Por ocasião do 25.º aniversário do
falecimento de Plinio Corrêa de Oliveira, grande líder e pensador católico brasileiro, fundador da Sociedade Brasileira
de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, o portal católico Dies Iræ
presta uma profunda e reverente homenagem ao paladino do Reino de Maria, que
inspira profundamente o apostolado do portal, e oferece aos seus leitores a tradução
portuguesa do elogio fúnebre pronunciado pelo Cardeal Bernardino Echeverría
(1912-2000).
A
inesperada notícia da morte de Plinio Corrêa de Oliveira levou-Nos a pensar nalguns
aspectos da sua vida e convidou-Nos a reflectir sobre o facto de que, quanto
mais profundos são os males de uma época, mais extraordinários são as figuras
que a Divina Providência chama a enfrentá-los, o que é uma manifestação do seu intento
de combater as crises, suscitando almas de fogo.
No entanto, sucede também que essas almas sejam objecto dos ataques mais
violentos e infundados, com os quais se pretende silenciá-las, o que é uma
prova da obstinação que, muitas vezes, penetra no espírito de certas categorias
de homens.
Sem dúvida, quando as figuras são realmente grandes, os seus adversários não
podem derrubá-las ou silenciá-las, pois os ataques injustos acabam por
evidenciar – embora os seus autores o não desejem – as qualidades dessas almas eleitas.
Foi o que aconteceu com o Divino Salvador: atacado, vilipendiado e martirizado
pelos seus algozes, a sua Luz brilhará inesgotável até ao fim dos séculos na
sua Igreja, apesar dos esforços de tantos para destruí-la.
Christianus alter Christus, o cristão é um outro Cristo: algo semelhante
aconteceu com Plinio Corrêa de Oliveira, durante décadas, até à sua morte. De
facto, dificilmente foi possível citar o seu nome, nos últimos tempos, no nosso
continente e também na maior parte do Ocidente, sem, ao mesmo tempo,
desencadear aplausos e admiração por um lado e, por outro, verdadeiras tormentas
verbais contra ele, sempre tão cheias de raiva quanto carentes de fundamento.
Com efeito, era comum que a fúria dos ataques, que suportava, não fossem
acompanhadas de argumentos, por isso a sua exposição serena, invariavelmente
cortês e incisivamente rica, clara e convincente, desmontava as objecções, colocava
as coisas no seu devido lugar, o que, apesar de merecer a gratidão dos seus
contraditores, porque elevava o tom da polémica, ao contrário, muitas vezes
despertava ódio, ressentimento e rancores.
Nos anos ‘40, quando o nazi-fascismo era uma moda diante da qual vacilavam tantos
na Europa e na América, a pena de Plinio Corrêa de Oliveira denunciava, com
valor, a mentira neopagã, socialista e gnóstica que inspirava esta aberração,
conseguindo, assim, preservar muitos ambientes católicos da sua influência
nefasta.
Hoje, quando é comum atacar o nazi-fascismo – entre outras coisas, porque é
fácil lançar invectivas contra erros que têm um número ínfimo de seguidores –,
não é raro encontrar, entre os seus supostos inimigos actuais, os seus cúmplices
de ontem, os quais ou mantêm silêncio sobre Plinio Corrêa de Oliveira, que com
tanta lucidez e valor criticara esta mentira quando estava para dominar o
mundo, ou caluniam-no.
Depois da Segunda Guerra, a história mudou e muitos antigos adeptos do
nazi-fascismo voltaram-se contra ele, sem, no entanto, se opor ao marxismo, que
se tornara o inimigo mortal, permitindo-lhe, assim, obter, a partir daí, perigosíssimos
sucessos, em tudo o mundo, na pele de dezenas de milhões de vítimas.
Quando a Revolução impulsionou, com grande intensidade, este erro em todas as
nações, Plinio Corrêa de Oliveira voltou a travar heroicamente, por longas
décadas, uma polémica batalha contra o comunismo, o socialismo e os seus
colaboradores. Infelizmente, os ambientes católicos, que não ficaram imunes à
infiltração nazi-fascista, nem sequer escaparam à do marxismo, com muitos
exemplos de perigosíssimas concessões a este erro, que reagiu com raiva contra
aqueles que o atacavam.
Obviamente, a posição de Plinio Corrêa de Oliveira não era apenas antinazi ou
anticomunista. Ambas eram fruto de uma posição doutrinal integralmente católica,
coerente e de grande vigor na defesa de todos os princípios da Igreja, mas
especialmente daqueles que foram mais violentamente atingidos, porque a sua primeira
preocupação no apostolado era a apologética, por isso desejava que fosse
servido pela lógica e pela doutrina em todo o seu vigor.
Ainda na juventude, há mais de meio século, publicou uma obra que ainda hoje
abala as consciências, Em defesa da Acção Católica, pela qual recebeu uma
calorosa felicitação de Pio XII, enviada por Mons. Giovanni Battista Montini,
Substituto da Secretaria de Estado, que décadas depois seria elevado ao Sólio
pontifício com o nome de Paulo VI.
A obra suscitou entusiasmo nuns e irritação noutros, porque denunciava erros,
que germinavam nos meios católicos, pelos quais uns mostravam indulgência e
outros indiferença, mas nos quais Plinio Corrêa de Oliveira via – como a
história o confirmou – as sementes de uma grave crise futura dentro da Santa
Igreja.
Se considerarmos retrospectivamente a história recente, ao recordar esta lúcida
advertência e o autêntico cataclismo que abalou a Igreja nas últimas décadas e
que ainda persiste, não podemos deixar de exclamar: “Ah, se esta voz tivesse
sido ouvida!”.
Na verdade, não é necessário ter muita sabedoria, nem grande zelo, para ver o
perigo proveniente dos males grandes e manifestos, mas ambas as virtudes são
indispensáveis para individuá-lo quando esses
males estão a nascer. Pois bem, Plinio Corrêa de Oliveira sabia ver, de longe,
os perigos e denunciá-los, esforçando-se, sobretudo, por revelar os mais
ocultos, mesmo quando isso lhe custava amarguras, porque essas posições muitas
vezes frustravam os planos dos inimigos da Igreja.
Era seu desejo que os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo impregnassem
profundamente a sociedade contemporânea, segundo a divisa de São Pio X, Omnia
instaurare in Christo, que tanto abalou o mundo católico nos inícios do
nosso século e que, desde então, inspirou a acção dos melhores apóstolos.
A sua obra Revolução e Contra-Revolução, publicada em 1959, analisa a
história dos últimos séculos e a situação do mundo contemporâneo mostrando que a
Cristandade foi esmagada por um processo revolucionário que continua a agir
para destruir os seus restos a fim de se instaurar um regime totalmente oposto
à Lei de Deus.
Diante deste processo, o católico autêntico – como afirma São Paulo (Rm 12, 2) –
não se pode conformar à mentalidade deste século, isto é, não pode aceitar um modus
vivendi entre a Igreja e as tendências que dominam o mundo; na verdade, deve
desejar para Ela e para a Civilização Cristã um pleno vigor e um esplendor
ainda maior do que aquele dos melhores
dias. Portanto, o católico deve aplicar diligentemente a sábia e severa
sentença de Nosso Senhor de que «Ninguém pode servir a dois senhores».
E, de facto, Plinio Corrêa de Oliveira dedicou todas as suas energias, durante
toda a sua longa vida, à luta intrépida contra esse processo, para
recristianizar a ordem temporal na perspectiva do Reino de Cristo, do Reino de
Maria.
O seu último livro, Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII, que já tivemos ocasião de elogiar, apareceu várias décadas após os
últimos discursos do falecido Pontífice, resgatando-os do profundo esquecimento
a que haviam sido abandonados e mostrando quanto bem teria vindo ao mundo
contemporâneo se, desde então, os líderes religiosos e políticos se tivessem
inspirado neles.
A obra de Plinio Corrêa de Oliveira espalhou-se por 27 países, incluindo o
nosso, onde o zelo combativo do mestre despertou nos seus discípulos um
entusiasmo idealista, estimulando a sua piedade, orientando o seu estudo e a
sua acção, numa época em que os erros doutrinários, o indiferentismo religioso,
as atitudes de interesse e a obsessão de se adaptar às piores situações
tornam-se cada vez mais frequentes.
Resta-nos, pois, pedir à Santíssima Virgem, tendo Ela chamado a si aquele que
lhe dedicara a vida, que abençoe a continuidade da sua obra no futuro, tanto
mais que os acontecimentos actuais anunciam novas crises e conflitos, sendo
indispensável o Seu materno auxílio, como demonstra a vida de Plinio Corrêa de
Oliveira, para os enfrentar e vencer.
Cardeal Bernardino Echeverría
Através de Tradizione, Famiglia, Proprietà
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