«No
meio do trono e à volta do trono havia ainda quatro seres viventes cobertos de
olhos por diante e por detrás: o primeiro vivente era semelhante a um leão; o
segundo era semelhante a um touro; o terceiro tinha uma face semelhante à de um
homem e o quarto era semelhante a uma águia em voo» (Ap 4, 6-7).
Os quatro seres viventes, de que fala João no Apocalipse, devem a sua
fisionomia à fusão, feita pelo Evangelista, de duas autorizadas fontes
proféticas: Ezequiel, a quem aparece o portentoso e tetramorfo carro do Senhor,
e Isaías, cujos serafins alados, pairando ao redor do trono de Deus, entoam o
Trisagion, hino de louvor. Serão, depois, os Padres da Igreja, a partir do
século II, a reconhecer, nestas criaturas, os símbolos dos Evangelistas,
contribuindo grandemente a arte paleocristã na definição e divulgação da sua
interpretação canónica.
Entre as primeiras transposições em imagem da passagem joanina está um dos
painéis da porta de madeira da Basílica de Santa Sabina, em Roma. O relevo,
obtido na mesa de cipreste, mostra um jovem Cristo triunfante, princípio e fim
do mundo – como se vê pelo Alfa e Ómega gravados nos Seus lados –, e fonte de
Vida, como indica a amêndoa em que está inscrita a figura. É circundado pelos
quatro animais apocalípticos que, lidos em sentido horário, são a águia, o
leão, o touro e o homem/anjo.
O século V, a que remontam os batentes romanos, marcou o início da fortuna
deste motivo iconográfico que encontrou a sua ideal localização nas cúpulas, nas
semicúpulas e nos arcos da abside, de vez em quando fixado nas diferentes
superfícies pelas cores dos frescos ou, ainda mais frequentemente, pelas
tesselas de preciosos mosaicos, bizantinos ou não. No Mausoléu de Galla
Placidia, em Ravena, por exemplo, a abóbada estrelada mostra, nos pendentes, as
figuras do tetramorfo, enquanto o número quatro, quantos são os pontos cardeais,
explicita o destino universal da salvífica teofania aqui representada no centro
da cúpula com a cruz dourada.
Que ao leão corresponda Marcos, à águia João, ao homem/anjo Mateus e ao touro
Lucas, como codificado, por São Jerónimo, a partir dos incipit dos seus
respectivos textos canónicos, a arte revela-o, pela primeira vez, no século VI,
nas relativas porções do belíssimo aparato de mosaico do presbitério da Basílica de São Vital, também de Ravena. Sobre o pano de fundo de uma paisagem rochosa
verde, os Evangelistas aparecem, individualmente, em forma humana, com o
próprio livro nas mãos, cada um encimado pelo seu símbolo.
Continua João: «Vi um trono no céu e sobre o trono havia alguém sentado. O
que estava sentado era, no aspecto, semelhante à pedra de jaspe e de sardónica
e uma auréola, de aspecto semelhante à esmeralda, rodeava o trono».
Os dezasseis grandes nichos historiados que, no interior do Baptistério de
Parma, duplicam a planta octogonal, símbolo da eternidade, estão decorados com
cenas realizadas entre os séculos XIII e XIV. Sobre o fundo de um céu
estrelado, o tetramorfo – de cada lado do qual dois querubins esmagam dragões,
significando a vitória do bem sobre o mal – ocupa um deles. E, conforme
relatado no último livro do Novo Testamento, circunda o Cristo que abençoa,
sentado num trono, o manto vermelho e azul que O distingue.
O real Salvador está inscrito numa amêndoa que, se aqui mostra cores um pouco
desbotadas pelo tempo, noutros locais, em temas semelhantes, é tão colorida
como um arco-íris, prodigioso instrumento de ligação entre as dimensões humana
e divina. A sua tonalidade predominante é o verde, que exprime a esperança da
misericórdia e na força de Deus, único Senhor do tempo e da história. As quatro
criaturas viventes do Apocalipse têm a tarefa de anunciar esta verdade ao mundo
inteiro.
Margherita del Castillo
Através de La Nuova Bussola Quotidiana
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