Estamos a
aproximar-nos do trigésimo aniversário, mas talvez também da dissolução, da
União Europeia, nascida do Tratado de Maastricht, de 7 de Fevereiro de 1992.
Este acordo previa a livre circulação de pessoas, bens, serviços e capitais
dentro de uma “Europa sem fronteiras” e a criação de uma “zona euro” dotada de
um Banco central e de uma nova moeda única. Para fazer parte desta zona euro,
foi aprovado, em 1997, um Pacto de Estabilidade e Crescimento que impunha, aos
países membros da União Europeia, dois rigorosos parâmetros: um défice
orçamental inferior a 3% do PIB e uma dívida pública inferior a 60% do Produto Interno
Bruto. O Tratado de Lisboa, de 13 de Dezembro de 2007, definiu os poderes e os
objectivos políticos da União Europeia.
Em quase trinta anos, nem os objectivos políticos, nem os económicos da União
foram jamais realizados, e a instituição supranacional, artificialmente criada
na cidadezinha holandesa, iniciou um inexorável processo de desmoronamento, que
teve uma clamorosa expressão no Brexit do Reino Unido, a 31 de Janeiro de 2020.
Mais ou menos nos mesmos dias, um ciclone atingiu a União Europeia, derrubando os
seus princípios. A erupção do coronavírus na cena geopolítica global forçou os Estados
europeus a impor fortes restrições à liberdade de circulação dos próprios
cidadão. As fronteiras, até ontem consideradas elementos de obstáculo e de divisão
a ultrapassar, revelaram-se insubstituíveis factores de defesa e de protecção
dos cidadãos. A Europa, interna e externamente, demoliu as pontes e reergueu os
muros.
Além disso, em Março de 2020, com uma decisão inédita, a Comissão Europeia
suspendeu o Pacto de Estabilidade, permitindo que países como a Itália se
endividassem e injectassem liquidez nas próprias economias. A política
económica e monetária europeia rebentou e, agora, o Comissário para a Economia,
Paolo Gentiloni, evoca a possibilidade de o Pacto de Estabilidade ficar
suspenso até 2022 (La Stampa, 11 de Novembro de 2020). A isso junta-se
que, para fazer face à nova situação criada pela pandemia, a União Europeia
previu um plano de endividamento público dos Estados, baseado num orçamento septena
de 1.150 biliões de euros e num fundo europeu de recuperação de 750 mil milhões
de euros (o Recovery Fund). Esta proposta, porém, requer unanimidade
para ser aprovada e dois Estados, a Hungria e a Polónia, a que se juntou a
Eslovénia, opuseram o seu veto, bloqueando o projecto. A razão do veto húngaro
e polaco reside no facto de o plano de assistência financeira introduzir um
mecanismo através do qual a Comissão poderá bloquear a distribuição de fundos aos
Países que não respeitem o Estado de direito, ou seja, que cometam «violações
dos valores fundamentais como a liberdade, a democracia, a igualdade e o respeito
pelos direitos humanos, incluindo os direitos das minorias». Isto significa
a activação de processos de infracção e de condenações para quem não segue a
política de abertura aos novos direitos, desde o aborto à imigração sem
controlo, que a União Europeia pretende impor aos seus Estados membros. O
Tribunal de Justiça da União Europeia já condenou a Hungria pelas suas leis
sobre as ONG’s, que preveem a prisão para quem assiste os migrantes chegados
ilegalmente à Hungria, e pela chamada “legislação anti-Soros”, que introduziu
uma série de restrições às universidades estrangeiras na Hungria, como a Open
Society do pseudo-filantropo húngaro-americano. Numa intervenção, publicada
pelo Sole 24 Ore, Soros definiu o veto colocado pela Hungria e Polónia à
proposta da UE, sobre o Recovery Fund, como «a jogada desesperada de
dois transgressores em série». Os dois criminosos, de acordo com Soros,
seriam Viktor Orbán, o primeiro-ministro húngaro, e Jarosław Kaczyński, governante
polaco de facto. Orbán respondeu prontamente: «George Soros ameaça a
Hungria e a Polónia»; «é uma das pessoas mais corruptas do Mundo; tem
muitos políticos no bolso que, agora, querem chantagear a Hungria e a Polónia
pelo acesso aos fundos da UE». Orbán afirmou, então, que, «hoje, em
Bruxelas, consideram apenas os países que permitem a entrada de migrantes como
governados pelo Estado de direito. Aqueles que protegem as suas fronteiras não
podem ser considerados países onde prevalece o Estado de Direito. Uma vez adoptada
esta proposta, não haverá mais obstáculos para ligar a quota dos fundos comuns
dos Estados-Membros ao apoio à migração e ao uso de meios financeiros para
chantagear os países que se opõem à migração».
A agressão das chamadas “potências fortes” europeias contra Orbán teve início quando,
em 2012, entrou em vigor a nova Constituição húngara, que considera a família
como «a base da sobrevivência da nação», afirma que «a Hungria
protegerá a instituição do matrimónio entendido como a união conjugal de um
homem e de uma mulher» e proclama que «a vida do feto será protegida
desde o momento da concepção» (Roberto de Mattei, in Radici Cristiane,
n.º 72 – Fevereiro/Março de 2012). Orbán não é católico, mas, como escreve
Giulio Meotti, na Europa «existe um único defensor dos cristãos perseguidos:
o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, a quem a grande media adora provocar
e atacar. Nenhum outro governo europeu investiu tanto dinheiro, diplomacia
pública e tempo nesta questão» (Giulio Meotti, in Gatestone Institute,
15 de Dezembro de 2019).
De todos os chefes de Estado ou de governo europeus, Orbán é o que mais
vigorosamente combate a ditadura do relativismo e é, portanto, considerado a
besta negra dos lobby globalistas que, hoje, o acusam de se opor aos
seus planos usando a situação de emergência causada pelo coronavírus Em Março passado, de facto, impôs um primeiro
bloqueio ao assumir plenos poderes na Hungria. Em Novembro, anunciou um novo
estado de emergência, que durará até 8 de Fevereiro. O arquipélago LGBT acusa-o
de ter aprovado, neste ano, uma lei que impede os transexuais de mudarem
legalmente de “género” e de querer aproveitar o coronavírus para aprovar novas
leis em defesa da identidade religiosa e nacional do seu povo. Num momento em
que todos tentam tirar partido da pandemia, Orbán usou a “ditadura sanitária”
como instrumento eficaz para travar os planos europeístas. Na Hungria, o
bloqueio não se revelou, assim, um instrumento do globalismo, mas um meio para se
opor à revolução globalista que quer impor o caos planetário.
Entre os efeitos do coronavírus, também será necessário colocar a desintegração
da União Europeia, o regresso dos Estados-nação e a possibilidade para se fazer
ouvir mais alto a voz dos políticos europeus que pretendem defender os valores
naturais e cristãos. Talvez seja necessário procurar nos acontecimentos, ao
lado dos planos dos homens, também aqueles de Deus que, de modo misterioso, mas
eficaz, intervém sempre na história...
Roberto de Mattei
Através de Corrispondenza Romana
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