à pureza virginal do corpo de São José e à ausência do mínimo pecado
venial deliberadamente cometido, é apropriada a recompensa da ressurreição
corporal.
A terceira: a Virgem Maria, além do Filho, não amou ninguém como São José,
seu esposo. Da mesma forma, também Jesus, depois de sua mãe, não amou nenhuma
outra criatura como São José. É, pois, muito lógico que Jesus (e, consequentemente,
também Maria) quisesse recompensar o seu pai putativo com o dom da Assunção ao Céu,
indo, assim, reconstituir a Sagrada Família no Paraíso.
O primeiro de todos os santos
São José merece o culto da protodulia, quer dizer, é o primeiro e o
mais santo de todos os santos e, como tal, tem direito a um culto muito
particular. Segue-se que a sua intercessão, como ensinava, entre outros, Santa
Teresa de Ávila, é imensa, perdendo apenas para a de Nossa Senhora. À vista
disso, rezar a São José não é como rezar a qualquer outro santo. Além disso, os
seus privilégios são excepcionais, dado o papel completamente único que
desempenhou na história da salvação. A sua santidade, é preciso repetir, só
perde para a da Virgem Maria.
«A Igreja Católica justamente honra, com um culto cada vez mais
difundido, e venera, com um sentimento de profunda afeição, o ilustre abençoado
patriarca José, agora coroado de glória e de honra no Céu. Na terra, o Deus
Omnipotente, preferindo-o a todos os Seus santos, destinou-o a ser o casto e
verdadeiro esposo da Imaculada Virgem Maria, bem como o pai putativo do seu
Filho Unigénito. Certamente, enriqueceu-o e encheu-o de graças únicas e
superabundantes, tornando-o capaz de cumprir, com mais fidelidade, os deveres
de um tão sublime estado. Por isso, os Romanos Pontífices, Nossos
Predecessores, para aumentar e estimular ardentemente sempre mais no coração
dos fiéis Cristãos o afecto e a devoção para com o Santo Patriarca, e
exortá-los a implorar a sua intercessão junto a Deus com a maior confiança, não
deixaram de decretar novas e cada vez maiores expressões de veneração pública
para com ele em todas as ocasiões propícias» (Papa Pio IX, Carta Apostólica
Inclytum Patriarcham, 1871).
O Papa Pio XI ensinava que a missão de São José foi uma missão única, a mais
elevada, pois foi Cooperador na Encarnação e na Redenção. Com efeito, quando
foi eleito esposo de Maria e pai virginal de Jesus, São José foi associado à Redenção
do género humano de maneira singular, ainda que inferior à de Maria. São José participou
realmente na co-redenção como real pai nutrício de Jesus e verdadeiro esposo de
Maria. José, como Maria, embora num grau menos elevado, teve todas as graças de
Deus para ser um digno esposo virginal de Maria; foi ordenado, com Maria e
depois de Maria, à Encarnação do Verbo. Ofereceu todos os seus esforços e as
suas dores espirituais pela Redenção da humanidade, conhecendo os sofrimentos
que Jesus enfrentaria. O Cardeal Alessio Maria Lépicier afirmava que São José
foi «Co-redentor perfeitíssimo depois de Maria». Segundo São Tomás de
Aquino, José «participou mais do que qualquer outro, depois de Nossa
Senhora, na Paixão de Cristo». Para Leão XIII, «não há dúvida de que
José se aproximou mais do que qualquer outro da altíssima dignidade da Mãe de
Deus». E Pio XI reiterou: «Entre Deus e José não há e não pode haver uma
outra pessoa senão Maria, verdadeira Mãe de Deus».
Segundo a sã teologia, é conveniente asseverar que São José nunca cometeu
nenhum pecado deliberado, nem mesmo venial. José não foi preservado da concupiscência,
mas esta nunca passou à acção nele. Logo, segundo os teólogos, José foi
confirmado em graça ou tornado irrepreensível por dom gratuito de Deus. Para
além disso, foi isento do erro da razão e também do movimento das paixões inferiores,
que, embora existissem nele, eram, todavia, travadas ou restringidas por Deus.
O Papa Pio X mandou compor e indulgenciar as ladainhas em sua honra. O Papa
Bento XV introduziu um prefácio próprio para a sua Missa e inseriu a sua
invocação no Ofício Divino. Em 1962, o Papa João XIII (que confiou os trabalhos
do Concílio Vaticano II ao santo com a Carta Apostólica Le Voci, de
1961) inseriu o nome de São José no Cânone da Missa e, em 2013, o Papa
Francisco ampliou a disposição a outras orações eucarísticas.
O mês de Março e o dia de quarta-feira são tradicionalmente dedicados a São
José. A sua festa é o dia 19 de Março, que até 1977 era feriado em Itália
(seria bom e salutar restaurá-lo!), e que, em todo o caso, continua de acordo com
o Código de Direito Canónico. Pio XII, como já foi referido, introduziu também
a festa de 1 de Maio, anulando, porém, a do Patrocínio de São José, querida por
Pio IX (na quarta-feira seguinte ao segundo domingo depois da Páscoa) e, actualmente, unida
à festa de 19 de Março.
São José, padroeiro da Igreja Católica
Quando o Papa Pio IX, com o decreto Quemadmodum Deus, declarou São
José padroeiro da Igreja Católica (8 de Dezembro de 1870), Roma havia sido
recentemente ocupada pelas tropas piemontesas e o Estado Pontifício havia sido apagado
dos mapas geográficos, substituído por um governo laico e anticlerical. A
Igreja encontrava-se num momento dificílimo da sua história. Hoje, porém, a
situação geral piorou ainda mais. A Igreja navega em águas turbulentas, porque
os perigos não vêm só de fora, mas – e talvez ainda mais – do seu interior. A
confusão reina suprema, os escândalos aumentam e, muitas vezes, já não se prega
a doutrina católica, mas um pensamento que nada tem a ver com Jesus Cristo e o
magistério milenar. É aqui que a intercessão de São José se torna, hoje, mais
necessária do que há cento e cinquenta anos.
Mas por que São José é padroeiro da Igreja? Além de Pio IX, que desde a
juventude nutriu sempre muita devoção a este santo, explicou-o bem o Papa Leão
XIII.
«As razões pelas quais o Bem-aventurado José deve ser padroeiro especial da
Igreja, e a Igreja repromete-se muitíssimo com a sua tutela e patrocínio, nascem,
principalmente, do facto de que ele foi esposo de Maria e pai putativo de Jesus
Cristo. Daqui derivaram toda a sua grandeza, a graça, a santidade e a glória.
Certamente, a dignidade de Mãe de Deus é tão elevada que nada pode ser mais
sublime. Mas, visto que existia um nó conjugal entre José e a Virgem
Santíssima, não há dúvida de que àquela altíssima dignidade, pela qual a Mãe de
Deus domina de longe todas as criaturas, ele se aproximou mais do que qualquer
outra pessoa. […] É, portanto, justo e supremamente digno do
Bem-aventurado José que, como outrora protegia a família de Nazaré em todos os
acontecimentos, também agora, com o seu celeste patrocínio, proteja e defenda a
Igreja de Cristo» (Leão XIII, Quamquam pluries).
Aparição em Fátima
Na última das aparições de Fátima, a 13 de Outubro de 1917, São José
apareceu também ao lado da Virgem e do Menino Jesus. Como conta a Irmã Lúcia, «São
José e o Menino pareciam abençoar o mundo com alguns gestos em forma de cruz traçada
com a mão». O castíssimo esposo de Nossa Senhora e pai putativo de Jesus
distribui, juntamente com eles, as graças e intercede a nosso favor.
O jesuíta Francisco Suárez observava que, dada a união esponsal, nenhuma
outra criatura foi amada por Nossa Senhora como José: «É verosímil – argumentava
– que a Santíssima Virgem tenha desejado exímios dons primorosos de graça e
ajudas para o seu esposo, que amava de forma singular, e o tenha implorado com as
suas orações. De facto, se é verdade como é verdade que um dos meios mais
eficazes de obter, de Deus, os dons da graça é a devoção à Virgem e a sua
intercessão, quem pode acreditar que o santíssimo José, dilectíssimo da Virgem
e devotíssimo, não tenha obtido, por seu meio, a exímia perfeição da santidade?».
São José, presente apenas no final das aparições de Fátima, parece, destarte, apresentar-se
seja como grande devoto de Nossa Senhora, seja como padroeiro da última hora para acompanhar a humanidade num momento terrível como aquele que ainda estamos
a viver. Assim como, durante a sua vida terrena, foi sustentáculo e guardião do
pequeno Jesus e da Virgem na dura e difícil passagem deste mundo, tanto mais
hoje continua a ajudar-nos nas angústias da nossa existência.
Eis, então, que o Ano de São José, que estamos a viver, como recorda o
decreto da Penitenciaria Apostólica, oferece a todos os fiéis «a
possibilidade de se comprometerem, com orações e boas obras, a obter, com a
ajuda de São José, chefe da celeste Família de Nazaré, conforto e alívio das
graves tribulações humanas e sociais que, hoje, afligem o mundo contemporâneo».
Federico Catani
Através de Duc in altum
0 Comentários
«Tudo me é permitido, mas nem tudo é conveniente» (cf. 1Cor 6, 12).
Para esclarecimentos e comentários privados, queira escrever-nos para: info@diesirae.pt.