Hoje, dia em que se assinala a vitória da
Cristandade sobre os infiéis, em Lepanto, o Prof. Roberto de Mattei, Presidente
da Fundação Lepanto, divulga uma vídeo-mensagem por ocasião da abertura do ano
jubilar que servirá de preparação e de comemoração do 450.º aniversário
deste grande feito, que se assinalará a 7 de Outubro de 2021, em Roma, por meio
de um grande encontro. O portal Dies Iræ disponibiliza a tradução portuguesa da
mensagem transmitida por Roberto de Mattei.
O Céu e a
terra estão menos distantes do que se possa imaginar, porque tudo o que
acontece na terra é um espectáculo contínuo para o Céu.
No Céu, que é o lugar da perfeita liturgia divina, também se comemoram certos
aniversários e, entre eles, um dia privilegiado é o 7 de Outubro de 1571, data
da vitória da frota cristã, contra o Islão, em Lepanto.
Aquela vitória deveu-se ao valor dos combatentes cristãos que enfrentaram um
inimigo feroz e poderoso com a firme determinação de vencer ou morrer. Muitos
morreram, mas a armada cristã obteve a vitória.
A razão da vitória, porém, ainda mais do que no valor dos homens, está na força
espiritual de um homem que criou a Liga Santa cristã e a sustentou, dia-a-dia,
com a sua oração: São Pio V.
Como recompensa da sua fé e da sua confiança, o Papa obteve, do Céu, a graça de
conhecer, em Roma, o êxito vitorioso da batalha, no momento em que esta terminava,
a milhares de quilómetros de distância.
Pio V atribuiu o mérito da vitória não a si mesmo, nem ao valor das armas, mas Àquela
a quem tudo havia confiado. Por isso, ordenou que, na Ladainha Lauretena, se
acrescentasse a invocação “Auxilium Christianorum, ora pro nobis” e fixou,
a 7 de Outubro, uma festa em honra de Nossa Senhora do Rosário. Da mesma forma,
a República de Veneza mandou pintar, na sala do seu Senado, esta inscrição: “Não
o valor, não as armas, não os líderes, mas Nossa Senhora do Rosário fez-nos
vencedores”.
O Venerável Papa Pio XII, num discurso proferido, a 7 de Outubro de 1947, a um
grupo de senadores e representantes do Congresso dos Estados Unidos, afirmou
que o 7 de Outubro é «um dia de agradecimento comemorado no calendário da
Igreja, não apenas porque os santuários da Europa e os seus altares foram
salvos da total destruição, mas também porque as orações ordenadas pelo Papa de
então, São Pio V, deram, universalmente, um grande contributo para a vitória».
A vitória, portanto, veio, antes de tudo, do Céu, como cada acto bom que
acontece na terra, porque o homem, com as próprias forças, só é capaz do mal,
enquanto só é capaz do bem quando colabora com Deus e é assistido pela sua
graça.
E uma vez que Deus, para realizar os seus planos, se serve dos Anjos, deve-se crer
que os Anjos, no dia de Lepanto, favoreceram a vitória, sob a orientação da sua
Rainha, a Virgem Santa Maria. E é por isso que, a 7 de Outubro, no Céu, os
Anjos celebram Maria, Auxilium Christianorum, Nossa Senhora da Vitória, vencedora
de todos os inimigos externos e internos da Igreja Católica.
Muitos anos se passaram desde então. A 7 de Outubro de 2021, daqui a um ano,
ocorrerão os exactos 450 anos da vitória de Lepanto. Este aniversário será
recordado no Céu e nós queremos recordá-lo na terra com uma solenidade
particular.
A 7 de Outubro de 2001, um mês após as Torres Gémeas, o Centro Cultural Lepanto
organizou, em Roma, no Palácio da Chancelaria, uma grande conferência para celebrar
os 430 anos da batalha de Lepanto, na presença de eminentes Cardeais e de descendentes
de muitas famílias que combateram em Lepanto. Pois, de ora em diante, marco um
encontro, em Roma, a 7 de Outubro de 2021, para juntos celebrarmos aquele dia
glorioso para a Cristandade. Ainda falta um ano, mas hoje, 7 de Outubro de
2020, abre-se o que poderíamos definir como um ano jubilar. Assim o definiu,
numa carta pastoral, o Bispo espanhol de Alcalá de Henares, Juan Antonio Reig
Pla, que declarou: «No século XVI, o inimigo da civilização cristã era uma
realidade no Império Otomano. Hoje, o inimigo está mais diluído e até se faz
presente na Igreja. Hoje, os ataques não estão localizados num território
específico, mas penetraram nas almas. A nossa situação é uma situação em que se
prescinde de Deus e se procura “desestruturar” a pessoa humana, a família, a
educação e o sentido cristão da vida social e política. Hoje, enfrentamos uma
batalha cultural que, desde há séculos, moldou os seus princípios e dogmas».
Partilho este apelo para um ano jubilar e convido todos os amigos da Fundação
Lepanto a juntarem-se a nós, sob a protecção de Nossa Senhora, dos Anjos e de
São Pio V, modelo de Papa Católico também para o século XXI.
Mas a nossa iniciativa não quer ser apenas um acto de comemoração; quer ser,
antes de tudo, uma declaração de guerra, ou melhor, uma resposta a uma guerra
que nos foi declarada há muitos anos (ou séculos) e à qual pretendemos
responder com todas as nossas forças, sem abandonar o lugar que a cada um de
nós foi destinado pela Divina Providência.
As guerras acompanharam a história da humanidade desde o primeiro momento, como
consequência do pecado original, mas a guerra mudou de rosto com a Revolução
Francesa: tornou-se uma guerra civil, uma guerra ideológica, uma guerra total entre
aqueles têm, na sua bandeira, a fé, a caridade e a esperança da Igreja Católica,
e aqueles que nela colocam os princípios de 1789: liberdade, igualdade,
fraternidade, entendidos como valores supremos e absolutos, sem nada que os
transcenda. A ideia de uma guerra permanente surge, precisamente, do princípio
revolucionário de paz perpétua e de fraternidade universal assumido como valor
supremo. Por isso, contra a Revolução anticristã, que desde então nos ameaça, é
necessário opor uma Contra-Revolução Católica coerente e integral, como deve
ser a nossa fé.
Leão XIII, na encíclica Humanum genus, de 20 de Abril de 1884, descreveu
o papel da maçonaria nesta guerra implacável contra a ordem natural e cristã.
À Revolução Francesa seguiu-se, em 1917, a Revolução Comunista. Pio XI, na
encíclica Divini Redemptoris, de 19 de Março de 1937, descreveu o
papel do comunismo, para o qual o liberalismo maçónico preparou o caminho,
afirmando que, «pela primeira vez na história, estamos a assistir a uma luta
friamente querida e cuidadosamente preparada pelo homem contra “tudo o que é
divino” (I Thessal. 2, 4)».
A encíclica de Pio XI foi publicada vinte anos depois das aparições de Nossa
Senhora, que, em 1917, no mesmo ano da Revolução Russa, anunciou, em Fátima,
que, se a humanidade não tivesse reparado pelos seus pecados, a Rússia
espalharia os seus erros no mundo.
A profecia de Fátima ainda não foi totalmente cumprida. Os erros do comunismo
contaminaram, como um vírus maligno, o mundo inteiro. Qualquer um que acredite
que o comunismo foi extinto após o desaparecimento da União Soviética, comete
um fatal erro de julgamento
Desde a década de 1960, seguindo as directrizes de Antonio Gramsci e da “Escola
de Frankfurt”, o comunismo desenvolveu, após a guerra ideológica, um novo tipo
de guerra, uma guerra psicológica que, através das armas das palavras e das
imagens, visa atingir as almas antes dos corpos e, nas almas, as tendências
profundas do homem, os seus sentimentos e as suas emoções.
Esta guerra penetrou no interior da Igreja, porque a Igreja, que é, por
excelência, inimiga da Revolução, é também o lugar onde se formam as almas para
a batalha. As almas dos filhos da Igreja, sobretudo depois do Concílio Vaticano
II, foram vítimas de um processo de deformação. Portanto, o Concílio Vaticano
II, qualquer que seja o julgamento teológico que possa ser feito sobre os seus
documentos, tem uma responsabilidade histórica na perda do espírito militante e
no desarmamento psicológico e moral dos católicos.
Como admirar-se se, hoje, este vírus ideológico e psicológico tenha feito, de
seguida, um vírus biológico, um inimigo que parece ser o símbolo físico, embora
invisível, deste processo de envenenamento cultural e moral da humanidade? Como
podemos surpreender-nos se à guerra ideológica e psicológica, fabricada em
laboratório por manipuladores de profissão, se tenha seguido uma pandemia
organizada? As dúvidas sobre a origem sintética do vírus desaparecem a cada
dia. E como podemos surpreender-nos se este vírus teve a sua origem na China
comunista, um país que ainda reivindica oficialmente as ideias de Marx, de
Lenine e de Mao, tornando-as o programa para o seu futuro? Entramos na fase da
guerra biológica, sem que isso signifique o fim da guerra ideológica, nem da
psicológica. A anarquia mental que, no período do coronavírus, o mundo vivencia,
é uma consequência dessa guerra psicológica que actua na “dissonância cognitiva”.
O princípio da dissonância cognitiva leva os indivíduos a preferirem uma
representação deformada da realidade à própria realidade, mesmo quando os factos
a desmentem, porque a ideia distorcida que o indivíduo fez da realidade não é fruto
de uma análise lógica dos factos, mas de um sentimento visceral que surge
daquilo que o indivíduo quer crer, ou melhor, daquilo que os desinformadores
querem fazer crer ao indivíduo. Uma dessas manipulações da realidade leva a
crer que o Ocidente seja a causa e não a vítima da guerra em curso.
A guerra psicológica alimenta, por sua vez, uma Revolução Social, que se
desenvolverá como a última fase do conflito para conduzir o mundo não a uma
nova ordem mundial, mas a uma nova desordem planetária, não à ditadura política
ou sanitária, mas ao reino do caos, desejado pelo poder das trevas, como imagem
do inferno. Uma desordem global em que a Revolução obtém a sua aparente vitória,
mas conhecerá também a sua derrota, porque a lei da criação é a ordem e o regresso
à ordem é o programa de todos aqueles que se opõem à Revolução.
A Divina Providência é ordem; tudo o que acontece é por Ela previsto, permitido
e ordenado. E nós queremos ser instrumentos da Divina Providência nesta batalha
que combatemos no plano ideológico e psicológico, mas, sobretudo, no
espiritual, contando não com as nossas débeis forças, mas com a ajuda d’Aquela
que, em 1571, tornou possível a vitória de Lepanto. À Mãe de Deus, «augusta
soberana da Igreja militante», terribilis ut castrorum acies ordinata,
«terrível como um exército em ordem de batalha» (Ct 6, 10), Pio XII
lembra que pertence o nome de “Senhora das Vitórias”. E, em Fátima, a
Bem-Aventurada Virgem Maria anunciou, após terríveis provações que veriam a
aniquilação de inteiras nações, o triunfo final do Seu Imaculado Coração.
Acreditamos nesta promessa e combatemos para a fazer acontecer. Mas é Ela, a
Senhora das Vitórias, que organiza o exército, que escolhe os líderes, que
define os tempos, os modos e os lugares das batalhas.
Com esta mensagem, queremos apenas responder ao apelo que vem do Céu, porque o
Céu nunca cessa de dirigir o seu olhar para os homens que actuam na terra e
espera a sua, a nossa resposta. Auxilium Christianorum, ora pro nobis.
Roberto de Mattei
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