É inquestionável que vivemos tempos
conturbados, mesmo muito anteriores à “pandemia” que, desde há um ano, se tem
intrometido na vida dos cidadãos, mormente dos que, justa e legitimamente, se
insurgem contra as medidas de silenciamento que, injusta e ilegitimamente, os Governos
têm imposto aos seus subordinados. A Tradição da Igreja ensina que, neste
último caso, é mais do que lícito que os fiéis não obedeçam a leis e a demais
imposições que, ao invés de concordantes com a lei divina, bajulam as mais abjectas
ideologias políticas. Desgraçadamente, muitos dos hierarcas hodiernos da
Igreja, Mater et Magistra por excelência, têm-se unido, numa atitude que
encontra precedentes no miserável modernismo doutrinal e eclesiástico, a esta
onda de silenciamento daqueles que, para todos os efeitos, não interessa que se
ouçam. Chegam mesmo a amordaçar ou, neste caso, a deturpar e a ignorar os pedidos
de Nossa Senhora. A 13 de Julho de 1917, na Cova da Iria, na presença de
milhares de testemunhas, a Santíssima Virgem foi peremptória no pedido que
apresentou, por meio dos Pastorinhos, à Igreja e ao Mundo: «Virei pedir a consagração
da Rússia ao meu Imaculado Coração». Caso tal pedido não fosse
atendido, como acabou por não ser, a Rússia «espalhará os seus erros pelo Mundo,
promovendo guerras e perseguições à Igreja».
Poucos meses antes do pedido de Nossa Senhora, em Fevereiro, na Rússia, os
comunistas haviam derrubado o Czar Nicolau II (a chamada Revolução Branca),
último Czar a governar, procurando implantar, sempre pela força, uma república
de cunho liberal – repetidamente, tocam-se o liberalismo e a maçonaria,
fundamentos das revoluções antecedentes. Meses depois, em Outubro, rigorosamente
no mês da sexta aparição mariana em Fátima, os bolcheviques derrubaram o governo
provisório e impuseram o trágico governo comunista-soviético (a conhecida
Revolução Vermelha ou de Outubro), que haveria de se prolongar, com todas as
suas mutações, até à dissolução da URSS, a 26 de Dezembro de 1991, dia de Santo
Estêvão, protomártir.
Mais de um século depois, a consagração da Rússia continua por ser devidamente
realizada, considerando que todas as tentativas não passaram disso, e os erros
da Rússia, notadamente os do comunismo, espalharam-se pelo Mundo e deixaram as
suas feridas bem abertas e difíceis de curar. O que teme a Igreja? Mais: por
que motivo é que a Igreja pactua com regimes comunistas, como é o caso óbvio da
China, em vez de os condenar veemente, usando, para o efeito, da autoridade que
lhe foi atribuída por Nosso Senhor Jesus Cristo, Seu divino fundador? Prova
disso é o total falhanço da estratégia adoptada pelo Concílio Vaticano II, de
Roncalli e de Montini, que desdenhou os oportuníssimos pedidos de condenação do
comunismo e, pior, não aproveitou a ocasião para fazer a solene consagração
da Rússia ao Imaculado Coração de Maria. Ademais, na actualidade, é tremenda a
política sino-vaticana da dupla Francisco-Parolin, ambos já com prazo de
validade e com substitutos à vista. É a distensão vaticana no seu melhor!
Menos de quatro anos depois das aparições em Fátima, foi fundado, a 6 de Março
de 1921 – também nesse ano surgiu o Partido Comunista Italiano, idealizado,
essencialmente, por Antonio Gramsci –, o Partido Comunista Português, representante
das mais pérfidas ideias de Karl Marx, de Friedrich Engels, de Vladimir Lenine,
de Leon Trótski, entre outros “idiotas úteis”. E este Partido surgiu numa clara
afronta àquilo que, em 1917, Nossa Senhora veio pedir que se evitasse, de modo
que o Mundo fosse poupado da guerra das armas e da guerra dos erros dos Homens.
Nossa Senhora foi completamente postergada. No princípio, por comunistas ateus;
ulteriormente, e mais grave, pelos próprios “filhos predilectos”, quer dizer,
Papas, Bispos e Sacerdotes, para não falar dos restantes “católicos adultos”.
Ao longo deste século de existência do Partido Comunista em Portugal, temos
sido habituados, tanto pelos seus líderes-fantoches quanto pelos seus
militantes-formigas, a ouvir belos discursos que, na prática, fazendo-se uma
séria análise política e, se quisermos, filosófica, de belo nada têm. Representam
a feiura política, ideológica e social puxada ao extremo. Os comunistas
portugueses são, para orgulho e delírio próprios, os “embaixadores” lusos do
regime que fez mais de 100 milhões de vítimas. E porquê tantas vítimas? Unicamente
porque, resumindo o argumento, não alinharam, e bem, com as ideias fantasiosas
da “libertação da alienação do trabalho”, nem com a “emancipação da humanidade”
ou, muito menos, com o “processo de transformação” da sociedade e dos seus meios
e métodos de produção. Note-se: mais de 100 milhões de vítimas. Nalguns livros
de memórias de ex-militantes comunistas, não poucos são os relatos de supressão
de vidas a nível interno, particularmente no período da “determinada clandestinidade”.
Corajosa e racional a República Checa que, de acordo com a lei nacional, prevê
a prisão, entre 6 meses a 3 anos, daqueles que neguem ou duvidem dos
extermínios provocados pelo comunismo e pelo nazismo!
Em Portugal, como bom “aluno” do regime soviético, o Partido Comunista sempre
se empenhou em combater tudo e todos, inclusive internamente – repare-se que,
por ocasião deste facínora centenário, o próprio Partido excluiu de um livro os
militantes que não concordam com a direcção da “máquina” –, sendo exemplo
concreto dessa atitude despótica o Sr. Barreirinhas, conhecido como “antifascista”,
que, nas “prisões” por onde passou, levou vida de burguês e apropriou-se dos
próprios “camaradas” para que não lhe faltasse as mordomias próprias de um “querido
líder”. Abortista convicto, comunista acérrimo, inimigo assumido de Portugal e
das suas gentes. Ainda assim, o povo português tem uma enorme dívida para com
tão valente e estimulante figura, dizem-nos e querem-nos doutrinar. Verdadeiramente,
o que lhe interessava era cumprir, custasse o que custasse, o ideal utópico e
genocida que abraçou, mesmo que, para isso, tenha vergonhosamente renegado a
família de sangue e atraiçoado os seus pares.
Cem anos depois, o Partido Comunista continua a apresentar-se como arauto das
liberdades, branqueando factos como a clara tentativa de, a partir de Abril de
1974, fazer de Portugal um autêntico satélite da Rússia soviética ou, mais
recentemente, apresentando-se falsamente surpreendido com o maior escândalo bancário
nacional. Nada disto é coincidência e até à luta armada chega-se rápido. Ilustra
Marx, no seu Manifesto do Partido Comunista, a esse respeito: «Os comunistas
rejeitam dissimular as suas perspectivas e propósitos. Declaram abertamente
que os seus fins só podem ser alcançados pelo derrube violento de toda a
ordem social até aqui». E não são eufemismos, que o digam Cuba, a Mongólia,
o Camboja, a Roménia, a Coreia do Norte, entre outras realidades ostensivamente
massacradas. Um século depois, indignam-nos as bandeiras pelas ruas e praças,
os comícios com chavões vazios e obsoletos, as intervenções parlamentares
medíocres, o panfleto distribuído no metropolitano ou à saída da fábrica. É tudo
verdade. Nada obstante, quem é que se indigna com as felicitações que o
Presidente da República, alegadamente católico, enviou à liderança do Partido?
Mais: quem é que se indigna por, tanto tempo depois, o pedido de Nossa Senhora
ainda não ter sido cumprido? Rejeita-se o Rei
dos Reis, cala-se a Rainha do Céu e da Terra, mina-se a Igreja. É a apostasia no
seu auge!
Não nos enganemos, nem muito menos tentemos esgrimir argumentos de que, afinal,
os Partidos Comunistas não são assim tão maus e que até foram úteis nalgumas
circunstâncias. Não nos cansemos de ler as palavras de Leão XIII: «Peste
mortífera que invade a medula da sociedade humana e a conduz a um perigo
extremo». E, manifestamente, não coloquemos de lado a encíclica Divinis Redemptoris, de 19 de Março de 1937, da autoria do Papa Pio XI, que, já
perto do seu termo, lança uma exortação muito premente e actual: «Rogamos ao
Senhor que os ilumine, para que deixem o caminho que os despenha a todos numa
imensa e catastrófica ruína, e reconheçam também eles que o único Salvador é
Jesus Cristo Senhor Nosso». Sirvam estas palavras para os que colaboram
activa ou, pelo menos, tacitamente com tão nefasta e odiosa ideologia! Nada há,
pois, a comemorar. Mas há um pedido por atender! Até quando?
D.C.
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