Qual foi o balanço da visita do Papa
Francisco, entre 5 e 10 de Março, ao Iraque, uma visita histórica, a primeira
de um Pontífice a um País do Golfo, muçulmano, de maioria xiita?
No plano humano, não se pode negar que foi um gesto corajoso, alguns até mesmo
disseram temerário. Politicamente, não haverá, provavelmente, grandes
consequências. Mas o Papa é o Vigário de Cristo e interessa-nos um balanço a nível
religioso.
No dia 5 de Março, chegando ao Iraque, o Papa Francisco dirigiu-se às
autoridades iraquianas da seguinte forma: «Venho como penitente que pede
perdão ao Céu e aos irmãos por tantas destruições e crueldades, e venho como peregrino
da paz, em nome de Cristo, Príncipe da Paz».
Jesus Cristo é o príncipe da Paz, a verdadeira paz, sob o único Salvador, mas
Francisco não mencionou Cristo no seu discurso inter-religioso, feito na
planície de Ur, a 6 de Março.
A 7 de Março, o Papa Francisco esteve em Qaraqosh, onde, em 2014, a catedral
foi profanada, as estátuas decapitadas, os livros sagrados queimados.
Dirigindo-se aos cristãos deste lugar, o Papa disse: «Olhando para vós, vejo
a diversidade cultural e religiosa do povo de Qaraqosh, e isso mostra algo da
beleza que a vossa região oferece ao futuro. A vossa presença aqui recorda-nos
que a beleza não é monocromática, mas resplandece na variedade e nas diferenças».
A diversidade cultural e religiosa é indicada, por Francisco, como melhor do
que a unidade religiosa, que é considerada «monocromática», mais pobre,
porque tem uma só cor. O modelo, portanto, não é a unidade religiosa, nem
cristã, nem islâmica. O modelo é a pluralidade religiosa, pois «a beleza não
é monocromática, mas resplandece na variedade e nas diferenças». Isto leva
à conclusão de que não existe uma religião que salva, mas todas conduzem ao
mesmo Deus, que se pode alcançar por diferentes caminhos. Jesus Cristo não é o
único Caminho, Verdade e Vida, até Maomé o pode ser, porque Alá, o deus do Islão,
não é diferente daquele dos hebreus e dos cristãos. Mas, se assim é, porquê
permanecer cristãos num país islâmico, a custo de tantos esforços, de tantos
sofrimentos, de tantas perseguições que podem levar à perda de todos os bens e da
própria vida?
Como contrasta esta ideia com as palavras de Nosso Senhor, que, no Evangelho,
diz: «Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-me,
assim como o Pai me conhece e Eu conheço o Pai; e ofereço a minha vida pelas
ovelhas. Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil. Também estas Eu
preciso de as trazer e hão-de ouvir a minha voz; e haverá um só rebanho e um só
pastor» (Jo 10, 14-16)!
O Papa Francisco falou de Cristo, na homilia da Missa de 7 de Março, em Erbil,
afirmando que «só Ele nos pode purificar das obras do mal, Ele que morreu e
ressuscitou, Ele que é o Senhor», mas, depois, no fim da Missa, saudando o
Patriarca da Igreja Assíria do Oriente, disse: «Obrigado, obrigado, querido
Irmão! Consigo, abraço os cristãos das várias confissões: muitos aqui
derramaram o seu sangue no mesmo solo! Mas os nossos mártires resplandecem
juntos, estrelas no mesmo céu!».
Existe, pois, um mesmo céu para um mártir cristão e para um mártir islâmico? O
paraíso celeste dos cristãos e o terrestre dos muçulmanos é o mesmo?
Esta não é a religião católica, nem a muçulmana, mas parece ser uma religião
diferente, sincretista e humanitária, professada por aquele que é o Vigário de
Cristo, mas que não exerce a função de Supremo Pastor da Igreja, que Jesus Cristo
lhe confiou.
Esta é a triste e dolorosa realidade. Não descobrimos esta realidade na viagem
ao Iraque. A viagem ao Iraque não acrescentou nada de novo ao que sabíamos, mas
o vaticanista John Allen tem razão quando diz que a viagem de Francisco ao Iraque,
de 5 a 8 de Março, não é, de facto, «a “maior” viagem papal de todos os
tempos, talvez, mas a mais emblemática, aquela que melhor sintetiza o espírito
de um papado e a sua mensagem para o Mundo no seu momento histórico».
Qual espírito e qual mensagem? Infelizmente, parece que o modelo indicado aos crentes
de todo o Mundo já não seja Roma, a cátedra da fé infalível, mas o Iraque, a
terra que foi de Abraão, mas também da Torre de Babel. E a utopia de Babel
reaparece na confusa e dramática época da pandemia.
Roberto de Mattei
Através de Radio Roma Libera
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