O portal Dies Iræ publica, em exclusivo para Língua Portuguesa, a mais recente
declaração do Arcebispo Carlo Maria Viganò, antigo Núncio Apostólico nos
Estados Unidos da América, em que o Prelado italiano se refere aos perigosos
esquemas que sustentam a nomeação, ocorrida a 13 de Fevereiro último, de Mario
Draghi para Primeiro-Ministro italiano.
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3 de Março de 2021
Super aspidem et basiliscum ambulabis,
et conculcabis leonem et draconem.
Ps. 90, 13
Até ao século passado, os livres
pensadores podiam propagandear as próprias ideias imbuídas de princípios maçónicos
e de retórica porque o corpo social não era liberal; podiam permanecer no adro
das igrejas, ao domingo de manhã, enquanto as suas mulheres e os seus filhos assistiam
à Missa, iam ao catecismo, eram instruídos, pela Igreja e pelo Estado, nos
princípios morais e nos valores compartilhados da honestidade, do sentido do
dever, do amor à pátria. Podiam enviar milhões de jovens vidas para morrer na
guerra, em nome de ideais que ainda estavam ligados a um mundo essencialmente
cristão, na verdade, profundamente católico e romano: aquele mundo em que os nossos
soldados, na frente de batalha, recitavam o Rosário, rezando pelos seus entes
queridos e pela querida Itália, terra abençoada pela Providência, berço da
civilização e sede do Papado. Mas aqueles princípios liberais e maçónicos,
embora denunciados pelos Pontífices e combatidos por Bispos, pregadores e
teólogos, conseguiram conquistar simpatias na nossa sociedade, sobretudo depois
da Segunda Guerra Mundial e, ainda mais, após o nefasto 1968.
Vimo-nos, assim, devido à necessária e inevitável mudança geracional, a ter
toda uma classe dirigente que se formou na escola do pensamento livre, na
ideologia maçónica, no indiferentismo religioso, na laicidade do Estado e na
consequente crise moral do País. Décadas de doutrinação apagaram a herança religiosa
e moral de Itália, levando os italianos a envergonhar-se de um passado glorioso
e a renegar dois mil anos de Cristandade.
Devia ser uma escolha de progresso, sem privilegiar a verdade à custa do erro,
sem reconhecer a primazia do bem sobre o mal, sem impor leis e doutrinas pela
força, mas promovendo a sua aplicação com a escolha consciente; encontramo-nos uma
Nação corrupta, que aprova o concubinato e o aborto, promove a sodomia e a
perversão, reconhece direitos ao crime e ridiculariza ou, até mesmo, condena a
honestidade, a rectidão, a virtude. Em nome da tolerância, foi-nos pedido para
consentir na legitimidade do mal, assegurando-nos que, de qualquer forma, o bem
não seria prejudicado: hoje, o Estado garante e tutela o mal e veio proibir o
bem. Podem-se cometer os crimes mais abomináveis, como matar uma criatura
inocente no ventre materno ou o idoso indefeso e o doente terminal no leito do
hospital, mas é proibido defender a vida, a família, a Religião.
Por outro lado, a essência do liberalismo – que, repito, é a aplicação política
e social dos princípios da Maçonaria – reside, precisamente, em desarmar,
progressivamente, a maioria dos bons e, ao mesmo tempo, em apoiar e fortalecer
a minoria dos corruptos, a pretexto de uma suposta e absurda paridade de direitos.
Mas não deveria ser tão difícil, se um pouco de raciocínio fosse usado, compreender
que a própria ideia de igualdade é absurda, porque pressupõe um achatamento das
diferenças, uma homologação das diferenças que, de facto, acaba a apagar o que,
pelo contrário, deveria tornar o corpo social – e, por coerência, o corpo
eclesial – eficiente em todos os seus membros, diferentes mas harmoniosamente conexos.
Pretender que um pé possa ver ou que uma mão possa ouvir, ou reduzir as funções
dos órgãos ao mínimo denominador comum é uma operação absurda e infeliz, como o
seria pretender que, num automóvel, a embraiagem desempenhe a função das rodas
ou que o motor faça o trabalho dos faróis. Já na coisa pública, deixa-se
comandar quem não tem autoridade, permite-se definir como família uma união que,
por natureza, é destinada à esterilidade do vício, reconhece-se o direito de
decidir se uma lei seja justa não àqueles que têm sabedoria e prudência para o
fazer, mas àqueles que antepõem o próprio interesse particular ao bem comum. E acaba-se
a adorar o bezerro de ouro, recusando o culto exclusivo ao Deus vivo e
verdadeiro. Nisso, a democracia revela a sua fraqueza a partir do momento em que
põe como postulado uma bondade inata na multidão, que, pelo contrário, é
propensa ao mal e ao pecado, e que precisa de ser guiada por uma autoridade que
tenha como modelo os valores transcendentes.
Esta corrida para o abismo tem as claríssimas conotações da némesis,
punição de uma hybris que não conhece restrições, que desafia o Céu, que,
na vertigem da rebelião e do caos, rejeita toda a hierarquia e cada ordem
impressa pelo Criador e Senhor de todas as coisas. Só assim podemos compreender
as decisões nefastas dos governantes, desde a gestão da emergência pandémica ao
indiscriminado acolhimento dos imigrantes ilegais; só assim podemos ver a
loucura que une, num único desenho, factos aparentemente desconexos entre si. Procurar
uma qualquer razoabilidade nas palavras do auto-proclamado especialista que
impõe as máscaras para proteger a população de um vírus da gripe, ou na ordem
da autoridade para fechar as escolas e os restaurantes, enquanto, nos
transportes públicos, os cidadãos são forçados a viajar apinhados, secunda esta
loucura, reconhecendo-lhe uma racionalidade e uma lógica que não pode ter.
Assim como é absurdo contestar a alegada inevitabilidade dos empréstimos que Itália
deveria pedir à União Europeia, depois de esta – com métodos criminosos dignos
dos piores usurários – ter criado, cientificamente, as premissas sociais e
económicas da crise económica. É, igualmente, absurdo perguntar-se por que as
curas do COVID são boicotadas para favorecer as chamadas vacinas experimentais,
feitas com fetos abortivos e com efeitos ainda desconhecidos, quando é evidente
que a pandemia foi planeada com o objectivo, por um lado, de enriquecer,
desproporcionalmente, o lobby farmacêutico e, por outro, de impor
medidas de controlo inaceitáveis.
Mas se esta nossa atitude construtiva e aberta ao confronto podia, de alguma
forma, ser justificada e desculpada até há poucos anos, em nome de uma
compreensão parcial do quadro global, hoje, essa corre o risco de degenerar
numa espécie de cumplicidade obtusa, porque a presunção de boa-fé, da parte dos
nossos interlocutores, foi amplamente rejeitada. Os recentes acontecimentos da
crise do governo Conte II e a confiança depositada no governo do Presidente
Draghi não são excepção, e se não surpreende o entusiasmo geral das partes, também
da chamada oposição, desconcerta-nos o consentimento das vítimas à nomeação de
um carrasco muito pior do que o advogado de Volturara Appula.
Na verdade, parece que o advento do cínico tecnocrata foi saudado com alívio, depois
de um ano de ruidosas proclamações e flagrantes fracassos do predecessor e de
todo o seu grotesco grupo de não apresentáveis. Se, na verdade, houve quem, até
ontem, deplorava a má gestão da pandemia, com golpes do DPCM tão ilegítimos
quanto devastadores, hoje, a eficiência na prossecução do mesmo plano parece
representar uma melhoria, como se o condenado à morte se alegrasse com o melhor
afiar da lâmina do machado, enquanto, de boa vontade, abaixa a cabeça sobre o cepo
para receber o golpe do carrasco.
Os italianos, induzidos ao espanto e à servidão pelas marteladas dos media e por
uma operação de manipulação das massas, têm sido ainda mais obedientes do que
outras Nações aparentemente mais disciplinadas: enquanto, nas nossas cidades,
alguns políticos recomendam o distanciamento social durante tímidas
manifestações de protesto, os cidadãos, em muitos Países europeus, saem à rua espontaneamente
e enfrentam, com determinação, a violenta repressão das forças da ordem.
Enquanto a nossa “oposição” se escandaliza com a ineficiência do comissário
Arcuri na distribuição das vacinas, grupos de advogados e médicos, no exterior,
denunciam o seu perigo e apõem-se à obrigação de vacinar, conseguindo que as
mesmas autoridades proíbam a sua distribuição. E se há quem viole, por
exasperação, regras claramente ilegítimas, em Itália é criticado como
irresponsável justamente por aqueles que, mesmo que apenas para cálculo
político, deveriam cavalgar a revolta e demonstrar o quão absurdo é encerrar as
actividades comerciais na ausência de evidências científicas que legitimem a
adopção de medidas tão drásticas.
Mario Draghi representa a quinta-essência da tirania da Nova Ordem na sua cínica
competência, no profissionalismo da sua acção devastadora, na eficiência dos seus
funcionários. E não é de admirar que tenha sido educado, como Joe Biden e
tantos outros líderes globalistas, na escola ideológica dos Jesuítas. Não é
surpreendente e, aliás, nem poderia ser de outra forma: só uma estrutura
fortemente hierárquica e quase militar podia manipular as jovens consciências
de inteiras gerações, com diabólica previdência, preparando o advento de uma
sociedade tirânica e desumana. Vimo-lo em Itália, bem antes de ‘68, quando os professores
universitários saudavam, com decomposto entusiasmo, a eleição de Roncalli,
amigo do modernista Bonaiuti, sabendo muito bem como a sua aparente bonomia
escondia uma mente envenenada pelas doutrinas combatidas por São Pio X e, ainda,
hostilizadas por Pio XII até ao seu leito de morte. Vimo-lo nas Universidades
de metade da Europa e nas Universidades católicas americanas, de onde saíram os
protagonistas do Vaticano II e do pós-concílio, os agitprop do Movimento
Estudantil e dos sindicatos de esquerda, os terroristas das Brigadas Vermelhas
e os ideólogos da Teologia da Libertação, os teóricos da libertação sexual, do divórcio
e do aborto. Poderíamos afirmar que, nas últimas décadas, não houve nenhum
acontecimento político, social, cultural e religioso que não tenha encontrado
uma poderosa inspiração nos Jesuítas. Que, depois de terem renunciado ao
juramento e aos votos pronunciados no dia da sua Profissão, colocaram à disposição
do novo senhor a sua rede de relações e a sua capacidade de infiltrar os
próprios emissários nos postos-chave da política, da administração pública, da educação,
da cultura, dos media, do empreendedorismo e das finanças. Uma rede que
reproduz, talvez com maior eficiência e contundência, a não menos subversiva
das seitas maçónicas e dos conventículos de conspiradores.
Giuseppe Conte, homo novus patrocinado, além do Tibre, por Prelados
amplamente comprometidos com a pior política democrata-cristã e catocomunista,
desempenhou a sua função de inconsistente fantoche com ambições tão ridículas
quanto irrealistas: a sua parábola consentiu o perseguimento de um projecto de
engenharia social que incluía, precisamente, um advogado sine nomine como
executor alheio às ordens do titereiro globalista. E que, ao alavancar a sua
vaidade, pôde usá-lo para impor decisões devastadoras à população, sem qualquer
ratificação do Parlamento e, muito menos, da vontade dos eleitores. Mas o seu
papel, claramente temporário, quase como um aparecimento, dever-se-ia exaurir quando,
tornando-se evidente a sua inconsistência e inexperiência em todas as frentes, se
teria tornado necessária aquela “mudança de ritmo” que, já desde o Verão
passado, algum raro observador da política italiana previa que se realizaria
com o advento de Mario Draghi, ex-Governador do BCE, expoente do lobby
financeiro e herdeiro natural de Mario Monti.
Poderemos ver um instrutivo paralelo desta situação no especulativo papel que o
jesuíta Jorge Mario Bergoglio viu ser-lhe atribuído pela chamada Máfia de São
Galo: até o Argentino, até então quase desconhecido, foi eleito Papa para
demolir os últimos vestígios da Igreja Católica; e, como Conte, também
Bergoglio crê ser o autor de uma mudança radical e irreversível, pensando passar
à história, enquanto quem o manipula já designou quem o substituirá. Também
neste caso, a vaidade, o egocentrismo, na verdade, o delírio de omnipotência do
personagem impedem-no de compreender que está a ser usado e que o apoio de que,
hoje, goza, se transformará em cinismo implacável assim que os seus desastres
forem habilmente enfatizados pelos media. Um e outro têm um destino semelhante,
e Joe Biden, cuja vice-presidente, Kamala Harris, aguarda ansiosamente o
momento em que o guião preverá a expulsão do democrata corrupto, sob o pretexto
da sua saúde mental e física, não será excepção.
É, pois, importantíssimo, e igualmente inevitável, que aqueles que se preocupam
com o destino da Pátria entendam que o Presidente Draghi em nada se desviará da
agenda globalista, excepto na maior eficiência com que a realizará. Alimentar a
esperança de que o tecnocrata, a quem se deve a devastação da Grécia, possa, de
alguma forma, falhar na sua tarefa, é de ingénuo, assim como qualquer forma de
colaboração ou de apoio a este governo só pode conduzir, inexoravelmente, à
perda de soberania nacional e à sujeição completa à Nova Ordem. Não nos
esqueçamos que o gabinete do Primeiro-Ministro incluirá personalidades como
Vittorio Colao e Roberto Cingolani, para quem o Great Reset se encontra
em avançado estádio de conclusão, com ou sem o consentimento dos eleitores. Quem,
hoje, governa, em Itália como nos Estados Unidos, não considera minimamente
relevante que o seu poder seja usurpado com manobras palacianas ou com fraudes
eleitorais, nem que o totem da democracia, graças ao qual puderam enganar as
massas, seja substituído por uma cruel ditadura, com ou sem o álibi da
emergência pandémica. Sabemos bem que estava tudo programado há anos e que,
para realizar plenamente o projecto globalista, a elite não hesitará em violar os
direitos fundamentais, sob o pretexto de fazê-lo “para o nosso bem”. Mas também
sabemos que, quanto mais nos aproximamos do fim dos tempos, tanto mais a Providência
multiplica as graças para o pusillus grex que permanece fiel ao Senhor.
Se soubermos compreender que o que acontece em Itália faz parte de um único
guião sob uma única direcção, poderemos apreender a coerência entre factos
aparentemente heterogéneos e, sobretudo, compreenderemos que os motivos que se
aduzem para legitimar medidas em violação das liberdades naturais dos
indivíduos, não passam de pretextos, tão falsos quanto racionalmente
incongruentes. E como tudo se baseia numa colossal mentira, será suficiente que
desmorone apenas um dos engodos para fazer precipitar toda a Torre de Babel
globalista, os seus hierarcas, os seus sacerdotes, os seus cortesãos, os seus
servos. Cadent a latere tuo mille, et decem millia a dextris tuis; ad te
autem non appropinquabit: o Salmo 90 recorda-nos a protecção do Altíssimo, a
punição que aguarda os pecadores; exorta-nos a repor a nossa confiança em Deus,
o Qual enviará os Seus anjos para nos proteger ao longo do nosso caminho.
Não nos deixemos seduzir pela aparente inevitabilidade do mal: Satanás é o
eterno derrotado, quer procure destruir a Igreja de Cristo – rocha inabalável
nas próprias palavras do Salvador –, quer se enfureça com o que resta do consórcio
humano . E se, realmente, deve haver um Great Reset da nossa sociedade, esse
cumprir-se-á só com o arrependimento pelos pecados públicos das Nações, com um novo
renascimento da Cristandade, com um regresso à Lei de Deus. Fiat voluntas
tua, recitamos no Pai-Nosso: seja esta a nossa agenda, a exemplo da Santíssima
Virgem, Nossa Senhora e Rainha, que, em primeiro lugar, pôs debaixo dos pés o áspide
e o basilisco, esmagou a cabeça do leão e do dragão.
† Carlo Maria Viganò, Arcebispo
1 Comentários
A luz que nos indica o caminho: Qual Atanásio lutando contra a heresia modernista. Obrigado Arcebispo Vigano e Deus o guarde pois necessitamos muito de si!
ResponderEliminar«Tudo me é permitido, mas nem tudo é conveniente» (cf. 1Cor 6, 12).
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