«Salve,
Santa Mãe, que destes à luz o Rei do céu e da terra», antífona de entrada
da solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus.
Ninguém jamais tratou do assunto da Virgem com o Menino, um dos temas mais
difundidos no Renascimento, quanto e como fez Rafael, que realizou mais de
trinta versões, todas de excelente qualidade. Segundo muitos, a sua Madona
Sistina é a imagem mais bela que já nos foi entregue da Santíssima Mãe de Deus:
a grande tela, que agora se encontra em Dresden, segundo Vasari, foi
encomendada, pelo Papa Júlio II, para o convento Beneditino de São Sisto, em Placência,
em cujo altar, efectivamente, permaneceu por mais de duzentos anos.
O urbinato oferece-nos uma verdadeira epifania. Sob o fundo de um céu iluminado
pelo amontoado de nuvens brancas que, olhando atentamente, se fundem com uma
miríade de cabeças de querubim, Maria avança além do limite da cortina verde
que se abre à Sua passagem. Traz ao mundo o fruto do Seu Ventre, o Menino
Jesus, que aperta com um terno e firme abraço. Aparece como uma mulher jovem,
desprovida de auréola, tão humana, portanto, e, ao mesmo tempo, tão cheia de Graça.
Um vento ligeiro incha-lhe o véu e move o panejamento da veste, acompanhando,
como se fosse o Espírito de Deus, o Seu passo seguro.
Maria olha-nos e Jesus também nos olha directamente nos olhos, os cabelos
loiros despenteados, as sobrancelhas ligeiramente arqueadas e a boca fechada
numa expressão que pretende significar a consciência da dolorosa condição
humana que, encarnando-se, escolheu partilhar connosco. Vem ao nosso encontro,
acolhido por duas figuras de Santos venerados na igreja de Placência.
À esquerda, o Papa Sisto II, morto durante as perseguições do Imperador
Diocleciano, é retratado de pé, em contemplação, a tiara dourada apoiada aos
seus pés; à direita, Santa Bárbara, atrás da qual surge a torre que simboliza o
seu martírio, está ajoelhada sobre o manto de nuvens, com o olhar dulcíssimo
humildemente voltado para baixo. Os dois célebres anjos, apoiados à moldura da
pintura, completam a geometria da perfeita invenção compositiva.
Diversas gerações – doze, segundo Vasilij Grosmann, «a quinta parte do
género humano que viveu na terra desde o início da nossa era até hoje» – contemplaram
este quadro que, se para os historiadores da arte representa o ápice da
produção artística de Rafael, para muitos homens, letrados, filósofos, poetas,
marcou o encontro com uma beleza comovente.
Deus, que se faz homem, de facto, citando a Evangelii Gaudium, é revelação
da Infinita Beleza, e nós, como diz Santo Agostinho, não amamos senão o que é
belo.
Margherita del Castillo
Através de La Nuova Bussola Quotidiana
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