Não,
não foi apenas um infortúnio jornalístico, como pode acontecer a qualquer um,
por pressa, falta de controlo, editor pouco qualificado e assim por diante.
Não, a publicação, na edição inglesa, de 30 de Março, do Vatican News, do artigo do padre jesuíta Benedict Mayaki, que
elogia o bem que o coronavírus está a fazer à Terra, é muito mais que um
infortúnio: é a consequência lógica da deriva ecologista inspirada por este
pontificado. O facto de o artigo ter sido retirado no dia seguinte, devido aos
numerosos e vibrantes protestos, não significa que o que o padre Mayaki
escreveu seja perfeitamente coerente com o ecologismo que, hoje, está tão em
voga na Igreja: da referência à encíclica Laudato
Si’ (é o próprio Mayaki a explicá-lo) à oração à Pachamama; do panteísmo
exaltado nas conclusões do Sínodo sobre a Amazónia aos contínuos obséquios à
Mãe Terra que nos chegam de tantos prelados.
O que disse o padre Mayaki no artigo incriminado? Em síntese, sustenta que, embora o mundo esteja correctamente preocupado com o coronavírus, deve-se considerar que a interrupção das actividades humanas trouxe grandes benefícios à Terra, que, assim, tem a possibilidade de se curar. Para poder demonstrar esta tese, inventa um pouco ou cita, aleatoriamente, o artigos de jornais: fala sobre o regresso dos peixes e dos cisnes a Veneza, o ar que se tornou saudável em Hong Kong, a redução da concentração de dióxido de nitrogénio nos céus chineses em relação (não se sabe como) às emissões de dióxido de carbono; o grande bem que faz ao ar o impedimento das deslocações: aviões, navios e carros (especialmente os primeiros). Tudo para poder dizer que devemos aprender a lição e converter-nos à sustentabilidade. O que significa? Vistos os exemplos apresentados, temos a impressão de que “fiquem todos em casa” é uma palavra de ordem que deve durar muito mais tempo do que a infecção do COVID-19. Não é por acaso que o padre Mayaki acaba citando a encíclica Laudato Si’, onde denuncia os efeitos devastadores, para o planeta, da actividade humana: «Nunca maltratámos e ferimos a nossa casa comum como nos últimos dois séculos» (n. 53).
Compreende-se o escândalo que provocou tal artigo enquanto que, em tantos países, se faz a contagem dos mortos, mas é preciso admitir que a tese está longe de ser nova no Vaticano. De resto, o padre Mayaki não é um especialista no assunto, cujas teses encontraram, ocasional e infelizmente, espaço no Vatican News; em vez disso, ele é um jovem padre nigeriano, ordenado há dois anos, que é, há um mês e meio, o editor da edição em inglês do Vatican News. Ou seja, ele é o clássico jovem entusiasta que escreveu simplesmente o que aprendeu, desde logo, na Companhia de Jesus, que desde há dez anos colocou a ecologia no centro do próprio apostolado. Data de 2010 a adição da ecologia ao nome do Secretariado dos jesuítas para a justiça social; e, um ano depois, o grupo de trabalho internacional, propositadamente estabelecido, publicou um documento – “Recompor um mundo destruído” – no qual encontramos todos os lugares comuns da ecologia, inclusive indígenas, já para não falar da questão das mudanças climáticas.
É uma abordagem que encontramos neste pontificado, que anuncia a Laudato Si’, e que se encontra totalmente nos conteúdos que caracterizaram o Sínodo sobre a Amazónia. O pobre padre Mayaki apenas respirou, a plenos pulmões, essa mentalidade e declinou-a ingenuamente na actualidade. Escolheu apenas o momento errado; tivesse esperado alguns meses que a emergência terminasse e teria sido aclamado como um grande pensador.
Para além disso, bestialidades ainda mais explícitas foram ditas e escritas, nas últimas semanas, por Leonardo Boff, ex-sacerdote e teólogo da libertação, fulgurado pelo caminho do ecologismo e recrutado, pelo Papa Francisco, como inspirador da Laudato Si’. Num recente artigo para o site “A terra é redonda” – traduzido por Il Faro di Roma –, afirmou que o coronavírus é «uma retaliação de Gaia pelas ofensas que ininterruptamente lhe infligimos». Gaia, como é sabido, é a deusa grega que personifica a Terra e foi usada, pelo cientista James Lovelock, para apresentar a teoria da Terra como um super-organismo vivo. E, ainda mais recentemente, a 26 de Março, no Religiondigital, Boff começava assim: «A actual pandemia do coronavírus representa, para nós, uma oportunidade de repensar o nosso modo de habitar a Casa comum, o modo como produzimos, consumimos e nos relacionamos com a natureza».
E também o cardeal austríaco Christoph Schönborn, muito considerado pelo Papa Francisco, falou no mesmo sentido numa entrevista televisiva de 22 de Março. Mais do que punição de Deus, explicou Schönborn, o verdadeiro pecado é o ecológico: «É realmente necessário viajar para Londres para fazer compras? É realmente necessário tirar férias, no Natal, nas Maldivas? É realmente necessário fazer cruzeiros com 4 mil pessoas a bordo de um navio que polui dramaticamente os mares? Precisamos mesmo de 200 mil aviões a voar diariamente?». Questionar-nos-emos: o que é que isso tem a ver com o COVID-19? E aqui está a resposta do arcebispo de Viena: «Talvez Deus queira recordar-nos que nos confiou a criação e não no-la deu para que a devastássemos».
Então, porquê indignar-se com o artigo do pobre padre Mayaki? Ele apenas reescreveu, como bom aluno, o que lhe é continuamente ensinado e que no Vaticano é muito apreciado se escrito por personagens como Boff, Schönborn e outros. É tão verdade que o artigo do padre Mayaki não foi somente publicado, mas também foi twittado pelo Vatican News e, no final, foi apenas removido quase um dia depois.
É por isso que são verdadeiramente ridículas as palavras com que a irmã Bernadette Reis, representante para a língua inglesa na Comissão Editorial dos Media vaticanos (CEM), quis justificar a remoção do artigo do site: «Não reflecte a linha editorial sobre este assunto, como demonstram as centenas de artigos e entrevistas publicados, nos últimos dias, no nosso portal, em todos os idiomas». E também são um pouco hipócritas as desculpas aos leitores que se sentiram «magoados na sua sensibilidade». Se as desculpas fossem sinceras, no Vaticano deveriam começar a reflectir seriamente sobre a ecologia que abraçaram como nova religião.
Riccardo Cascioli
O que disse o padre Mayaki no artigo incriminado? Em síntese, sustenta que, embora o mundo esteja correctamente preocupado com o coronavírus, deve-se considerar que a interrupção das actividades humanas trouxe grandes benefícios à Terra, que, assim, tem a possibilidade de se curar. Para poder demonstrar esta tese, inventa um pouco ou cita, aleatoriamente, o artigos de jornais: fala sobre o regresso dos peixes e dos cisnes a Veneza, o ar que se tornou saudável em Hong Kong, a redução da concentração de dióxido de nitrogénio nos céus chineses em relação (não se sabe como) às emissões de dióxido de carbono; o grande bem que faz ao ar o impedimento das deslocações: aviões, navios e carros (especialmente os primeiros). Tudo para poder dizer que devemos aprender a lição e converter-nos à sustentabilidade. O que significa? Vistos os exemplos apresentados, temos a impressão de que “fiquem todos em casa” é uma palavra de ordem que deve durar muito mais tempo do que a infecção do COVID-19. Não é por acaso que o padre Mayaki acaba citando a encíclica Laudato Si’, onde denuncia os efeitos devastadores, para o planeta, da actividade humana: «Nunca maltratámos e ferimos a nossa casa comum como nos últimos dois séculos» (n. 53).
Compreende-se o escândalo que provocou tal artigo enquanto que, em tantos países, se faz a contagem dos mortos, mas é preciso admitir que a tese está longe de ser nova no Vaticano. De resto, o padre Mayaki não é um especialista no assunto, cujas teses encontraram, ocasional e infelizmente, espaço no Vatican News; em vez disso, ele é um jovem padre nigeriano, ordenado há dois anos, que é, há um mês e meio, o editor da edição em inglês do Vatican News. Ou seja, ele é o clássico jovem entusiasta que escreveu simplesmente o que aprendeu, desde logo, na Companhia de Jesus, que desde há dez anos colocou a ecologia no centro do próprio apostolado. Data de 2010 a adição da ecologia ao nome do Secretariado dos jesuítas para a justiça social; e, um ano depois, o grupo de trabalho internacional, propositadamente estabelecido, publicou um documento – “Recompor um mundo destruído” – no qual encontramos todos os lugares comuns da ecologia, inclusive indígenas, já para não falar da questão das mudanças climáticas.
É uma abordagem que encontramos neste pontificado, que anuncia a Laudato Si’, e que se encontra totalmente nos conteúdos que caracterizaram o Sínodo sobre a Amazónia. O pobre padre Mayaki apenas respirou, a plenos pulmões, essa mentalidade e declinou-a ingenuamente na actualidade. Escolheu apenas o momento errado; tivesse esperado alguns meses que a emergência terminasse e teria sido aclamado como um grande pensador.
Para além disso, bestialidades ainda mais explícitas foram ditas e escritas, nas últimas semanas, por Leonardo Boff, ex-sacerdote e teólogo da libertação, fulgurado pelo caminho do ecologismo e recrutado, pelo Papa Francisco, como inspirador da Laudato Si’. Num recente artigo para o site “A terra é redonda” – traduzido por Il Faro di Roma –, afirmou que o coronavírus é «uma retaliação de Gaia pelas ofensas que ininterruptamente lhe infligimos». Gaia, como é sabido, é a deusa grega que personifica a Terra e foi usada, pelo cientista James Lovelock, para apresentar a teoria da Terra como um super-organismo vivo. E, ainda mais recentemente, a 26 de Março, no Religiondigital, Boff começava assim: «A actual pandemia do coronavírus representa, para nós, uma oportunidade de repensar o nosso modo de habitar a Casa comum, o modo como produzimos, consumimos e nos relacionamos com a natureza».
E também o cardeal austríaco Christoph Schönborn, muito considerado pelo Papa Francisco, falou no mesmo sentido numa entrevista televisiva de 22 de Março. Mais do que punição de Deus, explicou Schönborn, o verdadeiro pecado é o ecológico: «É realmente necessário viajar para Londres para fazer compras? É realmente necessário tirar férias, no Natal, nas Maldivas? É realmente necessário fazer cruzeiros com 4 mil pessoas a bordo de um navio que polui dramaticamente os mares? Precisamos mesmo de 200 mil aviões a voar diariamente?». Questionar-nos-emos: o que é que isso tem a ver com o COVID-19? E aqui está a resposta do arcebispo de Viena: «Talvez Deus queira recordar-nos que nos confiou a criação e não no-la deu para que a devastássemos».
Então, porquê indignar-se com o artigo do pobre padre Mayaki? Ele apenas reescreveu, como bom aluno, o que lhe é continuamente ensinado e que no Vaticano é muito apreciado se escrito por personagens como Boff, Schönborn e outros. É tão verdade que o artigo do padre Mayaki não foi somente publicado, mas também foi twittado pelo Vatican News e, no final, foi apenas removido quase um dia depois.
É por isso que são verdadeiramente ridículas as palavras com que a irmã Bernadette Reis, representante para a língua inglesa na Comissão Editorial dos Media vaticanos (CEM), quis justificar a remoção do artigo do site: «Não reflecte a linha editorial sobre este assunto, como demonstram as centenas de artigos e entrevistas publicados, nos últimos dias, no nosso portal, em todos os idiomas». E também são um pouco hipócritas as desculpas aos leitores que se sentiram «magoados na sua sensibilidade». Se as desculpas fossem sinceras, no Vaticano deveriam começar a reflectir seriamente sobre a ecologia que abraçaram como nova religião.
Riccardo Cascioli
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