A
extensa entrevista que o Arcebispo Carlo Maria Viganò concedeu a Chico Harlan e
a Stefano Pitrelli, no Washingon Post
de 10 de Junho (Archbishop Carlo Maria Viganò gives his first extended
interview since calling on the pope to resign), é de excepcional importância
por diversos motivos.
O primeiro e mais importante motivo é que esta entrevista assinala o completo fracasso da estratégia vaticana do “silêncio” diante das alegações do ex-Núncio nos Estados Unidos. Os responsáveis dos media do Vaticano estavam convencidos que as revelações de Monsenhor Viganò poderiam permanecer circunscritas a um público-alvo, pronto a esquecê-las depois de alguns momentos de emoção. Mas não foi assim.
O Washington Post é um dos jornais mais lidos do planeta, com milhões de leitores, e a entrevista ao Arcebispo foi, durante quase três dias, o segundo artigo mais lido no seu site. A voz de Monsenhor Viganò teve um impacto mundial, desintegrando o muro do silêncio e impondo-se como um testemunho que não pode ser mais ignorado ou minimizado.
A segunda razão, ligada à primeira, é que, com a sua entrevista, o Washington Post credita Monsenhor Viganò como testemunha histórica, cuja credibilidade não pode ser posta em dúvida por ninguém. O Arcebispo não entra nos problemas teológicos levantados por documentos como a Amoris Laetitia, mas limita-se a falar de factos que conhece: a existência de uma “máfia corrupta” que «assumiu o controlo de muitas instituições da Igreja, de alto a baixo, e está a explorar a Igreja e os fiéis para os seus propósitos imorais». Esta máfia «está ligada não a uma intimidade sexual partilhada, mas a um interesse comum em proteger-se e progredir profissionalmente e em sabotar qualquer esforço para reformar a corrupção sexual».
Às inábeis tentativas dos media vaticanos para desacreditá-lo, atribuindo-lhe objectivos de poder, Monsenhor Viganò responde: «De qualquer maneira, a minha motivação não é o ponto central, e as perguntas sobre isso são uma distracção. A questão realmente importante é se o meu testemunho é verdadeiro. Apoio e peço inquirições para que os factos possam surgir. Infelizmente, aqueles que contestam as minhas motivações não estiveram dispostos a conduzir investigações abertas e aprofundadas».
Com estas palavras, o Arcebispo demonstra um amor pela verdade que o impede de transmitir eventuais erros dos Papas anteriores ao Papa Francisco. Caem, assim, as insinuações daqueles que tentam colocá-lo contra Bento XVI e João Paulo II, como fez o Vaticano Insider no artigo que dedicou ao caso após a publicação da entrevista. Monsenhor Viganò respondeu preventivamente de maneira muito equilibrada: «Desejo, sinceramente, que todos os documentos, se ainda não foram destruídos, sejam publicados. É possível que isso possa prejudicar a reputação de Bento XVI e de São João Paulo II, mas não é uma boa razão para não se procurar a verdade. Bento XVI e João Paulo II são seres humanos e também podem ter cometido erros. Se o fizeram, queremos conhecê-los. Porquê que deveriam permanecer escondidos? Todos nós podemos aprender com os nossos erros. Eu mesmo me arrependo de não ter falado publicamente antes. Como já disse, esperava realmente, contra qualquer esperança, que a Igreja pudesse reformar-se a partir de dentro. Mas quando ficou claro que o próprio sucessor de Pedro era um dos que encobriam os crimes, não tive dúvidas de que o Senhor me chamava a falar, como fiz e continuarei a fazer».
Um ponto central da entrevista é a reiterada convicção de que a homossexualidade – e a falta de resposta do Vaticano – seja uma parte fundamental do actual problema da Igreja ao afrontar os abusos. Ao entrevistador que lhe perguntou: «Pode explicar, com a máxima clareza possível, como é que a homossexualidade, na sua opinião, está relacionada com os abusos?», Viganó responde: «Mantenhamos dois aspectos diversos: (1) os crimes de abuso sexual e (2) o encobrimento criminal dos crimes de abuso sexual. Na maioria dos casos na Igreja de hoje, ambos têm uma componente homossexual – geralmente minimizada – que é a chave da crise. No que respeita ao primeiro, os homens heterossexuais obviamente não escolhem meninos e jovens homens como parceiros sexuais de preferência, e cerca de 80% das vítimas são do sexo masculino, a grande maioria dos quais são rapazes pós-púberes. (...). Não foram os pedófilos, mas os sacerdotes gay, que atacam os rapazes pós-púberes, que fizeram falir as dioceses americanas». «Quanto ao segundo aspecto, a “máfia gay” entre os bispos não está unida pela intimidade sexual partilhada, mas por um interesse comum em proteger-se e progredir profissionalmente e sabotar qualquer esforço de reforma». No entanto, «dadas as provas esmagadoras, é surpreendente que a palavra “homossexualidade” não tenha aparecido uma só vez em nenhum dos recentes documentos oficiais da Santa Sé, incluindo os dois Sínodos sobre a família, o da juventude e a recente cimeira de Fevereiro passado».
Há um outro ponto da entrevista que merece ser sublinhado: a avaliação, da parte de Monsenhor Viganò, à redução ao estado laico do Cardeal Theodore McCarrick. Esta punição, afirma o ex-Núncio pontifício, «foi, por quanto se possa dizer, uma punição justa, mas não há nenhuma razão legítima para que não tenha sido imposta mais de cinco anos antes e depois de um justo processo com um procedimento judicial». Contra McCarrick, de facto, procedeu-se não pela via judicial, mas pela via administrativa. É difícil evitar pensar que tal tenha sido feito para “manipular a opinião pública”: «Condenar McCarrick como bode expiatório com uma punição exemplar – foi a primeira vez na história da Igreja que um Cardeal foi reduzido ao Estado laical – teria apoiado a narrativa de que o Papa Francisco estava firmemente determinado a lutar contra os abusos sexuais do clero».
Viganò explica: «Segundo uma declaração divulgada pela Sala de Imprensa da Santa Sé, a 16 de Fevereiro de 2019, McCarrick foi considerado culpado, pela Congregação para a Doutrina da Fé, de “sedução no sacramento da confissão e pecados contra o sexto mandamento” com menores e adultos, com “o factor agravante do abuso de poder”. A pena imposta foi a laicização, que o Papa Francisco confirmou como “de natureza definitiva”. Desta forma, McCarrick, que sempre se declarou inocente, foi privado de qualquer possibilidade de impugnar a sentença. Onde é que está o processo justo? É assim que se faz justiça no Vaticano? Além disso, tendo declarado definitiva a sentença, o Papa tornou impossível conduzir mais investigações, que poderiam ter revelado quem, na Cúria e noutros lugares, sabia dos abusos de McCarrick, quando é que o souberam e quem é que o ajudou a ser nomeado Arcebispo de Washington e, finalmente, Cardeal. Note-se, entre outras coisas, que os documentos deste caso, cuja publicação foi prometida, nunca foram reproduzidos. O ponto fundamental é este: o Papa Francisco está a esconder deliberadamente as provas sobre McCarrick».
«Mas consideremos a muito mais importante dimensão espiritual, que esteve completamente ausente de qualquer declaração sobre McCarrick ou de qualquer outra conferência de imprensa na cimeira. O principal objectivo das sanções na ordem canónica é o arrependimento e a conversão: “Suprema ratio est salus animarum” (a lei suprema é a salvação das almas). Creio, portanto, que a simples “redução ao Estado laical” seja completamente inadequada, porque não fornece um remédio e não expressa a preocupação pelo objectivo mais importante da punição, ou seja, a salvação da alma de McCarrick. De facto, a menos que não seja acompanhada de outras medidas, uma simples laicização poderia ser considerada uma expressão de desprezo pelo Estado laical. A ideia de que um Prelado que se comporta mal é punido com o ser “reduzido” ao estado laical é uma espécie de clericalismo». «Acredito, e não sou o único, que a pena de excomunhão – da qual pode ser absolvido a qualquer momento – também deveria ser imposta a McCarrick. Como fármaco adequadamente dosado, deveria ter sido imposta para induzir McCarrick a assumir a responsabilidade dos seus pecados, a arrepender-se, a reconciliar-se com Deus e, portanto, a salvar a sua alma».
Estas palavras ajudam a compreender uma questão importante. Hoje, quem governa a Igreja avança com ataques de comissariados aos institutos religiosos indesejados e de demissões do estado clerical daqueles que poderiam criar problemas com a opinião pública. A redução ao estado laical é concebida como um “despedimento” da “empresa-Igreja”, que também pode ocorrer sem justa causa. Tudo por decreto pontifício, sem a possibilidade de recursos canónicos. Esquece-se, no entanto, que o sacramento da Ordem, uma vez recebido, não se torna nulo, porque o seu carácter é indelével. Nenhuma autoridade pode cancelar a condição ontológica do sacerdote, pelo qual se deve mostrar sempre misericórdia. Mas, sobretudo, não se pode chegar a actos extremos, como a redução laical, sem um devido processo em que seja consentido ao acusado expor as próprias razões.
Quem não ouve as razões, talvez não as tenha e é forçado a mentir para justificar as suas acções, como acontece com o Papa Francisco, que estava a par dos abusos de McCarrick, pelo menos, desde 23 de Junho de 2013, quando Monsenhor Viganò, respondendo a uma pergunta específica, lhe revelou a existência de um pesado dossiê contra o Cardeal americano.
Monsenhor Viganò é, até hoje, o único Bispo que indicou publicamente o Papa Francisco como responsável directo pela terrível crise que aflige a Igreja. À questão se «o Vaticano, sob a orientação do Papa Francisco, está a tomar medidas apropriadas para enfrentar os graves problemas dos abusos», o Arcebispo responde: «Não só o Papa Francisco não está a fazer quase nada para punir aqueles que cometeram abusos, como também não faz absolutamente nada para denunciar e entregar à justiça aqueles que, durante décadas, facilitaram e cobriram os maus-tratos». E, aos entrevistadores que perguntam: «Acredita que ter pedido a renúncia do Papa tenha desviado a atenção da sua mensagem?», responde, com humildade e firmeza, que: «teria sido melhor abordar a pergunta que fez do modo seguinte, começando com um ponto que incluí no meu terceiro testemunho: Peço, na verdade imploro profundamente, ao Santo Padre, que cumpra os compromissos que ele mesmo aceitou ao assumir o seu cargo de sucessor de Pedro. Assumiu a missão de confirmar os seus irmãos e de guiar todas as almas no seguimento de Cristo, no combate espiritual, ao longo do caminho da cruz. Admita os seus erros, arrependa-se, manifeste a sua disponibilidade para seguir o mandato dado a Pedro e, uma vez convertido, confirme os seus irmãos (Lc 22, 32)».
Roberto de Mattei
O primeiro e mais importante motivo é que esta entrevista assinala o completo fracasso da estratégia vaticana do “silêncio” diante das alegações do ex-Núncio nos Estados Unidos. Os responsáveis dos media do Vaticano estavam convencidos que as revelações de Monsenhor Viganò poderiam permanecer circunscritas a um público-alvo, pronto a esquecê-las depois de alguns momentos de emoção. Mas não foi assim.
O Washington Post é um dos jornais mais lidos do planeta, com milhões de leitores, e a entrevista ao Arcebispo foi, durante quase três dias, o segundo artigo mais lido no seu site. A voz de Monsenhor Viganò teve um impacto mundial, desintegrando o muro do silêncio e impondo-se como um testemunho que não pode ser mais ignorado ou minimizado.
A segunda razão, ligada à primeira, é que, com a sua entrevista, o Washington Post credita Monsenhor Viganò como testemunha histórica, cuja credibilidade não pode ser posta em dúvida por ninguém. O Arcebispo não entra nos problemas teológicos levantados por documentos como a Amoris Laetitia, mas limita-se a falar de factos que conhece: a existência de uma “máfia corrupta” que «assumiu o controlo de muitas instituições da Igreja, de alto a baixo, e está a explorar a Igreja e os fiéis para os seus propósitos imorais». Esta máfia «está ligada não a uma intimidade sexual partilhada, mas a um interesse comum em proteger-se e progredir profissionalmente e em sabotar qualquer esforço para reformar a corrupção sexual».
Às inábeis tentativas dos media vaticanos para desacreditá-lo, atribuindo-lhe objectivos de poder, Monsenhor Viganò responde: «De qualquer maneira, a minha motivação não é o ponto central, e as perguntas sobre isso são uma distracção. A questão realmente importante é se o meu testemunho é verdadeiro. Apoio e peço inquirições para que os factos possam surgir. Infelizmente, aqueles que contestam as minhas motivações não estiveram dispostos a conduzir investigações abertas e aprofundadas».
Com estas palavras, o Arcebispo demonstra um amor pela verdade que o impede de transmitir eventuais erros dos Papas anteriores ao Papa Francisco. Caem, assim, as insinuações daqueles que tentam colocá-lo contra Bento XVI e João Paulo II, como fez o Vaticano Insider no artigo que dedicou ao caso após a publicação da entrevista. Monsenhor Viganò respondeu preventivamente de maneira muito equilibrada: «Desejo, sinceramente, que todos os documentos, se ainda não foram destruídos, sejam publicados. É possível que isso possa prejudicar a reputação de Bento XVI e de São João Paulo II, mas não é uma boa razão para não se procurar a verdade. Bento XVI e João Paulo II são seres humanos e também podem ter cometido erros. Se o fizeram, queremos conhecê-los. Porquê que deveriam permanecer escondidos? Todos nós podemos aprender com os nossos erros. Eu mesmo me arrependo de não ter falado publicamente antes. Como já disse, esperava realmente, contra qualquer esperança, que a Igreja pudesse reformar-se a partir de dentro. Mas quando ficou claro que o próprio sucessor de Pedro era um dos que encobriam os crimes, não tive dúvidas de que o Senhor me chamava a falar, como fiz e continuarei a fazer».
Um ponto central da entrevista é a reiterada convicção de que a homossexualidade – e a falta de resposta do Vaticano – seja uma parte fundamental do actual problema da Igreja ao afrontar os abusos. Ao entrevistador que lhe perguntou: «Pode explicar, com a máxima clareza possível, como é que a homossexualidade, na sua opinião, está relacionada com os abusos?», Viganó responde: «Mantenhamos dois aspectos diversos: (1) os crimes de abuso sexual e (2) o encobrimento criminal dos crimes de abuso sexual. Na maioria dos casos na Igreja de hoje, ambos têm uma componente homossexual – geralmente minimizada – que é a chave da crise. No que respeita ao primeiro, os homens heterossexuais obviamente não escolhem meninos e jovens homens como parceiros sexuais de preferência, e cerca de 80% das vítimas são do sexo masculino, a grande maioria dos quais são rapazes pós-púberes. (...). Não foram os pedófilos, mas os sacerdotes gay, que atacam os rapazes pós-púberes, que fizeram falir as dioceses americanas». «Quanto ao segundo aspecto, a “máfia gay” entre os bispos não está unida pela intimidade sexual partilhada, mas por um interesse comum em proteger-se e progredir profissionalmente e sabotar qualquer esforço de reforma». No entanto, «dadas as provas esmagadoras, é surpreendente que a palavra “homossexualidade” não tenha aparecido uma só vez em nenhum dos recentes documentos oficiais da Santa Sé, incluindo os dois Sínodos sobre a família, o da juventude e a recente cimeira de Fevereiro passado».
Há um outro ponto da entrevista que merece ser sublinhado: a avaliação, da parte de Monsenhor Viganò, à redução ao estado laico do Cardeal Theodore McCarrick. Esta punição, afirma o ex-Núncio pontifício, «foi, por quanto se possa dizer, uma punição justa, mas não há nenhuma razão legítima para que não tenha sido imposta mais de cinco anos antes e depois de um justo processo com um procedimento judicial». Contra McCarrick, de facto, procedeu-se não pela via judicial, mas pela via administrativa. É difícil evitar pensar que tal tenha sido feito para “manipular a opinião pública”: «Condenar McCarrick como bode expiatório com uma punição exemplar – foi a primeira vez na história da Igreja que um Cardeal foi reduzido ao Estado laical – teria apoiado a narrativa de que o Papa Francisco estava firmemente determinado a lutar contra os abusos sexuais do clero».
Viganò explica: «Segundo uma declaração divulgada pela Sala de Imprensa da Santa Sé, a 16 de Fevereiro de 2019, McCarrick foi considerado culpado, pela Congregação para a Doutrina da Fé, de “sedução no sacramento da confissão e pecados contra o sexto mandamento” com menores e adultos, com “o factor agravante do abuso de poder”. A pena imposta foi a laicização, que o Papa Francisco confirmou como “de natureza definitiva”. Desta forma, McCarrick, que sempre se declarou inocente, foi privado de qualquer possibilidade de impugnar a sentença. Onde é que está o processo justo? É assim que se faz justiça no Vaticano? Além disso, tendo declarado definitiva a sentença, o Papa tornou impossível conduzir mais investigações, que poderiam ter revelado quem, na Cúria e noutros lugares, sabia dos abusos de McCarrick, quando é que o souberam e quem é que o ajudou a ser nomeado Arcebispo de Washington e, finalmente, Cardeal. Note-se, entre outras coisas, que os documentos deste caso, cuja publicação foi prometida, nunca foram reproduzidos. O ponto fundamental é este: o Papa Francisco está a esconder deliberadamente as provas sobre McCarrick».
«Mas consideremos a muito mais importante dimensão espiritual, que esteve completamente ausente de qualquer declaração sobre McCarrick ou de qualquer outra conferência de imprensa na cimeira. O principal objectivo das sanções na ordem canónica é o arrependimento e a conversão: “Suprema ratio est salus animarum” (a lei suprema é a salvação das almas). Creio, portanto, que a simples “redução ao Estado laical” seja completamente inadequada, porque não fornece um remédio e não expressa a preocupação pelo objectivo mais importante da punição, ou seja, a salvação da alma de McCarrick. De facto, a menos que não seja acompanhada de outras medidas, uma simples laicização poderia ser considerada uma expressão de desprezo pelo Estado laical. A ideia de que um Prelado que se comporta mal é punido com o ser “reduzido” ao estado laical é uma espécie de clericalismo». «Acredito, e não sou o único, que a pena de excomunhão – da qual pode ser absolvido a qualquer momento – também deveria ser imposta a McCarrick. Como fármaco adequadamente dosado, deveria ter sido imposta para induzir McCarrick a assumir a responsabilidade dos seus pecados, a arrepender-se, a reconciliar-se com Deus e, portanto, a salvar a sua alma».
Estas palavras ajudam a compreender uma questão importante. Hoje, quem governa a Igreja avança com ataques de comissariados aos institutos religiosos indesejados e de demissões do estado clerical daqueles que poderiam criar problemas com a opinião pública. A redução ao estado laical é concebida como um “despedimento” da “empresa-Igreja”, que também pode ocorrer sem justa causa. Tudo por decreto pontifício, sem a possibilidade de recursos canónicos. Esquece-se, no entanto, que o sacramento da Ordem, uma vez recebido, não se torna nulo, porque o seu carácter é indelével. Nenhuma autoridade pode cancelar a condição ontológica do sacerdote, pelo qual se deve mostrar sempre misericórdia. Mas, sobretudo, não se pode chegar a actos extremos, como a redução laical, sem um devido processo em que seja consentido ao acusado expor as próprias razões.
Quem não ouve as razões, talvez não as tenha e é forçado a mentir para justificar as suas acções, como acontece com o Papa Francisco, que estava a par dos abusos de McCarrick, pelo menos, desde 23 de Junho de 2013, quando Monsenhor Viganò, respondendo a uma pergunta específica, lhe revelou a existência de um pesado dossiê contra o Cardeal americano.
Monsenhor Viganò é, até hoje, o único Bispo que indicou publicamente o Papa Francisco como responsável directo pela terrível crise que aflige a Igreja. À questão se «o Vaticano, sob a orientação do Papa Francisco, está a tomar medidas apropriadas para enfrentar os graves problemas dos abusos», o Arcebispo responde: «Não só o Papa Francisco não está a fazer quase nada para punir aqueles que cometeram abusos, como também não faz absolutamente nada para denunciar e entregar à justiça aqueles que, durante décadas, facilitaram e cobriram os maus-tratos». E, aos entrevistadores que perguntam: «Acredita que ter pedido a renúncia do Papa tenha desviado a atenção da sua mensagem?», responde, com humildade e firmeza, que: «teria sido melhor abordar a pergunta que fez do modo seguinte, começando com um ponto que incluí no meu terceiro testemunho: Peço, na verdade imploro profundamente, ao Santo Padre, que cumpra os compromissos que ele mesmo aceitou ao assumir o seu cargo de sucessor de Pedro. Assumiu a missão de confirmar os seus irmãos e de guiar todas as almas no seguimento de Cristo, no combate espiritual, ao longo do caminho da cruz. Admita os seus erros, arrependa-se, manifeste a sua disponibilidade para seguir o mandato dado a Pedro e, uma vez convertido, confirme os seus irmãos (Lc 22, 32)».
Roberto de Mattei
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