Publica-se, em exclusivo para Língua
Portuguesa, uma carta que o Arcebispo Carlo Maria Viganò, Núncio Apostólico,
enviou a Maria Guarini, redactora do blogue italiano Chiesa e post Concilio, que
nos permite conhecer um pouco melhor a perspectiva de Mons. Viganò acerca da
posição tomada recentemente em relação ao Concílio Vaticano II e que tanta
discussão tem causado.
14 de Junho
de 2020
Domingo na oitava do Corpus Christi
Domingo na oitava do Corpus Christi
Caríssima
Dr.ª Guarini,
Recebi as notas do Prof. Pasqualucci, que gentilmente me quis transmitir e às quais procurarei responder, na medida do possível, de modo conciso.
Sobre a possibilidade de submeter os actos do Concílio Vaticano II a correcção, penso que podemos encontrar pontos comuns: as proposições heréticas ou que favorecem a heresia devem ser alvo de condenação e só podemos esperar que tal aconteça o quanto antes.
A minha objecção a Mons. Schneider versa mais sobre a oportunidade de manter entre os actos oficiais da Igreja um hapax que, para além das formulações ambíguas e em descontinuidade, foi desejado e concebido pelo seu valor subversivo e que, como tal, causou muitos males. Do ponto de vista jurídico, talvez se possa encontrar a solução mais idónea; mas sob o ponto de vista pastoral – isto é, no que diz respeito à sua utilidade na edificação dos fiéis – é preferível deixá-lo cair completamente e esquecê-lo. E se é verdade, como afirma o Prof. Pasqualucci, que o erro não faz doutrina, é igualmente verdade que uma condenação das proposições heterodoxas não remove as sombras que pesam sobre o Concílio como um todo, e que prejudicam todo o corpus, nem as consequências dele decorrentes. Também é bom lembrar que o evento conciliar supera em muito os Documentos por ele produzidos.
O simples facto que o Vaticano II seja susceptível de correcção deve ser suficiente para declarar o seu esquecimento, uma vez feita clareza sobre os erros mais evidentes. Não é por acaso que o Prof. Pasqualucci o define como conciliábulo, à semelhança do de Pistoia, que mereceu uma condenação geral, para além da refutação dos erros individuais nele formulados. Faço minha esta sua frase: «Depois de colocar bem em evidência as iniquidades processuais e os erros contra a fé espalhada nos documentos, um Papa pode muito bem anular todo o Concílio, “confirmando, assim, os seus irmãos na fé”, finalmente. Isto entraria perfeitamente na sua summa potestas iurisdictionis em toda a Igreja, iure divino. O Concílio não é superior ao Papa. Se o Concílio se desviou da fé, o Papa tem o poder de invalidá-lo. Aliás, é um seu dever».
Permito-me acrescentar que, diante da situação desastrosa que a Igreja enfrenta e dos muitos males que a afligem, as desavenças entre “especialistas” parecem inadequadas e inconclusivas. Ocorre restituir urgentemente a Esposa de Cristo à sua bimilenária Tradição e restabelecer os tesouros que foram saqueados e dispersos, permitindo, assim, que o rebanho desorientado e disperso novamente deles desfrute abundantemente.
Cada discussão, nas legítimas divergências de opinião, não deve ter como objectivo o compromisso contra a Verdade, mas o seu triunfo. A virtude é o justo meio entre dois vícios, como um cume entre dois afundamentos: deve ser essa a nossa meta.
Parece-me que, deste profícuo confronto com o meu Irmão, o bispo Athanasius, tenha emergido o quão temos unicamente no coração o restabelecimento da Fé Católica como base imprescindível para a união na Caridade. Não há nenhum conflito, nenhuma oposição: o nosso zelo nasce e cresce no Coração Eucarístico de Nosso Senhor e a Ele retorna para ser consumido no Seu amor.
Permita-me, caríssima Dr.ª Guarini, que convide os seus leitores a rezar assiduamente pelos Pastores e, em particular, por aqueles que vivem com dor e sofrimento a crise presente e se esforçam para cumprir com fidelidade o mandato recebido do Divino Mestre. Numa época em que estamos todos sob ataque, sitiados por muitos lados, é, mais do que nunca, necessário aconchegarmo-nos com confiança e humildade sob o manto da nossa Comandante: o amor pela Rainha das Vitórias que une os Seus filhos é a mais evidente prova que entre nós não podem e não devem existir divisões, que são a marca do Inimigo.
Para si e para os leitores, a minha Bênção.
† Carlo Maria Viganò
Recebi as notas do Prof. Pasqualucci, que gentilmente me quis transmitir e às quais procurarei responder, na medida do possível, de modo conciso.
Sobre a possibilidade de submeter os actos do Concílio Vaticano II a correcção, penso que podemos encontrar pontos comuns: as proposições heréticas ou que favorecem a heresia devem ser alvo de condenação e só podemos esperar que tal aconteça o quanto antes.
A minha objecção a Mons. Schneider versa mais sobre a oportunidade de manter entre os actos oficiais da Igreja um hapax que, para além das formulações ambíguas e em descontinuidade, foi desejado e concebido pelo seu valor subversivo e que, como tal, causou muitos males. Do ponto de vista jurídico, talvez se possa encontrar a solução mais idónea; mas sob o ponto de vista pastoral – isto é, no que diz respeito à sua utilidade na edificação dos fiéis – é preferível deixá-lo cair completamente e esquecê-lo. E se é verdade, como afirma o Prof. Pasqualucci, que o erro não faz doutrina, é igualmente verdade que uma condenação das proposições heterodoxas não remove as sombras que pesam sobre o Concílio como um todo, e que prejudicam todo o corpus, nem as consequências dele decorrentes. Também é bom lembrar que o evento conciliar supera em muito os Documentos por ele produzidos.
O simples facto que o Vaticano II seja susceptível de correcção deve ser suficiente para declarar o seu esquecimento, uma vez feita clareza sobre os erros mais evidentes. Não é por acaso que o Prof. Pasqualucci o define como conciliábulo, à semelhança do de Pistoia, que mereceu uma condenação geral, para além da refutação dos erros individuais nele formulados. Faço minha esta sua frase: «Depois de colocar bem em evidência as iniquidades processuais e os erros contra a fé espalhada nos documentos, um Papa pode muito bem anular todo o Concílio, “confirmando, assim, os seus irmãos na fé”, finalmente. Isto entraria perfeitamente na sua summa potestas iurisdictionis em toda a Igreja, iure divino. O Concílio não é superior ao Papa. Se o Concílio se desviou da fé, o Papa tem o poder de invalidá-lo. Aliás, é um seu dever».
Permito-me acrescentar que, diante da situação desastrosa que a Igreja enfrenta e dos muitos males que a afligem, as desavenças entre “especialistas” parecem inadequadas e inconclusivas. Ocorre restituir urgentemente a Esposa de Cristo à sua bimilenária Tradição e restabelecer os tesouros que foram saqueados e dispersos, permitindo, assim, que o rebanho desorientado e disperso novamente deles desfrute abundantemente.
Cada discussão, nas legítimas divergências de opinião, não deve ter como objectivo o compromisso contra a Verdade, mas o seu triunfo. A virtude é o justo meio entre dois vícios, como um cume entre dois afundamentos: deve ser essa a nossa meta.
Parece-me que, deste profícuo confronto com o meu Irmão, o bispo Athanasius, tenha emergido o quão temos unicamente no coração o restabelecimento da Fé Católica como base imprescindível para a união na Caridade. Não há nenhum conflito, nenhuma oposição: o nosso zelo nasce e cresce no Coração Eucarístico de Nosso Senhor e a Ele retorna para ser consumido no Seu amor.
Permita-me, caríssima Dr.ª Guarini, que convide os seus leitores a rezar assiduamente pelos Pastores e, em particular, por aqueles que vivem com dor e sofrimento a crise presente e se esforçam para cumprir com fidelidade o mandato recebido do Divino Mestre. Numa época em que estamos todos sob ataque, sitiados por muitos lados, é, mais do que nunca, necessário aconchegarmo-nos com confiança e humildade sob o manto da nossa Comandante: o amor pela Rainha das Vitórias que une os Seus filhos é a mais evidente prova que entre nós não podem e não devem existir divisões, que são a marca do Inimigo.
Para si e para os leitores, a minha Bênção.
† Carlo Maria Viganò
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