A
pedido do Prof. Roberto de Mattei, traduzimos e disponibilizamos, em Língua
Portuguesa, a resposta que o historiador italiano redigiu por motivo da crítica
lançada, nas redes sociais, pelo brasileiro Carlos Nougué a respeito do artigo “O
Advento prepara-nos para o triunfo do Imaculado Coração de Maria”, que também
traduzimos e disponibilizámos a 1 de Dezembro.
Fui acusado de “milenarismo” porque, num
meu artigo publicado em Radio Roma Libera, traduzido por Adelante la Fe,
falei de uma “segunda vinda” de Jesus Cristo entre a Natividade e a Parusia.
Se o meu crítico tivesse lido mais atentamente o que escrevi, teria percebido
que a segunda vinda de Jesus Cristo de que falo não é física e visível, mas
espiritual, «sobre as almas, sobre a sociedade inteira», como diz o
texto. A “segunda vinda” de Jesus Cristo, desde as primeiras palavras do seu Tratado
da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, constitui o leitmotiv de
toda a obra de São Luís Maria Grignion de Montfort, que afirma: «Foi pela
Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo e é também por ela que
deve reinar no mundo» (n. 1). Jesus Cristo, reitera São Luís Maria, deve
reinar sobre o mundo, mas «terá de ser uma consequência necessária do
conhecimento e do reinado da Virgem Maria, que deu Jesus Cristo ao mundo na
primeira vez e há-de também fazê-lo resplandecer na segunda» (n. 13 ) A
segunda vinda de Jesus à terra, por meio de Maria, será «gloriosa e retumbante»
tanto quanto a primeira foi secreta e escondida: «mas ambas serão perfeitas,
porque ambas se farão por Maria» (n. 158).
A “segunda vinda” de Jesus Cristo é, portanto, o seu Reinado Social, por meio
de Maria e com Maria, destinado a preceder a era do anticristo e da parusia. Por
esse motivo, citei as palavras de Mons. Henri de Lassus, que escreve: «Desde
o primeiro Domingo do Advento, a Igreja participa aos seus filhos aquilo que
contempla no meio das trevas deste mundo... Ela vê vir o Filho do Homem, o seu
divino Esposo, não para julgar os mortais, mas para reinar; não para reinar
apenas sobre as almas tomadas individualmente, mas estabelecer o seu império
sobre todos os povos, sobre todas as tribos e sobre todas as línguas do
universo» (Il problema dell’ora presente, vol. II, p. 57). A obra de
Mons. de Lassus, elogiada por São Pio X e pelo Cardeal Merry del Val, é um
clássico do pensamento contra-revolucionário.
«A grande lei da história – escreve, por sua vez, o P. Henri Ramière –,
ou seja, o objectivo supremo proposto pela vontade divina aos indivíduos, às sociedades
e a toda a humanidade é a instauração do Reino de Cristo. Por Reino de Cristo entendemos
a perfeita semelhança e a completa submissão dos indivíduos, dos povos e de toda
a humanidade ao Homem-Deus, modelo soberano de todas as perfeições e soberano
Senhor de todas as coisas» (O Reino de Jesus Cristo na História,
Livraria Civilização, Porto 2001, p. 185).
«Então, finalmente – exclama Pio XI na sua encíclica Quas Primas,
citando Leão XIII –, poderão ser curadas tantas feridas, então, cada direito
recuperará a sua força original, então, finalmente, retornarão os preciosos
bens da paz e cairão das mãos espadas e as armas quando todos acolherem de boa
vontade o reino de Cristo e lhe obedecerem, quando todas as línguas confessarem
que o Senhor Jesus Cristo está na glória de Deus Pai» (Encíclica Quas
Primas, in AAS, vol. XVII (1925), pp. 600-603).
Esta é a doutrina da Igreja, que nada tem a ver com o milenarismo, assim como
Nossa Senhora não foi milenarista quando anunciou, em Fátima, o triunfo do seu
Imaculado Coração, que pode ser considerado uma segunda vinda triunfal de Jesus
e de Maria para reinar sobre as almas e sobre a sociedade.
Agradeço ao meu crítico por me permitir esclarecer o meu pensamento.
Roberto de Mattei
P.S. Estes temas são explorados no meu livro Plinio Corrêa de Oliveira – Profeta
do Reino de Maria (Artpress, São Paulo 2015, traduzido em língua italiana e
inglesa).
***
Resposta
de Roberto de Mattei à “tréplica” de Carlos Nougué (actualizado a 05-12-2020)
O senhor Carlos Nougué fez, certamente, aprofundados estudos teológicos para
poder comentar o mais difícil livro da Sagrada Escritura, criticar São Luís
Grignion de Montfort, Mons. Henri de Lassus e o Padre Henri Ramière, e acusar-me
de estar fora da doutrina da Igreja, coisa que eu jamais me permitiria fazer em
relação a ele. No entanto, não tendo ele uma autoridade na Igreja superior à
minha, não me sinto obrigado a responder mais e considero encerrada a
controvérsia.
2 Comentários
Excelente e oportuno esclarecimento. O pensamento do Prof. De Mattei está muito claro em sua obra Plinio Corrêa de Oliveira Profeta do Reino de Maria. Críticos apressados costumam tropeçar nos próprios pés.
ResponderEliminarTodos os dias rezamos "venha a nós o vosso reino"! isso é ser milenarista?!??!...
ResponderEliminar«Tudo me é permitido, mas nem tudo é conveniente» (cf. 1Cor 6, 12).
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