É cada vez mais habitual associar os
diversos dias do ano a determinadas causas, ainda que muitas delas, ou até mesmo
a maioria, sejam contraproducentes e promotoras de depravações e imoralidade.
Olhando para as efemérides ocorridas, no passado, a 11 de Dezembro, poderíamos,
quiçá, apelidar este dia como sendo o “da Revolução e da Contra-Revolução”. De
seguida, procurarei explicar, de forma breve, o porquê de tal escolha.
Na sua obra magna, Revolução e Contra-Revolução, publicada em 1959,
Plinio Corrêa de Oliveira, mestre do pensamento contra-revolucionário, apresenta
a Revolução como «um movimento que visa destruir um poder ou uma ordem
legítima e pôr no seu lugar um estado de coisas (intencionalmente não queremos
dizer ordem de coisas) ou um poder ilegítimo»[1],
identificando, de forma clara e minuciosa, as três revoluções: Pseudo-Reforma, Revolução
Francesa e Comunismo. Logicamente, todas elas ligadas umbilicalmente entre si.
Com uma diferença de oito anos, nasceram neste mesmo dia, respectivamente em
1475 e em 1483, Giovanni di Lorenzo de Medici, futuro Papa Leão X, e o
heresiarca Martinho Lutero, pai da primeira Revolução. Do ponto de vista
espiritual, o que moveu Lutero e os seus seguidores a darem início à
Pseudo-Reforma foi, essencialmente, «a insurreição contra a autoridade
eclesiástica, expressa em todas as seitas pela negação do carácter monárquico
da Igreja Católica, isto é, pela revolta contra o Papado»[2],
que levou à negação da «alta aristocracia da Igreja, ou seja, os Bispos, que
são os seus Príncipes» e «do próprio sacerdócio hierárquico, reduzindo-o
a mera delegação do povo, único verdadeiro detentor do poder sacerdotal».
Do ponto de vista moral, «o triunfo da sensualidade no Protestantismo
afirmou-se pela supressão do celibato eclesiástico e pela introdução do divórcio».
Em suma, o orgulho e a sensualidade foram e continuam a ser o oásis dos hereges
protestantes, assim como dos seus sequazes, que não raras vezes adoptam novas e
pomposas denominações. Todas e quaisquer semelhanças com o Concílio Vaticano
II, fortemente protestantizante, não são coincidência! Mormente se recordarmos
que, em 1983, João Paulo II, o Papa do “espírito de Assis”, participou, num
templo luterano de Roma, nas comemorações do 500.º aniversário do nascimento de
Lutero.
Pouco mais de três séculos depois, a 11 de Dezembro de 1792, teve início, em
Paris, o julgamento do monarca francês Luís XVI, que, em Janeiro de 1793, viria
a ser guilhotinado pelos revolucionários franceses. Num oportuníssimo conjugar
da primeira Revolução com a segunda, Plinio Corrêa de Oliveira explica que, «profundamente
afim com o protestantismo, herdeira dele e do neopaganismo renascentista, a
Revolução Francesa realizou uma obra de todo em todo simétrica à da
Pseudo-Reforma»[3], apoiando-se,
essencialmente, em três grandes pilares: «revolta contra o Rei, simétrica à revolta
contra o Papa; revolta da plebe contra os nobres, simétrica à revolta da “plebe”
eclesiástica, isto é, dos fiéis, contra a “aristocracia” da Igreja, isto é, o
Clero; afirmação da soberania popular, simétrica ao governo de certas seitas,
em medida maior ou menor, pelos fiéis»[4].
Quando falta a vida de piedade, o Homem, gravemente afectado pelas
consequências do pecado original, procura falsas alternativas que,
garantidamente, conduzem a um apego desmedido às coisas terrenas e aos
pensamentos desviantes, nomeadamente a «dúvidas em relação à Igreja, negação
da divindade de Cristo, deísmo, ateísmo incipiente»[5]
que, por consequência, culminam numa apostasia faseada. Esquecido Nosso Senhor
Jesus Cristo e arrumados os costumes, a filha mais velha da Igreja Católica
passou a professar a irreligião, que ainda hoje se faz violentamente sntir,
bastando olhar para os reiterados ataques de Emmanuel Macron à Igreja Católica.
Não por acaso, a Virgem Maria, em Fátima, alertou contra o perigo da apostasia
no seio da Igreja. Uma vez mais, não são coincidência as possíveis e prováveis
semelhanças com o cenário actual.
A terceira Revolução, aquela Comunista, encontra as suas origens nas duas
precedentes. «O orgulho, inimigo de todas as superioridades, haveria de investir
contra a última desigualdade, isto é, a de fortunas. E assim, ébrio de sonhos
de República Universal, de supressão de qualquer autoridade eclesiástica ou
civil, de abolição de qualquer Igreja e, depois de uma ditadura operária
de transição, também do próprio Estado, aí está o neo-bárbaro do século XX,
produto mais recente e mais extremado do processo revolucionário»[6].
É inatacável a descrição que o Prof. Corrêa de Oliveira faz da máquina
comunista. Máquina essa que, actualmente, continua a alimentar os egos e as
frustrações de muitos filósofos marxistas que, entre outras coisas e olhando
para o COVID-19, defendem, a título de exemplo, que o desemprego estrutural «não
é um destino funesto, mas, pelo contrário, um desafio à maldição bíblica que
condenou os homens a ganharem, com dificuldade o pão quotidiano»[7].
Torna-se, desta forma, inconcebível que, no Vaticano II, a Igreja não tenha
condenado veemente o Comunismo, ao contrário do que inúmeros Padres Conciliares,
entretanto votados ao “ostracismo conciliar”, tinham solicitado após conselho
de Corrêa de Oliveira. Mas foi também a 11 de Dezembro, desta feita do ano de
1990, que uma delegação, constituída por membros das várias TFP, entregou, no
Kremlin, em Moscovo, os microfilmes do abaixo-assinado, promovido a nível
mundial, que pedia a libertação da Lituânia do jugo soviético. Mesmo ainda agora,
note-se, esta petição é considerada, pelo Guinness World Records, a que
mais assinaturas conseguiu recolher. E que bela causa a de poder libertar uma
nação e um povo dos tentáculos dos bolcheviques!
São, destarte, estas as razões que me levam a sugerir que este 11 de Dezembro possa
ser considerado o dia “da Revolução e da Contra-Revolução”, sem ignorar que,
segundo o Calendário Tradicional, se comemora o dia de S. Dâmaso I, o Pontífice
que, fiel à Realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo, condenou e combateu
valorosamente as heresias do seu tempo, principalmente a ariana. A S. Dâmaso,
qual modelo de santidade, confiamos as nossas intenções e, especialmente,
pedimos que, juntamente com Nossa Senhora, a Mater intemerata, nos ajude
a esmagar a cabeça da serpente revolucionária!
D.C.
[1] Oliveira, Plinio Corrêa de. (2020). Revolução
e Contra-Revolução. Caminhos Romanos. Porto, p. 61.
[2] Ibidem, p. 30.
[3] Ibidem, p. 31
[4] Ibidem, pp. 31-32.
[5] Ibidem.
[6] Ibidem, p. 33.
[7] Schaff, Adam. (1989). Chi ha paura della disoccupazione tecnologica? Mondoperaio, n.º 11: p. 98.
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