«Ora,
este “subiu” que quer dizer senão que também desceu às regiões inferiores da
terra? Aquele que desceu é, precisamente, o mesmo que subiu muito acima de
todos os céus, a fim de encher o universo» (Ef 4, 9-10).
«...uma tábua [de Mantegna], na qual há histórias de figuras não
muito grandes, mas belíssimas [...] no castelo de Mântua, para a capela».
Segundo Vasari e outros documentos historiográficos, o tríptico de Andrea
Mantegna, agora na Galeria degli Uffizi, representando a Ascensão, a Adoração
dos Magos e a Circuncisão, teria sido realizado para a capela privada do
Marquês Luís III Gonzaga, no Castelo mantuano de San Giorgio. O condicional é
obrigatório porque, ao pronunciar-se sobre a concepção e o destino das três tábuas,
que, efectivamente, apresentam diferenças e incongruências, tanto no formato
quanto no estilo, os estudiosos ainda são muito cautelosos.
O certo é que, em 1827, as três pinturas foram reunidas numa mesma moldura
neo-renascentista, entalhada e dourada. Arbitrariamente, de acordo com alguns;
não para nós que, levando em grande consideração os autorizados juízos dos
historiadores da arte, olhamos e lemos a obra à luz da fé e das palavras de
Paulo aos Efésios: «Aquele que desceu é, precisamente, o mesmo que subiu
muito acima de todos os céus…». O tríptico da Galeria degli Uffizi
parece-nos uma perfeita transcrição pictórica da passagem epistolar.
Aquele que desceu, portanto, e a quem os Magos vieram adorar. A cena
central retrata um colorido e exótico cortejo – do qual fazem parte homens de
diferentes nacionalidades, a julgar pelos chapéus – que serpenteia por um
caminho tortuoso até ao limite da gruta. Aqui, a Virgem, rodeada de querubins, tem
nos braços Jesus que abençoa: o gesto maternal já parece aludir à oferta do
Filho, portanto, ao sacrifício de Cristo, do qual a gruta rochosa se torna, ao
mesmo tempo, lugar de nascimento e sepulcro. Até o cometa, aqui forjado como
uma longa espada que pende sobre a cabeça de Maria, refere-se à dor de Nossa
Senhora, como Simeão teria profetizado pouco depois.
Aqui está, de facto, o idoso sacerdote, no centro do sumptuoso interior
clássico do Templo da Circuncisão, enquanto, com um gesto firme e decidido, se
dirige ao Menino nos braços da Mãe, sob o olhar atento da profetisa Ana e de
São José que, fiel à tradição do rito hebraico de purificação da mãe, traz como
dom duas rolas. O ambiente, detalhadamente descrito, inclui também duas lunetas
decoradas com desenhos monocromáticos, cujos temas, o Sacrifício de Isaac e a
Entrega das Tábuas da Lei, remetem ao cumprimento da antiga promessa de Deus
que, com a apresentação de Jesus, sanciona a Nova Aliança.
Uma aliança estreita para a Redenção do Homem, definitivamente confirmada na
Ascensão de Cristo que venceu a morte. Sinal inequívoco desta vitória é o
vexilo cruzado do Jesus de Mantegna: dentro de uma matéria amendoada de nuvens
e querubins, Ele eleva-se acima do grupo orante dos Apóstolos e da Virgem que,
cheios de espanto, acompanham, com os olhos, a subida ao céu d’Aquele em quem se
cumpre a plenitude de todas as coisas.
Margherita del Castillo
Através de La Nuova Bussola Quotidiana
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