Beatíssimo
Padre,
O meu nome é Giuseppe Scammacca e sirvo a Ordem de Malta desde 1976, quando
tinha 19 anos.
A última missão que recebi foi a inclusão na comissão para a reforma da Carta
Constitucional e do Código, para a qual trabalhei, oficialmente, durante muitos
meses e, ainda hoje, oficiosamente, para o interesse dos Cavaleiros de Justiça,
com os quais estou em constante contacto.
Por esse motivo, no último período encontrei-me, por várias vezes, com o
Cardeal Becciu, na sua qualidade de Delegado de Vossa Santidade para a reforma
da Ordem. Creio ter dado a Sua Eminência muitas informações sobre o real
funcionamento das estruturas melitenses e as disfunções criadas na gestão dos
estudos da comissão e, de um modo mais geral, na gestão administrativa da
Ordem.
Hoje, em particular, deve-se relevar que existem muitos procedimentos que não
se conformam às normas melitenses e ao Direito Canónico, tanto no que diz
respeito à eleição (na verdade, nomeação) dos próximos membros do Conselho
Completo de Estado que deverá eleger o próximo Grão-Mestre ou o Lugar-Tenente do
Grão-Mestre, quanto na realização de actos extraordinários, quando o actual
Tenente Interino não tem esse poder.
Com Sua Eminência Becciu, falámos, muitas vezes, sobre a legalidade e do
envolvimento total dos religiosos nas decisões, pois eles são a essência
espiritual e histórica da Ordem, e o Cardeal, que conhece muito bem as falhas
da Ordem, sempre insistiu, precisamente, sobre estes dois pontos, também e sobretudo,
nas comunicações enviadas ao Tenente Interino e ao Soberano Conselho.
Santidade, rogo-lhe de todo o coração que queira interromper o processo de
secularização que, actualmente, ocorre devido a um grupo de Cavaleiros em Obediência, cujo objectivo é a expulsão, de facto, da alma da própria Ordem, ou
seja, a classe religiosa, os Cavaleiros de Justiça. Basta observar que, desde
2011, o número total dos religiosos diminuiu de 67 para 45; muitos religiosos
com votos simples foram forçados, nos últimos anos, a abandonar o percurso
religioso para regressar às classes leigas.
Agora tudo acontece nos bastidores e cada decisão é tomada por um grupo muito restrito
de Cavaleiros que, no entanto, já não representam a Ordem, mas a si próprios.
Muitos deles vivem graças à Ordem, não tendo outros rendimentos senão os que
derivam das elevadas prerrogativas que recebem. E isso na total falta de
comunicação e transparência.
Para não correr o risco de ter “obstáculos” por parte dos Cavaleiros de
primeira classe, o governo da Ordem, nos últimos anos, colocou em “gremio
religionis” 14 religiosos de um total de 45. O último foi Francisco Vassallo,
colocado em “gremio religionis” neste Verão: também aqui o Tenente Interino,
tendo apenas capacidade jurídica de administração ordinária, não podia tomar
esta decisão. Mas o resultado é um Cavaleiro teimoso a menos e mais um voto secular.
Peço-lhe, Santidade, que intervenha com urgência, visto que se aproxima o dia 7
de Novembro e a eleição de um Grão-Mestre incapaz de se fazer obedecer e
dominado pelo “tribunal”, aliás laico, seria um desastre para o futuro da Ordem,
que ficaria em risco de se tornar uma ONG e não mais um ramo, ainda que
minúsculo, da Santa Igreja Romana.
A irregularidade de muitas, demasiadas, disposições arrisca, além disso, gerar
acções judiciais também contra a próxima eleição do Grão-Mestre, desacreditando
ainda mais a Ordem e criando um estado de confusão institucional nunca sofrido
até hoje, com a única exceção do período sucessivo à ocupação de Malta, por
Napoleão, em 1798.
Ajude-nos Vossa Santidade a tornar a nossa Ordem adequada aos tempos actuais,
mas sempre ligada aos seus valores cristãos, motivo da sua existência quase
milenar, e a fazer-nos aplicar, nos factos e não apenas por palavras, o carisma
“Tuitio Fidei et Obsequium Pauperum”.
Santo Padre, estando disponível para qualquer especificação posterior, peço
humildemente a sua bênção,
Giuseppe Scammacca, Cavaleiro de Honra e Devoção
Através de Stilum Curiæ
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«Tudo me é permitido, mas nem tudo é conveniente» (cf. 1Cor 6, 12).
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