«No
dia seguinte, João encontrava-se de novo ali com dois dos seus discípulos.
Então, pondo o olhar em Jesus, que passava, disse: “Eis o cordeiro de Deus!”.
Ouvindo-o falar desta maneira, os dois discípulos seguiram Jesus» (Jo 1,
35-37).
Sant’Andrea della Valle é uma basílica do centro histórico de Roma, construída onde
se encontrava a Igreja de São Sebastião Mártir, local presumido da sua primeira
sepultura. Vangloriando-se da categoria de basílica menor, existe o homónimo
título cardinalício e é oficiada, hoje como então, pelos Clérigos Regulares Teatinos,
uma ordem, nascida nas primeiras décadas do século XVI, para restaurar as primitivas
regras da vida apostólica. Na verdade, é intitulada a um apóstolo: André, irmão
de Simão Pedro, que foi discípulo de João Baptista antes mesmo de o ser de
Jesus.
A construção do espaço interior, com nave única com transepto e capelas
laterais, mostra-se como um típico exemplo do espírito contra-reformista,
enquanto a sua decoração deve ser considerada uma perfeita expressão do barroco
romano: especialmente na zona do presbitério onde, na segunda década do século
XVII, trabalharam dois mestres, ambos emilianos, Domenico Zampieri, conhecido
como o Domenichino, e Lanfranco. E se a este último se deve a extraordinária vista
da cúpula, mérito do primeiro são os afrescos da abóbada e do arco absidal.
A iminente celebração do Jubileu de 1625 foi a ocasião em que o Cardeal
Alessandro Peretti Montalto, sobrinho de Sisto V, encomendou os afrescos ao
bolonhês Zampieri que, tendo montado os andaimes em 1623, os removeu, definitivamente,
em 1628. Domenichino distribuiu as histórias de André, como se fossem quadros,
dentro de partituras definidas por preciosos estuques dourados, conferindo uma precisa
ordem à narração. A Glorificação do Santo, na luneta, é a conclusão de uma vida
vivida no seguimento de Cristo, pelo amor de Quem André passou pela experiência
do martírio, devidamente referido pelo fresquista. Tudo começou, porém, num
preciso instante, no momento em que ele viu Jesus pela primeira vez.
Como acontece sempre, é outra pessoa que nos diz para onde olhar: no centro da
cena, o Baptista, sentado sobre uma rocha, com o braço direito estendido para
Cristo, que aparece nas costas, mostra a André e a um outro discípulo Quem seguir.
A outra mão, batendo no peito, torna explícita esta mensagem: já não ele, mas
um Outro, Aquele que se vê ao longe. Um cordeiro aos pés de João faz ecoar, em
primeiro plano, as suas conhecidas palavras: “Ecce Agnus Dei!”.
A paisagem rochosa, o verde escuro dos ramos da árvore, entre os quais se
avista o leito do rio Jordão, o céu sulcado por um turbilhão de nuvens
carregadas de chuva, amplificam a gravidade do momento em que a presença de um
anjo em voo, por pouco realista, confere a certeza da presença divina.
Que André compreende, como se pode ver pelos seus braços estendidos em sinal de
total confiança. A Verdade, quando a encontramos, reconhece-se e não se pode
silenciar: o gesto do apóstolo envolve, de facto, o seu companheiro mais
hesitante, para que também ele, finalmente, veja.
Margherita del Castillo
Através de La Nuova Bussola Quotidiana
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