Ainda na oitava do Santo Natal, recebemos,
de Mons. Carlo Maria Viganò, uma entrevista que o antigo Núncio Apostólico em
Washington concedeu, há alguns dias, ao LifeSiteNews. É, pois, com muito gosto
que o portal Dies Iræ traduziu e
disponibiliza a versão lusa de tão edificante entrevista de Mons. Viganò.
Aproveitamos a ocasião para pedir aos nossos leitores que ofereçam orações e
sacrifícios para que, o quanto antes, torne a brilhar o esplendor da Fé
Católica!
Omnes dii
gentium dæmonia
Ps.
95, 5
Excelência, num recente artigo fiz notar que o Altar Papal da Basílica Vaticana
não é utilizado desde que foi profanado pela oferta apresentada ao ídolo da pachamama.
Naquela ocasião, na presença de Bergoglio e da sua corte, foi cometido um gravíssimo
sacrilégio. Qual é a sua opinião a propósito?
A profanação da Basílica Vaticana, durante a cerimónia conclusiva do Sínodo da
Amazónia, contaminou o Altar da Confissão, já que, sob a sua mesa, foi colocado
um vaso dedicado ao culto infernal da pachamama. Considero que esta e
outras profanações semelhantes de igrejas e altares repropõem, de alguma forma,
outros gestos análogos que ocorreram no passado e nos permitem compreender a sua
verdadeira natureza.
A que se refere?
Refiro-me a todas as vezes em que Satanás se lançou contra a Igreja de Cristo,
das perseguições dos primeiros Cristãos à guerra de Cosroes contra Bizâncio, da
fúria iconoclasta dos Maometanos ao Saque de Roma, pela mão dos Lansquenetes, e,
depois, a Revolução Francesa, o anticlericalismo do século XIX, o Comunismo
ateu, os Cristeros no México e a Guerra Civil na Espanha, até aos crimes
hediondos dos partidários comunistas durante e após a Segunda Guerra Mundial e às
formas de cristianofobia que vemos, hoje, em todo o mundo. Cada vez,
invariavelmente, a Revolução – em todas as suas muitas variações – confirma a sua
própria essência luciferiana, deixando emergir a inimizade bíblica entre a estirpe
da Serpente e a estirpe da Mulher, entre os filhos de Satanás e os filhos da
Santíssima Virgem. Essa ferocidade contra Nossa Senhora e os seus filhos não se
explica de outra forma. Estou a pensar, em particular, na entronização da “deusa
razão” que aconteceu, a 10 de Novembro de 1793, na Catedral de Notre Dame, em
Paris, no auge do Terror. Também naquela circunstância o ódio infernal dos
revolucionários queria substituir o culto à Mãe de Deus pelo culto a uma
prostituta, erigida como símbolo da religião maçónica, carregada aos ombros, sobre
uma liteira, e colocada no presbitério. As analogias com a pachamama são
muitas e revelam a mente infernal que as inspira.
Não esqueçamos que, a 10 de Agosto de 1793, poucos meses antes da profanação de
Notre Dame, foi erguida, na Praça da Bastilha, a estátua da “deusa razão”,
disfarçada da deusa egípcia Ísis: é significativo encontrar esta referência aos
cultos do antigo Egipto até mesmo no horrível presépio que, hoje, sobressai na
Praça de São Pedro. Obviamente, as semelhanças que encontramos nestes
acontecimentos também são acompanhadas por um elemento absolutamente novo.
Quer explicar-nos em que consiste esse novo elemento?
Refiro-me ao facto de que enquanto até ao Concílio – ou, para ser indulgente,
até este “pontificado” – as profanações e os sacrilégios eram cometidos por
inimigos externos à Igreja, desde então os escândalos têm visto activamente
envolvidos os próprios membros da Hierarquia, no silêncio culpado do Episcopado
e no escândalo dos fiéis. A igreja bergogliana está a dar de si uma imagem cada
vez mais desconcertante, em que a negação das verdades católicas é acompanhada
pela afirmação explícita de uma ideologia intrinsecamente anticatólica e
anticristã; e em que já não se esconde o culto idólatra de falsas divindades
pagãs – ou seja, de demónios –, que são propiciadas com actos sacrílegos e
profanações das coisas sagradas. Colocar aquele vaso imundo no Altar da
Confissão é um gesto litúrgico com um valor preciso e uma finalidade não apenas
simbólica. A presença de um ídolo da “mãe terra” é uma ofensa directa a Deus e
à Santíssima Virgem, um sinal tangível que explica, de alguma forma, as muitas manifestações
irreverentes de Bergoglio em relação a Nossa Senhora.
Portanto, não é surpreendente que quem que quer demolir a Igreja de Cristo e o
Papado Romano o faça do mais alto Sólio, segundo a profecia de Nossa Senhora em
La Salette: «Roma perderá a fé e tornar-se-á sede do Anticristo».
Parece-me que, hoje, já não se possa falar de uma simples “perda de Fé”, mas se
deva tomar nota do próximo passo, que se expressa numa apostasia real, assim
como a inicial subversão do culto católico com a reforma litúrgica esteja a evoluir
para uma forma de culto pagão que passa pela sistemática profanação do
Santíssimo Sacramento – especialmente com a imposição da Comunhão na mão, a
pretexto do COVID – e por uma aversão cada vez mais evidente à antiga liturgia.
No fundo, muitas formas de inicial “prudência” no dissimular as verdadeiras
intenções dos Inovadores estão a falhar, revelando a verdadeira natureza da
obra dos inimigos de Deus. O pretexto da oração comum pela paz que, em Assis,
legitimou o abate de galinhas e outras abominações escandalosas já não servem
hoje, e teoriza-se que a fraternidade entre os homens pode prescindir de Deus e
da missão salvífica da Igreja.
Qual é a sua avaliação dos acontecimentos a partir de Outubro passado de
2019, em particular o abandono do título de Vigário de Cristo por Bergoglio, o
facto de ele não ter mais celebrado no Altar Papal e a suspensão da celebração
pública da Missa em Santa Marta?
O princípio filosófico segundo o qual «Agere sequitur esse» ensina-nos que
cada um se comporta segundo o que é. Quem se recusa a ser chamado Vigário de
Cristo, evidentemente tem a percepção de que este título não lhe convém ou, ainda,
olha com desprezo a possibilidade de ser Vigário d’Aquele que, com as palavras
e os factos, demonstra não querer reconhecer e adorar como Deus. Ou, mais simplesmente,
não considera que o seu papel no topo da Igreja deva coincidir com o conceito
católico do Papado, mas com uma sua versão actualizada e “desmitificada”. Ao
mesmo tempo, não se considerando Vigário de Cristo, Bergoglio também pode eximir-se
de se comportar como tal, adulterando, com desenvoltura, o Magistério e
escandalizando todo o povo cristão. Celebrar in pontificalibus no altar
erguido sobre o túmulo do Apóstolo Pedro faria desaparecer o argentino,
ofuscaria as suas excentricidades, aquela expressão perpetuamente revoltada que
não hesita em dissimular sempre que celebra as funções papais: é muito melhor ter
a primazia no adro deserto de São Pedro, em pleno bloqueio, reservando para si
a atenção dos fiéis, que de outra forma estaria voltada para Deus.
Reconhece, portanto, o valor “simbólico” dos actos do Papa Francisco?
Os símbolos têm um valor preciso: foi simbólica a escolha do nome, a decisão de
morar na Domus Santa Marta, o abandono das insígnias e das vestes próprias do
Romano Pontífice, como a mozeta vermelha, o roquete e a estola, o brasão papal na
faixa. É simbólica a ênfase obsessiva em tudo o que é profano e é também
simbólica a intolerância em relação a tudo o que, simbolicamente, relembra conteúdos
especificamente católicos. Talvez simbólico seja o gesto com que, na epiclese
da Consagração da Missa, Bergoglio cobre sempre completamente o cálice, tapa-o
com a mão, como que a querer impedir a efusão do Espírito Santo.
Assim como no acto de se ajoelhar diante do Santíssimo Sacramento se testemunha
a fé na Presença Real e se cumpre um acto latrêutico para com Deus, no não
se ajoelhar diante do Santíssimo, Bergoglio proclama, de forma pública, que não
se quer humilhar diante de Deus, enquanto não tem problema em colocar-se de
gatas diante de imigrantes ou de funcionários de uma república africana. E ao
prostrarem-se diante da pachamama, alguns frades, freiras, clérigos e
leigos realizaram um acto de verdadeira idolatria, honrando, indevidamente, um
ídolo e prestando culto a um demónio. Os símbolos, os sinais, os gestos rituais
são, por conseguinte, o instrumento pelo qual a igreja bergogliana se manifesta
pelo que é.
Todos estes “ritos” da nova igreja, estas “cerimónias” mais ou menos aludidas,
estes elementos tomados em empréstimo de liturgias profanas não são casuais.
Constituem uma das passagens da Janela de Overton para a aceitação do que, na
realidade, Bergoglio já havia teorizado nas suas intervenções e nos actos do
seu “magistério”. Por outro lado, o feiticeiro que faz o sinal de Xiva na testa
de João Paulo II e o Buda adorado no tabernáculo de uma igreja em Assis compreendem-se
na perfeita coerência com os horrores de hoje, exactamente como, na esfera
social, antes de se considerar aceitável o aborto ao nono mês teve de se legitimá-lo
em casos mais limitados e antes de se legalizar o casamento entre pessoas do
mesmo sexo preferiu-se prudentemente deixar crer que a protecção da sodomia não
colocaria em causa a instituição do matrimónio natural.
Vossa Excelência considera, então, que estes acontecimentos terão um ulterior
desenvolvimento?
Se o Senhor, Sumo e Eterno Sacerdote, não se dignar pôr fim a esta acção de
perversão geral da Hierarquia, a Igreja Católica será cada vez mais obscurecida
pela seita que a ela se sobrepõe abusivamente. Nós confiamos nas promessas de
Cristo e na especial assistência do Espírito Santo, mas não devemos esquecer
que a apostasia dos líderes da Igreja faz parte dos acontecimentos escatológicos
e não pode ser evitada.
Creio que as premissas levantadas até agora – e que, em grande parte, remontam ao
Vaticano II – conduzem, inexoravelmente, de forma cada vez mais explícita a uma
“profissão de apostasia” dos líderes da igreja bergogliana. O Inimigo exige fidelidade
dos seus servos e se, a princípio, parece contentar-se com um ídolo de madeira
adorado nos Jardins Vaticanos ou com uma oferta de terra e plantas colocadas no
Altar de São Pedro, brevemente pretenderá um culto público e oficial que
substitua o Sacrifício perpétuo. Concretizar-se-ia o que Daniel profetizou
sobre a abominação da desolação que está no lugar santo. Faço notar a
expressão precisa da Sagrada Escritura: «Cum videritis abominationem
desolationis stantem in loco sancto»; está claramente escrito que esta
abominação estará, ou seja, encontrar-se-á numa posição de descarada e
arrogante auto-imposição no lugar que lhe é mais alheio e estranho. Será uma
vergonha, um escândalo, uma coisa sem precedentes diante da qual faltam as palavras
de condenação.
O que nos espera se as coisas continuarem nesta direcção?
O que estamos a assistir representa, na minha opinião, o ensaio geral para o
estabelecimento do reino do Anticristo, que será precedido pela pregação do
Falso Profeta, o Precursor daquele que levará a cabo a perseguição final contra
a Igreja antes da vitória definitiva e esmagadora da parte de Nosso Senhor.
O “vazio simbólico” do Altar Papal não é apenas um aviso para aqueles que
fingem não ver os escândalos deste “papado”. Essa é, de certa forma, a maneira com
que Bergoglio deseja habituar-nos a notar uma mudança substancial do Papado e da
própria Igreja; a ver nele não o último de uma longa série de Romanos
Pontífices a quem Cristo ordenou que apascentassem as Suas ovelhas e os Seus
cordeiros, mas o primeiro chefe de uma multinacional filantrópica que usurpa o
nome “Igreja Católica” apenas porque lhe permite gozar de um prestígio e de uma
autoridade dificilmente igualáveis, mesmo em tempos de crise religiosa geral.
O paradoxo é, assim, evidente: Bergoglio sabe que pode destruir eficazmente a
Igreja e o Papado apenas se for reconhecido como Papa; mas, ao mesmo tempo, não
pode exercer o Papado no sentido estrito do termo porque, ao fazê-lo, deve necessariamente
falar, comportar-se e aparecer como o Vigário de Cristo e o Sucessor do
Príncipe dos Apóstolos. É o mesmo paradoxo que vemos na esfera civil ou política,
onde quem é constituído em autoridade para governar a coisa pública e promover
o bonum commune é, ao mesmo tempo, emissário da elite e tem a tarefa de
demolir a Nação e violar os direitos dos cidadãos. Por trás do deep state
e da deep church há sempre o mesmo inspirador: Satanás.
O que podem fazer os leigos e o clero para evitar esta corrida para o
abismo?
A Igreja não pertence ao Papa, muito menos a um conventículo de hereges e
fornicadores que, por meio do engano e da fraude, conseguiram chegar ao poder.
Devemos, deste modo, unir a nossa fé sobrenatural na acção constante de Deus no
meio do Seu povo com uma obra de resistência, como aconselham os Padres da
Igreja: o Católico tem o dever de se opor às infidelidades dos seus Pastores
porque a obediência que lhes deve visa a glória de Deus e a salvação das almas.
Denunciemos, pois, tudo o que representa uma traição à missão dos Pastores,
implorando ao Senhor que abrevie estes tempos de provação. E se um dia ouvirmos
Bergoglio dizer-nos que para permanecer em comunhão com ele devemos realizar um
acto que ofende a Deus, teremos mais uma confirmação de que ele é um impostor e
que, como tal, não tem autoridade alguma.
Rezemos, pois. Rezemos muito e com fervor, lembrando-nos das palavras do
Salvador e da Sua vitória final. Seremos julgados não pelos escândalos de
Bergoglio e dos seus cúmplices, mas pela nossa fidelidade ao ensinamento de
Cristo: uma fidelidade que inicia da vida na graça de Deus, da frequência aos Sacramentos,
dos sacrifícios e das penitências que oferecemos pela salvação dos Ministros de
Deus.
Qual é o seu desejo para o próximo Natal?
O meu desejo é que estes tempos de provação nos permitam ver que onde não reina
Cristo Rei, instaura-se, inevitavelmente, a tirania de Satanás; onde não reina
a Graça, difunde-se o pecado e o vício; onde não se ama a Verdade, acaba-se por
abraçar o erro e a heresia. Se muitas almas tíbias até agora não foram capazes
de se voltar para Deus, reconhecendo que somente n’Ele podem encontrar a plena
e perfeita realização da sua existência, talvez agora possam entender que sem
Deus a nossa vida torna-se um inferno.
Assim como os pastores se prostraram em adoração aos pés do Menino Rei, deitado
na manjedoura, mas significativamente coberto com as faixas que, antigamente,
eram prerrogativa dos soberanos, também nós nos devemos reunir em oração ao
redor do altar – mesmo num sótão ou num porão para escapar à perseguição ou às
proibições de ajuntamentos – porque mesmo na pobreza de uma capela clandestina
ou de uma igreja abandonada, o Senhor desce sobre o altar para se imolar
misticamente pela nossa salvação.
E rezemos para que possamos ver o dia em que um Papa voltará a celebrar, no
Altar da Confissão, o Santo Sacrifício no rito que Nosso Senhor ensinou aos
Apóstolos e que eles transmitiram intacto ao longo dos séculos. Será também
esse um símbolo da restauração do Papado e da Igreja de Cristo.
3 Comentários
«Eu te consagrei; eu faço de ti um profeta para as nações [...] Eles te combaterão, mas não conseguirão vencer-te, porque estou contigo para te livrar»
ResponderEliminar"...quanto mais profundamente está uma época submergida na noite do pecado e no distanciamento de Deus, também mais necessita de almas que estejam intimamente unidas com Ele. Mesmo nessas situações Deus não permite que faltem tais almas. Na noite mais escura surgem os maiores profetas e os maiores santos." (Edith Stein).
ResponderEliminarDeus o guarde Mons. Vigano!
Estou com minha fé mais reforçada, pois Deus nunca nos abandona e ELE NÃO ESTÁ DE BRAÇOS CRUZADOS, Jesus eu confio em VÓS.
ResponderEliminar«Tudo me é permitido, mas nem tudo é conveniente» (cf. 1Cor 6, 12).
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