Meditar a Sagrada Escritura na Semana Santa – Quarta-feira Santa



Sucedem-se umas às outras, nesta semana, as narrações da Paixão do Senhor. Neste dia é a de São Lucas. As duas leituras do Antigo Testamento [só apresentaremos a Epístola] são tiradas do profeta Isaías e ambas se referem à missão redentora do Messias. Posta em confronto com as profecias que a anunciavam, a Paixão de Jesus aparece-nos claramente como a realização dos desígnios eternos de Deus a respeito da salvação do mundo. Nesta Missa, em que quase todos os textos falam dos sofrimentos do Salvador, o pensamento dominante é o da Redenção por Ele operada: «Quisestes, ó Deus, que o vosso Filho sofresse o patíbulo da cruz. Fazei que alcancemos a graça da ressurreição» (2.ª colecta).          

EPÍSTOLA extraída do profeta Isaías (Is 53, 1-12)                      
Quem acreditou no nosso anúncio? A quem foi revelado o braço do Senhor? O servo cresceu diante do Se­nhor como um rebento, como raiz em terra árida, sem figura nem beleza. Vimo-lo sem aspecto atraente, desprezado e abandonado pelos homens, como alguém cheio de dores, habituado ao sofrimento, diante do qual se tapa o rosto, menosprezado e desconsiderado. Na verdade, ele tomou sobre si as nossas doenças, carregou as nossas dores. Nós o reputávamos como um le­proso, ferido por Deus e humilhado. Mas foi ferido por causa dos nos­sos crimes, esmagado por causa das nossas iniquidades. O castigo que nos salva caiu so­bre ele, fomos curados pelas suas chagas. Todos nós andávamos desgarra­dos como ovelhas perdidas, cada um seguindo o seu caminho. Mas o Senhor carregou sobre ele todos os nossos crimes. Foi maltratado, mas humilhou-se e não abriu a boca, como um cordeiro que é levado ao matadouro, ou como uma ovelha emudecida nas mãos do tosquiador. Sem defesa, nem justiça, leva­ram-no à força. Quem é que se preocupou com o seu destino? Foi suprimido da terra dos vivos, mas por causa dos pecados do meu povo é que foi ferido. Foi-lhe dada sepultura entre os ímpios, e uma tumba entre os malfei­to­res, embora não tenha cometido cri­me algum, nem praticado qualquer fraude. Mas aprouve ao Senhor esmagá-lo com sofrimento, para que a sua vida fosse um sa­crifício de reparação. Terá uma posteridade duradoura e viverá longos dias, e o desígnio do Senhor realizar-se-á por meio dele. Por causa dos trabalhos da sua vida verá a luz. O meu servo ficará satisfeito com a experiência que teve. Ele, o justo, justificará a muitos, porque carregou com o crime de­les. Por isso, ser-lhe-á dada uma mul­­tidão como herança, há-de receber muita gente como despojos, porque ele próprio entregou a sua vida à morte e foi contado entre os pecadores, tomando sobre si os pecados de muitos, e sofreu pelos culpados.  

PAIXÃO DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO segundo São Lucas (Lc 22, 39-71; 23, 1-53)          
No monte das Oliveiras. Oração e agonia.  
Saiu então e foi, como de costume, para o Monte das Oliveiras. E os discípulos seguiram também com Ele. Quando chegou ao local, disse-lhes: «Orai, para que não entreis em tentação». Depois afastou-se deles, à distância de um tiro de pedra, aproximadamente; e, pondo-se de joelhos, começou a orar, dizendo: «Pai, se quiseres, afasta de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, mas a tua». Então, vindo do Céu, apareceu-lhe um anjo que o confortava. Cheio de angústia, pôs-se a orar mais instantemente, e o suor tornou-se-lhe como grossas gotas de sangue, que caíam na terra. Depois de orar, levantou-se e foi ter com os discípulos, encontrando-os a dormir, devido à tristeza. Disse-lhes: «Porque dormis? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação».

Prisão de Jesus     
Ainda Ele estava a falar quando surgiu uma multidão de gente. Um dos Doze, o chamado Judas, caminhava à frente e aproximou-se de Jesus para o beijar. Jesus disse-lhe: «Judas, é com um beijo que entregas o Filho do Homem?». Vendo o que ia suceder, aqueles que o cercavam perguntaram-lhe: «Senhor, ferimo-los à espada?». E um deles feriu um servo do Sumo Sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. Mas Jesus interveio, dizendo: «Basta, deixai-os». E, tocando na orelha do servo, curou-o. Depois, disse aos que tinham vindo contra Ele, aos sumos sacerdotes, aos oficiais do templo e aos anciãos: «Vós saístes com espadas e varapaus, como se fôsseis ao encontro de um salteador! Estando Eu todos os dias convosco no templo, não me deitastes as mãos; mas esta é a vossa hora e o domínio das trevas».   

Negação de Pedro.          
Apoderando-se, então, de Jesus, levaram-no e introduziram-no em casa do Sumo Sacerdote. Pedro seguia de longe. Tendo acendido uma fogueira no meio do pátio, sentaram-se e Pedro sentou-se no meio deles. Ora, uma criada, ao vê-lo sentado ao lume, fitando-o, disse: «Este também estava com Ele». Mas Pedro negou-o, dizendo: «Não o conheço, mulher». Pouco depois, disse outro, ao vê-lo: «Tu também és dos tais». Mas Pedro disse: «Homem, não sou». Cerca de uma hora mais tarde, um outro afirmou com insistência: «Com certeza este estava com Ele; além disso, é galileu». Pedro respondeu: «Homem, não sei o que dizes». E, no mesmo instante, estando ele ainda a falar, cantou um galo. Voltando-se, o Senhor fixou os olhos em Pedro; e Pedro recordou-se da palavra do Senhor, quando lhe disse: «Hoje, antes de o galo cantar, irás negar-me três vezes». E, vindo para fora, chorou amargamente. Entretanto, os que guardavam Jesus troçavam dele e maltratavam-no. Cobriam-lhe o rosto e perguntavam-lhe: «Adivinha! Quem te bateu?». E proferiam muitos outros insultos contra Ele.          

Perante o Sinédrio. Jesus entregue a Pilatos e a Herodes.        
Quando amanheceu, reuniu-se o Conselho dos anciãos do povo, sumos sacerdotes e doutores da Lei, que o levaram ao seu tribunal. Disseram-lhe: «Declara-nos se Tu és o Messias». Ele respondeu-lhes: «Se vo-lo disser, não me acreditareis e, se vos perguntar, não respondereis. Mas doravante, o Filho do Homem vai sentar-se à direita de Deus todo-poderoso». Disseram todos: «Tu és, então, o Filho de Deus?». Ele respondeu-lhes: «Vós o dizeis; Eu sou». Então, exclamaram: «Que necessidade temos já de testemunhas? Nós próprios o ouvimos da sua boca». Levantando-se todos, levaram-no a Pilatos e começaram a acusá-lo, nestes termos: «Encontrámos este homem a sublevar o povo, a impedir que se pagasse tributo a César e a dizer-se Ele próprio o Messias-Rei». Pilatos interrogou-o: «Tu és o rei dos judeus?». Jesus respondeu: «Tu o dizes». Pilatos disse, então, aos sumos sacerdotes e à multidão: «Nada encontro de culpável neste homem». Mas eles insistiram, dizendo: «Ele amotina o povo, ensinando por toda a Judeia, desde a Galileia até aqui». Ao ouvir isto, Pilatos perguntou se o homem era galileu; e, ao saber que era da jurisdição de Herodes, enviou-o a Herodes, que também se encontrava em Jerusalém nesses dias. Ao ver Jesus, Herodes ficou extremamente satisfeito, pois havia bastante tempo que o queria ver, devido ao que ouvia dizer dele, esperando que fizesse algum milagre na sua presença. Fez-lhe muitas perguntas, mas Ele nada respondeu. Os sumos sacerdotes e os doutores da Lei, que lá estavam, acusavam-no com veemência. Herodes, com os seus oficiais, tratou-o com desprezo e, por troça, mandou-o cobrir com uma capa vistosa, enviando-o de novo a Pilatos. Nesse dia, Herodes e Pilatos ficaram amigos, pois eram inimigos um do outro. Pilatos convocou os sumos sacerdotes, os chefes e o povo, e disse-lhes: «Trouxestes este homem à minha presença como se andasse a revoltar o povo. Interroguei-o diante de vós e não encontrei nele nenhum dos crimes de que o acusais. Herodes tão-pouco, visto que no-lo mandou de novo. Como vedes, Ele nada praticou que mereça a morte. Vou, portanto, libertá-lo, depois de o castigar». Ora, em cada festa, Pilatos era obrigado a soltar-lhes um preso. E todos se puseram a gritar: «A esse mata-o e solta-nos Barrabás!». Este último fora metido na prisão por causa de uma insurreição desencadeada na cidade, e por homicídio. De novo, Pilatos dirigiu-lhes a palavra, querendo libertar Jesus. Mas eles gritavam: «Crucifica-o! Crucifica-o!». Pilatos disse-lhes pela terceira vez: «Que mal fez Ele, então? Nada encontrei nele que mereça a morte. Por isso, vou libertá-lo, depois de o castigar». Mas eles insistiam em altos brados, pedindo que fosse crucificado, e os seus clamores aumentavam de violência. Então, Pilatos decidiu que se fizesse o que eles pediam. Libertou o que fora preso por sedição e homicídio, que eles reclamavam, e entregou-lhes Jesus para o que eles queriam.

A caminho do Calvário. Crucifixão.  
Quando o iam conduzindo, lançaram mão de um certo Simão de Cirene, que voltava do campo, e carregaram-no com a cruz, para a levar atrás de Jesus. Seguiam Jesus uma grande multidão de povo e umas mulheres que batiam no peito e se lamentavam por Ele. Jesus voltou-se para elas e disse-lhes: «Filhas de Jerusalém, não choreis por mim, chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos; pois virão dias em que se dirá: ‘Felizes as estéreis, os ventres que não geraram e os peitos que não amamentaram’. Hão-de, então, dizer aos montes: ‘Caí sobre nós!’. E às colinas: ‘Cobri-nos!’. Porque, se tratam assim a árvore verde, o que não acontecerá à seca?». E levavam também dois malfeitores, para serem executados com Ele. Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, crucificaram-no a Ele e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda. Jesus dizia: «Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem». Depois, deitaram sortes para dividirem entre si as suas vestes. O povo permanecia ali, a observar; e os chefes zombavam, dizendo: «Salvou os outros; salve-se a si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito». Os soldados também troçavam dele. Aproximando-se para lhe oferecerem vinagre, diziam: «Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo!». E por cima dele havia uma inscrição: «Este é o rei dos judeus». Ora, um dos malfeitores que tinham sido crucificados insultava-o, dizendo: «Não és Tu o Messias? Salva-te a ti mesmo e a nós também». Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o: «Nem sequer temes a Deus, tu que sofres o mesmo suplício? Quanto a nós, fez-se justiça, pois recebemos o castigo que as nossas acções mereciam; mas Ele nada praticou de condenável». E acrescentou: «Jesus, lembra-te de mim, quando estiveres no teu Reino». Ele respondeu-lhe: «Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso».     

Morte de Jesus.     
Por volta do meio-dia, as trevas cobriram toda a região até às três horas da tarde. O Sol tinha-se eclipsado e o véu do templo rasgou-se ao meio. Dando um forte grito, Jesus exclamou: «Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito». Dito isto, expirou. Ao ver o que se passava, o centurião deu glória a Deus, dizendo: «Verdadeiramente, este homem era justo!». E toda a multidão que se tinha aglomerado para este espectáculo, vendo o que acontecera, regressava batendo no peito. Todos os seus conhecidos e as mulheres que o tinham acompanhado desde a Galileia mantinham-se à distância, observando estas coisas.     

Sepultura de Jesus.         
Um membro do Conselho, chamado José, homem recto e justo, não tinha concordado com a decisão nem com o procedimento dos outros. Era natural de Arimateia, cidade da Judeia, e esperava o Reino de Deus. Foi ter com Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. Descendo-o da cruz, envolveu-o num lençol e depositou-o num sepulcro talhado na rocha, onde ainda ninguém tinha sido sepultado.      

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