O Dies Iræ traduz e publica, a pedido de
Mons. Carlo Maria Viganò, uma muito oportuna entrevista, sobre a situação
política e eclesial dos Estados Unidos da América, que, no passado dia 28 de Setembro,
Sua Excelência Reverendíssima concedeu ao jornalista italiano Francesco Boezi.
Francesco
Boezi: Monsenhor Viganò, por que escreveu uma carta em favor de Trump?
Arcebispo Viganò: Bento XVI fez-me saber, a 14 de Agosto de 2011, que
estava convicto de que naquele momento a minha posição providencial era
a Nunciatura nos Estados Unidos da América. Por isso, escreveu-me: «Desejo
comunicar-lhe que reflecti e rezei em relação à sua condição depois dos últimos
acontecimentos. A dolorosa notícia da morte de Sua Excelência Mons. Pietro
Sambi confirmou a minha convicção de que a sua posição providencial neste
momento é a Nunciatura nos Estados Unidos da América. Por outro lado, estou
certo de que o seu conhecimento deste grande País o ajudará a enfrentar o
exigente desafio deste trabalho, que em muitos aspectos é determinante para o
futuro da Igreja universal».
Concluiu-se a minha missão oficial naquele imenso e querido País, mas aquele
desafio, ao qual o Papa Bento XVI se referiu quase profeticamente e no qual me
envolveu, está mais aberto do que nunca, aliás, tornou-se cada vez mais
dramático, tomando dimensões tremendas: o destino do mundo está-se a jogar,
nesta hora, na frente americana.
Agora, livre do meu cargo oficial, a inspiração que me foi confiada pelo Papa
Bento XVI permite-me dirigir-me ao Presidente Trump com a máxima liberdade, evidenciando
qual seja o seu papel no contexto nacional e internacional, e o quão decisiva é
a sua missão no confronto épico que se está a delinear nestes meses.
É verdadeiramente um confronto épico?
A Santa Sé parece, hoje, atacada por forças inimigas. Falo como Bispo, como
Sucessor dos Apóstolos. O silêncio dos Pastores é ensurdecedor e perturbador.
Alguns até preferem apoiar a Nova Ordem Mundial alinhando-se com as posições de
Bergoglio e do Cardeal Parolin que, frequentador do Bildelberg Club, se
submeteu servilmente aos seus ditames, como muitos expoentes políticos e dos
media mainstream.
Estou convencido de que o que denunciei na minha carta aberta ao Presidente
Trump, em Junho passado, ainda é válido e pode ser uma chave de leitura para
compreender os acontecimentos que estamos a vivenciar. Continua a ser um
convite à esperança.
A Igreja Católica americana, em relação às eleições presidenciais e não só, aparece
dividida. O Papa diz que dividir é obra do demónio, mas a divisão do Episcopado
americano é evidente. O que está a acontecer?
A cisão dentro do Episcopado americano é o resultado de uma acção
ideológica realizada desde os anos 1960, especialmente pelas universidades
católicas – e pelos Jesuítas em particular –, na formação de inteiras gerações
de jovens. A doutrinação progressista (na frente política) e modernista (na
frente religiosa) criou um suporte ideológico para o Maio de 68, iniciado com o
Concílio Vaticano II, conforme confirmou Bento XVI no seu ensaio Os
princípios da teologia católica: «A adesão a um marxismo anárquico e
utópico [...] foi apoiada, na primeira linha, por muitos capelães
universitários e por associações de jovens, que viam florescer as esperanças
cristãs. O facto dominante encontra-se nos eventos, em França, do Maio de 1968.
Nas barricadas estavam dominicanos e jesuítas. A intercomunhão realizada
durante uma Missa ecuménica de apoio às barricadas foi considerada uma espécie
de marco na história da salvação, uma espécie de revelação que inaugurava uma
nova era do cristianismo».
Esta divisão nos Estados Unidos, que, hoje, se tornou ainda mais evidente com a
iminência das eleições presidenciais, também é difundida na Europa e na Itália:
os líderes da Igreja queriam fazer uma escolha radical – e, na minha opinião, lamentável – preferindo
seguir o pensamento dominante do ambientalismo, do imigracionismo, da ideologia
LGBT, em vez de se levantar corajosamente contra ele e proclamar fielmente a
Verdade salvífica anunciada por Nosso Senhor. Uma escolha que deu um salto,
desde 2013, com a eleição de Jorge Mario Bergoglio, mas que remonta há, pelo
menos, sessenta anos. É significativo que mesmo então os Jesuítas – e toda a intelligencija
católica de Esquerda – olhassem para a China de Mao como um interlocutor
privilegiado, quase um propulsor das reivindicações de suposta renovação
social, exactamente como hoje La Civiltà Cattolica, de Spadaro, s.j.,
olha para a China de Xi Jinping. Os Jesuítas, que apoiaram a guerrilha na
América Latina e que, no Maio francês, estiveram nas barricadas, hoje usam as
redes sociais com reivindicações semelhantes, sempre com os olhos voltados para
Pequim e com o mesmo ódio pela América.
É verdade que dividir é obra do demónio: Satanás semeia a divisão entre o Homem
e o seu Criador, entre a alma e a Graça. O Senhor, ao invés, não divide, mas
separa: Ele cria uma fronteira entre a Cidade de Deus e a Cidade de Satanás,
entre aqueles que O servem e aqueles que O combatem. Ele mesmo separará os
justos dos malvados no dia do Juízo (Mt 25, 31-46), depois de se ter colocado como
«pedra de tropeço» (Rm 9, 32-33). Separar a luz das trevas, o bem do
mal, de acordo com o ensinamento do Senhor, é uma obrigação se quisermos seguir
a Cristo e rejeitar Satanás. Mas também é necessário separar, ao escolher quem
melhor protege os direitos e a Fé dos Católicos, daqueles que apenas nominalmente
se proclamam católicos e, nos factos, promovem leis que estão claramente em
contraste com a lei divina e a lei natural. Assim como é divisivo o
Pastor que adverte o rebanho contra os ataques dos lobos (Jo 10, 1-18).
Acusar Trump de não ser cristão simplesmente por querer proteger as fronteiras
da Nação; evocar o fantasma da soberania como um desastre, enquanto o tráfico
de seres humanos é favorecido; ficar em silêncio diante da perseguição aos Cristãos
na China e noutros lugares, ou das milhares de profanações de igrejas que,
desde há meses, vêm a ocorrer em todo o mundo: tudo isto não é divisivo?
Joe Biden é um abortista, mas alguns ambientes católicos americanos parecem omitir
este aspecto. Veja-se, por exemplo, James Martin. O que acha?
O Padre James Martin, s.j., é o porta-estandarte da ideologia LGBT e,
apesar disso – na verdade, em virtude disso –, foi nomeado, por Bergoglio, como
Consultor da Secretaria para as Comunicações da Santa Sé. A sua obra – esta,
sim, verdadeiramente “divisiva” no pior sentido do termo – serve para
fortalecer, no seio do corpo eclesial, uma quinta coluna da agenda
progressista, de modo a criar uma cisão ideológica e doutrinal dentro da Igreja
e fazer crer que as demandas do progressismo, inclusive a chamada homoeresia,
vêm da base. Na realidade, bem sabemos que os fiéis são muito menos inclinados às
inovações do que a opinião pública é levada a crer e que o querer mostrar uma
pretensa “vontade popular” para legitimar escolhas incompatíveis com o ensinamento
perene da Igreja é uma manobra a que já se recorreu tanto a nível eclesial
(pensemos na reforma litúrgica, que ninguém pediu) como a nível civil (por
exemplo, a ideologia de género).
Permita-me recordar as palavras do Arcebispo americano Mons. Fulton J. Sheen
(1895-1979): «A recusa de tomar posição sobre os grandes problemas morais é,
em si, uma decisão. Representa um tácito assentimento ao mal. A tragédia do
nosso tempo é que quem acredita na virtude carece de fogo e de convicção,
enquanto que aqueles que acreditam no vício estão cheios de apaixonada
convicção». Aprendamos a separar quem está com Cristo de quem está contra
Ele, visto que não é possível servir a dois senhores.
Falou de “deep church”. É possível que exista uma? Por quem é composta?
A expressão “deep church” transmite bem a ideia do que está a acontecer,
paralelamente, a nível político e a nível eclesial. A estratégia é a mesma,
assim como idênticos são os objectivos e, em última análise, os mens que
estão por trás. Nesse sentido, a “deep church” é para a Igreja o que o “deep
state” é para o Estado: um corpo estranho, ilegal, subversivo e destituído de
qualquer legitimidade democrática que usa a instituição na qual está inserido
para atingir objectivos diametralmente opostos aos da própria instituição.
Um exemplo é John Podesta, “católico” liberal, democrata, ex-colaborador de
Bill e Hillary Clinton e vinculado ao Centre for American progress de
John Halpin. Num e-mail, datado de 11 de Fevereiro de 2012, Sandy Newman
escreveu a Podesta pedindo-lhe orientações para «plantar as sementes de uma
revolução» na Igreja em matéria de contracepção, aborto e paridade de
género. Podesta responde confirmando que, para obter esta «primavera da
Igreja» (note-se a assonância com a “primavera conciliar”), foram criadas a
Catholics in aliance for the common good e Catholics united. Estas
associações ultra-progressistas foram financiadas por George Soros, como as
fundações dos Jesuítas e a viagem apostólica de Bergoglio, em 2015, aos EUA.
Devemos também lembrar a conspiração da Máfia de São Galo, com o objectivo de
derrubar Bento XVI, em conjunto com Obama e Clinton que consideravam Joseph
Ratzinger um obstáculo para a difusão da agenda globalista.
Como católico e consagrado, como é que julga o trabalho de Trump?
Limito-me a observar o que Trump fez ao longo dos anos do seu mandato
presidencial. Defendeu a vida do nascituro, cortando as verbas à multinacional
do aborto Planned Parentood e, precisamente nestes dias, emanando uma
disposição que impõe atendimento imediato aos recém-nascidos não mortos pelo
aborto: até agora, eram deixados a morrer ou usados para lhes
retirar os órgãos, destinados à venda. Trump está a combater a pedofilia e o
pedosatanismo. Não abriu novas frentes de guerra e reduziu drasticamente as
existentes ao estipular acordos de paz. Devolveu a Deus o direito de cidadania,
depois de Obama ter até cancelado o Natal e imposto medidas que repugnavam a
alma religiosa dos Americanos.
E observo também a guerra mediática travada pela imprensa e pelos centros de
poder contra o Presidente: foi demonizado desde 2016, apesar de ter conquistado
democraticamente a maioria dos votos. É bem sabido que o ódio a Trump – não
diferente do que acontece na Itália a membros muito mais brandos da oposição –
encontra a própria motivação na consciência do seu papel fundamental na luta ao
deep state e a todas as suas ramificações internas e externas. A corajosa
denúncia do Comunismo – de que os Antifa e os BLM são a versão global e
a ditadura chinesa a incubadora – vem, de alguma forma, sanar o silêncio da
Igreja, que, apesar dos apelos da Virgem Maria em Fátima e em La Salette,
preferiu não renovar a condenação desta ideologia infernal. E se Mons. Sanchez
Sorondo pode impunemente afirmar, contra todas as evidências, que a China é a
melhor realizadora da doutrina social da Igreja, devemos alegrar-nos com as
palavras do Presidente dos Estados Unidos e com aquelas não menos corajosas do seu
Secretário de Estado, Pompeo.
Ao que parece, Bergoglio não se encontrará com o Secretário de Estado americano.
Agora chegamos ao paradoxo, ao ridículo. Certas atitudes parecem mais
adequadas aos caprichos de um aluno indisciplinado do que à prudência e ao
protocolo diplomático. Pompeo denuncia a violação dos direitos humanos na China
e de Santa Marta chega a resposta irritada: E eu não jogo mais. São
comportamentos indignos, dos quais até mesmo os membros do círculo mágico de
Bergoglio começam a sentir uma evidente vergonha. Não só não recebe o
Secretário de Estado, por não lhe dizerem ore rotundo que a América não
ficará parada enquanto a Igreja se entrega nas mãos de uma feroz ditadura, como
nem sequer responde ao pedido do Cardeal Zen para ser recebido em audiência,
confirmando a precisa vontade do Vaticano de renovar a sua submissão ao Partido
Comunista Chinês.
Vossa Excelência organizou um Rosário por Trump? Por que motivo?
Fui incentivado por muitos a lançar esta iniciativa e não hesitei em
aderir, tornando-me o promotor desta cruzada espiritual. Esta é uma guerra sem
quartel, na qual Satanás é libertado das correntes e as portas do inferno
tentam, de todas as maneiras, prevalecer sobre a própria Igreja. Uma semelhante
contradição enfrenta-se, sobretudo, com a oração, com a arma invencível do
Santo Rosário.
O empenho dos Católicos na política, sob a orientação dos seus Pastores,
constitui uma acção concreta como cidadãos e membros tanto do Corpo Místico de
Cristo como do corpo social: o Católico não é um dissociado, que na Igreja acredita
que Deus é autor e senhor da vida, mas nas urnas ou no parlamento aprova o
assassinato de crianças inocentes.
A esta acção de ordem natural apoia-se – deve-se apoiar – a consciência
de que os assuntos humanos, e com eles os acontecimentos sociais e políticos,
têm uma dimensão espiritual transcendente, na qual a intervenção da divina
Providência é sempre determinante. Por este motivo, o Católico não se afasta do
mundo, não foge da arena política esperando passivamente que o Senhor
intervenha com o raio, mas, pelo contrário, dá um sentido à sua acção
quotidiana, ao seu compromisso na sociedade, dando-lhe uma alma, um propósito
sobrenatural.
Neste sentido, a oração invoca, ao Senhor do mundo e da história, aquelas
graças, aquela ajuda especial que só Ele pode dar tanto à acção do cidadão
comum como à obra do governante. E se, no passado, até os reis pagãos puderam ser
instrumentos do bem nas mãos de Deus, tal pode acontecer ainda hoje, numa época
em que a bíblica batalha entre os filhos das trevas e os filhos da
luz atingiu um ponto crucial.
Que cenários esperam os Católicos do mundo no caso de Trump perder?
Se Trump perder as eleições presidenciais, falhará o último kathèkon
(2 Ts 2, 6-7), ou seja, o que impede que o «mistério da iniquidade» se
manifeste e a ditadura da Nova Ordem Mundial terá, no novo Presidente
americano, um aliado, depois de já ter conquistado Bergoglio para a sua causa.
Joe Biden não tem uma consistência própria: ele é apenas a expressão de um
poder que não ousa mostrar-se pelo que é e que se esconde por trás de um
personagem totalmente inadequado para o cargo de Presidente dos Estados Unidos,
mesmo pelas suas degradantes condições de saúde mental; mas é precisamente na
sua fraqueza, pelas denúncias pendentes, na sua chantagem, pelos
conflitos de interesse, que Biden se mostra como um fantoche manipulado pela
elite, um fantoche nas mãos de pessoas sedentas de poder e dispostas a fazer
qualquer coisa para expandi-lo.
Encontrar-nos-emos perante uma ditadura orwelliana pretendida pelo “deep state”
e pela “deep church”, na qual os direitos, que hoje consideramos fundamentais e
inalienáveis, seriam espezinhados com a cumplicidade dos media
mainstream.
Quero evidenciar que a religião universal desejada pelas Nações Unidas e pela
Maçonaria encontra, na hierarquia da Igreja, colaboradores activos que usurpam a
sua autoridade e adulteram o Magistério. Ao Corpo Místico de Cristo, colocado
como única arca de salvação para a humanidade, está-se a opor o corpo
místico do Anticristo, segundo a profecia do Venerável Arcebispo Fulton
Sheen. Ecumenismo, ambientalismo malthusiano, pansexualismo, imigracionismo são
os novos dogmas desta religião universal, cujos ministros preparam o advento do
Anticristo antes da última perseguição e da vitória definitiva de Nosso Senhor.
Mas, como a gloriosa Ressurreição do Salvador foi precedida pela Sua Paixão e
Morte, assim a Igreja caminha para o seu próprio Calvário; e, assim como o
Sinédrio pensava que tinha eliminado o Messias ao crucificá-Lo, assim a seita
infame acredita que o eclipse da Igreja seja um prelúdio para o seu fim. Permanece
um “pequeno resto”, composto por Católicos fervorosos, assim como, aos pés da
Cruz, permaneciam a Mãe de Deus, São João e a Madalena.
Sabemos que os destinos do mundo não estão nas mãos do Homem e que o Senhor
prometeu não abandonar a Sua Igreja: «as portas do Abismo nada poderão»
(Mt 16, 18). As palavras de Cristo são a rocha da nossa esperança: «E sabei
que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos» (Mt 28, 20).
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