A pedido do Arcebispo Carlo Maria Viganò, o
Dies Iræ publica, em exclusivo para Língua Portuguesa, uma carta-resposta que
Sua Excelência Reverendíssima endereçou ao jornalista italiano Sandro Magister.
3 de
Julho de 2020
Santo Ireneu, Bispo e Mártir
Santo Ireneu, Bispo e Mártir
Caro
Magister,
Permita-me responder ao seu artigo “O Arcebispo Viganò no limite do cisma”, publicado, em Settimo Cielo, a 29 de Junho.
Estou ciente de que o ter ousado expressar uma opinião fortemente crítica sobre o Concílio seja suficiente para despertar o espírito inquisitório que, noutros casos, está sujeito a execração da parte dos bem-pensantes. Não obstante, numa disputa respeitosa entre eclesiásticos e leigos competentes, não me parece que seja inadequado levantar problemas que, até ao momento, ainda não foram resolvidos, em primeiro lugar a crise que aflige a Igreja desde o Vaticano II, agora chegada à devastação.
Há quem fale de deturpação do Concílio; da necessidade de regressar a uma sua leitura em continuidade com a Tradição; da oportunidade de corrigir eventuais erros nele contidos ou de interpretar, em sentido católico, os pontos equívocos. No lado oposto, não faltam aqueles que consideram o Vaticano II como um rascunho para continuar na revolução, na mudança, na transformação da Igreja numa outra entidade nova, moderna, a par com os tempos. Isso faz parte das normais dinâmicas de um diálogo que muitas vezes é invocado, mas raramente praticado: aqueles que, até agora, expressaram discordância sobre o que afirmei, nunca entraram no essencial da questão, limitando-se a atribuir-me epítetos que já mereceram os meus bem mais ilustres e veneráveis Irmãos. E é curioso que, tanto na área doutrinária quanto na política, os progressistas reivindiquem para si um primado, um estado de eleição que coloca apoditicamente o adversário numa posição de ontológica inferioridade, indigno de atenção e de resposta e, de forma simplista, liquidável como lefebvriano no campo eclesial ou fascista no campo social. Mas a falta de argumentos não os legitima a ditar as regras, nem a decidir quem tem o direito de falar, especialmente quando a razão, mesmo antes da fé, demonstra onde esteja o engano, quem é o autor e qual o objectivo.
Inicialmente, pareceu-me que o conteúdo do seu artigo deveria ser considerado como um compreensível tributo ao Príncipe; esse encontra-se nos frescos das salas da Terceira Loggia ou nos escritórios de design do Editor; no entanto, ao ler o que me atribui, encontrei uma imprecisão – chamemos-lhe assim – que espero que seja fruto de um mal-entendido. Peço-lhe, portanto, que me conceda o espaço de resposta em Settimo Cielo.
Você afirma que terei acusado Bento XVI «de ter “enganado” toda a Igreja fazendo crer que o Concílio Vaticano II fosse imune a heresias e, de facto, deveria ser lido em perfeita continuidade com a verdadeira doutrina de sempre». Não creio ter escrito uma coisa semelhante em relação ao Santo Padre. Pelo contrário, afirmei, e reafirmo, que fomos todos – ou quase todos – enganados por aqueles que usaram o Concílio como um “recipiente” dotado de uma sua implícita autoridade e de influência dos Padres que nele tomaram parte, distorcendo, porém, o seu propósito. E quem que caiu nesse engano fê-lo porque, amando a Igreja e o Papado, não podia estar convencido de que, no Vaticano II, uma minoria de organizadíssimos conspiradores pudesse usar um Concílio para demolir, a partir de dentro, a Igreja; e que, ao fazê-lo, pudesse contar com o silêncio e a inacção das Autoridades, se não com a sua cumplicidade. Estes são factos históricos dos quais me permito fazer uma leitura pessoal, mas que julgo que possa ser partilhada.
Também me permito recordar-lhe, como se fosse necessário, que as posições de moderada reinterpretação crítica do Concílio no sentido tradicional de Bento XVI, fazem parte de um louvável passado recente, enquanto que nos formidáveis anos setenta era bem diferente a posição do então teólogo Joseph Ratzinger. Influentes estudos apoiam-se às mesmas aceitações do Professor de Tubinga, confirmando as parciais resipiscências do Emérito. Não vejo tão-pouco um «imprudente acto de acusação lançado por Viganò contra Bento XVI pelas suas “falhadas tentativas de correcção dos excessos conciliares invocando a hermenêutica da continuidade”», uma vez que essa é uma opinião amplamente aceite não apenas nos ambientes conservadores, mas também e sobretudo nos progressistas. E deve-se dizer que o que os inovadores conseguiram alcançar com o engano, a astúcia e a chantagem foi o resultado de uma visão que, depois, encontrámos aplicada ao mais alto grau no “magistério” bergogliano de Amoris Laetitia. A intenção dolosa é admitida pelo próprio Ratzinger: «Era crescente a impressão de que não havia nada estável, que tudo pode ser objecto de revisão. Cada vez mais, o Concílio parecia assemelhar-se a um grande parlamento eclesial, capaz de mudar tudo e revolucionar cada coisa à sua maneira» (cfr. J. Ratzinger, La mia vita, tradução do alemão por Giuseppe Reguzzoni, Cinisello Balsamo, Edizioni San Paolo, 1997, p. 99). Mas ainda mais com as palavras do dominicano Edward Schillebeecks: «Agora dizemo-lo diplomaticamente, mas depois do Concílio extrairemos as consequências implícitas» (De Bazuin, n. 16, 1965).
Confirmamos que a intencional ambiguidade dos textos tinha como próprio objectivo manter unidas visões opostas e irreconciliáveis em nome de uma avaliação de utilidade e em detrimento da Verdade revelada. Uma Verdade que, quando é proclamada integralmente, não pode não ser divisiva, tal como é divisivo Nosso Senhor: «Julgais que Eu vim estabelecer a paz na Terra? Não, Eu vo-lo digo, mas antes a divisão» (Lc 12, 51).
Não encontro nada de reprovável em sugerir esquecer o Vaticano II: os seus defensores souberam descaradamente exercitar essa damnatio memoriae não com um único Concílio, mas com todos, chegando a afirmar que o seu era o primeiro de uma nova igreja, e que a partir do seu concílio tinha terminado a antiga religião e a antiga Missa. Dir-me-á que essas são as posições dos extremistas e que a virtude está no meio, isto é, entre quantos consideram que o Vaticano II seja apenas o mais recente de uma série ininterrupta de acontecimentos em que o Espírito Santo fala pela boca do único e infalível Magistério. Se assim fosse, dever-se-ia explicar por que a igreja conciliar deu uma nova liturgia e um novo calendário e, consequentemente, uma nova doutrina – nova lex orandi, nova lex credendi – distanciando-se com desdém do próprio passado.
A mera ideia de deixar de lado o Concílio suscita o escândalo mesmo naqueles que, como você, reconhecem a crise dos últimos anos, mas persistem em não querer reconhecer a ligação de causalidade entre o Vaticano II e os seus lógicos e inevitáveis efeitos. Você escreve: «Atenção: não o Concílio mal interpretado, mas o Concílio enquanto tal e em bloco». Por isso, pergunto-lhe: qual seria a interpretação correcta do Concílio? A que lhe deu você ou a que lhe davam – enquanto escreviam os decretos e as declarações – os seus diligentíssimos artífices? Ou talvez a dada pelo Episcopado alemão? Ou a dos teólogos que ensinam nas Universidades Pontifícias e que vemos publicadas nos mais difundidos periódicos católicos do mundo? Ou a de Joseph Ratzinger? Ou a de Mons. Schneider? Ou a de Bergoglio? Bastaria isto para compreender quanto dano também causou só o ter deliberadamente adoptado uma linguagem tão fumosa para legitimar interpretações opostas e contrárias, com base nas quais depois ocorreu a famosa primavera conciliar. É por isso que não hesito em dizer que essa reunião deve ser esquecida «enquanto tal e em bloco» e reivindico o direito de afirmá-lo sem me tornar culpado do delito de cisma por ter atentado à unidade da Igreja. A unidade da Igreja está inseparavelmente na Caridade e na Verdade e onde reina ou só serpenteia o erro não pode haver Caridade.
O conto de fadas da hermenêutica – embora respeitável para o seu Autor – continua a ser uma tentativa de querer dar dignidade de Concílio a uma verdadeira emboscada contra a Igreja, a fim de não desacreditar com essa os Pontífices que quiseram, impuseram e repropuseram aquele Concílio. Tanto é assim que esses mesmos Pontífices, um após o outro, chegam às honras dos altares por terem sido “papas do Concílio”.
Permita-me citar uma frase do artigo que a Dr.ª Maria Guarini, em reacção ao seu artigo sobre Settimo Cielo, publicou, a 29 de Junho, em Chiesa e postconcilio, intitulado: Mons. Viganò não está no limite do cisma. Muitos nós estão a vir à tona: «E é precisamente daqui que nasce e, por esse motivo, corre o risco de continuar – sem resultados (até agora, excepto pelo debate desencadeado por Mons. Viganò) – o diálogo entre surdos, porque os interlocutores usam grelhas de leitura da realidade diversas: o Vaticano II, mudando a linguagem, também mudou os parâmetros de aproximação à realidade. E acontece falar-se da mesma coisa à qual, no entanto, se dá significados diferentes. Entre outras coisas, a principal característica das hierarquias actuais é o uso de afirmações apodíticas, sem se preocupar em demonstrá-las ou com demonstrações fracas e sofisticadas. Mas nem precisam de demonstrações porque a nova abordagem e a nova linguagem subverteram tudo ab origine. E o não demonstrado da anómala pastoralidade, desprovida de princípios teológicos definidos, é precisamente o que tira a matéria-prima da disputa. É o avanço do fluido dissolvente disforme no lugar da construção clara, inequívoca, definitiva e verdadeira: a incandescente perene firmeza do dogma contra o esgoto e a areia movediça do neo-magistério transeunte».
Continuo à espera que o tom do seu artigo não tenha sido ditado pelo simples facto de ter ousado reabrir o debate sobre aquele Concílio que muitos, demasiados na estrutura eclesial, consideram um unicum na história da Igreja, quase ídolo intocável.
Fique certo de que, diferentemente de muitos bispos, como os do German Synodal Path, que já foram muito além do limite do cisma – promovendo e pretendendo descaradamente impor à Igreja universal ideologias e práticas aberrantes –, não nutro desejo algum de me separar da Mãe Igreja, pela exaltação da qual renovo diariamente a oferta da minha vida.
Deus refugium nostrum et virtus,
populum ad Te clamantem propitius respice;
Et intercedente Gloriosa et Immaculata Virgine Dei Genitrice Maria,
cum Beato Ioseph, ejus Sponso,
ac Beatis Apostolis Tuis, Petro et Paulo, et omnibus Sanctis,
quas pro conversione peccatorum,
pro libertate et exaltatione Sanctae Matris Ecclesiae,
preces effundimus, misericors et benignus exaudi.
Receba, caro Sandro, a minha bênção com os melhores votos de todo o bem em Cristo Jesus.
† Carlo Maria Viganò
Permita-me responder ao seu artigo “O Arcebispo Viganò no limite do cisma”, publicado, em Settimo Cielo, a 29 de Junho.
Estou ciente de que o ter ousado expressar uma opinião fortemente crítica sobre o Concílio seja suficiente para despertar o espírito inquisitório que, noutros casos, está sujeito a execração da parte dos bem-pensantes. Não obstante, numa disputa respeitosa entre eclesiásticos e leigos competentes, não me parece que seja inadequado levantar problemas que, até ao momento, ainda não foram resolvidos, em primeiro lugar a crise que aflige a Igreja desde o Vaticano II, agora chegada à devastação.
Há quem fale de deturpação do Concílio; da necessidade de regressar a uma sua leitura em continuidade com a Tradição; da oportunidade de corrigir eventuais erros nele contidos ou de interpretar, em sentido católico, os pontos equívocos. No lado oposto, não faltam aqueles que consideram o Vaticano II como um rascunho para continuar na revolução, na mudança, na transformação da Igreja numa outra entidade nova, moderna, a par com os tempos. Isso faz parte das normais dinâmicas de um diálogo que muitas vezes é invocado, mas raramente praticado: aqueles que, até agora, expressaram discordância sobre o que afirmei, nunca entraram no essencial da questão, limitando-se a atribuir-me epítetos que já mereceram os meus bem mais ilustres e veneráveis Irmãos. E é curioso que, tanto na área doutrinária quanto na política, os progressistas reivindiquem para si um primado, um estado de eleição que coloca apoditicamente o adversário numa posição de ontológica inferioridade, indigno de atenção e de resposta e, de forma simplista, liquidável como lefebvriano no campo eclesial ou fascista no campo social. Mas a falta de argumentos não os legitima a ditar as regras, nem a decidir quem tem o direito de falar, especialmente quando a razão, mesmo antes da fé, demonstra onde esteja o engano, quem é o autor e qual o objectivo.
Inicialmente, pareceu-me que o conteúdo do seu artigo deveria ser considerado como um compreensível tributo ao Príncipe; esse encontra-se nos frescos das salas da Terceira Loggia ou nos escritórios de design do Editor; no entanto, ao ler o que me atribui, encontrei uma imprecisão – chamemos-lhe assim – que espero que seja fruto de um mal-entendido. Peço-lhe, portanto, que me conceda o espaço de resposta em Settimo Cielo.
Você afirma que terei acusado Bento XVI «de ter “enganado” toda a Igreja fazendo crer que o Concílio Vaticano II fosse imune a heresias e, de facto, deveria ser lido em perfeita continuidade com a verdadeira doutrina de sempre». Não creio ter escrito uma coisa semelhante em relação ao Santo Padre. Pelo contrário, afirmei, e reafirmo, que fomos todos – ou quase todos – enganados por aqueles que usaram o Concílio como um “recipiente” dotado de uma sua implícita autoridade e de influência dos Padres que nele tomaram parte, distorcendo, porém, o seu propósito. E quem que caiu nesse engano fê-lo porque, amando a Igreja e o Papado, não podia estar convencido de que, no Vaticano II, uma minoria de organizadíssimos conspiradores pudesse usar um Concílio para demolir, a partir de dentro, a Igreja; e que, ao fazê-lo, pudesse contar com o silêncio e a inacção das Autoridades, se não com a sua cumplicidade. Estes são factos históricos dos quais me permito fazer uma leitura pessoal, mas que julgo que possa ser partilhada.
Também me permito recordar-lhe, como se fosse necessário, que as posições de moderada reinterpretação crítica do Concílio no sentido tradicional de Bento XVI, fazem parte de um louvável passado recente, enquanto que nos formidáveis anos setenta era bem diferente a posição do então teólogo Joseph Ratzinger. Influentes estudos apoiam-se às mesmas aceitações do Professor de Tubinga, confirmando as parciais resipiscências do Emérito. Não vejo tão-pouco um «imprudente acto de acusação lançado por Viganò contra Bento XVI pelas suas “falhadas tentativas de correcção dos excessos conciliares invocando a hermenêutica da continuidade”», uma vez que essa é uma opinião amplamente aceite não apenas nos ambientes conservadores, mas também e sobretudo nos progressistas. E deve-se dizer que o que os inovadores conseguiram alcançar com o engano, a astúcia e a chantagem foi o resultado de uma visão que, depois, encontrámos aplicada ao mais alto grau no “magistério” bergogliano de Amoris Laetitia. A intenção dolosa é admitida pelo próprio Ratzinger: «Era crescente a impressão de que não havia nada estável, que tudo pode ser objecto de revisão. Cada vez mais, o Concílio parecia assemelhar-se a um grande parlamento eclesial, capaz de mudar tudo e revolucionar cada coisa à sua maneira» (cfr. J. Ratzinger, La mia vita, tradução do alemão por Giuseppe Reguzzoni, Cinisello Balsamo, Edizioni San Paolo, 1997, p. 99). Mas ainda mais com as palavras do dominicano Edward Schillebeecks: «Agora dizemo-lo diplomaticamente, mas depois do Concílio extrairemos as consequências implícitas» (De Bazuin, n. 16, 1965).
Confirmamos que a intencional ambiguidade dos textos tinha como próprio objectivo manter unidas visões opostas e irreconciliáveis em nome de uma avaliação de utilidade e em detrimento da Verdade revelada. Uma Verdade que, quando é proclamada integralmente, não pode não ser divisiva, tal como é divisivo Nosso Senhor: «Julgais que Eu vim estabelecer a paz na Terra? Não, Eu vo-lo digo, mas antes a divisão» (Lc 12, 51).
Não encontro nada de reprovável em sugerir esquecer o Vaticano II: os seus defensores souberam descaradamente exercitar essa damnatio memoriae não com um único Concílio, mas com todos, chegando a afirmar que o seu era o primeiro de uma nova igreja, e que a partir do seu concílio tinha terminado a antiga religião e a antiga Missa. Dir-me-á que essas são as posições dos extremistas e que a virtude está no meio, isto é, entre quantos consideram que o Vaticano II seja apenas o mais recente de uma série ininterrupta de acontecimentos em que o Espírito Santo fala pela boca do único e infalível Magistério. Se assim fosse, dever-se-ia explicar por que a igreja conciliar deu uma nova liturgia e um novo calendário e, consequentemente, uma nova doutrina – nova lex orandi, nova lex credendi – distanciando-se com desdém do próprio passado.
A mera ideia de deixar de lado o Concílio suscita o escândalo mesmo naqueles que, como você, reconhecem a crise dos últimos anos, mas persistem em não querer reconhecer a ligação de causalidade entre o Vaticano II e os seus lógicos e inevitáveis efeitos. Você escreve: «Atenção: não o Concílio mal interpretado, mas o Concílio enquanto tal e em bloco». Por isso, pergunto-lhe: qual seria a interpretação correcta do Concílio? A que lhe deu você ou a que lhe davam – enquanto escreviam os decretos e as declarações – os seus diligentíssimos artífices? Ou talvez a dada pelo Episcopado alemão? Ou a dos teólogos que ensinam nas Universidades Pontifícias e que vemos publicadas nos mais difundidos periódicos católicos do mundo? Ou a de Joseph Ratzinger? Ou a de Mons. Schneider? Ou a de Bergoglio? Bastaria isto para compreender quanto dano também causou só o ter deliberadamente adoptado uma linguagem tão fumosa para legitimar interpretações opostas e contrárias, com base nas quais depois ocorreu a famosa primavera conciliar. É por isso que não hesito em dizer que essa reunião deve ser esquecida «enquanto tal e em bloco» e reivindico o direito de afirmá-lo sem me tornar culpado do delito de cisma por ter atentado à unidade da Igreja. A unidade da Igreja está inseparavelmente na Caridade e na Verdade e onde reina ou só serpenteia o erro não pode haver Caridade.
O conto de fadas da hermenêutica – embora respeitável para o seu Autor – continua a ser uma tentativa de querer dar dignidade de Concílio a uma verdadeira emboscada contra a Igreja, a fim de não desacreditar com essa os Pontífices que quiseram, impuseram e repropuseram aquele Concílio. Tanto é assim que esses mesmos Pontífices, um após o outro, chegam às honras dos altares por terem sido “papas do Concílio”.
Permita-me citar uma frase do artigo que a Dr.ª Maria Guarini, em reacção ao seu artigo sobre Settimo Cielo, publicou, a 29 de Junho, em Chiesa e postconcilio, intitulado: Mons. Viganò não está no limite do cisma. Muitos nós estão a vir à tona: «E é precisamente daqui que nasce e, por esse motivo, corre o risco de continuar – sem resultados (até agora, excepto pelo debate desencadeado por Mons. Viganò) – o diálogo entre surdos, porque os interlocutores usam grelhas de leitura da realidade diversas: o Vaticano II, mudando a linguagem, também mudou os parâmetros de aproximação à realidade. E acontece falar-se da mesma coisa à qual, no entanto, se dá significados diferentes. Entre outras coisas, a principal característica das hierarquias actuais é o uso de afirmações apodíticas, sem se preocupar em demonstrá-las ou com demonstrações fracas e sofisticadas. Mas nem precisam de demonstrações porque a nova abordagem e a nova linguagem subverteram tudo ab origine. E o não demonstrado da anómala pastoralidade, desprovida de princípios teológicos definidos, é precisamente o que tira a matéria-prima da disputa. É o avanço do fluido dissolvente disforme no lugar da construção clara, inequívoca, definitiva e verdadeira: a incandescente perene firmeza do dogma contra o esgoto e a areia movediça do neo-magistério transeunte».
Continuo à espera que o tom do seu artigo não tenha sido ditado pelo simples facto de ter ousado reabrir o debate sobre aquele Concílio que muitos, demasiados na estrutura eclesial, consideram um unicum na história da Igreja, quase ídolo intocável.
Fique certo de que, diferentemente de muitos bispos, como os do German Synodal Path, que já foram muito além do limite do cisma – promovendo e pretendendo descaradamente impor à Igreja universal ideologias e práticas aberrantes –, não nutro desejo algum de me separar da Mãe Igreja, pela exaltação da qual renovo diariamente a oferta da minha vida.
Deus refugium nostrum et virtus,
populum ad Te clamantem propitius respice;
Et intercedente Gloriosa et Immaculata Virgine Dei Genitrice Maria,
cum Beato Ioseph, ejus Sponso,
ac Beatis Apostolis Tuis, Petro et Paulo, et omnibus Sanctis,
quas pro conversione peccatorum,
pro libertate et exaltatione Sanctae Matris Ecclesiae,
preces effundimus, misericors et benignus exaudi.
Receba, caro Sandro, a minha bênção com os melhores votos de todo o bem em Cristo Jesus.
† Carlo Maria Viganò
1 Comentários
Eu sou sacerdote ordenado há vinte anos e nunca me senti tão bem representado como agora através de Monsenhor Viganò. Rezemos para que o seu combate não seja em vão e que Deus ajude a nos livrar dos inimigos da Igreja que estão no comando dela.
ResponderEliminar«Tudo me é permitido, mas nem tudo é conveniente» (cf. 1Cor 6, 12).
Para esclarecimentos e comentários privados, queira escrever-nos para: info@diesirae.pt.