Publica-se,
na íntegra, o texto da conferência que, esta tarde, o Prof. Roberto de Mattei
proferiu, em exclusivo e através do Skype, para o portal Dies Iræ. A próxima conferência, a anunciar brevemente, terá um outro orador e o tema será o Santo Natal.
Uma questão de método: fé e razão
2020 conclui-se com um cenário
internacional há um ano inesperado. Um cenário que nos obriga a analisar atentamente
a pandemia do coronavírus à luz da fé, mas também da razão.
É uma questão preliminar de método: o equilíbrio entre a fé e a razão que são os
fundamentos do conhecimento das coisas últimas.
O fenómeno da perda da fé, numa sociedade secularizada como a contemporânea, é
evidente para todos. É menos evidente o fenómeno da perda da razão, mas existe.
E se à perda da fé se segue uma visão do mundo ateia e secularizada, cai-se
naquilo que o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira define como «o apagamento da
lumen rationis».
A fé pressupõe o uso correcto da razão, assim como a graça pressupõe a
natureza, sem negá-la. O bom uso da lógica abre a nossa mente à fé, que é a
submissão da razão às verdades reveladas por Deus.
A história do mundo, como a nossa vida, move-se, portanto, segundo duas
dimensões: uma natural, baseada no uso da razão e da liberdade pelo homem; a
outra sobrenatural, baseada na contínua presença de Deus nos acontecimentos
humanos. Na verdade, nada acontece que não seja ordenado por Deus para o nosso
bem e a sua glória, que é o fim do universo criado. A Divina Providência é a
mão de Deus que opera no tempo o que sua Mente Divina pensou e desejou desde a
eternidade.
Diante de um fenómeno como o coronavírus, é necessária, portanto, uma análise
histórica, que procure compreender as causas humanas, e uma reflexão teológica,
que insira a dimensão natural do acontecimento na dimensão sobrenatural.
A doutrina da Igreja
A doutrina da Igreja sobre as epidemias é expressa pela cerimónia das
Rogações, as procissões em que se implora a ajuda do Céu contra as calamidades
com estas palavras: A fame, peste et bello libera nos, Domine: da fome, da
peste e da guerra livrai-nos, Senhor.
Terramotos, carestias, epidemias, guerras, revoluções foram sempre considerados,
pelo povo cristão, castigos divinos. Como escreve o P. Pedro de Ribadaneira
(1527-1611) «guerras e pestes, secas e carestias, fome, incêndios e todas as
outras desastrosas calamidades são castigo aos pecados das populações»[1].
São Carlos Borromeu recorda que, «entre todas as outras correcções que a sua
divina Majestade envia, o castigo da peste costuma ser, de um modo mais especial,
atribuído à sua mão» e explica este princípio com o exemplo de David, o rei
pecador, a quem Deus deu a escolher, como castigo, entre a peste, a guerra e a
fome. David escolheu a peste com estas palavras: «Melius est ut incidam in
manus Domini, quam in manus hominum». É melhor colocar-me nas mãos de
Deus do que nas mãos dos homens. Por conseguinte, conclui São Carlos, «a
peste, entre a guerra e a fome, atribui-se, muito especialmente, à mão de Deus»[2].
O historiador Gaetano Moroni (1802-1883), no seu famoso Dizionario di
erudizione, escreve que: «Peste significa qualquer espécie de flagelos, castigo
divino que incute a todos salutar pavor e temor, sacudindo os pecadores
obstinados para o verdadeiro arrependimento, com admiráveis efeitos, sendo os
pecados a fonte perene de todas as adversidades»[3].
As doenças fazem-nos compreender a nossa fragilidade, que é uma consequência do
pecado original, pois foi só depois do primeiro pecado dos nossos progenitores,
Adão e Eva, que as doenças, o sofrimento, a morte começaram a afligir o homem.
Mas quando as doenças se manifestam não só a nível individual, mas colectivo,
como acontece com as epidemias, o que Deus nos recorda é a precariedade da sociedade
quando se afasta de Deus. Não existe, efectivamente, um pecado original da
sociedade, mas existe o pecado colectivo dos homens que a compõem. E Deus pune
ou recompensa na vida futura cada um individualmente, mas pune e recompensa a
sociedade no aqui e agora, no seu horizonte terreno, porque as sociedades não
têm vida eterna, ao contrário dos homens. As epidemias foram sempre consideradas
um castigo para os homens e a Igreja opôs-lhes a prática da oração e da
penitência.
A primeira grande epidemia que se recorda na história da Igreja, a de 590
depois de Cristo, tem o seu símbolo na procissão penitencial do Papa São
Gregório Magno. No fim da procissão, apareceu, no cimo do Mausoléu de Adriano,
um Anjo que embainhava a sua espada significando o fim da peste.
Todas as epidemias que, desde então, se seguiram na história, foram
consideradas castigos divinos. Recordemos, por exemplo, a célebre “peste negra”
de 1348, que marcou, num certo sentido, o fim da Idade Média; mas também a
epidemia do “mal francês”. O historiador Ludwig von Pastor observa: «Os três
cavaleiros do Apocalipse, guerra, fome e morte, que Dürer havia desenhado, no
fim do século XVI, como uma profecia do que estava por vir, fizeram a sua
terrível viagem para Itália. A fúria da guerra percorreu o país como um
poderoso furacão, destruindo casas e campos, sequestrando homens. No fim, o
jardim da Europa foi transformado num campo de batalha semeado de cadáveres,
que logo se tornou num lar de peste»[4].
À peste juntou-se a doença da sífilis. A devassidão dos costumes causou uma
rápida propagação da doença, também chamada de “mal francês” porque foi trazida
para Itália pelo exército do rei de França Carlos VIII: «Como noutros países
europeus, também em Itália a nova doença era considerada como um justo castigo
pelos pecados dos homens e pela grande imoralidade»[5].
A cólera de 1837
Mas, para demonstrar o que pensa e como se comporta a Igreja, eu gostaria
de propor um exemplo mais recente: a epidemia de cólera que assolou a Europa no
século XIX.
Esta doença partiu, em 1817, das margens do Ganges, na Índia, e espalhou-se em
toda a Europa e nas duas Américas. Em 1832, chegou a Paris, depois à Espanha e,
em Julho de 1835, cruzou as fronteiras do Norte de Itália, em Nizza, Génova,
Turim.
Gregório XVI, eleito em 1831 para o trono papal, enviou, em 1835, uma comissão
médica a Paris para ter um relato científico da doença, cuja natureza era
desconhecida. Em Itália, no primeiro aparecimento da doença, abrira-se um aceso
debate entre duas escolas médicas, os “contagionistas” e os “epidemistas”, para
determinar se a cólera era uma doença contagiosa ou epidémica. Os
“contagionistas” julgavam que a difusão da doença ocorria por contacto directo
ou indirecto com o doente e que, consequentemente, as medidas para contê-la
deveriam consistir no estabelecimento de cordões sanitários e quarentenas. Os
“epidemistas” afirmavam, por outro lado, que a causa das doenças deveria ser
procurada nas más condições de higiene e nos miasmas da atmosfera, e opunham-se
às medidas de isolamento e de quarentena, a partir do momento em que é
impossível impedir a circulação do ar[6].
Geralmente, os governos monárquicos pendiam para a hipótese contagionista,
enquanto que os liberais e os carbonários, que consideravam tirânicas todas as
iniciativas lesivas das liberdades individuais, apoiavam a hipótese epidemista
e, quando a doença atingiu o Reino das Duas Sicílias, espalharam a notícia de
que a cólera teria sido causada por um veneno propagado pelo próprio governo
Bourbon.
Gregório XVI, que condenou o liberalismo na encíclica Mirari vos, de 15
de Agosto de 1832, estava inclinado para hipótese contagionista. A 12 de
Agosto, a Congregação Sanitária criada pelo Papa publicou um Regulamento e
método para a activação dos cordões sanitários para impedir, nas fronteiras do
Estado Pontifício e também nalgumas zonas no seu interior, a entrada e saída de
homens e de coisas que, de qualquer modo, pudessem transmitir e propagar o
contágio. Os cordões sanitários eram constituídos por duas barreiras sucessivas,
com largura de uma milha (o cordão “infectado” e o cordão “saudável”),
controladas por uma série de sentinelas que impediam rigorosamente o acesso a
qualquer pessoa. Entre os dois cordões, havia, pelo menos, três casas onde as
pessoas deveriam passar quatorze dias em quarentena. Ao decreto foram anexas
ulteriores disposições, entre as quais o uso de “passaportes sanitários”,
emitidos para aqueles que, sob controlo, poderiam circular livremente, e a
segregação imediata e completa dos municípios «onde, por uma desgraça,
eclodisse o mal». Foi, então, ordenado que se, apesar de todas as
precauções, a doença entrasse numa parte da cidade, se deveria “barricar as
ruas”, providenciado, ao mesmo tempo, os mantimentos à população. No final,
recordava-se a extrema severidade com que seriam punidas as violações de tais
disposições: as penas previam até à prisão perpétua em caso de passagem
clandestina pelos cordões e a pena de morte para os casos de contágio culpado[7].
A 7 de Janeiro de 1837, a Comissão Militar instituída por Gregório XVI
comunicou que havia condenado seis pessoas a prisão perpétua, culpadas por
terem rompido o cordão sanitário, e, a 14 de Janeiro, entre os protestos de
muitos, foi publicado um decreto com o qual era proibida a celebração do
histórico carnaval romano. Na quarta-feira de cinzas, o Cardeal Odescalchi
recordava aos romanos de «querer aplacar com jejuns, orações e outras obras
de piedade a ira do Omnipotente, causada pelas graves culpas, a fim de afastar
os flagelos que nos ameaçam».
As armas com que Gregório XVI enfrentou a cólera foram, assim, duas: penitência
e quarentena.
Em Julho de 1837, anunciavam-se os primeiros casos de cólera em Roma. A opinião
pública dividiu-se entre os que admitiam e os que negavam a existência da
epidemia. No entanto, a cólera aumentou entre Julho e Setembro. Enquanto que os
círculos liberais continuavam a espalhar o boato de que o governo pontifício
teria espalhado deliberadamente a doença, Gregório XVI ordenou o reforço dos
cordões sanitários e a suspensão de todas as festas, feriados e todo o tipo de
ajuntamento. Foram mobilizadas as tropas, fechadas as fronteiras e os
desembarques, e dadas ordens aos corpos de cavalaria para baterem os lugares
mais remotos. A 6 de Agosto, foi feita uma solene procissão com o ícone de
Nossa Senhora de São Lucas, da Basílica de Santa Maria Maior à Igreja de Jesus,
onde a imagem miraculosa permaneceu exposta oito dias. A Nossa Senhora,
precedida por um piquete de dragões a cavalo, prestou homenagem, ao longo do
percurso, o Papa com todo o Sacro Colégio e o governo romano.
Entre os sacerdotes que se destacaram na heróica assistência aos doentes e no
socorro aos moribundos, estavam São Vicente Pallotti e São Gaspar de Búfalo.
Segundo o Diario di Roma da época, no espaço de três meses, de 28 de
Julho a 9 de Outubro de 1837, os afectados pela cólera na Cidade Eterna foram 8.090
e 4.446 os mortos. Também morreu, a 28 de Dezembro, São Gaspar de Búfalo, a
cuja morte assistiu São Vicente Palotti, vendo que a sua alma subia ao céu como
uma chama. Entre os afectados pela cólera em forma benigna, estava o abade
beneditino de Solesmes, Dom Prosper Guéranger, que se encontrava em Roma para
obter a aprovação oficial da sua fundação. Uma vez recuperado e obtido o
reconhecimento por Gregório XVI, Dom Guéranger tentou regressar a França, mas o
seu biógrafo diz que as comunicações do Estado Pontifício com o resto do mundo
estavam suspensas e o cordão sanitário bloqueava o porto de Civitavecchia e todas
as outras estradas. Só a 4 de Outubro é que Dom Guéranger conseguiu deixar o
Estado Pontifício e, após uma interminável viagem, conseguiu, finalmente,
chegar a Paris[8].
A epidemia, entretanto, desapareceu lentamente e, a 15 de Outubro, nas três
Basílicas Patriarcais de São João, São Pedro e Santa Maria Maior e em todas as
igrejas paroquiais, cantou-se solenemente o Te Deum, com indulgência
plenária, em agradecimento pelo fim da cólera.
Doze anos depois, em 1849, o furacão da República Romana, muito pior que a
epidemia de cólera, varreu a cidade de Roma, obrigando o novo Papa Pio IX a
fugir.
O bom uso da razão
Passemos, agora, a considerar o bom uso da razão, necessário para encarar
um problema complexo como este do coronavírus.
Existe uma ciência do pensamento que se chama lógica. O fim da lógica é a procura
e a demonstração da verdade[9].
São Tomás de Aquino diz que «o procedimento da razão que leva ao conhecimento
do desconhecido, na investigação do verdadeiro faz-se aplicando os princípios
gerais a determinadas matérias e, depois, passando a outras particulares
conclusões e destas a outras»[10].
O raciocínio é uma espécie de caminho que a mente faz, passando, de forma
ordenada, dos princípios às conclusões[11].
A demonstração é qualquer raciocínio que se funda em certos princípios e
que conduz a uma determinada conclusão. O processo pode ser dedutivo,
quando procede dos princípios às consequências (para síntese), ou indutivo,
quando das consequências remonta às causas (para análise).
A hipótese é a premissa de um raciocínio, não necessariamente verdadeira,
e, consequentemente, não precisa de ser demonstrada.
A tese é a hipótese de que se quer verificar a verdade. O raciocínio que
é necessário seguir para chegar a tal verdade chama-se demonstração.
A demonstração é uma série de raciocínios lógicos que, partindo de uma
hipótese, demonstram a verdade de uma tese.
É necessário, antes de mais, ter cuidado para não confundir as hipóteses com as
teses, que precisam de ser demonstradas para se tornarem certezas. Hoje, porém,
vemos, na blogosfera, expostas, como certezas, hipóteses, por vezes razoáveis,
por vezes improváveis, mas sempre hipóteses.
A confusão entre hipótese e verdade corresponde, no campo jurídico, àquela
entre indício e prova. O indício é um facto que nos
permite prever ou deduzir, com alguma validade, um outro facto ainda não
ocorrido ou não conhecido directamente, mas não é prova.
O fundamento da lógica é o princípio da não contradição, assim, a lógica
é a arte de julgar e de raciocinar em coerência com o princípio da não contradição.
O raciocínio é a passagem do conhecido ao desconhecido através da demonstração
da realização lógica de uma verdade de uma outra.
O sofisma é um raciocínio falso,
aparentemente válido, mas baseado, na realidade, em erros lógicos.
Os sofismas de indução são 3: 1) sofisma do acidente, que consiste
em tomar como essencial o que é habitual (este medicamento está sem efeito,
então o médico é um charlatão; Conte gere mal a emergência COVID, então Conte
faz parte de um plano de dominação mundial); 2) sofisma da ignorância da
causa (uma lesão cerebral produz distúrbios mentais, por conseguinte, o
pensamento é um produto do cérebro); 3) Sofisma da enumeração imperfeita,
que consiste em tirar uma conclusão geral a partir de uma enumeração
insuficiente dos casos. Exemplo: aquele padre é corrupto, logo todos os padres
são corruptos. Também é chamado de generalização indevida, porque se generaliza
algo sem distinções com base na circunstância de que esse algo se deu num caso
particular.
Os sofismas de dedução são 4: 1) ignorância do assunto (o Papa
não é infalível porque pode pecar); 2) petição de princípio (o
pensamento é um produto do cérebro, então o pensamento é um produto da matéria
orgânica; 3) círculo vicioso ou dialelo (provar a ordem do mundo com a sabedoria
divina e a sabedoria divina com a ordem de mundo; 4) redução das questões a uma
só (falso dilema; a terra é mar ou céu?).
A renúncia ao uso da lógica leva ao triunfo da imaginação, que é uma
forma de pensamento que não segue regras fixas nem vínculos lógicos, mas é,
muitas vezes, determinada por um estado emocional e orientada em torno de um
tema fixo. A imaginação é um sentido interno, o mais nobre dos sentidos
internos, mas o que mais facilmente nos leva ao erro.
Petição de princípio e círculo vicioso
Sobre o tempo do coronavírus, há muitos erros lógicos que levam a um apagamento
da lumen rationis e ao triunfo da imaginação.
Começa-se com um erro em que se confundem a causa e o efeito: «Existem
graves danos, sejam psicológicos ou económicos, produzidos pelo bloqueio, pelo
que o bloqueio deve ser abolido».
Por que se confunde a causa com o efeito? Porque a causa do bloqueio é a doença
e, como tal, os graves danos económicos e sociais que o bloqueio produz devem
ser atribuídos não ao bloqueio, que é a causa secundária, mas à doença, que é a
causa primária. Na verdade, sem doença, nada de bloqueio, e, sem bloqueio,
nenhum dos danos que produz. Mas, para suprimi-los, não basta suprimir o
bloqueio, seria necessário, antes de mais, suprimir a doença.
Naturalmente, o bloqueio pode ser uma medida errada ou desproporcionada, mas
não é a causa principal do mal que produz. A quem defende que a abolição do bloqueio,
suprimindo o efeito e não a causa, causaria maior disseminação da doença, o
conspirador responde que a doença não existe ou é sobrestimada oscilando entre
dois sofismas de dedução, que são o círculo vicioso e a petição de
princípio, para os quais a proposição que deve ser provada é suposta nas
premissas. A afirmação a provar é, deste modo, tida como certa durante o
raciocínio que deve, pelo contrário, demonstrar que é verdadeira. Quem analisar
atentamente as posições dos negacionistas perceberá que eles se reduzem a este
argumento falacioso: “o bloqueio é um instrumento da ditadura sanitária, porque
a ditadura sanitária tem como expressão o bloqueio” ou “o bloqueio faz parte de
um plano mundial, porque a nível mundial é funcional o bloqueio”, que é como
dizer que “Roma encontra-se em Itália, logo em Itália existe Roma”.
Este estrabismo mental é, certamente, uma repercussão psíquica do bloqueio e, em
vista disso, do coronavírus, mas o bom uso da lógica leva-nos a atribuir a
causa última não a um embuste sanitário, mas sim a um castigo divino que cega,
mesmo entre os bons, aqueles que quer perder.
Um outro erro, que constitui um fundamento da conspiração, é o do cui
prodest, “A quem beneficia” um determinado facto, implicando como
verdadeira a hipótese de que tal acontecimento tenha sido, necessariamente,
provocado, propositadamente, por aqueles a quem trouxe benefícios de qualquer
espécie (não apenas lucros económicos). A quem beneficia o alarmismo? A quem beneficia
o bloqueio? A quem beneficia o estado de emergência?
Dizer, por exemplo, que, já que as empresas farmacêuticas enriquecem nas
epidemias, as empresas farmacêuticas são a causa das epidemias, seria o mesmo
que dizer que, uma vez que os fabricantes de canhões lucram economicamente com
as guerras, os comerciantes de canhões são a causa das guerras. E, de facto, há
aqueles que aplicam o princípio do cui prodest categoricamente,
cometendo um salto lógico que Santo Tomás rejeitaria.
Também é falaz o princípio do post hoc propter hoc. Neste caso, o
sofisma está em substituir o nexo causal, que deve caracterizar cada operação
da razão, por um nexo de carácter puramente temporal, que substitui a ordem
lógica com a cronológica, supondo que, se um evento é seguido por um outro, então,
o primeiro deve ser a causa do segundo. Na verdade, uma sucessão temporal é
necessária para que haja uma relação causal, uma vez que cada efeito deve ser
precedido por uma causa, mas esta ligação temporal não é suficiente para provar
nada.
Castigo ou conspiração?
Quando a lógica salta, à razão substitui-se a imaginação e à demonstração
substitui-se a narração. Numa época em que o sonho do progresso é substituído
pelo do caos, às utopias contrapõem-se as “distopias” que nos representam o
futuro de forma igualmente imaginária e deformada. As distopias, como as
utopias, são um género literário, mas as forças revolucionárias também podem
servir-se destes meios para realizar os seus planos. Romances distópicos: Admirável
Mundo Novo, de Huxley, 1984, de Orwell, mas também O mestre do
mundo, de Benson. Mas um romance é um romance: pode-nos ajudar a
compreender a realidade, mas não é realidade, é uma narração. Para compreender
totalmente um acontecimento tão complexo como a explosão da pandemia do
coronavírus, é necessário utilizar, com atenção, o instrumento da lógica,
iluminada pela fé. Deve-se ter cuidado com os falsos mestres, vindos das
fileiras da Revolução, que pretendem explicar o que está a acontecer sem a luz
da fé e fazendo um mau uso da razão. Diante do coronavírus, há o risco de
confundir a realidade com uma distopia, como aquela que conta a existência de
uma conspiração planetária, da qual o vírus é instrumento, para submeter a
humanidade a um invisível poder político e financeiro. A hipótese de que o
coronavírus seja um germe patógeno produzido artificialmente, dentro de um
plano de guerra biológica, e saído de um laboratório, de forma involuntária ou
intencional, é, certamente, possível. Se assim fosse, a hipótese mais provável
que se seguiria é que a responsabilidade pela saída do laboratório, voluntária
ou involuntária que seja, deva ser atribuída à China comunista. As hipóteses,
por mais verdadeiras que possam ser, não são, todavia, certezas até que sejam
apoiadas por provas. A única certeza que, hoje, temos, tanto no caso de o
coronavírus ser um flagelo natural, tanto no caso de se tratar de uma pandemia
organizada, é que nada acontece na história que não seja desejado pela Divina
Providência e que Deus se serve dos desastres colectivos para punir os pecados
dos homens.
Estou convencido de que as forças secretas existem e actuam na história. As
forças secretas são os agentes da Revolução, que é um processo histórico que
tem como fim, se Deus o permitisse, a destruição da Igreja e da civilização
cristã. Não teria havido a Revolução, na forma em que existe e com o sucesso
que alcança, se fosse um movimento espontâneo, se não fosse dirigida por uma
organização que a impulsa no mundo inteiro.
O estudo da Revolução é, principalmente, o estudo das causas e dos efeitos que
ela produz na história. Revolução e Contra-Revolução, do Prof. Plinio
Corrêa de Oliveira, é a obra magistral que nos orienta neste estudo[12].
Porém, a identificação das forças secretas que movem a Revolução é um objecto
de estudo para o qual é necessária uma documentação precisa, uma atenta análise
conduzida à luz da razão e da fé e, em última análise, um grande equilíbrio.
Temo que estas características faltem em muitas teorias da conspiração surgidas
sobre o coronavírus. E é por esta razão que apelo à prudência e, sobretudo, à
utilização de um método sério e inatacável. Algumas teorias da conspiração
parecem tão falsas e ridículas que surge a suspeita de que sejam disseminadas
pelos próprios agentes revolucionários para ridicularizar e desacreditar
qualquer crítica às forças secretas que dirigem a Revolução.
A “janela de oportunidade”
As forças secretas permaneceram ociosas durante a epidemia do coronavírus?
Certamente não. As forças revolucionárias, sob a direcção do príncipe das
trevas, nunca param de operar na história. É, pois, compreensível que, apesar
de não terem provocado o coronavírus, tenham visto nele uma grande “janela de
oportunidade”.
O conceito de “janela de oportunidade” refere-se à teologia da história segundo
a qual Deus é a causa de todo o bem no universo e, quando permite o mal, fá-lo
para extrair dele um bem maior. Logo, Deus é sempre vencedor na história e o
diabo é sempre derrotado. A estratégia diabólica, em oposição à divina,
consiste em tentar fazer sempre o mal e de converter para o mal todo o bem de
que Deus é o autor no universo. Existe, pois, uma “janela de oportunidade
divina”, que consiste em tirar o bem do mal, e uma “janela de oportunidade
diabólica”, que consiste em tirar o mal do bem.
Isto também se aplica no caso do coronavírus. Se a pandemia é um castigo
desejado por Deus para o bem da humanidade, a Revolução procura utilizar essa
punição como “janela de oportunidade” para avançar no seu processo. É esta a
tese de fundo de dois expoentes da Quarta Revolução contemporânea: o sociólogo
esloveno Slavoj Žižek[13], no seu e-book Virus. Catastrofe e
solidarietà, e o sociólogo Edgar Morin, no seu livro Cambiamo strada. Le
15 lezioni del Coronavirus[14]. Žižek afirma que, para a Revolução
Comunista, da qual é adepto, neste momento, «tudo é possível, em qualquer
direcção, da melhor à pior» e Morin diz: «O pós-Coronavírus é tão
perturbador quanto a própria crise. Poderia ser seja apocalíptico, seja
portador de esperança». Como será o mundo de amanhã? O futuro imprevisível
está, hoje, em gestação. Žižek e Morin admitem que foram tomados de surpresa
pelo coronavírus, que, no entanto, deve ser usado como uma janela de
oportunidade. É o que está a fazer a Revolução, relançando, por exemplo, a
velha teoria do “great reset”.
O economista alemão Klaus Schwab, fundador do World Economic Forum,
também dito “Fórum de Davos”, falou, a 3 de Junho de 2020, da “grande
oportunidade” de um novo acordo para uma “grande transformação” ou “great
reset”. Este conceito não nasce com o coronavírus. A 12 de Setembro de 2019, o
Papa Francisco convidou os líderes das principais religiões, e os expoentes
internacionais do mundo económico, político e cultural, a participarem num
solene evento que aconteceria, no Vaticano, a 14 de Maio de 2020. A 21 de Janeiro de 2020, o Papa dirigiu uma mensagem a Klaus
Schwab, Presidente Executivo do World Economic Forum (WEF), de Davos,
sublinhando a importância de uma “ecologia integral” que tenha em conta «a
complexidade e a interconexão da nossa casa comum». E, a 14 de Maio de 2020,
deveria ter ocorrido, no Vaticano, o Global Compact on Education,
um pacto educacional global. Este evento e outros em agenda foram cancelados
por causa do coronavírus, mas as manobras, evidentemente, continuam. Mas não
são teorias nascidas com o coronavírus. A ideia de que a sociedade deva ser
transformada através da desindustrialização, da digitalização da economia, da
abolição ou da redução do trabalho, do salário universal, datam da década de
1990. Estas utopias eram expostas, por exemplo, por autores como o filósofo
marxista Adam Schaff, segundo o qual o desemprego estrutural «não é um
destino funesto, mas, pelo contrário, realizando-se determinadas condições,
pode trazer benefícios aos homens e anunciar um futuro radiante. Esse é um
desafio à maldição bíblica que condenou os homens a ganharem, com dificuldade,
o pão quotidiano»[15].
O coronavírus é a realização destas utopias ou um castigo por essas utopias,
hoje feitas, precisamente, pelas supremas autoridades da Igreja? A única
certeza que temos é esta: os homens que governam a Igreja não só não cultivaram
a “janela de oportunidade”, aberta pelo coronavírus, mas continuam a partilhar
as ideias antigas e neo-marxistas.
O que deveria fazer a Igreja e o que deveriam fazer todos os católicos
diante de uma pandemia como a que nos está a atacar? Seria preciso recordar que
todos os males da humanidade têm a sua origem no pecado, que o pecado público é
mais grave do que o pecado individual e que Deus castiga os pecados sociais com
os flagelos das doenças, das guerras, da fome e dos desastres naturais. Se o
mundo não se arrepende e, principalmente, se os homens da Igreja se calam, os
castigos que, a princípio, são infligidos de maneira branda, estão destinados a
agravar-se cada vez mais, até chegarem à aniquilação de nações inteiras.
Não é de admirar que a sociedade contemporânea, incapaz de dar um sentido à
vida, caia na angústia diante da doença e da morte. É de admirar, em vez, o
silêncio de quem tem todas as armas para derrotar não a morte, mas a angústia
que a cerca: os ministros da Igreja Católica Apostólica Romana, que guarda
todas as verdades sobre a vida e a morte dos Homens e o seu destino
ultraterreno e é a única a ter palavras de vida eterna (Jo 6, 88).
O coronavírus parece ser um castigo misericordioso para despertar a humanidade
e, sobretudo, os homens da Igreja. Se este despertar não ocorrer, e,
infelizmente, não está a acontecer, abater-se-á sobre a humanidade um castigo,
de forma mais grave, que também poderá ser diferente de uma terceira onda da
epidemia. Estamos às vésperas de um crash económico global? E quais seriam as
consequências, nas cidades europeias, se, nalgum país europeu, o colapso do
sistema de saúde se misturasse com o colapso da zona euro? Podem-se imaginar
revoltas de imigrantes e guerras civis? As hipóteses de guerras convencionais, nucleares ou biológicas são assim remotas? O cenário dos próximos meses é
inquietante, mas ninguém consegue fazer previsões.
A grande esperança
Deus é paciente e adverte
sempre antes de infligir os seus castigos finais. O coronavírus parece ser um
aviso da Divina Providência para tornar a humanidade consciente dos seus erros. Em Fátima, Nossa Senhora anunciou que, se o mundo
não se convertesse, diversas nações seriam aniquiladas. Fátima não é uma
narrativa apocalíptica de origem humana, mas um anúncio divino reconhecido pela
Igreja. Quais serão essas nações? E qual será o modo da aniquilação?
Houve um tempo em que pensávamos na guerra nuclear, mas, depois, ao espectro da
guerra nuclear seguiram-se a guerra psicológica, a económica, a informática e,
hoje, talvez a biológica. Alguma nação ou grupo começou a utilizar armas
biológicas destrutivas? Essas armas escaparam involuntariamente de um
laboratório? Ou o coronavírus é uma intervenção directa da Divina Providência? Ninguém
pode afirmá-lo com certeza. Apenas se podem colocar hipóteses. O que é certo é
que o principal castigo não é a destruição dos corpos, mas o ofuscamento das
almas que reina em todos os sectores, também entre os católicos fiéis à
Tradição.
O que fazer nesta situação? Sem medo e sem angústia, continuemos a fazer aquilo que temos feito: pregar a
verdade, contando não com a nossa força, mas com a ajuda divina da Graça. O
cenário que Nossa Senhora abre em Fátima enche o coração não só de temor, mas
também de esperança.
Deus é infinitamente justo, mas a sua última palavra é sempre a da
misericórdia. Por isso, enfrentemos com temor, mas também com imensa confiança,
os dias difíceis que, certamente, ainda nos esperam. Santo Agostinho disse: «Tendes
medo de Deus? Salvai-vos entre os seus braços». É a própria Nossa Senhora
que nos convida a refugiar-nos nos seus braços com aquelas palavras cheias de
misericórdia e de esperança que dissipam todos os temores: «Por fim, o meu
Imaculado Coração triunfará».
Roberto de Mattei
[1] PIETRO RIBADANEIRA, La tribolazione
e i suoi conforti, Civiltà Cattolica, Roma 1914, p. 207.
[2] S. CARLOS BORROMEU, Memoriale ai
Milanesi, Giordano Editore, Milano 1965, p. 34.
[3] Dizionario di
erudizione storico-ecclesiastica, Tipografia Emiliana, Venezia
1840-1861, vol. 52, p. 219.
[4] PASTOR, Storia dei Papi, vol. IV, 2, p. 582.
[5] Ibid., vol. III, p. 8.
[6] Cfr. EUGENIA TOGNOTTI, Il mostro
asiatico. Storia del colera in Italia, Laterza, Roma-Bari 2000.
[7] MARCELLO TEODONIO, FRANCESCO NEGRO, Colera,
omeopatia ed altre storie, Roma 1837, Fratelli Palombi, Roma 1988, pp.
38-39.
[8] Dom Guy-Marie Oury, Dom Guéranger
moine au coeur de l’Eglise, Editions de Solesmes, 2000, pp. 158-160.
[9]
Cfr. Battista Mondin, Logica, semantica gnoseologia, Edizioni Studio
Domenicano, Bologna 1999, pp. 110-111); Claudio Antonio Testi, La
logica di Tommaso d’Aquino, Bologna, Edizioni Studio Domenicano, Bologna
2019.
[10] S. TOMÁS DE AQUINO, Quaestiones disputatae, De Magistro,
art. 1.
[11] S.
TOMÁS DE AQUINO, In V
Metaphysicorum lect., 1, n. 759.
[12] Plinio Corrêa de Oliveira, Rivoluzione e
Contro-Rivoluzione, Sugarco, trad. it. Milano 2009.
[13] SLAVOJ ZIZEK, Virus.
Catastrofe e solidarietà, Ponte alle Grazie, Firenze 2020.
[14] EDGAR MORIN, Cambiamo strada. Le 15
lezioni del Coronavirus, trad. it. Raffaello
Cortina Editore, Trebaseleghe (PD 2020.
[15] A. SCHAFF, Chi ha paura della disoccupazione
tecnologica? in Mondoperaio; n. 11, Novembro de 1989, p. 98.
Mattei começa o texto evocando a perda do equilíbrio da fé e razão, induzindo já no início a ideia de que ele é quem está com a razão, o que não se provará no texto. Em seguida cita Plínio, o que induz a pensar que ele está de acordo com Plínio, mas não é preciso conhecer muito de Plínio Corrêa para saber que se estivesse vivo, muito provavelmente estaria com uma opinião contrária à Mattei nessa questão do coronavírus. Em seguida fala um pouco sobre lógica e razão, mais uma vez induzindo ao leitor pensar que por falar delas o autor está sendo lógico e com a razão, o que, insista-se, não será provado.
ResponderEliminarA partir da segunda parte da conferência, intitulada “A doutrina da Igreja”, Mattei começa a falar sobre como a Igreja vê as pandemias, de forma a relacionar a presente situação com as pandemias. Mas ignora que antes há o problema de que não há pandemia atualmente, problema esse que se resolve no âmbito da observação das evidências, e que só depois de definido, é que se pode fazer a aplicação teológica, como dizer que a pandemia seria um castigo divino. Mas não há pandemia atualmente. O que se pode dizer é que as medidas impostas pelos governos e poderes supranacionais é que na verdade são castigos divinos, concordando com o que ele põe de Gaetano Moroni, que pode-se dizer que qualquer flagelo significa peste de algum modo. Mas não é isto que Mattei faz.
Na terceira parte da conferência, “A cólera de 1837”, Mattei começa a falar de um evento específico no século XIX para fundar sofismas. Ao descrever a atitude dos “liberais e carbonários”, que supostamente “consideravam tirânicas todas as iniciativas lesivas das liberdades individuais” e que propagaram fraude, de apoiar a hipótese “epidemistas”, já começa a colocar no leitor, mesmo que talvez não seja a intenção de Mattei, a ideia de que quem é contra as presentes medidas tomadas pelos governos é liberal, e que considera tirânica toda iniciativa lesiva de liberdades individuais, e que espalha ideias conspiracionistas, o que é falso.
Em seguida Mattei conta o que fez Gregório XVI, mais uma vez passando, intencionalmente ou não, a ideia de que quem é contra as atuais medidas é liberal. Descreve as medidas tomadas pelo papa para conter a doença que ocorreu sob seu pontificado, que eram restritivas, passando a ideia, intencionalmente ou não (mas sabemos muito bem porque pôs isso no texto), de que por ter o papa ordenado isto no passado para a doença que ocorreu à época, ele estava certo e também que isso é o que deve ser feito hoje frente a suposta pandemia. O que carece de evidências, pelo contrário.
Mattei descreve como algumas pessoas não admitiram a existência da epidemia no século XIX e que acusavam o papa de conspiração, relacionando, intencionalmente ou não, os que contestam a atual suposta “pandemia” com aqueles do século XIX, e os que atualmente acusam os governos e organizações supranacionais de conspiração com os que então acusaram o papa de conspiração, o que constitui sofisma.
ResponderEliminarMattei termina esta parte de seu texto sem mencionar que o cólera é uma doença que se transmite pela água, e não de uma pessoa para outra, como John Snow provou cientificamente em 1854, o que coloca em dúvida se as medidas de restrições adotadas pelo papa foram úteis para combater a doença que afligia Roma. Não se entenda aqui que digo que o papa errou ou que foi mal intencionado, não é isto que digo, pois à época da epidemia de Roma ainda não se sabia que o cólera se transmitia pela água, mas tão somente coloco em cheque se as medidas de restrição que adotou foram úteis ou não. Pois bem, com o conhecimento das evidências científicas hoje não se isola ninguém por conta de cólera.
Mattei abre a quarta parte da conferência com o título “o bom uso da razão”, evidentemente clamando para si que a tem e que portanto irá ensiná-lo. Começa citando Santo Tomás, falando sobre lógica, verdade e raciocínio, o que deixa a ideia, intencionalmente ou não, de que o autor está com a verdade, usa bem a lógica, faz bons raciocínios e está com Santo Tomás. Mas nada disso se prova. Aliás, não menciona que o bom senso, ou senso comum a depender de como se traduz (não misturar com o sentido comum), é extremamente prezado por Santo Tomás. Não é preciso ter bom senso muito apurado para ver como todas essas presentes medidas são contra o bom senso, e qual posição adotaria Santo Tomás se estivesse vivo hoje.
Mattei diz que na blogsfera há muitas hipóteses que sempre são hipóteses. Como se os dados disponíveis não fossem suficientes para provar que não há pandemia, que as medidas adotadas não são sãs e que os medicamentos disponíveis funcionam. Contra o que ele diz, isto não são hipóteses mais, e sim certezas.
Em seguida ele continua com sua já exposta estratégia de explicar como funciona a lógica para que a posição que se coloca seja vista como sendo lógica. Também faz isso com os sofismas, de forma que a posição contrária à que ele defende seja vista como sofística, e que a dele mesmo isenta de sofismas.
Dá exemplos do que para ele são sofismas: que tal médico seja charlatão, ou que Conte faz parte de um plano de dominação mundial. Como se isso fosse impossível e afirma-lo fosse sofisma. Está certo ao dizer que querer concluir isto do fato que Conte gere mal a “emergência do COVID” é sofisma, mas não se resume nisso a argumentação dos que assim pensam. Não que eu esteja a afirmar isso de Conte, porque não importa.
ResponderEliminarContinuando sua estratégia de falar de lógica para que sua posição sobre o assunto do COVID seja vista como lógica, diz algo sobre o triunfo da imaginação e pensamento emocional. Só esquece de dizer é que é justamente a mídia que apela à emoção para passar a narrativa imaginária do COVID, que é emocionalmente comprada pelos tipos mais instáveis.
No título da próxima parte da conferência, “Petição de princípio e círculo vicioso”, já começa a passar a ideia que a posição contrária à sua é uma petição de princípio. Diz bem que com a questão há um apagamento da luz da razão e triunfo da imaginação, só não diz que isso ocorre é com a narrativa mainstream.
Mattei descreve falsamente o raciocínio da posição oposta à sua, reduzindo-o. Assim Mattei faz o velho sofisma do espantalho. Quer reduzir toda a argumentação complexa que envolve dados epidemiológicos, econômicos, geopolíticos a uma simples frase. Mesmo que o fizesse, se simplesmente colocasse na frase que os danos superam os possíveis benefícios, Mattei representaria de forma menos pior a posição do adversário, mas nem isso faz.
Mattei está simplesmente errado ao dizer que os danos produzidos pelo bloqueio devem ser atribuídos à doença, por supostamente ser a causa primária do bloqueio. Dado que a posição oposta à de Mattei se baseia justamente no fato de que a causa primária do bloqueio NÃO É a doença, fica difícil não duvidar das intenções de Mattei. Mesmo assim, é possível que simplesmente caiu em um paralogismo sem se dar conta. É falso que sem doença não há bloqueio, como se vê em vários locais.
Mattei em seguida diz que os que tem posição contrária à sua colocam que a doença não existe ou é sobrestimada. O prova que ele sabe qual é a posição do adversário, ao contrário do que se poderia pensar no parágrafo anterior. Por que ele não expôs esta opinião quando quis acusar de sofisma o adversário no parágrafo anterior? Cada vez se torna mais difícil não pensar nas intenções de Mattei.
Mas continuemos: Mattei acusa os adversários de petição de princípio. Como se não existissem inúmeras evidências de que esses bloqueios não ajudam a conter o tal vírus. Inclusive, esquece-se de mencionar que o que é petição de princípio na verdade é a ideia de que os bloqueios ajudam a controlar o vírus, o que nunca foi provado, pelo contrário.
Mattei faz um espantalho horroroso quando diz que a posição do seus adversários, que pejorativamente diz negacionistas (na verdade ele é que é o negacionista: é negacionista da conspiração, pois nega as inúmeras evidências): “o bloqueio é um instrumento da ditadura sanitária, porque a ditadura sanitária tem como expressão o bloqueio” ou “o bloqueio faz parte de um plano mundial, porque a nível mundial é funcional o bloqueio”. Como dito, é um espantalho, um sofisma horrendo. Não é este o argumento dos que expõem a conspiração. O argumento na verdade é: “de acordo com a maioria das evidências que temos, não há uma pandemia, os bloqueios não funcionam e causam mais danos que bem, a mídia mente, temos curas eficazes para esta doença que não é mais forte que uma gripe, e portanto tal mentira em massa deve ser organizada por pessoas com uma intenção, uma vez que tudo o que tem ordem tem origem em um intelecto, há portanto uma conspiração, o que se confirma por documentos e comunicação vazados”.
ResponderEliminarA partir daí Mattei começa a usar de ad hominem contra a posição dos adversários: para ele é um estrabismo, tem causa emocional, não usa a lógica. Não se dá conta que é a posição que ele defende que sofre de tudo isso, como se mostra pelas evidências e pelo uso da emoção pela mídia (que defende a mesma posição que ele), e pelo alto impacto de dissolução psicológica que sofrem justamente as pessoas que defendem mesma a posição que ele.
Mattei diz que os adversários cometem o erro do cui prodest. Mais uma vez é falso. A posição dos que são contra o bloqueio não se baseia e toma como fundamento o fato de que ele beneficia alguns, mas em evidências multifatoriais. Entretanto, Mattei ignora, ou finge ignorar isto. Interessantemente, é Mattei que comete o erro do cui prodest, ao dizer que os que são contra o bloqueio o são para se beneficiarem da liberdade do fim do bloqueio.
Mattei coloca um exemplo de argumento sobre empresas farmacêuticas criando epidemias que deixa no ar que este argumento é a posição dos adversários, o que não é verdade, além de ser demasiado ingênuo achar que o que está se passando no mundo hoje se resume ao lucro.
Em seguida Mattei comete erro gravíssimo ao acusar os adversários de não atribuir nexo causal, contra toda a evidência que é apresentada por eles. Talvez Mattei não a conheça, o que não constituiria sofisma da parte dele, mas tão somente ignorância, mas à essa altura, no mínimo já se pensa que ignorou isso intencionalmente, ou recusou-se intencionalmente a olhar as evidências.
A próxima parte da conferência, “Castigo ou conspiração?”, serve estupendamente para o próprio Mattei. A começar pelo fato de que ele é que substitui a razão pela imaginação. Mas dizer que a demonstração é substituída pela narração cai como uma luva à todos os que compram a narrativa mainstream, que nunca demonstra nada, somente narra, ao contrário dos que se põe contra ela.
ResponderEliminarMattei como que acusa os adversários de confundirem livros distópicos com a realidade, ignorando todos os argumentos reais apresentados contra sua posição, que demonstram que estamos passando por uma verdadeira distopia. Aliás, já o estamos há muito tempo: isto não começou com o coronavírus.
De fato, para compreender o que se passa hoje no mundo, é preciso ter conhecimento complexo: geopolítica, história, epidemiologia, imunologia, virologia, psicologia e muitos outros, que parecem faltar à Mattei, mas não aos que são contra os bloqueios, como se vê pela integração destes campos de conhecimento nos argumentos – que Mattei ignora.
Interessantemente, Mattei diz para ter cuidados com falsos mestres das fileiras da revolução, mas tudo o que faz é aceitar justamente a narrativa dos mestres das fileiras da revolução. Em seguida, Mattei mostra ignorar que já vivemos em uma distopia há muito tempo antes da presente situação, e se mostra ignorante da atual conspiração global, que inclusive já é acusada pela Igreja há muito tempo, e para qual há inúmeras evidências. Mas diz isso para logo no parágrafo anterior se dizer “convencido de que as forças secretas existem e actuam na história”, mostrando total imprudência e falta de capacidade de analisar a realidade presente.
Mattei teme que faltam evidências. Não faltam evidências. Talvez faltem para ele, porque se recusa a olhar para elas . Apela a prudência. É justamente o que lhe falta, uma vez que se mostra totalmente ingênuo.
De fato algumas teorias da conspiração são ridículas que levam a pensar que sejam disseminadas pelos próprios agentes revolucionários para desacreditar a crítica à conspiração, o que aparentemente deu muito certo para o caso de Mattei.
Na parte da conferência “A ‘janela de oportunidade’”, Mattei expõe algumas teorias de filósofos comunistas, que admitem serem pegos de surpresa com o coronavírus. Os realmente prudentes já esperavam um colapso da sociedade cedo ou tarde, e não foram se surpreenderam que algo assim ocorresse. Aliás, já era anunciada uma “pandemia” há muito tempo, e por muitas vezes tentou se criar uma, como o caso da gripe suína.
Mattei admite que há teorias para transformar a sociedade, mas diz que começaram nos anos 90. Ingênuo. Cita um dos autores que expõe esta conspiração, aliás, sem admitir que o é. E também se esquece de assinalar que tais autores que agora ele admite serem verdadeiros foram taxados de criadores de teorias de conspiração imaginárias, assim como hoje é feito com quem é contra a narrativa midiática sobre o covid.
Mattei continua acreditando que o coronavírus é castigo divino. Não entende que a própria revolução é castigo da revolução, e que as medidas tomadas pelos governos é que são o castigo divino, além de serem parte da revolução.
ResponderEliminarMattei coloca justamente que devemos nos arrepender para que os flagelos passem, mas esquece de mencionar que a mentira que a mídia faz também é pecado, assim como a omissão da verdade quando a mentira causa danos ao bem comum, por parte dos negacionistas da conspiração. Além disso, Mattei não menciona que é dever do cristão proteger o próximo, e a omissão da justiça ao mais fraco é falta. Daí que além de se arrepender, é dever do católico lutar contra as injustas medidas adotadas pelos governos, pois muito prejudicam os mais fracos.
Realmente não é de admirar a sociedade caia na angústia diante da morte. Mas alguns se admirarão é que isso aconteça frente uma situação na qual a quantidade de mortes permanece a mesma: admira-se com o poder da mídia.
O coronavírus não é mais castigo misericordioso que uma gripe o é. Mas pode-se dizer que as medidas adotas supostamente por conta do coronavírus que sim, são em alto grau um castigo misericordioso, no qual muitos despertaram para o que ocorre. E estes que despertam causam reações em pessoas como Mattei.
Mattei continua a imputar sua própria ingenuidade e falta de dados a todos. Porque ele mesmo não consegue fazer, acha que ninguém pode fazer previsões para o futuro próximo. Engana-se. Documentos foram vazados, e podemos prever o que vem aí em 2021 com relativa chance de acerto.
O coronavírus não é mais aviso da providencia que uma gripe. As medidas tomadas pelos governos é que o parecem ser. E, de fato, temos que continuar fazendo aquilo que temos feito: pregar a verdade, inclusive, sobre o coronavírus e a conspiração, contra pessoas que tentam ofusca-la, como Mattei.
Muito retórica. Muita interpretação, para simplesmente negar tudo de Roberto de Mattei. Perdi mais tempo lendo seu ego inflamado do que do Roberto de Mattei.
EliminarNão entendeu nada do texto. Não há o que negar, porque Roberto Mattei não falou absolutamente nada. Todo o texto dele se resume a falar de lógica para fingir que está sendo lógico e está com razão, ao invés de atualmente apresentar os dados que confirmam a tese dele. Que é claro, nunca fará, pois não existem.
EliminarNo mais, teu comentário é uma calúnia horrível, pois nas respostas nunca referi a mim, logo, não faz sentido falar de ego meu. Mas é a isso que resume seu comentário: num ad hominem grotesco, que não apresenta nenhum argumento real, assim como Mattei.
Por terdes intimidado o coração do justo com mentiras, quando eu não o afligi, e por terdes fortalecido as mãos do ímpio, para que ele não se tivesse voltado do seu mau caminho a fim de buscar a vida, por tudo isso não continuareis a ter visões vãs, nem a fazer presságios. Antes, libertarei o meu povo das vossas mãos e sabereis que eu sou Iahweh. ( Ez. 13, 22-23)
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