Aproximando-se a Grande Semana, a
Semana Santa, e a Páscoa da Ressurreição, o portal Dies Iræ, a pedido de Mons. Carlo Maria Viganò,
traduziu e disponibiliza, em exclusivo para língua portuguesa, uma meditação de
Sua Excelência Reverendíssima.
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Mors et vita duelo
conflixere mirando.
No ano passado, com uma decisão tão
incompreensível quanto lamentável, pela primeira vez na era cristã, a Hierarquia
católica limitou a celebração da Páscoa, apoiando a narrativa mainstream
da pandemia. Muitos fiéis, obrigados a medidas de confinamento que se demonstraram
inúteis, senão contraproducentes, puderam unir-se espiritualmente ao Santo
Sacrifício, assistindo às funções através do computador. Um ano depois, nada
mudou desde então, e ainda ouvimos reiterar que deveremos preparar-nos para um
novo lockdown para permitir que a população seja submetida a um soro génico
experimental, imposto pelo lobby farmacêutico, apesar de não sabermos, a
longo prazo, os efeitos colaterais. Em muitas nações, o seu uso começa a ser
proibido, diante das mortes suspeitas após a sua inoculação; no entanto, apesar
da forte campanha de terrorismo dos media, os tratamentos demonstram-se
eficazes e capazes de reduzir drasticamente as hospitalizações e, consequentemente,
também as mortes.
Como Católicos, somos chamados a compreender o que significa aquilo que,
durante mais de um ano, toda a humanidade se viu obrigada a sofrer em nome de
uma emergência que – dados oficiais disponíveis – causou um número de mortes comparável
ao dos anos anteriores. Somos chamados a compreender, antes mesmo de crer:
porque se o Senhor nos dotou de inteligência, fê-lo para que a usemos para
reconhecer e julgar a realidade que nos rodeia. No acto de Fé, o baptizado não
renuncia à própria racionalidade num fideísmo acrítico, mas aceita o que o
Senhor lhe revela, curvando-se diante da autoridade de Deus, que não nos engana
e que é a própria Verdade.
A nossa capacidade de intus legere os acontecimentos preserva-nos, à luz
da Graça, de cair naquele tipo de irracionalidade temerária que, pelo contrário,
demonstram aqueles que, até ontem, celebravam a ciência como um antídoto
necessário para a “superstição religiosa” e que, hoje, celebram os pretensos “especialistas”
como novos sacerdotes da pandemia, negando os mais elementares princípios da
medicina. E se, para o Cristão, uma verdadeira pestilência é um salutar apelo à
conversão e à penitência pelos pecados dos indivíduos e das nações, para os
adeptos da religião da saúde, uma síndrome de gripe tratável deveria ser o
grito da Mãe Terra violada pela humanidade. Uma Natureza madrasta, à qual
muitos se dirigem com as palavras de Leopardi: Por que não restituis, então,
o que prometes? de que tanto enganas os teus filhos? Percebemos que aquela
crueldade tribal, aquela força primitiva que gostaria de nos exterminar como um
vírus do planeta não reside na Natureza, da qual o Criador é o admirável
artífice, mas numa elite subserviente à ideologia globalista, que, por um lado,
quer impor a tirania da Nova Ordem Mundial e, por outro, para manter o poder, remunera
generosamente aqueles que se colocam ao seu serviço. Os rebeldes, os
refratários são, por outro lado, aniquilados nos seus bens, privados da
liberdade, forçados a submeter-se a tampões não confiáveis e a vacinas
ineficazes em nome de um bem maior que devem aceitar sem possibilidade de
dissidência ou de crítica.
Há poucos dias, uma senhora, acreditando mostrar-se dotada de senso prático, dizia
que é necessário submeter-se ao uso da máscara e do distanciamento social não
tanto pela sua eficácia, mas para apoiar os nossos governantes em vista de um abrandamento
das medidas adoptadas até agora: “Se colocarmos a máscara e formos vacinados,
talvez eles parem e nos deixem voltar a viver”, comentava. Diante desta
observação, um senhor idoso respondeu que alguns Hebreus, na Alemanha dos anos
30, talvez pensassem que, usando a estrela de David costurada no casaco, teriam,
de algum modo, contentado os delírios de Hitler, evitando violações muito
piores e salvando-se da deportação. Diante desta pacata objecção, a sua
interlocutora ficou abalada, compreendendo a inquietante semelhança entre a
ditadura nazi e a loucura pandémica dos nossos dias; entre a forma como se pôde
impor a tirania a milhões de cidadãos, alavancando o seu medo, então como
agora. Deixaram-se persuadir a obedecer, a não reagir à violação dos direitos
dos cidadãos alemães culpados apenas de serem Hebreus, a fazer-se eles mesmos
delatores dos “criminosos” junto da autoridade civil. E pergunto-me: que
diferença existe entre a denúncia de um vizinho que esconde uma família de
Hebreus e a zelosa denúncia de quem recebe conhecidos em violação de uma norma
inconstitucional que limita as liberdades dos cidadãos? Não estão ambos a
respeitar a lei, a observar as regras, ao passo que aquelas mesmas normas
violam os direitos de uma parte da população, criminalizada, ontem, no plano
racial e, hoje, no plano sanitário? Não aprendemos nada com os horrores do
passado?
A voz da Igreja invoca a divina Majestade para que afaste os «flagella tuæ iracundiæ, quæ pro peccatis nostris meremur». Estes flagelos manifestaram-se no
curso da História com as guerras, as pragas, as fomes; hoje, mostram-se com a
tirania do globalismo, capaz de fazer mais vítimas do que um conflito mundial e
de destruir as economias nacionais mais do que um terramoto. Devemos
compreender que, se o Senhor permitir que os fautores da emergência COVID tenham
sucesso, será, certamente, para o nosso maior bem. Porque, hoje, nos barraram,
como se fosse uma culpa, aquele pouco que restava na nossa sociedade que ainda
era inspirado na civilização cristã e que, até ontem, considerávamos normal e
tido como certo: exercer as nossas liberdades fundamentais, encontrar-nos a
rezar na igreja, sair com os amigos, ver-nos a jantar com os nossos entes
queridos, poder abrir a loja ou o restaurante e ganhar honestamente, ir à
escola ou fazer uma viagem.
Se esta pseudo-pandemia é um flagelo, não é difícil entender quais sejam os
pecados pelos quais o Céu nos pune: delitos, abortos, homicídios, divórcios,
violência, perversões, vícios, furtos, enganos, burlas, traições, mentiras,
profanações, crueldade. Culpas públicas e culpas dos indivíduos. Culpas dos
inimigos de Deus e culpas dos Seus amigos. Culpas dos leigos e culpas dos
clérigos, da base e do cume, dos governados e dos governantes, dos jovens e dos
velhos, dos homens e das mulheres.
Erra quem crê que a violação dos direitos naturais que estamos a sofrer não tenha
nenhum significado sobrenatural e que, ao tornar-nos cúmplices do que acontece,
a nossa parte de responsabilidade seja irrelevante. Jesus Cristo é Senhor da
História e quem quiser expulsar o Príncipe da Paz do mundo que Ele criou e
redimiu com o Seu preciosíssimo Sangue, não quer aceitar a inexorável derrota
de Satanás, o eterno perdedor. Assim, num delírio que tem todas as
características da hybris, os seus servos movem-se como se a vitória do
mal já fosse certa, quando, na realidade, é necessariamente efémera e
momentânea. A némesis que se prepara para eles far-nos-á lembrar do povo
de Israel depois da passagem do Mar Vermelho e que nada poderia o Faraó se não
tivesse sido permitido por Deus.
A Páscoa cristã, a verdadeira Páscoa da qual a do Antigo Testamento foi apenas
uma figura, realiza-se no Gólgota, no madeiro bendito da Cruz. Daquele
Sacrifício perfeito, Cristo foi Altar, Sacerdote e Vítima. O Agnus Dei,
apontado pelo Precursor nas margens do Jordão, tomou sobre si os pecados do
mundo, para se oferecer como vítima humana e divina ao Pai, restaurando no Seu
Sangue a ordem violada pelo nosso Progenitor. Foi ali, no Calvário, que se cumpriu
o verdadeiro Great Reset, graças ao qual a dívida inextinguível dos
filhos de Adão foi cancelada pelos méritos infinitos da Paixão do Redentor,
resgatando-nos da escravidão do pecado e da morte.
Sem nos arrependermos das nossas culpas, sem propósito de emendar a nossa vida
e de conformá-la à vontade de Deus, não podemos esperar que desapareçam as
consequências dos nossos pecados, que ofendem a divina Majestade e só podem ser
aplacados pela penitência. Nosso Senhor mostrou-nos o caminho real da Cruz: «Cristo
também padeceu por vós, deixando-vos o exemplo, para que sigais os seus passos»
(1 Pe 2, 21). Tomemos cada um a nossa cruz, negando-nos a nós próprios e
seguindo o divino Mestre. Aproximemo-nos da Santa Páscoa com a consciência de
estar sempre sob o olhar do Senhor: «Éreis como ovelhas desgarradas, mas
agora voltastes ao Pastor e Guarda das vossas almas» (1 Pe 2, 25). E
lembremo-nos que, no dies iræ, O teremos todos, certamente, como Juiz,
mas que, graças ao Baptismo, merecemos o direito de reconhecê-Lo como Irmão e
Amigo.
Peçamos ao Supremo Juiz, com as palavras da Sagrada Escritura: «Discerne
causam meam de gente non sancta, ab homine iniquo et doloso erue me». Ao
Pai Misericordioso, que no Seu divino Filho nos fez herdeiros da glória eterna,
dirijamos, com humildade, as palavras de David: «Amplius lava me ab
iniquitate mea, et a sin meo munda me». Peçamos ao Espírito Consolador: «Da
virtutis meritum, da salutis exitum, da perenne gaudium».
Se realmente queremos que esta chamada pandemia desmorone como um castelo de
cartas – como aconteceu sempre com flagelos muito piores, quando o Senhor
decretou o seu fim –, lembremo-nos de reconhecer a Ele, e apenas a Ele, aquele Senhorio
universal que usurpamos a cada pecado, recusando-nos a obedecer à Sua santa Lei
e tornando-nos, assim, escravos de Satanás. Se queremos a paz de Cristo, é
Cristo que deve reinar e é o Seu reino que devemos desejar, a começar por nós
mesmos, pela nossa família, pelo nosso círculo de amigos e conhecidos, pela
nossa comunidade religiosa. Adveniat regnum tuum. Se, por outro lado,
permitirmos que se instaure a odiosa tirania do pecado e da rebelião a Cristo,
a loucura do COVID será apenas o começo do inferno na terra.
Preparemos, pois, a Confissão e a Comunhão pascal com este espírito de
reparação e expiação, tanto pelos nossos pecados quanto pelos dos nossos
irmãos, dos homens da Igreja e dos nossos governantes. O verdadeiro e santo “novo
renascimento” a que devemos aspirar deve ser a vida da Graça, a amizade de
Deus, a assiduidade com a Sua Santíssima Mãe e com os Santos. O verdadeiro “nada
será como antes” devemos dizê-lo levantando-nos do confessionário com o
propósito de não pecar mais, oferecendo ao Rei Eucarístico o nosso coração como
um trono no qual Ele se compraza de habitar, consagrando-Lhe todas as nossas acções,
todos os nossos pensamentos, cada respiro nosso.
Sejam estes os nossos votos para a próxima Páscoa da Ressurreição, sob o olhar
benigno da Nossa Rainha e Senhora, Co-redentora e Medianeira de todas as
Graças.
† Carlo Maria Viganò, Arcebispo
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