«Eu
sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-me»
(Jo 10, 14).
Se Cristo, como escreve São Paulo aos Colossenses, é «imagem do Deus
invisível», também os santos são imagens de Cristo, a quem homens e
mulheres de boa vontade recorrem para retirar edificante exemplo. A arte, então,
aquela que transmitiu os seus feitos, sejam extraordinários ou quotidianos,
transforma-se em memória e, logo, em útil instrumento de oração. São-no, sem
dúvida, os chamados “quadrões” de São Carlos, as grandes telas que, todos os
anos, por ocasião da festa litúrgica do santo arcebispo ambrosiano, são colocadas
ao longo da nave central da Catedral de Milão, ficando visíveis aos fiéis até à
conclusão das festividades natalícias.
Quando, em 1602, apenas dezoito anos depois da sua morte, o Capítulo da
Catedral encomendou o primeiro ciclo, Borromeu tinha sido proclamado beato. Aos
pintores mais famosos da época foi confiada, assim, a representação dos «factos
da vida do beato Carlos», sob a cuidadosa direcção do primo, o Cardeal
Federico. Pouco depois, em 1610, desta vez por ocasião da canonização, novamente
se dirige a também ilustres pintores para a segunda série de pinturas,
retratando, desta vez, os seus milagres. As telas, 56 ao todo, incluindo as
acrescentadas posteriormente, são, por conseguinte, uma obra coral, um relato hagiográfico
em imagens que, se do ponto de vista artístico se classifica entre os vértices
do chamado Barroco lombardo, é, sobretudo, admirável como fruto e expressão da
veneração nutrida pelo povo ambrosiano pelo seu pastor.
Para dar forma e cor a esta difundida devoção, prodigalizaram-se, então, muitos
artistas que codificaram, na diversidade dos seus estilos, a iconografia carlina,
destacando todos eles as virtudes do santo, da sua caridade incansável, o forte
sentido de responsabilidade para com o rebanho que lhe fora confiado. Cerano,
também conhecido como Giovanni Battista Crespi, foi, entre os seus colegas, o
maior intérprete da espiritualidade de São Carlos, caracterizada por um forte acento
tridentino. A ele, mas também a Morazzone, a Landriani, a Procaccini, para
citar alguns, devemos os planos vívidos, e muito teatrais, de uma vida gasta
por amor a Cristo e à Igreja, na urgência de aproximar esta última dos seus
filhos.
No episódio do Santo que visita os empestados, por exemplo, São
Carlos anda na sela da sua mula branca, atravessando, humilde entre os
humildes, um lazareto, tendo como pano de fundo o contorno de uma cidade. No
cenário agitado de corpos marcados pela dor, o arcebispo avança lentamente, confundindo-se
com eles não fosse aquele tímido gesto de bênção, que diz da sua fé em Jesus
Salvador, afirmada também naquele contexto dramático.
O seu amor pelo Crucifixo, diante do qual é frequentemente retratado em
adoração, é a chave de leitura de todos os episódios: com a oração e as obras
tornou-se um ícone vivo de Cristo, querido ao seu povo que, nas grandes telas da
Catedral, o pode ainda hoje seguir.
Margherita del Castillo
Através de La Nuova Bussola Quotidiana
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